CULTURA E ANÁLISE COGNITIVA, ATRAVESSAMENTOS E CONTRAPONTOS EM FRAGMENTOS: REFLEXÕES SOBRE A MARISCAGEM
Leliana Santos de Sousa1*, Cláudia Pereira de Sousa2, Ana Lícia de Santana Stopilha3
1Professora Titular da Universidade do Estado da Bahia-UNEB. Doutora em Ciências da Educação pela Université Vincennes Saint-Denis Paris 8 – França.
2,3Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia. Doutora em Difusão do Conhecimento pelo Programa Multi-institucional e Multidisciplinar em difusão do Conhecimento (UFBA).
*Autor correspondente: E-mail: lelisousa@uneb.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6979-4617
RESUMO: Esse artigo tem como objetivo refletir experiências de processos de pesquisas sociais, cujos projetos abordam os saberes e práticas das mulheres marisqueiras no trabalho da mariscagem e a relação com o meio ambiente e o bioma marinho. Iniciativa inter-relacionada a análise cognitiva enquanto campo de conhecimento multirreferencial, discutindo à diversidade de alguns estudos teóricos evidenciando fragmentos observados de jornadas pesquisadoras. Resulta então de participação e acompanhamento pedagógico e da atividade do “Tour Bahia de Todos os Santos” do “Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos”, uma estratégia do projeto de pesquisa “Sistemas Embarcados de Baixo Custo no Monitoramento de Ecossistemas Marinhos”, proposto pelo Campus II da Universidade do Estado da Bahia; e realizado em colaboratividade com o Centro de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Regional (CPEDR) da Universidade do Estado da Bahia no período de 2022-2023. Esta experiência indica necessárias possibilidades de ampliação e aprofundamento da pesquisa em rede multidisciplinar entre pesquisadores e grupos de pesquisas, tecidas na multirreferencialidade da análise cognitiva.
Palavras Chaves: Pesquisa. Cultura. Análise Cognitiva. Saberes e Práticas. Marisqueiras. Sistemas Embarcados.
CULTURA Y ANÁLISIS COGNITIVO, CRUCES Y CONTRAPUNTOS EN FRAGMENTOS: REFLEXIONES SOBRE EL MARISQUEO
RESUMEN: Este artículo refleja experiencias de procesos de investigación social, cuyos proyectos abordan los saberes y prácticas de las mujeres mariscadoras en el trabajo pesquero y la relación con el medio ambiente y en el bioma marino. Iniciativa interrelacionada con el análisis cognitivo como campo de conocimiento multirreferencial, discutiendo la diversidad de algunos estudios teóricos destacando fragmentos observados de trayectorias de investigación. Es entonces el resultado de la participación y seguimiento pedagógico de la actividad del “Tour Bahía de Todos los Santos”, una de las actividades pedagógicas inclusas en el “Curso de Capacitación en Integración Tecnológica, Educación y Monitoreo de Ecosistemas Marinos”, estrategia del proyecto de investigación “Sistemas Empotrados de Bajo Coste para Monitoreo de Ecosistemas Marinos” propuesto por el Campus II y realizado en colaboración con el Centro de Investigación en Educación y Desarrollo Regional (CPEDR) de la Universidad del Estado de Bahía en el período 2022-2023. Esta saludable experiencia indica posibilidades necesarias para ampliar y profundizar la investigación en una red multidisciplinaria entre investigadores y grupos de investigación entrelazados en la multirreferencialidad del análisis cognitivo.
Palabras clave: Cultura. Análisis Cognitivo. Conocimientos y Prácticas. Marisqueiras. Sistemas empotrados.
INTRODUÇÃO
Esse artigo tem como objetivo refletir alguns acontecimentos como atravessamentos e contrapontos, considerando a análise cognitiva um campo de conhecimento das interlocuções circunstanciadas pelo diálogo com a realidade, tal qual foi possível vivenciar em projetos de pesquisa e que permitiram reflexões conceituais acerca da diversidade das condições culturais de vida. O diálogo sobre o trabalho da mulher marisqueira intrinsecamente relacionado com o ciclo lunar e da maré, expresso na fala de Maria marisqueira (2015): “quando a maré baixa os mariscos aparecem na coroa da areia”, que poderíamos dizer de certa forma, que são expostos generosamente pela natureza, podendo ser catado, gera reflexões sobre o conhecimento oriundo de práticas e saberes do dia-a-dia e que nos aproximam de abordagens de métodos com enfoque em grupos culturais en/incarnados na pesquisa multirreferencial[1].
Metodologicamente este artigo é um convite à revisitação de um contínuo de fragmentos sensíveis ao olhar, que se compõem de práticas cotidianas e servem às pesquisadoras e aos pesquisadores como fontes de estudo. Refletimos então fragmentos que denominamos de contrapontos e atravessamentos: o contemporâneo da pesquisa que alude a redes de pesquisa e suas multirreferencialidades no campo de conhecimento da Análise Cognitiva; a experiência do projeto EMBARCADOS: DÉCADA DOS OCEANOS, convergindo para um tempo de saber a partir da mariscagem, logo saberes e práticas culturais enquanto conhecimentos de formação para professores em diferentes graus de formação, em relação ao que preconiza o ensino da educação básica, além de observar benefícios e danos causados às mulheres, ao meio ambiente e ao mercado de consumo.
DIRÍAMOS, ENTÃO, CONTRAPONTOS E ATRAVESSAMENTOS?
Explicar o projeto e sua dinâmica dialógica precisa de consenso e de autorização das participantes que integram a experiência. Lógica quando num projeto de pesquisa coletivo é indispensável pensar junto com os participantes que possam efetivamente atuar desde o levantamento das necessidades às discussões da temática de estudo e de todo o processo de desenvolvimento e produção do projeto, toda articulação necessária para que a experiência seja satisfatória não somente na produção de dados científicos, seja para o pesquisador acadêmico, mas tanto na espontaneidade da participação para o bem-estar coletivo. Diferencial que se sobressai, sobretudo pela concordância de instigarmos a experiência de tornarmo-nos um grupo-pesquisador[2] formado por todas as participantes de forma ativa em todas as etapas da pesquisa, desde a coleta/produção de dados até a análise e socialização com a ética da pesquisa, que nos leva a exercitar o pensamento complexo e a transdisciplinaridade como modo de superação do olhar aos saberes e práticas de forma fragmentada, reducionista e pela hiperespecialização.
Estes saberes e práticas fazem parte do tecido da Análise Cognitiva em sua concepção como campo complexo de conhecimento “sobre o conhecimento e seus imbricados processos de construção, organização, acervo, socialização, que inclui dimensões entretecidas de caráter teórico, epistemológico, metodológico, ontológico, axiológico, ético, estético, afetivo e autopoiético e que visa o entendimento de diferentes sistemas de estruturação do conhecimento e suas respectivas linguagens, arquiteturas conceituais, tecnologias e atividades específicas”. (Fróes Burnham, 2012, p. 52) [3]
Na aproximação do campo de pesquisa se processa a elaboração das questões-problemas e suas conexões conceituais destacando-se a resistência cultural emergente. Também percebemos na dinâmica do pensar juntos a sensibilidade aflorada num misto da explicação das situações e condições vivenciadas emocional-racional, na aflição da procura de equilíbrio o que gera sempre a inquietação na perspectiva do reconhecimento dos saberes e práticas culturais inseridas em iniciativas e políticas que possibilitem atendimento aos anseios das coletividades envolvidas.
O pensar complexo exige o exercício necessário de aprender a religar saberes no processo de ensino-aprendizagem. Em Morin e Le Moigne, (2000, p. 207) o pensamento complexo “é o pensamento capaz de reunir (complexas: aquilo que é tecido conjuntamente), de contextualizar, de globalizar, mas ao mesmo tempo, capaz de reconhecer o singular, o individual, o concreto”. A ideia é de mobilização da capacidade criativa com a finalidade de construção coletiva de busca de soluções. O desafio é junto tornar possível aprender como pensar e olhar cientificamente a temática de estudo perquirindo “prestar contas das articulações despedaçadas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento”, conforme ambiciona a complexidade. (Morin, 1998, p.177).
Nesse aspecto, vimos trabalhando em nossos projetos de pesquisa junto a comunidades (rural; povos originários; quilombolas; de terreiros) o que têm apontado os professores e membros das comunidades: a inadiável inserção desses conhecimentos contextuais no ensino enquanto história e cultura passíveis de pesquisas científicas realizadas pelos alunos como iniciação às ciências humanas e sociais na escola.
A vida das mulheres que trabalham na pesca do aratu faz parte do contexto histórico da comunidade e, por conseguinte, é importante que os saberes técnicos acerca da pesca estejam inseridos no currículo da escola e nas disciplinas, como um complemento da grade curricular, para que possa ser fomentada a transdisciplinaridade, por meio do intercâmbio entre saberes científicos e não científicos. Por outro lado, o valor da cultural local proporciona a valorização da identidade como também a formação do cidadão crítico. Assim, suas histórias devem ser ouvidas e reconhecidas pelas instâncias políticas, sociais e econômicas da sociedade. A divulgação - no âmbito social e nas escolas - do trabalho dessas mulheres oportuniza perceber o valor das suas histórias de vida, a beleza da cultura e saberes que compartilham entre si, com a família e a própria comunidade; dessa forma, portanto, essa cultura não deve ficar apenas no contexto social da população. (Dantas, 2010, p.2)
Saber da existência da extratividade de mariscos no mangue das diversas áreas litorâneas da Bahia, como do recôncavo, enquanto prática realizada por mulheres, na informalidade[4], sobretudo, mediante o saborear dos quitutes feitos com os frutos do mar, não significa compreensão de ação cotidiana rotineira como trabalho. Da mesma forma não implica consciência dos rituais imperativos, nem reconhecimento do conhecimento acumulado pela experiência, no que elas se formaram no exercício da profissão no campo de trabalho, onde se ensina e se aprende fazendo e dominando saberes e práticas marinhos, que envolvem de forma inter e multidisciplinares tantas áreas científicas social e politicamente definidas como: biologia, meteorologia,....
O CONTEMPORÃNEO NA PESQUISA
O Laboratório de Recursos Pesqueiros Marinhos (LABMARH/DCET/II) e o Centro de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Regional (CPEDR/REITORIA/CAMPUS I) atuam em colaboratividade “como instâncias articuladoras das ações de pesquisa & inovação, dos processos de produção tecnológica de monitoramento de baixo custo e tecnologia social”, entre Departamentos e unidades de ensino e de pesquisa, com a proposta pedagógica considerando a multirreferencialidade e complexidade curricular da educação básica.
O projeto «Sistemas Embarcados de Baixo Custo no Monitoramento de Ambientes», ou projeto Embarcados, envolveu professores e alunos da educação básica da rede pública estadual na proposta pedagógica interdisciplinar, estreitando a relação Universidade-Educação Básica como necessária à formação para o uso de tecnologia de sistemas voltados para a análise de fatores de integridade ambiental e dinâmica de marés. Incluiu ainda equipes das empresas Juniores além dos discentes das graduações e pós-graduação stricto sensu da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESC) e dos Campus I, II, III e VIII da UNEB.
O processo pedagógico objetivou o "Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, educação e monitoramento de ecossistemas marinhos" em 31 de agosto de 2023. Não obstante o projeto em sua terceira edição, o curso e o tour ocorreram durante a segunda edição, coordenado por Eliane Nogueira, no período de novembro de 2022 a novembro de 2023. E consistiu nessas proposições na modelagem do processo educacional-extensionista, de capacitação comunitária aos usos e aplicações dessas tecnologias de baixo custo, contribuindo na análise de fatores de integridade ambiental e dinâmica de marés com base nos parâmetros avaliados para as comunidades pesqueiras beneficiadas. Os participantes apresentaram relatos do andamento da pesquisa realizada. Vide figura 1(a) e (b).
Figura 1. (a) e (b) Plenária do curso de Capacitação
Fonte: Arquivo dos autores-Embarcados (2023)
A proposta evoluiu em processo colaborativo de trabalho, no sentido de potencializar a transferência tecnológica e a difusão do conhecimento, como, por exemplo, scripts e processos da arquitetura do dispositivo, banco de dados e a interface. O desenvolvimento das atividades ocorreu com discussão em grupos compostos por professores e alunos pesquisadores, contando com o pertencimento à localidade de participantes do Colégio Estadual Presciliano Silva, apresentando na sequencia respectivas relatorias sobre os conteúdos e experiências relacionadas ao estudo proposto em contribuição à pesquisa dos Ecossistemas Costeiros na extensão da península de Itapagipe, uma das áreas mais belas, pitorescas e históricas de Salvador, onde são realizadas festas ícones de Salvador - Bahia: Lavagem do Senhor do Bonfim[5] e a Procissão de Bom Jesus dos Navegantes[6]. Além de ser uma região da cidade de Salvador conhecida por belos pontos turísticos e por ser o lugar onde são realizadas importantes festas populares.
A Ribeira surgiu como vila de pescadores e foi sendo ocupada com a expansão da atividade naval. Em sua estrutura arquitetônica, conserva construções antigas e igrejas seculares, como o Solar Amado Bahia e a Igreja de Nossa Senhora da Penha respectivamente. Além disso, é o lugar onde está localizada a “Sorveteria da Ribeira”, que é ponto turístico de Salvador. Como outros bairros da cidade, possui problemas de infraestrutura urbana. Drenagem pluvial inadequada – situação que provoca alagamentos – e acúmulo de lixo nas ruas são alguns exemplos. Em 2012, o Governo do Estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), retomou a execução de obras de revitalização, iniciadas em 2010, em um trecho da orla do bairro. No mesmo ano, foi concluída a construção do primeiro Terminal Pesqueiro Público de Salvador próximo ao final de linha do bairro. (Aragão, 2012, p.7),
Ribeira de origem portuguesa significa “ancoradouro para reparação de navios ou “naus”. Segundo escreve (Dórea,1999, apud Aragão, 2012, p.14) explicando que: “O nome vem da atividade naval ter impulsionado a formação do bairro. Cumprindo Parte da Corôa e como parte da instalação da Empresa de Conserto e Fabricação de Embarcações é construída, a mando de Tomé de Souza e no mesmo ano de 1550, a Ribeira das naus”. Dessa forma se tornando de grande importância para a indústria manufatureira na Bahia, a ponto de estimular manifestações subsidiárias em Salvador, conforme descreve Cardoso (2004, p.23).
Salientamos que em Navarro (2013), filólogo e lexicógrafo brasileiro, especialista na língua tupi antiga e moderna, encontramos em seu “Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil” a referência à origem da denominação dada ao lugar pelos habitantes originários, o povo Tupinambá. E em Aragão (2012, p.12) encontramos citações que explicitam informações históricas: “a palavra “Itapagipe” deriva do vocábulo indígena “Itapégype” que significa “o caminho de pedra dentro d’água” (Cedraz e Ramos, 2010, p.9)”. Importante destacar que “segundo Consuelo Pondé de Sena, reportando-se a Theodoro Sampaio, a palavra Itapagipe deriva de itapé-gy-pe, que se traduz como ‘no rio da laje’ na língua dos Tupinambá, primeiros habitantes do local (Santos, et al, 2010, p. 365)”, visto que esse registro nos parece não tão difundido, menos ainda abordado no ensino básico.
Em toda a extensão da península encontram-se marcos históricos seculares (XVI, XVII e XVIII), a exemplo do Forte de São Felipe e a igreja de Monte Serrat; na Boa Viagem a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Nossa Senhora da Penha de França, Nossa Senhora do Rosário e a Igreja do Bonfim no bairro da Ribeira. No Bairro dos Mares a igreja dos Mares; a igreja de São Jorge no bairro Jardim Cruzeiro Vila Rui Barbosa, já datam do (sec. XX).
Segundo estudos da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) (apud Aragão, 2012) as pesquisas de petróleo no Recôncavo, linhas de bonde e as indústrias no final do sec. XIX transformam a Itapagipe rural, pesqueira, pitoresca e repousante em um local de trabalho, cujo contingente de trabalhadores se instala numa parte da Enseada dos Tainheiros com as construções, em madeira, fazendo surgir o “Alagados”.
Essa transformação industrial e social vai alterando a cultura local e consequentemente insurgindo nova mentalidade em relação às modalidades de atividades geradas e a mais intensa heterogeneidade cultural, movimento que decompõe a paisagem na conformação geográfica da Península de Itapagipe, o que, por um lado, tem a faceta do desenvolvimento de uma certa zona da cidade, por outro causa a desterritorialidade da mentalidade local já construída sob planos histórico-temporal, espacial e simbólico, que vai sendo modificada causando desde o esquecimento até o apagamento da memória. Nesse interim, já não existem resquícios da memória da presença dos Tupinambás como povo originário do lugar, nem da origem na língua Tupi antiga.
Também em Freire (2011) encontramos que “Pela delação, a Revolta dos Malês, que aconteceria na Festa do Bonfim, em 1835, foi desarticulada” provocando silêncio sobre a “organização muçulmana na Cidade Baixa”. [...] “Sabe-se que até mesmo a oralidade ficou comprometida, por seus descendentes terem se calado, como consequências da Revolta dos Malês”. Costumes e fatos históricos heterogeneizantes da cultura, provocados pela ação humana ao longo do tempo e vão dando novas/diversas feições ao lugar, à paisagem, à população contextualizados em fragmentos culturais à exploração especulativa de dominação.
Entretanto, [...] a imagem do Senhor do Bonfim converteu-se, assimilada como pai de todos, qualidade associada a Oxalá como Orixá supremo da religião africana. Logo, a partir desse mesmo sincretismo religioso, os seguidores de Alá – os Malês – se integraram ao evento incorporando-lhe aspectos devocionais da religião muçulmana desconhecidos da população baiana. [...] Daí que promover o banho de água de cheiro no templo e no corpo dos fiéis, quando da Lavagem do Bonfim, passou a ser um ritual assimilado e incorporado pelo baiano, independente da origem. [...] E é na indumentária – traje típico das baianas, somente utilizado em ocasiões festivas –, que se percebe a presença malê se fazendo representada no traje típico festivo das baianas. (Freire, 2011, p. 110; 111).
Sobressai-se um hábito costumeiro cultural das pessoas vestirem branco às sextas-feiras durante o ano, também no dia do aniversário e subirem à Colina Sagrada a Igreja do Bomfim pedir a benção do Senhor do Bonfim, mantendo uma tradição “para reverenciar e orar, quer para o santo, o Orixá, ou mesmo para Alá”. (Freire, 2011, p.106). Ao mesmo tempo, assinalamos que estes autores trazem importantes contribuições de pesquisadores, professores como o professor Cid Teixeira (1985) historiador e pesquisador da história da Bahia, destacando fatos e costumes culturais para “Além das belezas naturais, as arquitetônicas que deram origem à urbanização da Península itapagipana, seguiram em igual importância, pois são hoje consideradas patrimônio baiano, como disse o historiador Cid Teixeira em algumas conferências sobre Itapagipe.” (Freire, 2011, p.106).
Nesse estudo do ecossistema costeiro, o trabalho da mariscagem parece ser tão evidente quando focalizando um grupo local, no entanto, conseguinte a manifesta complexidade do conhecimento, olhares indagam sob diferentes pontos de vista, o que leva (co)pesquisadores à visualização da explícita multirreferencialidade do conhecimento, mediante a cultura, saberes e práticas que se desenvolvem em espaços territoriais. O olhar multirreferencial envolve não somente o espaço físico como um todo, uma bela paisagem, mas um mosaico de acontecimentos, fractais de cores, raças e etnias no contexto dos fazeres entrelaçados. Dessa maneira o “ente cognitivo” se revela afetado, [...] em um devir multirreferencial que alimenta e é alimentado pelos movimentos aferentes, eferentes, de semiatualizações e semipotencializações (Pinheiro, 2017, p. 65) pela cultura local sempre emergente que mantém o desenvolvimento da zona respectiva. No sentido da espacialidade humana constata-se a intrínseca relação entre diversas áreas que levam o olhar em perspectivas diferenciadas.
Enquanto o geógrafo tende a enfatizar a materialidade, em suas múltiplas dimensões... a Ciência Política enfatiza sua construção a partir das relações de poder... a Economia, que prefere a noção de espaço à de território, percebe-o muitas vezes como um fator locacional ou como uma das bases da produção (enquanto força produtiva; a Antropologia destaca a sua dimensão simbólica... a Sociologia o enfoca a partir de sua intervenção nas relações sociais, em sentido amplo, e a Psicologia, finalmente, incorpora-o no debate sobre a construção da subjetividade ou identidade pessoal, ampliando-o até a escala do indivíduo. (Haesbaert, 2009, p.37).
Contudo, a característica física da zona enquanto condições do habitat marinho, cara à sobrevivência humana reclama, e precisa ser tomada a termo de cuidados, a requalificação e readaptação por meio de políticas públicas para preservação e manutenção da natureza e vida das diversas espécies. Daí a necessária reflexão em grupos coletivos interdisciplinares trazendo suas histórias e experiencias, alertando a consciência sobre os fatos e hábitos que se tornaram culturais e permanecem em ação de lutas e resistência histórica.
Mesmo se o conhecimento completo é impossível, conforme nos adverte Morin (2002), quando se busca o conhecimento em coletividades e redes, quando se reflete junto com e nos espaços multirreferenciais de aprendizagens (Fróes Burnham, 2012), as chances de se alcançar um conhecimento mais próprio do tecido da vida, cultural, humana, se ampliam pelas próprias características de se constituírem na pluralidade e/ou na heterogeneidade da natureza. A implicação e alteração podem ser mais aprofundadas tocando o espírito, fazendo insurgir lembranças e aprendizados de outros tempos históricos, antes que a memória desapareça por completo. No viés desses platôs a esperança e a solidariedade são emergentes na emoção da busca pela paz dos povos.
Na perspectiva do que assinala Pinheiro (2017, p. 63) trata-se de “movimentos que ocorrem no sujeito, no ente que está envolvido pelo contexto e que motiva sua modificação”, tanto o movimento de fora para dentro “aferente” da matéria-energia física dos fenômenos inanimados, quanto o de dentro para fora “eferente” da matéria-energia física dos fenômenos animados. As discussões cheias de conteúdos aprendidos, sentidos, vividos ocorreram assim na prática em grupos heterogêneos, tanto pelas áreas de conhecimento e culturas, quanto pela faixa etária, conforme ilustra a figura 2.
Figura 2. Reunião de um dos grupos de trabalho, durante o Curso de Capacitação
Fonte: Arquivo dos autores-Embarcados (2023)
Discutindo-se sobre as diferentes experiências das escolas e exposição e apreciação da construção da tecnologia embarcados, considerou-se a possibilidade do devir a ser uma tecnologia de uso e monitoramento apropriada pela comunidade local de forma à melhor compreensão da necessidade de preservação do ecossistema marinho. O processo complementou-se com a realização de um tour coletivo contando vinte e seis discentes e nove docentes da educação básica; nove docentes da graduação; e sete docentes doutores da UNEB e um da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). O veículo para o Tour foi um ônibus que saiu da UNEB, campus I, seguindo na trajetória para a Ribeira onde se iniciou a visitação até a Barra, quando foi possível vivenciar a alegria do momento e observar pontos históricos até a visita ao Museu Náutico da Bahia (figura 3).
Figura 3. Península Itapagipe
Fonte: Arquivo dos autores-Embarcados (2023)
Ocorreram diálogos sobre as águas marinhas da Ribeira, pescaria/pescadores, pontos históricos e configuração geográfica (Figura figura 4) em parte do Mapa da Bahia de Todos os Santos.
Figura 4. Península Itapagipe
Fonte: Arquivo dos autores - Embarcados (2023)
Na rota da Ribeira ao Bonfim os visitantes foram guiados/as pelos pesquisadoras/es constatando, além da beleza, marcas do patrimônio cultural desse território. Na figura 5, temos uma composição onde os visitantes, após a saída do porto dos Tanheiros da Ribeira, voltam a atenção ao mapa da Bahia de Todos os Santos, situado na praça em frente à igreja do Bonfim.
Figura 5. do Largo do Bonfim
Fonte: Arquivo dos autores - Embarcados (2023).
Após contemplação da Igreja do Bonfim e de seus arredores pitorescos os visitantes caminharam em direção ao Forte de Mont Serrat (Figura. 6 (a), (b) e (c).
Figura 6. (a) e (b) Subida do Forte de Mont Serrat. Figura 6. (c) Vista do Mont Serra
Fonte: Arquivo dos autores - Embarcados (2023).
Dessa vez, Franklin Maciel Souza Júnior, professor de história do Colégio Estadual Presciliano Silva foi o guia informando seu conhecimento histórico, por ser também morador da localidade e devido sua familiar habilidade de pescador (Figura 7).
Figura 7. Visitando o Mont Serrat
Fonte: Arquivo dos autores-Embarcados (2023).
E mais adiante se retoma o trajeto no ônibus chegando ao Museu Náutico da Bahia, mais especificamente à “Sala Baía de Todos os Santos”, destacando em suas peças e fotografias distinguindo: “Cultura Marítima”, nas figuras Figura 8(a) e (b), lembrando as atividades econômicas e a “rica vida cultural” como as festas de várias entidades religiosas, destacando a Procissão de Nosso Senhor dos Navegantes, que se desenvolvem em torno do mar. Esse quadro aborda a culinária marcada pelas culturas negra e indígena as mariscadas, moquecas, e escaldados com suas cores e variações. Expressa a relação das canções, lendas, ritos e mitos com o mar como “fonte de inspiração” e apresenta obras como de Caymmi, Caribé, Pierre Verger, Pancetti, Jan Horejs e Benjamin Mulock.
Em outro banner intitulado “Vida e Trabalho” (figura 8b), ilustra-se sobre o trabalho de sobrevivência de comunidades insulares, praieiras, e ribeirinhas, das colônias de pescadores acercando-se das próprias qualidades a coragem, a força física e o conhecimento prático na aventura da pesca. Alude aos trabalhadores portuários. Todos os quadros instigam temas de aulas vivas e que corroboram às pesquisas com as marisqueiras e com o ecossistema marinho: “Recôncavo da Bahia”, “Saveiros, Jangadas e Canoas”, que ao nosso olhar desfilaram em possíveis atividades multirreferenciadas a serem trabalhadas em aula.
Apenas um desses quadro daria para aulas sobre a cultura de forma interdisciplinar História e Culturas Africana-Bahiana-Brasileira e Indígena da Bahia, abrangendo: Geografia, Matemática, Ecossistemas Marinhos, Literatura, Línguas, Artes, Transportes marítimo...
Figura 8 – (a) e (b) Banners expostos no Museu Náutico da Bahia
Fonte: Arquivo dos autores-Embarcados (2023).
MEMÓRIAS DO CAMPO
O projeto EMBARCADOS: DÉCADA DOS OCEANOS nos remete às memórias de experiências de saberes e práticas em atividades de pesquisa e extensão realizadas com mulheres marisqueiras envolvendo alunos e professores da educação básica, a exemplo do Projeto Marisqueiras e Catadeiras protagonistas da própria história do dia-a-dia de Mangue Seco, território de Valença-Bahia-Brasil. As pesquisas com trabalhadoras extrativistas de frutos do mar, nos sensibilizam ainda mais, diante das evidencias alarmantes da necessidade de cuidados específicos e urgência de proteção delas, do alimento, da preservação do ecossistema em prol da natureza, da vida para perpetuação das espécies e conforme os “dez desafios científicos para a década da ciência oceânica para o desenvolvimento sustentável”. (Turra; Rached; Biazon, 2021)
As marisqueiras, que dependem da movimentação da natureza e da relação humana com o ambiente, são guardiãs do conhecimento tácito das marés, dos tipos de mariscos, da maneira como eles aparecem para elas, visto que sabem em que parte encontrá-los. Através de seu labor com o meio ambiente sabem como dar o tratamento necessário à qualidade e validação para o consumo e alcance do mercado, que em se tratando de alimentos, exige-se condições sanitárias e de manutenção nutricional, preservação dos ecossistemas para manutenção.
Alguns “sentidos” no decorrer da pesquisa marcados pela sensibilidade expressam o desejo da organização, de cuidados e de reconhecimento do trabalho no mangue: “A história é difícil, mas um dia a gente vai chegar a uma cooperativa”. “Nós mulheres se unindo para tudo dar certo”. (MAmarela[7], informação verbal, 2015) – “porque muitas vezes as pessoas pensam que eu só falo do mangue seco. Mas é o bairro que eu moro. Eu quero que seja reconhecido. Eu quero ser reconhecida, eu moro no bairro violento, mas um bairro que seja reconhecido pela sociedade. [...] naquele local tem gente digna, a gente merece respeito, merece carinho”. (MVerde, informação verbal, 2015)
Revelam assim a união no sonho de trabalhar para conseguir a casa própria. E na imaginação a amorosidade dos desejos na verbalização em ato criativo:
- Quando paro pra pensar que árvore seria minha vida de marisqueiras: observo que seria uma arvore frutífera e de raízes profundas, pois na minha família foi passado de minha irmã mais velha para as mais novas e também para nossa mãe e os irmãos se tornaram pescadores. O sentido financeiro afirmo que algum tempo atrás já foi melhor, pois tínhamos mais lucro e hoje tá muito difícil apesar de com o defeso – seguro desemprego, que acontece duas vezes no ano - mais afirmo que antes era tão fácil mais com a ajuda de Deus e de pessoas especiais em nossa vida que nos encoraja a prosseguir. O que ela gostaria de frutos diferentes para representar as variedades de mariscos que aprendemos a manusear. A variedade de cor de folhas é como aprendi que deveria ser a vida das marisqueiras com mais variedades mais cores. Os pássaros representam a liberdade das marisqueiras por não precisar cumprir horário e uma árvore de raízes profundas. (MVermelha, informação verbal, 2015).
As marisqueiras praticam a maneira de ser sintonizadas com a sabedoria da natureza, que as rodeia sempre disponível. Sua prática é vivenciada com a admiração de quem aprende esse modo em cada incursão, se dando conta da origem e da valorização ambiental necessária ao extrato e ao próprio trabalho de tratamento do fruto do mar, enquanto produto que chega às redes comerciais até à mesa como alimento nutritivo.
Trata-se de um processo de construção de conhecimento com os saberes e as práticas da lida de subsistência e existência, vai assim MRosa (2015) pontuando marcas da própria realidade:
a gente cata por um real, tanto grande como pequeno por um real eu sou marisqueira e cato siri. Porque na realidade todo mundo quer comer uma muqueca, quer comer as coisas feitas com os frutos do mar e..., o que a gente tá se valendo é de ficar o dia todo sentada ali, mas o povo precisa de ajuda, precisa de trabalho. O lugar que tem mais marisqueiras é o Mangue Seco! (MRosa, informação verbal, 2015)
Trabalho criativo, além dos sonhos, da imaginação, tão necessário à cultura, à comunidade, à sociedade dessas trabalhadoras! Nada mais urgente que torná-las visíveis pelos poderes públicos locais em termos da manutenção do serviço na economia local com os produtos do mar, deveras apreciados por grande parte da população, além de servir a gastronomia no turismo da Bahia.
O que agora rememoramos é também possibilitado por se ter histórias construídas de diferentes projetos, conforme Stopilha (2015). Um desses encontros é o projeto de extensão intitulado Maria Marisqueira, desenvolvido sob a coordenação da professora Ana Lícia Stopilha. Além do projeto de pesquisa intitulado Mapeamento e difusão de ferramentas de gestão do conhecimento e capital social em comunidades locais: um estudo sobre as Marisqueiras do Mangue Seco em Valença (BA), coordenado pela professora Ana Maria Ferreira Menezes[8].
Observa-se que o espaço de trabalho das Marisqueiras não se limita à extensão do litoral da cidade de Valença, localizada na Costa do Dendê com vasto manguezal[9] e um bioma de Mata. As pesquisas evidenciam grandiosa diversidade biológica. Refletimos com Estés (2012; p. 286) que o Manguezal para as marisqueiras é onde
Cada criatura precisa extrair sua inconsciência do caldo primitivo e desenvolver consciência – permitir que a Mãe do Coração do Mundo tome suas mãos, seu coração e sua mente e a conduza para fazer vigorar essas novas atitudes e práticas vitais por si mesma em misericórdia pelos outros. Essa seria de fato uma transformação de um projeto de monstro, e tornar um herói em recuperação. (Estés, 2012; p. 286).
A arte da mariscagem abrange senão todas, a maioria das mulheres que habitam o litoral, áreas de manguezais, regiões ribeirinhas e realizam essa atividade, seja para subsistência alimentar própria, seja para a renda familiar. Em Dantas (2010, p.2),
A arte da pesca envolve representações simbólicas, uma complexidade de conhecimentos, de adaptações e de experimentos adquiridos no processo de aprendizagem, os quais precisam ser compartilhados, divulgados no meio acadêmico, político, social e na própria comunidade. As histórias de vida não devem ficar invisíveis num mundo globalizado, mas devem ser vistas como parte de uma construção histórica vivenciada pela população humana. O resgate da memória das populações ribeirinhas repõe pedaços da história da gestão da cultura que é sempre diversa e múltipla. (Dantas, 2010, p. 2)
A efetivação das atividades de sensibilização para a pesquisa coletiva vai possibilitando desprendimento e aprendizado com alegria e evidências de assim sentiram-se orgulhosas de si mesmas, seguras. O intuito das pesquisas em fazer um levantamento das condições e necessidades sócio administrativas das atividades desenvolvidas pelas Marisqueiras e Catadeiras evolui. Necessário conhecimento pessoal das integrantes do projeto do local: as marisqueiras, catadeiras e professores, alunos e técnicos da Universidade do estado da Bahia (UNEB), um momento de maior aproximação com a realidade. De um lado trabalhadoras da produção autônoma de alimentos frutos do mar e de outro, trabalhadores da UNEB; pesquisadoras e pesquisadores que se unem em prol da causa ambiental de manutenção da vida no planeta.
Acredita-se que o projeto universitário de pesquisa possibilite melhorias para enfrentamento do desafio de busca de reconhecimento sócio cultural, econômico financeiro da própria atividade de trabalho das protagonistas, concomitante aos cuidados de preservação do ecossistema costeiro (EC) local.
UM TEMPO DE SABER: A MARISCAGEM
Além de ser a mariscagem uma atividade que conecta a marisqueira, ou seja, as trabalhadoras do mangue com outra versão do tempo, poderíamos dizer como se designa. O tempo oportuno, Kairós, a vivência preocupada com a qualidade do que se faz, contrariando a vivência controlada em horas, minutos e segundos por Chronos. Nele se vivencia a história mitológica que teima sincronizar a grandeza em horas, dias, semanas, meses e ano. A grandeza em Kairós diz respeito a aqueles breves momentos em que as coisas são possíveis, ocorrem num breve espaço de tempo, por vezes, na velocidade da luz[10]. Ambos vão mostrando que tudo é efêmero e findável, é cíclico e sincrônico. As marisqueiras são coadjuvantes no protagonismo do tempo. Elas vivem o trabalho no tempo possível de Kairós: atemporal, oportuno, qualificante. Com efeito sua rotina é marcada por esses dois tempos em sincronização com a própria natureza.
Logo fazer-se caminhar nesses dois tempos juntos, não é tarefa fácil. A marisqueira se conecta com a tempérie, energias das águas e da lama do manguezal coordenadas pela “Energia Suprema” e “Deidades” da Natureza, a Mãe d’Água, a Yara, Yemanjá, Janaina ou Ondina, ou a Nanã que nos remete ao começo do mundo, cujo livre-arbítrio MMarron (2015) simboliza, em sua expressão: “os pássaros representa a liberdade de uma marisqueira por não presizar cumprir horário”. (MMarron, informação verbal, 2015)
Segundo Stopilha (2015, p. 27) “[...] sempre coube aos homens ir ao mar e às mulheres o beneficiamento do resultado da pesca e a confecção de redes e de outros instrumentos para a atividade”. Contudo as mulheres se aventuraram ao mar e aos manguezais desenvolvendo com autonomia a atividade de pesca e de extração dos mariscos para a sua própria subsistência e economia familiar.
A programação do dia é regida pelo movimento da maré, assim o horário de trabalho coincide com a regularidade da enchente e vazante das águas, e isto torna imperativa uma relação intrínseca, de corpo inteiro, com esse saber tempo do mar, sob limites e do perigo da vida. É preciso coragem para enfrentar as intempéries, seja a irregularidade das condições climáticas, que quando intensas são sinônimos de mau tempo, tempestades, temporal e remetem em seu sentido figurado às dificuldades e infelicidades. Mas também a tempérie assinala o tempo bom. Características do mistério do mar, o que na canção de Caymmi (1954) se traduz ao mesmo tempo pela plural beleza e incerteza para além da fatalidade e do lamento.
“o mar quando quebra na praia é bonito, é bonito
O mar... pescador quando sai
Nunca sabe se volta, nem sabe se fica
Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos
Nas ondas do mar” [11]...
“É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar”. [12]
Essas músicas fazem alusão aos pescadores, porque a atividade da mariscagem passou a ser conjugada com a pescaria e decerto solidária. Embora não tenham sido lembradas como trabalhadoras nessas canções, observamos que o samba de roda faz parte também da cultura marisqueira, ela gosta de samba! Encontramos um grupo denominado “Barlavento” que faz um samba, cujo título é "Marisqueira", autoria de Tom Baretto e o refrão é um apelo à Marisqueira: “Marisqueira aproveita que maré baixou. Sua coroa já clareou jangadeiro vem pro mar. Dona enseada já vou, já vou, já vou Conceição, Margarida”[13].
Em uma de suas edições da Quarta dos Tambores em Cachoeira[14], celebra-se o dia das trabalhadoras e trabalhadores homenageando marisqueiras e pescadores do Recôncavo, representantes da região na Baía de Todos os Santos[15]. Neste movimento a inquietude e incerteza emergem na composição “Beira Mar” de José Carlos Capinan, João Roberto Caribe Mendes, em Bethânia, M. (2007).[16]
Beira-mar, ê-ê, beira-mar
Cheguei agora, ê-ê, beira-mar
Beira-mar, beira de rio
Ê-ê, beira-mar
Logo a profissão da marisqueira vem sendo transmitida por muitas e muitas gerações e se mantém de forma milenar enquanto significativa do contexto histórico-cultural, mediante o trabalho desses povos cultivadores da “floresta do manguezal”. O que se mostra é que as escolhas podem e vem sendo (re)elabordas à medida que se vivencia os desafios do cotidiano, que permitem criar próprios instrumentos e métodos de apreensão da realidade na construção do conhecimento num movimento próprio e apropriado como nos escreve (Galeffi, 2013, p.44): “O importante é o trabalho efetivo na direção de aprendizados comuns que permita a cada um construir o conhecimento de modo próprio e apropriado”.
Essa cultura já se irrompe dos próprios espaços familiares para os diversos espaços sociais e faz resistir os saberes e práticas, uma luta na perspectiva do reconhecimento, da inclusão social e do respeito à diversidade das culturas das músicas, dos saberes, das histórias e dos contos, e reiterando:
Todo este desdobrar de movimentos e de criação dos mais diversos espaços multirreferenciais de aprendizagem certamente estão ligados aos anseios de superação da segregação sócio[econômico-cultural]cognitiva a que são submetidos grandes contingentes da população mundial. [...] E os espaços multirreferenciais de aprendizagem vão pouco a pouco se impondo como alternativas para a superação dessa ausência de equidade. (Fróes Burnham, 2012, 119).
No sentido desta superação encontramos que os conhecimentos dessas práticas culturais devem ser inseridos na educação básica determinada pela alteração da Lei no 9.394/96 de diretrizes e bases da educação nacional passando a vigorar a Lei 10.639/2003 que acrescida dos arts. 26-A, 79-A e 79-B, tanto tornam obrigatório o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo oficial da Rede de Ensino quanto definem o conteúdo programático incluindo nos seus três parágrafos, o “estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”, além das especialidades das áreas de conhecimento, o 20 de novembro “ Dia Nacional da Consciência Negra", sancionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A luta dos povos originários pela educação é contemplada pela alteração desta Lei anterior Lei 10.639/2003, para a Lei 11.645/2008, incluindo “no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade do estudo de “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, abarcando os conteúdos programáticos inerentes às histórias e culturas afro-brasileira e indígena.
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras[...]” (Brasil, 2008)
Sendo assim esta prática e estes saberes tomam formas amplas de inclusão multirreferencial, colocando-a em jogo, se estudados na escola, trabalhados na formação interdisciplinar-transdisciplinar-multidisciplinar de professores, enquanto conhecimento de formação educativa, conhecimento filosófico e ancestral de preservação do patrimônio histórico cultural, proveniente da relação da natureza, numa pedagogia da presença para o presente e futuro, que se desenha na cultura ética da esperança.
CONCLUSÃO
Da forma aqui apresentada, a proposta pedagógico-metodológica da pesquisa reiterando a pesquisa-ação, que vem sendo desenvolvida explicitando possibilidades de integração dos interesses de todas as pessoas, tanto nos processos como nos resultados, amplia a possibilidade de produções tecnológicas e sociais de envergadura, continuidade e confiabilidade na permanência e supervisão organizacionais, institucionais/institucionalizadas da atividade enquanto inovação tecnológica por stakeholders. Um chamamento à responsabilidade de todas as partes interessadas, inclusive com divulgação e aplicação.
Assim encontramos Marisqueiras e Catadeiras, mulheres adultas, idosas e jovens que com o trabalho dia-a-dia pelas marés contribuem efetivamente com a economia do município de Valença, como em tantas outras localidades, o que implica diretamente natureza e realidades multirreferenciais e interdisciplinares da prática de uma profissão que atravessa os séculos, na própria prática de forma artesanal, desde a confecção de ferramentas utilizadas no trabalho tanto da extração dos frutos do mangue quanto do tratamento que é dado para a finalidade de comercialização.
O comércio do marisco no mercado é distanciado da visualização do trabalho efetivo da marisqueira. A possibilidade de conhecimento e compreensão desta habilidade no mundo do trabalho globalizado é reduzida pela desvalorização da força de trabalho que se mantém por critérios, como por exemplo, de gênero, faixa etária, classe social, formação, localização geográfica..., desestimulando esforços para encontrar formas de transformação e melhorias mesmo de preservação do meio ambiente.
O trabalho da Marisqueira exige “conhecimento especializado” que ocorre na prática do fazer começando quando a maré baixa e “a coroa de areia” aparece sinalizando porque o marisco fica debaixo da areia. Em sua lida utiliza-se de instrumentos de trabalho: principalmente as mãos e os braços, além de puçá - cesto usado para pescaria; gadanho - ciscador para tirar o marisco de debaixo da areia; malha - usada para reter o marisco e balde para manutenção em condições saudáveis durante o tempo da maré. E depois em casa para a fervura no tacho deixando em ponto de catação.
Depois desse ritualístico processo da mariscagem vem o trabalho da catadeira que é de retirar a carne de dentro da (conchinha) casca do marisco, dar o tratamento necessário a esses frutos para boa conservação. Em geral são bem aceitos como produtos comercializáveis e facilmente absorvidos pelo mercado de alimentos, regulado de acordo com as demandas da população, da estação, menos conforme necessidades desta profissão: Especialidade; Interdependência; Desigualdade; Classificação; Dinâmica; Efeitos Sociais. Normalmente não se reflete enquanto consumidores sobre como a comida chega em nosso prato à mesa, menos conhecimento ainda da vida de todo o dia-a-dia das mulheres no manguezal, no labor cotidiano de uma ocupação de trabalho e serviço conjugada – pescadores-marisqueira-catadeira, exercidos por mulheres.
A conservação dos manguezais em toda sua extensão, incluindo os “apicuns”, termo indígena[17], se fortalece de importância social por serem berçários para os recursos pesqueiros e como sustento de enorme contingente de pessoas e familiares.
É no Mangue Seco onde se encontra mais mulheres que entram no mar do manguezal para tirar o sustento. Benditas mulheres, benditas marés! Mulheres profissão marisqueira e catadeira. É resultante desta atividade um alimento que faz parte do hábito cultural milenar alimentar dos povos, famílias, moradores do local, pequenas e grandes empresas, restaurantes, as pessoas das mais diferentes localidades do planeta, que alimenta a indústria de frutos do mar. Essas mulheres não entram no mar apenas para contemplá-lo, ou para o lazer, brincar, se divertir, fazer esportes e na crista da onda surfar, no tempo de Chronos ou de Kairós, não! As marisqueiras entram no mar para o exercício do trabalho de extrativismo de frutos que o mar, o mangue, as rochas, as árvores do mar se emergem em abundância a depender das marés e como parte interessada podem sim serem co-pesquisadoras e se juntarem aos biólogos, botânicos, engenheiros, gastrônomos, ... Não como sujeitos secundários, mas como protagonistas da ciência que contribuem para o ensino-aprendizagem e a pesquisa social, antropológica e educação.
Enquanto prática, o trabalho delas é assim recheado de detalhes de um conhecimento tácito, desde ficarem disposta ao tempo, prestando atenção às mudanças meteorológicas, direção dos ventos, enchente e vazante das marés que coincidem com os diferentes interstícios da madrugada, da noite ou do dia até ter à mão os instrumentos do trabalho e o preparo de si mesmo e com os apetrechos necessários do vestuário, o café, uma alimentação, tudo no sentido de uma verdadeira conexão com o céu, o mar, a fauna e a flora do manguezal. É assim, linda, a labuta das mulheres Marias Marisqueiras do Ecossistema Costeiro. O labor na dependência das marés, sensivelmente ligada à natureza do tempo se constitui fragmentos amorosos como expressão desmistificadora dos discursos das políticas sociais.
REFERENCIAS
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1
Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n. Edição Especial - 01. 2024, p.03 - 27. Jul./dez., http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131
[1] A Análise Cognitiva é estudada como um campo de conhecimento emergente de pesquisa estruturante do Programa de Doutorado em Difusão do Conhecimento (PPGDC) que tem as características de multi-institucional e multidisciplinar. Esse Doutorado já se encontra em seu décimo sétimo 17º ano em curso ininterrupto e em processo de implantação do Mestrado. Trata-se de um programa único do gênero e constituído em rede formada com a participação, além da UFBA, do LNCC, da UNEB, da UEFS, do IFBA e do SENAI/CIMATEC. Esse formato deve-se a esforços de investigação de coletivos como o do grupo de pesquisa REDPECT - Rede Cooperativa de Pesquisa e Intervenção sobre (In)formação, Currículo e Trabalho; o grupo Conhecimento: Análise Cognitiva Ontologia e Sociedade (CAOS), e da Rede de Informação e Currículo (RIC’s).
[2] Abordado desde a tese de doutorado de Leliana Santos de Sousa o método da pesquisa-ação e da sociopoética, tomando o contexto das experiências de pesquisa, grupos-pesquisadores são formados por participantes ativos em todas as etapas da pesquisa, desde a coleta/produção de dados até a análise e socialização. Enquanto um enfoque de pesquisa em ciências sociais, o “grupo-pesquisador” discute a temática e elabora problemas, cria conexões conceituais destacando as Culturas Dominadas e de Resistência; Conhecimento Integral; Formas Artísticas de Produção de Dados e Responsabilidade Ética e Política no que reconhecem que a pesquisa não é apenas acadêmica no sentido limitado do termo, mas científica ao atender às necessidades e desejos encaminhando problematizações e produtos do processo de pesquisa das comunidades envolvidas.
[3] Segundo Fróes Burnham (2012) o propósito da abordagem que toma as especificidades do conhecimento enquanto lastros de compreensão deste mesmo conhecimento é assumido pelo compromisso dialógico, aberto e interativo de traduzi-lo, (re)construí-lo e difundi-lo, “de modo a tornar conhecimento público todo aquele de caráter privado que é produzido por uma dessas comunidades, mas que é também de interesse comum a outros grupos / comunidades / formações sociais mais amplas.” (Fróes Burnham, 2012, p. 52).
[4] Vide o Projeto de Lei da Câmara 47/2017 sobre as responsabilidades do poder público e atividades desenvolvidas por essas trabalhadoras.
[5] Maior festa popular de Salvador que acontece na segunda quinta-feira do mês de janeiro, após o dia de Reis, desde 1773 e que tem grande participação do povo de terreiro na lavagem das escadarias do adro da basílica. Esta festa conhecida mundialmente se configura na cultura baiana.
[6] Festa pelo mar saindo da Igreja da Conceição da Praia no porto do Comércio em direção à praia da Boa Viagem quando simbolicamente se dá o encontro da mãe com o filho N. Sra. da Conceição.
Segundo (https://leiamaisba.com.br/2013/04/22/) a península Itapagipana era uma ilha, que avançou nas águas do mar se unindo ao continente sobre a Baía Todos os Santos reúne 14 bairros (Calçada, Mares, Jardim Cruzeiro, Massaranduba, Uruguai, Roma, Dendezeiro, Bonfim, Monte Serrat, Boa Viagem, Luís Tarquínio, Caminho de Areia, Baixa do Fiscal, Ribeira).
[7] As mulheres colaboradoras durante a sensibilização da pesquisa se autoidentificaram com o nome de cores escolhidos por elas, ficando assim: M de Maria mais a Cor escolhida.
[8] Profa. Dra. Ana Maria Ferreira Menezes, então coordenadora do Programa de Pós Graduação Mestrado em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional (PGDR). Projeto Fapesb (2015).
[9] Schaeffer-Novelli (1995, p. 7) define manguezal como “ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés”
[10] “Kairós é a qualidade do tempo vivido. Kairós é o tempo oportuno, que faz um acontecimento ser especial, memorável, não em seus números, mas em sua significância. Apesar de tal oposição, essas personagens jamais se anulam e na compreensão da presença contínua de ambos em nosso modo de habitar o mundo abrem-se as margens para um tempo chronologicamente kairológico: um momento único e oportuno (Kairós) localizado em nossa rotina massificante (Chronos). A resignificação do tempo observado é absorvida pela eternidade em pequenos pontos atemporais”. (Pedroni, 2014, p.2)
[11] CAYMMI, Dorival. O Mar. Álbum Canções Praieiras. Gravadora Odeon, 1954. Disponível em https://www.letras.mus.br/dorival-caymmi/45583/
[12] CAYMMI, Dorival. É doce morrer no mar. Álbum Canções Praieiras, Gravadora Odeon, 1954. Disponível em https://www.letras.mus.br/dorival-caymmi/356569/
[13] Grupo Barlavento "Marisqueira" Autoria: Tom Baretto. Disponível em www.youtube.com/watch?v=WS-UXoh3zF8
[14] Movimento cultural de matriz africana informa o projeto idealizado por Alder Augusto com a participação de Marcelino Gomes de Jesus, presidente da Fundação Casa Paulo Dias Adorno e Xavier Vatin, então diretor do Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB.
[16] MENDES, Roberto; CAPINAN. Beira Mar. Editora: Universal Music Publishing / Nowa / Direto. Intérprete/Artista: Maria Bethânia Álbum: Dentro do Mar tem Rio, 2007. Disponível em . https://www.letras.mus.br/maria-bethania/851450/
[17] Schmidt; Bemvenuti; e Diele (2013) explicam: “Zona de transição entre o manguezal e a terra firme, comumente conhecida por apicum. [...]. No Brasil, essa zona é comumente chamada de apicum, termo derivado da palavra apecu, originária da língua indígena Tupi e que significa língua de areia ou coroa de areia (SILVA, 1965; BUENO, 1983; CUNHA, 1999) [...]. No Brasil, o termo popular indígena é frequentemente utilizado tecnicamente e pesquisadores e legisladores também adotaram a alta salinidade como uma característica dos apicuns (UCHA; HADLICH; CELINO, 2008; HADLICH; UCHA; CELINO, 2008; BRASIL, 2012), apesar de o significado original dessa palavra (SILVA, 1965; BUENO, 1983; CUNHA, 1999) e a percepção da população tradicional (PELLEGRINI, 2000; DE JESUS; HADLICH, 2009) não fazerem menção a essa particularidade e aos limites de inundação pela maré utilizados como critério”.