Odair França de Carvalho e Maria do Socorro da Silva Ferreira
| Plurais Revista Multidisciplinar, v.6, n.1, p. 116-136, jan./abr. 2021
118
Há uma discussão em toda América Latina
3
sobre o papel da educação dentro do sistema
prisional e do papel do educador, desse movimento destaca-se a produção do Mapa Regional
de Educação em Contextos de Privação da Liberdade na América Latina (RANGEL, 2009). É
neste contexto que se acredita que as proposições desse artigo irão contribuir para pensar o fazer
docente em uma escola dentro da prisão. Este território vive todos os problemas que ocorrem
na unidade prisional que advém de uma sociedade em crise: o analfabetismo, a exclusão social,
o preconceito, o fracasso escolar, as desigualdades sociais e tantos outros. Assim, concorda-se
com Carvalho (2013) ao enfatizar que:
há grandes desaos a serem superados ao organizar um sistema educacional
prisional brasileiro, grande em diculdades, mas também em possibilidades,
sistema esse que foi sendo estruturado com experiências singulares em esta-
dos, cidades e unidades. Acreditando que o maior desao seja implantar ações
educativas signicativas em parceria com a área de segurança, a instituição
penal institucionaliza retira independência e autonomia do ser humano (p. 54).
Nesse sentido, os desaos em sua maioria se alicerçam na prática pedagógica que é re-
alizada nas salas de aulas ou nas “celas de aula” das unidades educacionais dentro do sistema
prisional. Com as poucas ações formativas para preparar os prossionais que atuam em escolas
dentro da prisão, faz necessário reetir sobre o processo formativo e as práticas pedagógicas de
docentes que atuam nesses ambientes, visando buscar ações mais efetivas para as reais necessi-
dades deste espaço educativo – a escola na prisão. Onofre (2011, p. 110), esclarece que mesmo
perante este cenário,
Os estudos sobre educação de adultos em situação de privação de liberdade
têm mostrado a possibilidade de se construir a escola nas prisões enquanto es-
paço diferenciado das prerrogativas carcerárias. (PENNA, 2003; ONOFRE,
2002; SANTOS, 2002; LEME, 2002; PORTUGUÊS, 2001; SILVA, 2001)
O presente trabalho tem como objetivo apresentar as narrativas docentes sobre a prática
pedagógica desenvolvida no interior de uma escola na Penitenciária Dr. Edvaldo Gomes. No
primeiro momento, apresenta-se os caminhos metodológicos da pesquisa, em seguida, realiza-
-se uma breve caracterização da unidade prisional. No terceiro momento, expõe-se o lócus da
3 Destacam-se nesse processo os diálogos realizados com o Programa Eurosocial vinculado à União que
tem o objetivo de promover troca de experiências entre representantes do poder público da América Latina em
áreas como justiça, educação, emprego e saúde. Essa articulação resultou na criação em 2006 da Rede Latino-
-Americana de Educação em Prisões (RedLECE) objetivo de possibilitar a troca de experiências, a elaboração
coletiva de reexões e ações fundamentais para o fortalecimento da política de educação nas prisões latino-ame-
ricanas e a compreensão da educação como um direito humano ao longo de toda a vida aos privados de liberdade.
São membros: Argentina, Brasil, Costa Rica, Equador, El Salvador, Honduras e Paraguai, representados por seus
respectivos ministérios da educação; Colômbia e Peru, representados por seus institutos nacionais penitenciários;
o México, representado por sua Secretaria de Educação Pública; e o Uruguai, através da Administração Nacional
de Educação Pública do país. Resultando no diálogo e na produção de conhecimento entre os pesquisadores desses
países.