Comentários diretos e indiretos na revisão textual utilizando ferramentas digitais
percorridos com este tema, por vezes relegado ao uso mais espontâneo e não analítico, dentro da escola.
Ao buscarmos entender como estas trocas orais estabelecidas pelas palavras ditas, não necessariamente
escritas, aconteceram, pudemos constatar que há muito mais aprendizagem para além do produto final.
E que é função da escola conseguir cada vez mais aprofundar o olhar e garantir que as trocas orais
tenham espaço e valor pedagógico, e não só espontâneo, no cotidiano escolar.
Ainda que seja um enorme desafio acompanhar e recuperar o oral, e que isso ofereça, como no
caso desta investigação, um panorama complexo de análise de transcrições, é essencial poder seguir
realizando esta reflexão de forma a ampliar a compreensão do processo que as crianças atravessam e
no qual interferem fatores que por vezes não podem ser materializados por uma tecla ou um lápis, e
que estão no que se diz e no que se escuta, e na relevância de terem espaço e tempo para este dizer,
argumentar, ouvir e ponderar.
É fundamental, assim, que sigam-se construindo propostas didáticas que considerem um olhar
processual para a produção textual. Os resultados desta investigação reforçam como escrever algo
relativamente curto, de duas páginas, ou escrever um comentário ainda mais breve, de duas linhas,
envolve complexos processos que devem ser planejados e organizados com cuidado. As situações aqui
observadas na investigação foram acompanhadas, mapeadas, e, em sala de aula, se inseridas e consi-
deradas pelos docentes, podem fomentar espaços de tematizações e ampliações que poderão apoiar a
construção de saber por parte dos alunos e alunas de um grupo.
Destacamos especialmente a relevância da categorização de comentários diretos e indiretos e
seus impactos na revisão textual. Foi possível notar a maior incidência do primeiro tipo de comentário,
o direto, e a percepção de que ele é fonte de maiores possibilidades de interpretação e atuação revisora
por parte dos autores do texto. Quando pensamos nos comentários indiretos, que, como vimos aqui, são
mais abertos, e com muitos espaços interpretativos (consideremos, por exemplo, tudo que uma criança
pode interpretar ao ler de seu colega o comentário “tomem mais cuidado com as letras”), é importante
destacar que se concretiza uma dificuldade importante dos alunos na interpretação dos mesmos, ou seja,
eles não se mostram frutíferos para o objetivo de alterações e entradas revisoras na produção textual.
Estes elementos não são apenas constatações, mas sim devem ser considerados de forma efe-
tiva, juntamente com as inúmeras contribuições das investigações realizadas no âmbito da produção
textual, para a elaboração, reflexão e até mesmo revisão das propostas didáticas em curso. Devemos
constantemente avaliar e utilizar estas contribuições para realizar os ajustes didáticos necessários dentro
da escola, que garantam, sempre, o avanço na aprendizagem de nossos alunos e alunas.
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Salvador, v. 5, n.3, p. 122-143, set./dez. 2020