TEATRO E ESPANHOL: COMBATE AO ETARISMO E PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE NA EDUCAÇÃO ONLINE
Gabriel Fontoura Motta1*
1Ator, Educador e Pesquisador. Mestre em Artes da Cena (Unicamp) e graduado em Teatro Licenciatura (UFRGS), com mobilidade acadêmica na UC3M (Madrid).
*Autor para correspondência E-mail: ogabrielfontoura@gmail.com
Recebido:07/10/2024 Aceito: 15/12/2024
Resumo: Este estudo[1] investiga o processo criativo do audiodrama Los Ciegos[2], desenvolvido no curso de teatro online voltado ao ensino de Espanhol como Língua Estrangeira (ELE), com alunos acima de 60 anos do programa de Maturidade Ativa “universIDADE” da Unicamp. O objetivo foi analisar como o teatro pode restaurar a criatividade e a crítica em sujeitos educados sob modelos positivistas, afetados pelo Capitalismo Cognitivo e pela perda da “sensibilidade vibrátil”. A metodologia adotou uma abordagem de “Metodologia Ativa”, integrando teatro e ensino de espanhol, com o uso de gamificação e etnografia cartográfica inspirada nos Hypomnemata de Foucault. O Teatro do Oprimido (Boal) e os Jogos Teatrais (Spolin) foram utilizados para estimular a alteridade e a criatividade em um ambiente online. A obra simbolista de Maurice Maeterlinck, “Os Cegos” (1890), foi transformada em audiodrama, com participantes que nunca haviam atuado antes, utilizando técnicas de improvisação e storytelling para processar suas próprias vivências. Os resultados indicaram transformações significativas nos participantes, incluindo maior consciência crítica em relação às fake news, desenvolvimento da criatividade, combate ao isolamento social e ao etarismo. Também foi observada a conquista da fluência em espanhol, com o teatro funcionando como uma ferramenta poderosa para a expressão de histórias pessoais e coletivas. Conclui-se que o teatro online, aliado ao ensino de línguas, promove a restauração da sensibilidade e da criatividade em sujeitos 60+, combatendo o etarismo e fomentando a criação ativa de narrativas críticas em um contexto digital. O projeto se alinha ao 4º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU, “Educação de Qualidade”, e propõe novas formas de Educomunicação, onde o aluno é um criador ativo de conhecimento e narrativas em um mundo interconectado.
Palavras-chave: Teatro Online; Espanhol; Etarismo; Sensibilidade Pedagógica; Educomunicação.
THEATER AND SPANISH: FIGHTING AGEISM AND PRODUCING SUBJECTIVITY IN ONLINE EDUCATION
Abstract: This study explores the creative process behind the audio drama Los Ciegos, developed in an online theater course designed for teaching Spanish as a Foreign Language (ELE) to students over 60 years old, part of the “universIDADE” Active Aging program at Unicamp. The objective was to analyze how theater can restore creativity and critical thinking in individuals educated under positivist models, impacted by Cognitive Capitalism and the loss of “vibrant sensitivity.” The methodology employed an “Active Methodology” approach, integrating theater and Spanish teaching through gamification and cartographic ethnography inspired by Foucault’s Hypomnemata. Techniques from the Theater of the Oppressed (Boal) and Theater Games (Spolin) were used to foster otherness and creativity in an online environment. Maurice Maeterlinck’s symbolist play The Blind (1890) was adapted into an audio drama with participants who had never performed before, using improvisation and storytelling techniques to process their own life experiences. The results revealed significant transformations among participants, including heightened critical awareness regarding fake news, enhanced creativity, and reduced social isolation and ageism. Furthermore, participants achieved fluency in Spanish, with theater proving to be a powerful tool for expressing personal and collective stories. In conclusion, online theater combined with language teaching promotes the restoration of sensitivity and creativity in individuals aged 60+, combats ageism, and encourages the active creation of critical narratives in a digital context. The project aligns with the 4th United Nations Sustainable Development Goal, “Quality Education,” and proposes new approaches to Educommunication, where students become active creators of knowledge and narratives in an interconnected world.
Keywords: Online Theater, Spanish, Ageism, Pedagogical Sensitivity, Educommunication.
TEATRO Y ESPAÑOL: COMBATE AL EDADISMO Y PRODUCCIÓN DE SUBJETIVIDAD EN LA EDUCACIÓN EN LÍNEA
Resumen: Este estudio investiga el proceso creativo del audiodrama Los Ciegos, desarrollado en un curso de teatro en línea orientado a la enseñanza del Español como Lengua Extranjera (ELE), con alumnos mayores de 60 años del programa de Maturidad Activa “universIDADE” de la Unicamp. El objetivo fue analizar cómo el teatro puede restaurar la creatividad y el pensamiento crítico en personas educadas bajo modelos positivistas, afectadas por el Capitalismo Cognitivo y la pérdida de la “sensibilidad vibrátil”. La metodología adoptó un enfoque de “Metodología Activa”, integrando teatro y enseñanza de español mediante gamificación y una etnografía cartográfica inspirada en los Hypomnemata de Foucault. Se utilizaron el Teatro del Oprimido (Boal) y los Juegos Teatrales (Spolin) para fomentar la alteridad y la creatividad en un entorno en línea. La obra simbolista de Maurice Maeterlinck, Los Ciegos (1890), fue adaptada a un audiodrama con participantes que nunca antes habían actuado, utilizando técnicas de improvisación y narración para procesar sus propias vivencias. Los resultados mostraron transformaciones significativas en los participantes, incluyendo una mayor conciencia crítica respecto a las noticias falsas, el desarrollo de la creatividad, el combate al aislamiento social y al edadismo. Asimismo, se observó la adquisición de fluidez en español, destacándose el teatro como una herramienta poderosa para la expresión de historias personales y colectivas. Se concluye que el teatro en línea, combinado con la enseñanza de idiomas, fomenta la restauración de la sensibilidad y la creatividad en personas mayores de 60 años, combatiendo el edadismo y promoviendo la creación activa de narrativas críticas en un contexto digital. El proyecto se alinea con el 4.º Objetivo de Desarrollo Sostenible de la ONU, “Educación de calidad”, y propone nuevas formas de educomunicación, donde el estudiante es un creador activo de conocimiento y narrativas en un mundo interconectado.
Palabras clave: Teatro en Línea, Español, Edadismo, Sensibilidad Pedagógica, Educomunicación.
INTRODUÇÃO
O tema central desta pesquisa é a democratização do teatro, fundamentada na premissa de que essa arte é acessível a todos. Neste trabalho, o ensino teatral é abordado como uma ferramenta prática para o cotidiano de "não atores" que participaram do audiodrama Los Ciegos. Por meio da instrumentalização digital, o elenco foi capacitado a realizar uma interpretação crítica do conteúdo consumido nas redes sociais, utilizando o teatro como meio de reflexão. A proposta da pesquisa é explorar como o teatro online pode empregar tecnologia disruptiva como ferramenta educomunicativa, desterritorializando o conceito de "Corpo Vibrátil" (Rolnik, 2006) em tempos de "crise do capitalismo cognitivo". Nesse contexto, o estudo examina a perda de alteridade nos sujeitos e na relação entre autor e obra, utilizando a cartografia etnográfica. Para isso, apoia-se na noção foucaultiana de "escrita de si" (Foucault, 2004), que, em parte, revisita a ideia de silenciamento em Sêneca como uma forma de autocuidado. O estudo justifica-se pela importância do público-alvo, que pode acessar o audiodrama em qualquer momento, democratizando o acesso ao teatro, tanto do objeto artístico (audiodrama), como do método com as aulas[3]. A peça escolhida para encerrar o curso ¿Hablas Español? convida os espectadores (ouvintes) a acompanhar uma jornada de personagens em busca de respostas sobre a vida após a morte. Escrita por Maeterlinck em 1890, a dramaturgia incorpora elementos sonoros nas didascálias, tornando-se ideal para a adaptação em formato de audiodrama. Além disso, o trabalho analisa a influência da filosofia no teatro simbolista, com ênfase no "Teatro Estático" de Maurice Maeterlinck, discutindo conceitos como "teatro de androides" e o esvaziamento da palavra na linguagem teatral simbolista.
A consciência ética e estética glocal estabelece um diálogo com a leitura ativa, valorizando o subjetivo em um mundo mais amplo e significativo que o indivíduo. Assim, o audiodrama envolveu "não atores", cujos intérpretes deram vida a "não personagens", conectando o consumo digital e a realidade por meio de uma metodologia prática de interpretação ativa. O etarismo na comunicação da mídia em detrimento da consciência ativa do discurso contemporâneo de pessoas 60+ conecta-se às temáticas presentes na obra Os Cegos, de Maeterlinck, que aborda a inação diante de crises maiores que nós mesmos. Em um cenário global marcado por desastres climáticos, racismo ambiental e conflitos geopolíticos, o teatro é combinado ao ensino de idiomas como forma de mitigar os impactos contemporâneos sobre a aprendizagem e a comunicação, por meio da educomunicação. Conforme pesquisa realizada pelo Ipespe[4] (2022), observou-se uma aceleração da inclusão digital de idosos, por exemplo, especialmente na região Sul do Brasil, durante o isolamento social. No âmbito do programa universIDADE, foram formadas quatro turmas de 20 alunos que, por meio de uma nova disciplina, compartilharam conteúdos sobre o idioma em um grupo de WhatsApp comigo. Esse ambiente virtual colaborou para a criação de nossa cena digital como um "novo teatro". Não se buscou criar uma dramaturgia autoral, mas sim imortalizar nossas vozes em uma peça já existente, traduzida para o espanhol. A internet demonstrou-se um espaço inclusivo para todas as idades[5], promovendo a integração digital[6] de pessoas com mais de 60 anos por meio do teatro. O elenco do audiodrama contou com seis integrantes que nunca se encontraram presencialmente. A obra documenta nossas vivências e experiências coletivas, como a eleição de 2022 e a vitória da Argentina na Copa do Mundo. Todos temas comentados em nossas aulas. A criação se baseia na "Sensibilidade Pedagógica", que valoriza a troca plural, horizontal e igualitária entre professor e aluno. Essa vivência mediada pela tecnologia é analisada sob a ótica das formas de teatro em áudio, nas quais a interação à distância amplia a percepção de proximidade. Como sugere Dubatti (2021), o “tecnovívio” (vivência mediada pela tecnologia, como uma videochamada) representa uma forma de convivência que substitui a presença física, embora ainda careça da profundidade das conexões subjetivas: “O que estamos fazendo agora não é o teatro porque está na câmera nem o cinema porque se molda no jogo teatral; mas é teatro porque parte do jogo e se coloca no ao vivo e é cinema porque parte da arte em câmera[7].”
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os criadores de conteúdo, ao compartilharem suas experiências publicamente, vivem sob o olhar constante do público. Essa consciência os leva a refletir sobre suas ações, buscando autenticidade e coerência com sua identidade. Será? Como destaca Foucault (2004, p. 153), “é que, como lembra Sêneca, ao se escrever, se lê o que se escreve, do mesmo modo que, ao dizer alguma coisa, se ouve o que se diz”. A prática cotidiana do relato de si difere de outras formas de escrita, como a correspondência e os Hypomnemata, que organizam pensamentos e promovem o autoconhecimento. Foucault (2004, p. 157) argumenta que o papel dessas práticas é permitir a constituição de si mesmo “a partir da coleta do discurso dos outros”. Sêneca, por sua vez, enfatiza o valor do dia comum: “Este dia é inteiramente meu; ninguém me tirou nada dele” (apud Foucault, 2004, p. 159). Filtrar o conteúdo consumido evita a falta de discernimento, e a leitura ativa favorece a consciência do que estamos absorvendo. Foucault destaca a importância do consumo moderado, enquanto Sêneca defende a alternância equilibrada entre leitura e escrita: “Abundância de livros, conflitos da mente” (Foucault, 2004, p. 150). Esse equilíbrio contribui para a formação de um sujeito ético, fundamental no contexto do uso consciente das redes sociais. No ambiente digital, algoritmos moldam nossas interações e preferências. A incessante transição de informações, como a rolagem de conteúdos nas redes sociais, dispersa a atenção e pode resultar na perda da retenção de conhecimento (Foucault, 2004, p. 150). Boal (1980, p. 12) relaciona essa questão com a origem do teatro ocidental: “Teatro era para o povo cantando livremente ao ar livre”. Antes das práticas de “storytelling” contemporâneas, o teatro envolvia a criação única e espontânea de cada indivíduo. A glocalização, por sua vez, conecta-se ao mercado que vende desejos e impulsiona a sociedade. Segundo Rolnik (2006, p. 18), “o desejo só funciona em agenciamento”, sendo mediado por trocas e interações sociais. Essa lógica evidencia a complexa relação entre o consumo e a ética, bem como a influência da vida digital na subjetividade contemporânea. Para Rolnik (2006, p. 93), “chegamos à captura pós-moderna pela mídia [...]; somos uma voz sem voz própria”. No teatro, Maurice Maeterlinck e o conceito de “Teatro Estático” ilustram a necessidade de explorar novas relações entre palco, plateia e sociedade (Sarrazac, 2004) antecipando a crise do drama[8] burguês, pois, o excesso de discussões em diálogos já não comunicava mais nada. A obra Os Cegos recusa diálogos esclarecedores, provocando reflexões sobre a existência e a complexidade contemporânea.
Quando vou ao teatro, minha sensação é de encontrar-me por algumas horas em meio de meus ancestrais, seres que tinham da existência uma concepção simples, seca e brutal, da qual já pouco me lembro e que não me interessa. Um marido enganado mata a esposa, uma mulher envenena o amante, um que sejam indiferentes ao movimento duma pálpebra que se fecha ou dum pensamento filho que vinga o pai, um pai que sacrifica seus filhos, filhos que fazem morrer seu pai, e há reis assassinados, virgens violadas, burgueses encarcerados, tudo no diapasão do sublime tradicional; mas, ai de nós! tão superficial e tão material - sempre sangue, lágrimas exteriores e morte. Que podem dizer-me criaturas tomadas de uma ideia fixa, e sem tempo para viver, por que tem de matar o rival ou a amante? (Maeterlinck, 1945, p. 80)
A pedagogia do teatro online forma plateias do amanhã, atuando como mediação para criar novos públicos que incentivarão o teatro presencial, assim, fomentando a Economia Criativa como “Ação Cultural” (Coelho, 1999). Conforme sugere Teixeira Coelho, é fundamental compreender a ética e a estética do mundo glocal[9] para criar novas formas de comunicação que transformem a realidade. O teatro online pode desempenhar um papel importante nesse processo, oferecendo novas referências e ampliando horizontes, mesmo que em grupos menores. A convivência com o teatro e a troca de informações podem mitigar os efeitos nocivos de uma sociedade marcada pela superficialidade e desinformação, como discutido por Foucault (1990). O ensino do teatro online facilita a interpretação crítica e o desenvolvimento cognitivo, promovendo flexibilidade mental e habilidades executivas. Essa abordagem ajuda a desafiar as narrativas dominantes que circulam nas redes sociais e nas esferas de poder, permitindo reflexões sobre vivências e escolhas[10]. O conceito de “Corpo Vibrátil”, apresentado pela socióloga Suely Rolnik, reflete como a sociedade capitalista afeta nossa percepção de alteridade. Ou seja, de reconhecer o espaço do outro. O teatro online, por sua vez, oferece uma alternativa criativa para lidar com esses desafios. A presença, e o encontro, mesmo que digital, em uma videochamada surge como uma resposta aos desafios enfrentados em Porto Alegre, por exemplo, onde minha cidade de origem sofreu com enchentes causadas pela negligência do poder público. “Tragédia no Rio Grande do Sul é consequência de destruição humana.[11]” Tal fato também aconteceu recentemente na cidade de Valência, na Espanha. Interpretar o que estamos lendo, consequentemente, faz com que pensemos em quem estamos elegendo para as urnas do amanhã. Ademais, o tecnovívio, descrito por Jorge Dubatti, fortalece a criação síncrona no teatro online. Essa abordagem é explorada neste trabalho como forma de romper o “normal” de aceitar desastres climáticos ou a banalidade de eleger “personagens das redes sociais para a política”.
Nesse sentido, o teatro online promove um espaço de resistência criativa e crítica. A humildade necessária para estudar um idioma estrangeiro, como o espanhol, ecoa no aprendizado de Maurice Maeterlinck ao deixar a Bélgica rumo a Paris. Sua obra O Tesouro dos Humildes (1896) inspira este trabalho ao sugerir que a simplicidade é a chave para enfrentar as complexidades do mundo moderno. Ao mesmo tempo em que seguimos normas rígidas da Real Academia Espanhola e do Instituto Cervantes para o ensino de espanhol, a metodologia aplicada no curso explora a liberdade criativa e a subjetividade por meio do teatro. Este equilíbrio reflete a proposta de inovação pedagógica desta pesquisa, onde a norma e a expressão se complementam. O teatro online não apenas atua como ferramenta educomunicativa, mas também oferece um espaço de reflexão sobre questões éticas e sociais contemporâneas, como mudanças climáticas, racismo ambiental e a manipulação de informações nas redes sociais. Essa perspectiva reforça a relevância do teatro como um espaço crítico em tempos de crise global. A humildade necessária ao aprendizado de um novo idioma também dialoga com a proposta do teatro como espaço de escuta e troca. Essa mesma humildade, identificada na obra de Maurice Maeterlinck, transcende o ato de aprender espanhol e se aplica à abertura para compreender o outro e o mundo em um contexto mais amplo. Assim, o curso de Teatro e Espanhol conecta-se a uma sensibilidade pedagógica que visa combater o “amassamento do Corpo Vibrátil”, conforme descrito por Rolnik, e resgatar a criatividade e a alteridade. A “Pulsão de Ficção”, metodologia criativa de Suzi Frankl Sperber, complementa as práticas desenvolvidas neste trabalho, unindo aspectos simbólicos e subjetivos ao aprendizado da língua espanhola.
O uso das redes sociais e sua relação com a arte é problematizado, reconhecendo seu potencial tanto para entretenimento quanto para reflexões mais profundas. A integração de ferramentas digitais, como gravações de aulas e dinâmicas síncronas em plataformas online, possibilitou aos participantes não apenas aprender espanhol, mas também expandir suas habilidades criativas e comunicativas. Este processo enfatiza a inclusão digital de pessoas idosas, que continuam vivenciando a transição para o meio online durante, e após, a pandemia. Ao estimular a criatividade e a interpretação teatral, a pesquisa promove a interação entre os hemisférios cerebrais, integrando processos analíticos e intuitivos. Essa abordagem multidimensional contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas que vão além do aprendizado do idioma, fortalecendo a percepção, a memória e a flexibilidade cognitiva. É através da interpretação crítica dos conteúdos que nos deparamos com a necessidade de pensar nas consequências das escolhas que moldam nossa sociedade. Por fim, a metodologia qualitativa e cartográfica fundamenta-se na etnografia e nos hypomnemata, utilizados como registro das vivências e reflexões dos participantes do curso. Essa abordagem, aliada ao tecnovívio e à prática pedagógica teatral, configura um espaço de criação artística que prioriza a sensibilidade, a subjetividade e a alteridade. Atuamos para um “Teatro Estático” que busca uma expansão às leis do drama clássico, antevendo a crise do drama, e a morte do autor, como criação dramatúrgica do teatro simbolista de Maurice Maeterlinck. A recusa aos diálogos como principal fonte de resolução de conflitos — assim como a morte, que reduz nossos conflitos com uma única ação: desaparecer — traz o questionamento entre vida e morte para além da situação dos personagens. Embora essa questão já esteja presente na trama, o destino de todos nós não se diferencia do mistério abordado em Os Cegos.
Há uma tragédia cotidiana bem mais real, bem mais profunda e conforme ao nosso verdadeiro ser, do que o trágico das grandes aventuras. É fácil senti-la, mas não é fácil mostrá-la, porque não é apenas material ou psicológica. Não se trata da luta determinada dum ser contra outro, da luta dum desejo contra outro desejo ou do eterno embate entre a paixão e o dever. Trata-se de fazer ver o que há de espantoso no simples fato de viver. Trata-se de fazer ver a existência duma alma em si mesma, no meio duma imensidade sempre ativa. Trata-se de fazer ouvir, por cima dos diálogos comuns da razão e dos sentimentos, o diálogo mais solene e ininterrupto entre o ser e o seu destino. (Maeterlinck, 1945, p. 77)
Que drama é este que não dá conta do mistério da vida? Para a época em que foi escrito, Os Cegos entende que não há ação através de diálogos capazes de esclarecer os enigmas da existência. “Seria possível distinguir a imagem e a visão. A primeira seria um fenômeno óptico, ela começa e termina nos olhos, no sistema ocular. A segunda seria um fenômeno mental: se ela começa nos olhos, é no espírito que ela se realiza”[12]. No contexto atual brasileiro, enfrentando desafios socioeconômicos e ambientais, a importância do Teatro Estático ressurge. Ao abordar a falta de respostas individuais e coletivas, a obra de Maeterlinck proporciona reflexões pertinentes à complexidade contemporânea, como no aquecimento global. Durante todo o processo estamos olhando para nossas pistas do passado, para as pegadas do hoje e entregando-nos para os caminhos do amanhã. A Sensibilidade Pedagógica opera exatamente no espaço do ego, do tirar a armadura da vergonha e somar-se ao saber. Olhando para todos os lados, aprendendo, compartilhando um conhecimento novo, uma palavra encontrada, uma notícia, uma saudade. Em Sêneca, Foucault encontra a escrita de si pensando, muito, na recepção e análise, antes de compartilhar com outrem. Se, em Los Ciegos, dissecamos o texto, ou seja, analisamos cada palavra, cada oração, interpretando todas as informações que o autor imprimiu nas 20 páginas da peça, o filósofo francês encontra no estoicismo um espaço de assimilação semelhante. Ou seja, não basta ler, não basta pensar, não basta escrever. Não é quantitativo, mas qualitativo. O que apreendemos (de reter mesmo) do que estamos entrando em contato? Se conseguirmos ter energia para reter 10% de 100% de um conteúdo, não adianta aumentarmos a carga de conteúdo para 200% que a retenção não caminhará de forma exponencial. Afinal, aprender dá trabalho. Eu ler “Os Cegos” em 2015, na graduação, é diferente de ler “Os Cegos” em 2022. Em outro Estado, em outro estado mental e corporal também, depois de uma pandemia, de uma enchente, depois de terminar a graduação, agora, o mestrado. Com quem li na época, com quem leio hoje. Com quem não leio mais. Tudo influencia, tudo está conectado. O ensino e a aprendizagem (ELE) do espanhol, neste trabalho, irá encontrar na Escrita de Si o tempo de assimilação. O curso ¿Hablas Español? foi proposto por mim em 2022. Montamos, ao longo de 2023, o audiodrama Los Ciegos que ratifica nossa caminhada. Mas o aprendizado acontece em expansão, o conhecimento reverbera-se em todos, para sempre. “A saída está na organização ou reorganização da vida privada e não na alienação dessa vida na massa ou no coletivo.” (Trivinho, 2022, p. 43)
METODOLOGIA: materiais e métodos
As vídeo chamadas adotaram uma linguagem pedagógica que funciona como mediação na formação humana. Por meio das aulas gravadas, é possível analisar expressões e reflexões individuais em cena. Como afirma Dubatti (2021, p. 260): “Os convívios são menos controláveis pelos serviços de inteligência / os tecnovívios são fáceis de gravar e arquivar.” O público-alvo explora o teatro como ferramenta para desenvolver habilidades cognitivas e emocionais, promovendo flexibilidade e conexões sociais. A proposta oferece aos alunos a oportunidade de aprimorar suas habilidades no idioma espanhol enquanto reflete sobre narrativas midiáticas contemporâneas, como as fake news. Para isso, são utilizados e-books desenvolvidos especificamente para os níveis do curso, que também são aplicados em aulas particulares. Esses materiais apoiam a sustentabilidade acadêmica do pesquisador, anteriormente bolsista da CAPES. Dessa forma, o teatro e o ensino de espanhol tornam-se ferramentas não apenas de desenvolvimento pessoal dos alunos, mas também de continuidade profissional para o docente-pesquisador. Baseado em metodologias ativas, o trabalho utiliza o teatro online como um encontro síncrono que estimula a percepção da alteridade. Dialogando com o método de John Dewey, que propõe o “aprender fazendo” (Lovato et al., 2018, p. 10), a abordagem segue o conceito de “Projeto Construtivo”. Nesse modelo, busca-se criar algo inovador, propondo soluções criativas para problemas ou situações específicas (Lovato et al, 2018, p. 10). Aqui, o foco não é resolver um problema específico, mas canalizar uma energia colaborativa que se transforma em uma egrégora criativa durante a prática do tecnovívio teatral. A crítica, entretanto, se volta ao impacto da comunicação de massa, como o etarismo midiático voltado ao lucro.
Durante as aulas de até 60 minutos, os alunos participam de atividades que exploram múltiplas dimensões, como com improvisos, construção de personagens e dinâmicas online através de jogos e exercícios teatrais. Essa atividade une aprendizado entre artes e letras ao abordar o espanhol em suas facetas históricas, sociais e culturais, como nas categorias de “gramática histórica, história da língua e contato linguístico” (Company, 2021, p. 6). O curso reflete sobre o desenvolvimento do idioma desde o espanhol da Península Ibérica até sua chegada à América Latina, destacando sua origem popular e suas variações regionais. Os sotaques e culturas hispânicas são explorados para ensinar o idioma de maneira prática e contextualizada. O portunhol, por exemplo, é tratado como um facilitador que acelera a fluência pela transferência natural entre português e espanhol. Aspectos como distância geográfica, autonomia administrativa e densidade demográfica são considerados fatores essenciais na formação da língua espanhola (Company, 2021, p. 12). Em uma aula, propus uma atividade em que os participantes segurassem uma lata com água, baseando-me no jogo teatral “O que estou comendo, cheirando e ouvindo[13]” (Spolin, 2001, p. 56). Durante o exercício, os alunos realizavam tarefas simultâneas e, na gravação, podiam observar suas reações a um suposto ‘chefe’ em uma reunião fictícia no horário de almoço. Ao improvisar, enquanto tentavam não derrubar a lata, os participantes demonstravam comportamentos mais ‘mal-humorados’. A gravação permitiu que eles analisassem suas próprias reações em situações fictícias que evocavam irritação, revelando reflexões sobre a sobrecarga causada pelas multitarefas no cotidiano. Com o decorrer do curso, foi possível observar que o envolvimento com o teatro promoveu transformações pessoais, além de um progresso significativo no aprendizado do espanhol, com um desenvolvimento notável no domínio do idioma por meio das dinâmicas propostas. O curso configura-se como uma mediação teatral, incentivando a prática presencial do teatro e objetivando o desenvolvimento da interpretação crítica dos alunos. Além disso, busca aprimorar habilidades essenciais para a convivência em sociedade, como a capacidade de interpretar fake news, contribuindo para evitar golpes frequentemente direcionados à terceira idade. A metodologia convida os participantes a refletirem sobre suas emoções e experiências, ressignificando preconceitos e inseguranças em um ritmo que contrasta com a aceleração capitalista, indo ao encontro do nosso Zeitgeist.[14] Focando no teatro e no espanhol como mediadores de subjetividades, as aulas estimulam o desenvolvimento de habilidades interconectadas, como atenção, senso de pertencimento e flexibilidade cognitiva. Isso ajuda a combater o isolamento e o etarismo, além de desenvolver uma consciência ampliada sobre comunicação verbal e não verbal através da expressão. Como Boal (1980, p. 48) enfatiza: “Ethos é a própria ação.” Ao observarem suas improvisações, os alunos refletem sobre comportamentos sociais, como o tratamento inadequado a uma atendente de telemarketing, por exemplo. Tais interpretações evidenciam carências de alteridade, um reflexo do que Foucault descreve como parte dos “Jogos da Verdade” do mundo adulto em busca do capital. “técnicas específicas que os homens usam para compreenderem a si mesmos” (Foucault, 1990, p. 48). Observar e escutar a si mesmo, seja em uma gravação ou em um áudio enviado a terceiros, é um processo essencial para a transformação crítica e criativa dos participantes.
A criação de cenas a partir de improvisos ocorre durante as aulas realizadas nos apartamentos dos alunos. A presença dos participantes, mesmo em aulas online, possibilita a improvisação e a criação de cenas hipotéticas em sintonia com o grupo, potencializando o desenvolvimento cognitivo e a flexibilidade em relação à alteridade. Essa pulsão criativa constitui o cerne do encontro síncrono e faz parte do processo criativo. O respeito à alteridade, ao espaço e às decisões do outro em estar presente no encontro virtual reflete-se na seriedade com que os participantes se dedicam às atividades propostas, como atuar, brincar e interagir online, caracterizando o tecnovívio. A disposição de brincar em uma videochamada é muito mais difícil, pois há uma ‘formalidade’ envolvida ao nos dispormos para o tecnovívio. Ou seja, sentar em frente ao computador, abrir a câmera e entrar no Google Meet é menos natural do que um encontro presencial. Para estimular esta informalidade necessária para o jogo, a presença no ‘aqui e agora’ é excencial, por isso, uma participação ativa é necessária. A Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber explora a capacidade humana de imaginar, simbolizar e narrar histórias – característica biológica e universal –, que ela denomina “efabulação”. Essa habilidade é essencial para a construção de saberes dinâmicos e nunca fixos. Segundo Sperber, os eventos vividos e suas sensações associadas são continuamente re-apresentados e ressignificados pela "Pulsão de Ficção". A repetição desses eventos permite sua constante reavaliação e atribuição de novas camadas de sentido, permanecendo, no entanto, sempre abertos a novas interpretações. “O saber nunca é totalmente apreendido, mas sempre potencial e em formação” (Sperber, 2009, p. 6). Essa perspectiva fundamenta a prática pedagógica adotada nas aulas de teatro, que busca fomentar a construção de espaços subjetivos, sensoriais e lúdicos. A integração entre professor e aluno é reforçada pelo teatro, que se torna um meio de expressão criativa. Segundo Dubatti (2014, p. 253), “o ator deixa de ser uma simples tecnologia do diretor para transformar-se em um gerador de acontecimentos convivial”. Essa abordagem estimula o engajamento de novas energias nas artes, transformando desconfortos em impulsos para estudar e criar, além de formar plateias e preparar pessoas para o mercado das Artes da Cena.
Nos encontros síncronos, aproveita-se a Pulsão de Ficção para estimular narrativas que emergem do improviso dos alunos. O processo criativo inclui momentos de conexão nos quais o espaço individual e coletivo se articula para favorecer a construção de personagens, desde sua concepção até sua materialização em gravações como cenas digitais, seja para redes sociais (audiovisual) ou audiodramas e derivados. Mesmo em exercícios que envolvem personagens androides, inspirados no Teatro Estático de Maurice Maeterlinck (1945), cada aluno é incentivado a explorar sua criação individual dentro do espaço virtual compartilhado. Como apontado por Teixeira Coelho (1999, p. 23), “para a TV, o ponto de vista é quem detém o meio”. Isso evidencia a necessidade de preencher lacunas deixadas pela ausência de encontros presenciais, utilizando recursos virtuais para criar novas formas de engajamento artístico. Exemplos como o “Telecurso 2000[15]” demonstram o potencial educativo e cultural da integração entre teatro e audiovisual, especialmente ao propor disciplinas de teatro para o ensino médio, conteúdo ainda relevante atualmente, como no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No teatro online, as ferramentas de videochamada, como as salas simultâneas do Google Meet, oferecem a oportunidade de dividir grupos e criar duplas ou trios que ensaiam sob supervisão do professor, preservando a individualidade artística. Diferentemente do ambiente presencial, em um teatro, onde o espaço físico das coxias é utilizado para interação, no ambiente virtual esse papel é desempenhado pelas “salas temáticas”. Esse recurso permite a criação de cenas e a apresentação para colegas, mantendo a ordem e a organização no ambiente virtual. Se não temos as luzes da ribalta, temos o foco de uma janela virtual que abre, quando a acionamos, e a nossa aparição em áudio e vídeo inicia-se. A prática teatral nesse contexto digital amplia as possibilidades de conexão e simbolização, como destaca Sperber: “Os seres e as ações precisam se erguer para um sentido que primeiro abranja, e depois desborde da imanência [...] A simbolização serve para a atribuição deste novo sentido” (Sperber, 2009, p. 6). Essas práticas integram pedagogia, arte e tecnologia, propondo uma abordagem interdisciplinar que fomenta a criatividade e a interpretação crítica, tanto na formação teatral quanto no aprendizado linguístico.
Nos 15 minutos finais de uma outra aula, os alunos improvisaram uma cena com personagens perdidos em uma ilha. A atividade foi precedida por exercícios de alongamento e aquecimento corporal e vocal, incluindo movimentos suaves no rosto, pescoço e couro cabeludo. A prática vocal envolveu a emissão prolongada do som da letra "Z" e exercícios de fonoaudiologia como com os sons de “sirene” com a vogal "O". Após a leitura de fragmentos de Los Ciegos, os alunos realizaram uma atividade dinâmica: empurrar uma parede enquanto contavam, em voz alta e em espanhol, até 30. Como parte da atividade, enviaram áudios via WhatsApp, possibilitando a revisão da pronúncia e dos números. Para a cena improvisada, as alunas Carmen Cecília, Peu, Tânia Leite, Claudia Lazarini, Susy Barros e Ivete Saad utilizaram o jogo “Exposição” (Spolin, 2001, p. 1), que auxilia na transição do corpo cotidiano para uma cena performática. Ao caminhar pelo espaço com diferentes níveis de energia (velocidades entre parar, caminhar e correr de ‘zero a dez’), criaram narrativas com início, meio e fim, evidenciando grande disponibilidade e criatividade. Para criarmos, mesmo online, o corpo precisa estar aquecido, trabalhado. O teatro exige essa entrega, que demanda desprendimento de ego, medos e incertezas. Como destacou Shakespeare em Hamlet: “De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento…” (Shakespeare, 2005, p. 82). Esse processo revela a importância de suspender preconceitos para que a criação artística floresça. Nesse dia, dois grupos apresentaram cenas distintas. A primeira retratou piratas à deriva na Somália; a segunda abordou brasileiros deportados dos Estados Unidos, tentando se comunicar com familiares por videochamada enquanto estavam no avião. A criatividade dos alunos impulsionou essas narrativas, conduzindo o trabalho para novas direções. Os relatos sonoros criados em aula, mesmo quando não aproveitados diretamente no audiodrama, confirmam a potência interpretativa de cada aluno. Um exemplo marcante foi o relato de Susy Barros, que compartilhou sua experiência pessoal durante o ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Esses depoimentos serviram como ponto de partida para o desenvolvimento da interpretação de Los Ciegos. No caso de Susy, a combinação de português e espanhol em sua fala permitiu-lhe criar uma personagem híbrida – uma ‘imigrante hispanofalante’ relatando o caos migratório na América do Norte.
Esses elementos conectam os dramas contemporâneos aos antigos, explorando a fronteira entre o real e a ficção. A cena do segundo grupo trouxe um tom cômico. Claudia Lazarini, Ivete Saad e Tânia Leite improvisaram a transformação de um fone de ouvido em tampão de olho, ironizando a figura do pirata. A narrativa apresentou duas amigas perdidas em uma lancha, tentando se comunicar em espanhol com piratas somalis. A narração não planejada da cena evidenciou a polifonia, com diferentes vozes contando a mesma história de formas distintas. Ivete, ao narrar e interpretar a cena, conectou os mundos da narrativa e do espectador. A criatividade dos alunos emergiu do uso de objetos domésticos e da incorporação de vivências pessoais, como relatos de turistas, enriquecendo as dramatizações com elementos cotidianos. Essa prática se relaciona com o Teatro do Oprimido, especialmente a experiência da “Quebra da Repressão” (Boal, 1982, p. 106), permitindo aos alunos expressar traumas e cicatrizes enquanto refletem sobre temas significativos. Essa abordagem ressalta a importância do discurso na dramaturgia, destacando o que é enfatizado na mise en scène. Como aponta Boal, a encenação abre espaço para novos significados ao transformar vivências em cenas performáticas, conferindo ao teatro um caráter emancipador.
[16]Ivete Alonso: Eu não poderia deixar de terminar a aula, sem falar uma coisa que eu e a Tânia comentamos, que é o quanto você nos faz criar. Porque você vem com essa ideia totalmente diferente da minha geração, provavelmente das demais, onde as coisas eram absolutamente quadradas, não existia criar. Pelo menos por onde eu estudei, né? Então, você fazer isso com a gente, em uma aula de espanhol é um barato! Porque, você começa a aula e você fala: "nossa, nós somos só 5 alunas, meu deus, vamos ter que nos expor, porque não é uma aula com 14, como era no outro grupo do ano passado" (grupo ainda vinculado à Unicamp). Então, só aí, nós já vencemos uma grande barreira, e é uma barreira importante, no texto que você falou, aquela coisa de não ficarmos com medo, com timidez, com vergonha da possível bola fora que poderemos dar. Primeiro, porque não estamos aqui para conseguir uma nota, ou passar de ano. É tudo mais leve. Essa brincadeira do criar, enquanto você falou, eu pensei que poderia ter sido eu o pirata e a Tânia a perdida, mas daí não deu tempo de pensar tudo isso enquanto pensávamos a cena a partir da ideia que você sugeriu [...]. Você estimula muito a gente, porque não é só o espanhol, é sobre tirar as teias de aranha também, obrigada Gabriel!
Tânia Leite: Gratidón (risos)
Beatriz Serra: Você conseguiu me destravar e eu acho que destravou outras pessoas também. A gente se sentiu à vontade para errar e para aprender. Eu acho que esse é o objetivo maior desta sua dedicação. É você conseguir que a gente saia daquele casulo que a gente estava vivendo e a gente está conseguindo bater as asinhas. Muito obrigado Gabriel.
Susy Barros: Eu tenho muita vergonha de me expor, eu só me exponho quando eu domino o assunto, se eu treinei antes, se eu estudei antes. Se eu me preparei antes. E você me tira desse lugar! Completamente! Me dá cada sacudida que meu coração faz "bum, bum, bum". E eu falo "não, estou aqui, vou encarar isso". Porque é uma forma de eu evoluir também e tirar as teias. A gente vai se travando ao longo da vida. Muito obrigado de coração, e obrigado a todas. Porque a gente vai se permitindo que uma erre sem constrangimento.
Assim como a Ivete fala das teias, eu também sou uma pessoa envergonhada. Porém, as minhas teias não foram costuradas por uma política educacional do país, como da faixa etária atingida pelos alunos do curso. A educação que presenciei dos anos 90 e 2000 possui abordagens distintas da época da Ditadura Militar. Evidentemente que com outra trajetória em uma educação de outra geração, mas o que fizemos em aula nos deixa mais fortes. Fazer teatro é como exercitarmos o corpo em uma academia de ginástica, de musculação. A diferença é que, em cada aula de teatro, estamos exercitando a nossa expressão e a nossa sensibilidade, além dos músculos. No idioma espanhol, também relaciono o ensino e a aprendizagem (ELE) com frequentar uma academia de musculação. Não adianta irmos na academia e ficarmos muito tempo em um dia só, precisamos ir na academia de musculação todos os dias um pouco. O nosso aprendizado no idioma é aumentado conforme entramos em contato com o espanhol todos os dias um pouco, assim crescemos fortes. Isso é troca. Se existimos a partir do outro, existimos em nossas aulas do ¿Hablas Español? em Los Ciegos.
[17]Tânia Leite: Eu saí do zero do Espanhol quando a gente começou e hoje eu me comunico no idioma. Final do ano passado eu estive na Argentina, e no Uruguai e, graças ao curso, eu consegui me comunicar. Entender, falar.
Ivete Saad: Eu acho interessante a sua ideia, junto às Humanas, junto à tua formação e trazer isso para um público bastante heterogêneo... Cada um teve uma vida, teve uma formação, uma informação... Com todas essas diferenças você conseguiu fazer com que a gente estudasse o espanhol, você trouxe muito conteúdo, com teatro. Para gente, é tão inovador. Eu jamais poderia imaginar. Se você tivesse me falado, há 1 ano e meio atrás, que seria teatro, eu não teria me inscrito. Eu teria medo. Medo do teatro. Eu não iria tentar, eu iria achar que eu não era capaz. Eu não teria essa coragem. Mas é maravilhoso. Essa coisa do jovem, eu vou levantar bandeira para você porque essa inovação, essa coisa do criar, foi muito bacana. A gente é mais quadradinho. Eu sou absolutamente criada em um modelo quadradinho, de tudo!!! Então, mesmo que eu tivesse essa ideia, eu nunca teria coragem de promover. Porque eu iria achar que eu não daria conta, ou as pessoas que estariam comigo não dariam conta. Só me arrependo de não ter estudado mais, porque a vida vai tomando conta da gente, de uma maneira, que a gente vai deixando de lado o que a gente gostaria de estudar.
A metodologia deste trabalho fundamenta-se na análise dos métodos e dados coletados, indo além de simplesmente observar os alunos falando espanhol no audiodrama. O principal objetivo é avaliar a habilidade dos participantes em se comunicar nessa língua. A partir das falas dos próprios alunos, apresentadas ao longo deste estudo, emerge a problematização do processo de “destravar pessoas” por meio do teatro e do aprendizado de espanhol. A experiência acumulada pelos participantes expande o que chamamos de "corpo vibrátil" — um corpo pensante, interpretativo e comunicativo, que se amplia ao invés de se retrair, aumentando sua capacidade de enxergar a alteridade através da produção de subjetividade em uma metodologia qualitativa. O método propõe “desarmar” os alunos de amarras sociais e dos “jogos de verdade” do teatro da vida real, como definidos por Foucault. Essas “máscaras sociais”, mencionadas por Suely Rolnik, refletem os personagens que criamos para sobreviver em uma sociedade capitalista que impõe rígidas regras de convivência. No contexto da ética glocal, que valoriza a interação entre o global e o local, os alertas de Foucault destacam a importância de respeitar a singularidade das experiências individuais, evitando homogeneizações. Essa neutralização, em termos estéticos, implica preservar expressões culturais autênticas em um mundo globalizado, promovendo equilíbrio entre influências locais e globais. Esse princípio é exemplificado pelo conceito de ‘Persona’, originado no teatro grego e adaptado por Carl Jung, como referência à imagem projetada aos outros.
Nas aulas de teatro online, os alunos enfrentam a tensão entre quem são e o que aparentam ser. Muitos chegam ao curso com o objetivo de interpretar “personagens ideais” — como o pai perfeito, o profissional atualizado ou o marido atraente. Por meio de improvisação, jogos teatrais (Spolin, 2001) e exercícios do Teatro do Oprimido (Boal, 1982), essas “personas” começam a se desconstruir, revelando novas facetas. As transformações são observadas nas gravações das aulas realizadas no Google Meet, onde as identidades dos alunos se tornam mais fluídas durante as cenas improvisadas. Esse processo levanta questões sobre a coexistência de múltiplas identidades e como a construção de personagens permite explorar essas camadas. Cada aula torna-se um evento único, registrado como um objeto pedagógico com características de cinema documentário, armazenado no Google Drive. Inicialmente, os alunos buscam expressões inatingíveis, como a "poker face" de Hollywood, para ‘controlar melhor suas emoções’ em contextos profissionais e pessoais. Entretanto, à medida que se envolvem no processo teatral, compreendem melhor as dinâmicas por trás das emoções e traumas que compartilham nas cenas. Na perspectiva foucaultiana, os “jogos de verdade” que moldam o comportamento humano tornam-se evidentes. Por exemplo, o curso de teatro do programa Telecurso 2000 ilustra como diversas profissões, como a de um porteiro, seguem roteiros pré-determinados. No vídeo, o foco é no personagem do "porteiro", que desempenha seu papel de acordo com um script específico: “Uma carta para o senhor, seu Rodrigo”. Esse ‘grande teatro da vida real’ suscita reflexões sobre os personagens que escolhemos interpretar e as razões por trás dessas escolhas. Durante o curso, evito me posicionar como um “professor carrasco”, reconhecendo a importância da alteridade — compreender como minhas ações impactam o outro. Essa abordagem conecta-se aos pensamentos de Suely Rolnik e Suzi Frankl Sperber sobre a criatividade como um espaço para brincar, desarmar-se e construir conhecimento, indo além do simples entretenimento superficial.
A gamificação incorporada às cenas transforma cenários cotidianos em experiências educativas e memoráveis. Esse “tecnovívio” promove presença e senso de pertencimento, resgatando memórias afetivas e culturais. No audiodrama deste projeto, com seus 44 minutos de edição e elementos sonoros, os alunos demonstram capacidade de interpretar, em espanhol, desde notícias do El País até memes da internet, percebendo que aprender pode ser divertido. Como analiso o levantamento de dados? Por meio da escuta dos alunos no audiodrama. Observo pessoas que nunca haviam falado espanhol antes, nem tido experiência com teatro, atuando online e em espanhol. Uma aluna, próxima da defesa de minha dissertação, compartilhou sua felicidade ao iniciar um novo curso do programa ‘universIDADE’ e confeccionar um porta-chaves, dizendo: “A gente precisa se ocupar, né?”. Essa afirmação dialoga com Foucault e Sêneca, destacando a relevância de ocupar-se consigo mesmo. Essas experiências mostram que, mesmo após os 60 anos, é possível transformar-se por meio do teatro e do aprendizado de idiomas. A metodologia do projeto conecta linguagem, memória e criatividade, formando pontes que promovem a ocupação integral do “eu”. A construção coletiva do audiodrama também contribui para a formação de novos públicos teatrais e reforça o elo entre teatro, língua espanhola e comunicação.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Um dos desafios na comunicação digital é a proliferação de fake news, que também afetou nosso grupo de trabalho. Observa-se uma necessidade urgente de pertencimento e, possivelmente, certa ‘inocência’ ao não aprofundarmos os conteúdos recebidos por algoritmos. Muitas vezes, a vontade de comunicar e pertencer supera o rigor na análise do que é compartilhado. Esse fenômeno, descrito por Sperber (2020, p. 11), reflete um "maior desejo de compartilhar informações do que estudá-las profundamente". O comportamento de diferentes gerações na internet revela tanto potencialidades quanto desafios. Esse comportamento, frequentemente associado ao desejo de manter uma comunicação afetiva e ativa, pode contribuir inadvertidamente para a disseminação de fake news. Isso foi amplamente explorado por movimentos de extrema direita, que utilizam imagens e vídeos virais para engajar superficialmente em plataformas como WhatsApp. Popularizado em 2013, o WhatsApp rapidamente se tornou uma ferramenta de comunicação intergeracional, especialmente para aqueles que precisaram adaptar-se às transformações tecnológicas. O teatro, nesse contexto, oferece a possibilidade de revisitar e ressignificar experiências. No segundo semestre de 2022, por exemplo, mensagens de teor político compartilhadas em nosso grupo do curso ¿Hablas Español? refletiam o clima eleitoral da época. Em particular, um aluno vinculado à extrema direita compartilhava conteúdos conservadores. Contudo, cada geração traz hábitos específicos, e, no ambiente digital, isso não é diferente. Entre nossos alunos acima de 60 anos, destaca-se o hábito de compartilhar mensagens como “bom dia” nos cartões virtuais em grupos familiares, o que simboliza afeto e cuidado. Essa prática, embora vista por algumas gerações como ‘antiquada’, representa uma forma legítima de comunicação entre todas as gerações. No grupo do curso, o compartilhamento de mensagens mudou. O aluno citado, por exemplo, passou a enviar conteúdos exclusivamente relacionados ao idioma espanhol após interações mediadas com afeto. Em vez de confrontar diretamente as fake news, respondi com ‘cards’ em espanhol com as mensagens como "Buenos días, qué tengáis un lindo día", aproximando-me da estética do grupo, mas sem compactuar com a ética subjacente às notícias falsas. Quando eles enviavam uma fake news no grupo, encontravam um card de “buenos días, que Dios te bendiga” (todo em espanhol), e isso os levava a compartilhar esses cartões em seus grupos de condomínio ou familiares. Dessa forma, legitimavam o que estavam estudando comigo, já que exibiam para outras pessoas que sabiam espanhol, utilizando esses cartões, semelhantes aos encontrados no WhatsApp, Kwai ou Tik Tok. “Nada é alheio à política, porque nada é alheio à arte superior que rege todas as relações de todos os homens.” (Boal, 1980, p. 29) Essa abordagem reflete o potencial humanizador do teatro, que promove diálogo e respeito às diferenças. Sperber (2020, p. 4) observa que o fenômeno das fake news no Brasil começou muito antes do que se imagina, com o objetivo de desqualificar figuras políticas e minar a confiança nelas. Essa prática foi reforçada por meios de comunicação que, ao destacarem erros na linguagem popular, contribuíram para a criação de uma imagem negativa dessas figuras, sugerindo despreparo.
The process that led to the massive reception of the most recent fake news in Brazil started long before. Let us remember that the objective was to disqualify Lula and PT, the Workers Party, to suspend belief in Lula and in PT. Even before the first elections for which Lula ran, in 1989, he was already being disqualified, by the powerful bourgeoisie. Not only in the pre-election period, but also during the terms of the elected presidents (Collor and Fernando Henrique Cardoso), the same perverse process went on. Due to two mistakes in the use of popular language, media and journalists imputed a disqualified use and lack of knowledge of language by Lula. (Sperber, 2020, p. 04).
A conexão entre isolamento social e narrativas extremistas também é digna de nota. Pessoas mais velhas, muitas vezes isoladas, podem aderir a teorias conspiratórias como forma de buscar pertencimento em um mundo que não as acolhe. A obra Os Cegos, de Maeterlinck, dialoga com essa questão ao explorar a ausência de alteridade no coletivo, simbolizando a tragédia vivida em grupo, como no contexto da pandemia ou de desastres ambientais. Assim como a enchente em Porto Alegre (RS), a água invadiu a cidade, mas pelo efeito do homem, o racismo ambiental alaga os bairros periféricos do Humaitá, do Sarandí[18], diferentemente do nobre e branco bairro Moinhos de Vento. No Brasil, fenômenos como o "racismo ambiental" evidenciam como populações marginalizadas são desproporcionalmente afetadas por desastres, como enchentes em bairros periféricos (Schvarsberg, 2024)[19]. O teatro estático de Maeterlinck, explorado no curso, enfatiza a essência e a simplicidade. Não se trata de “erros” ou “falhas” de interpretação, mas de vivenciar e sentir o teatro. Segundo Freire (2011, p. 19), "ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho; as pessoas se libertam em comunhão". Essa comunhão emerge nas produções de audiodramas realizadas por alunos 60+, que integraram o estudo de teatro e espanhol online durante 2022 e 2023. Nesse processo, o trabalho da voz ganha destaque, mostrando como a interpretação transcende barreiras linguísticas e estilísticas. Setti (2007, p. 29) descreve a voz como "testemunho do passado tanto quanto indicador do porvir”. Ela é sua história, sua manifestação presente e seu potencial". Assim, as produções realizadas no curso são testemunhos da criatividade e da resiliência dos participantes, que superaram desafios técnicos, culturais e pessoais para criar obras significativas brincando e jogando.
CONCLUSÕES
Este estudo revelou a relevância de práticas reflexivas e críticas para a construção de um sujeito ético em um contexto marcado pelo excesso de informações digitais e sociais. Ao longo da pesquisa, constatou-se que o exercício da leitura e da escrita, quando praticados de forma equilibrada, favorecem a qualidade do aprendizado e o desenvolvimento da criatividade, promovendo uma relação mais consciente com os conteúdos consumidos e compartilhados. A experiência com o curso ¿Hablas Español?, especialmente na criação do audiodrama Los Ciegos, evidenciou o potencial transformador do teatro na educação de idiomas. A sensibilização pedagógica, aqui compreendida como um processo de acolhimento e estímulo à experimentação, demonstrou ser fundamental para engajar os participantes em um aprendizado significativo, capaz de expandir horizontes e fomentar um senso de pertencimento. Essa prática pedagógica destacou a importância de olhar para o passado e conectar as vivências presentes com as possibilidades futuras. A fusão entre teatro e ensino de espanhol mostrou-se eficaz não apenas na transmissão de conhecimento técnico, mas também no fortalecimento de competências humanas como a empatia, a reflexão crítica e o respeito às trajetórias individuais. Conclui-se, portanto, que o teatro, quando aplicado como ferramenta educacional, pode transcender a barreira do conteúdo didático, criando espaços para diálogos significativos, criatividade e desenvolvimento de uma consciência ética compartilhada. Esta abordagem, integrada a processos de ensino online, contribui para um aprendizado humanizado e inovador, promovendo interações que valorizam tanto a experiência coletiva quanto a individual. Representar o mundo no teatro hoje requer a elaboração de novas formas e relações entre palco, plateia e sociedade, desafiando a rigidez das estruturas dramáticas tradicionais e buscando expressões que dialoguem com a complexidade do mundo atual. Conclui-se nesta pesquisa que o pensamento reflexivo e a formação do pensamento crítico tais como todos os benefícios que o teatro pode proporcionar às pessoas são o motor deste trabalho. Os alunos, ao olharem para o conteúdo visto na mídia, podem se questionar do porquê o fascismo chega mais “fácil” para as pessoas através das redes sociais. O questionamento sobre a representatividade na mídia de pessoas 60+, tal como o ensino do espanhol no Brasil e demais questões que este trabalho despertou com os alunos ficarão em expansão neste espaço uno entre professor e alunos tal como a Sensibilidade Pedagógica, ¡hasta!
REFERÊNCIAS
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Spolin, Viola. Jogos Teatrais: O Fichário de Viola Spolin. Tradução: Ingrid Koudela. São Paulo: Perspectiva, 2001.
Telecurso. 01 - O mundo é um palco? - Teatro - Ens. Médio - Telecurso. Vídeo (aula). Duração: 10 minutos. Rede Globo de Televisão e Fundação Roberto Marinho. Canal ‘Novo TELECURSO’, publicado em 25 mar. 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=erRhHsRcxPg
Trivinho, E. R. O que é Glocal? Sistematização conceitual e novas considerações teóricas sobre a mais importante invenção tecnocultural da civilização mediática.
Matrizes, [S. l.], 16(2), 45-68, 2022. DOI: 10.11606/issn.1982-8160.v16i2p45-68. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/183451
Yamaguti, Bruna. Racismo ambiental: população marginalizada está mais vulnerável às mudanças climáticas. Portal G1 Distrito Federal (DF), 18 jan. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2024/01/18/racismo-ambiental-populacao-marginalizada-esta-mais-vulneravel-as-mudancas-climaticas.ghtml
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Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n.2. 2024, p.03 -27. Jul./dez., Dossiê http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131
[1] Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, 2022-2024 UNICAMP. A pesquisa também contou com o apoio da Bolsa Auxílio Ponte (Funcamp-FAEPEX, 2024) e com a bolsa da ProEC-Unicamp por meio do programa universIDADE com o projeto de extensão PED (Programa de Estágio Docente - PRPG). Agradece-se ainda ao valor financeiro e cultural recebido como finalista do Desafio Led, com prêmios da Mastertech (SP), Rede Globo e Fundação Roberto Marinho.
[2] Disponível para acesso no Spotify, YouTube e demais plataformas de streaming https://open.spotify.com/episode/33aoxOTGXqt4pzEDZVuSz3
[3] Esta metodologia é replicada em aulas de teatro online, e presenciais, para pessoas do Brasil e do mundo todo através da plataforma SuperProf. Mais informações disponíveis em https://www.superprof.com.br/teatro-descubra-poder-expressao-desinibicao-para-seu-desenvolvimento-pessoal.html
[4] Escuta do programa realizada no dia 26 de outubro de 2022. Para acessar ao material na íntegra o link encontra-se disponível em https://cbncuritiba.com.br/materias/pandemia-acelerou-inclusao-digital-dos-idosos/
[5] “Mais idosos usando a internet: [...] A alta também ocorreu entre a terceira idade. O percentual de pessoas com 60 anos ou mais que utilizam a Internet subiu de 24,7% em 2016 para 62,1% em 2022.” Mais informações disponíveis em
https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2023/11/09/64-milhoes-de-casas-do-pais-nao-tem-acesso-a-internet-diz-ibge.ghtml
[6] (Jornal Hoje, 2023). Disponível para acesso em
https://www.instagram.com/p/Czb9d3IvxnO/?igshid=N2ViNmM2MDRjNw%3D%3D
[7] Chico Pelúcio - fundador, ator e diretor do Grupo Galpão de Teatro (2021) em videoconferência.
[8] Para Dort (apud SARRAZAC, 2004, p. 07), “representar o mundo contemporâneo no teatro não se resume a adaptar novas dramaturgias a formas teatrais antigas”.
[9] “Pensar globalmente e agir localmente” (Latour, 2020, apud Gerheim, 2021)
[10] “Capacidades e recursos cognitivos relacionados às funções executivas". Conforme relata Ingrid Finger, professora do Programa de Pós-Graduação em Letras e coordenadora do Laboratório de Bilinguismo e Cognição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
[11] Entrevista completa disponível em
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-06/tragedia-no-rs-e-consequencia-de-destruicao-humana-diz-cacique-raoni
[12] (Artaud, apud Picon-vallin, 2013, p. 91)
[13] O exercício inicia com a proposta de improvisação, em que o atuador “surge” no espaço cênico portando um objeto contendo líquido, devendo evitar seu derramamento ao longo da cena. Sem verbalizar, o atuador expressará o que está comendo, cheirando e ouvindo, utilizando-se da noção de lugar e de profissão. Um problema surge no contexto da improvisação, e a solução deve ser encontrada em interação com o objeto, que pode, ou não, ser relevante para a cena. O “empecilho” exige que, na segunda etapa do exercício, sem o uso do objeto, o atuador mantenha a imaginação do mesmo, trabalhando aspectos como peso, equilíbrio e atenção. (N/A)
[14] Zeitgeist é um termo alemão, introduzido inicialmente pelo escritor Johann Gottfried von Herder, para designar o que seria o “espírito do tempo”. (N/A)
[15] O Telecurso 2000 tornou o ensino de teatro mais acessível a estudantes em diferentes regiões do Brasil por meio de aulas em vídeo. O programa ofereceu aulas que introduziram os conceitos básicos do teatro, incluindo sua história, técnicas de atuação, produção teatral e análise de obras teatrais. Isso permitiu que os estudantes tivessem uma compreensão fundamental da disciplina. (N/A) Ep. 01 TEATRO “O mundo é um palco?” Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=erRhHsRcxPg
[16] Fragmento transcrito de falas entre a primeira e última aula de teatro com espanhol, em 2023, do presente processo criativo. Recortes em audiovisual são utilizados para divulgação do audiodrama a ser lançado ainda neste ano conforme exemplo disponível em https://youtu.be/vvH3I_dkr74
[17] Transcrição na íntegra da nossa última aula. Gravação do Audiodrama Los Ciegos, realizada em nossa última aula do ano de 2023, dia 04 de julho.
[18] “Alagado há um mês, Sarandi revive trauma: ‘Foram três prefeitos que nem olharam para o bairro’” disponível em https://sul21.com.br/noticias/geral/2024/06/alagado-ha-um-mes-sarandi-revive-trauma-foram-tres-prefeitos-que-nem-olharam-para-o-bairro/