EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAIS MARINHAS NO AGRESTE BAIANO
Daniela Cardoso Naponucena de Souza1*, Irailde da Silva Santos2
1Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Bahia.
2Doutorado em Biotecnologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana
*Autora correspondente: E-mail: dcns32@hotmail.com
ORCID - https://orcid.org/0009-0009-2930-0457
Resumo: O presente relato descreve a experiência dos alunos do Colégio da Polícia Militar (CPM) Alagoinhas no I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos, promovido pela Rede de Pesquisa Embarcados. Por meio das atividades realizadas, os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer de forma prática e imersiva a realidade das comunidades tradicionais pesqueiras, em uma experiência pedagógica enriquecida por parcerias com diversas instituições de setores sociais distintos. Essa vivência destacou a importância dessas comunidades para a economia local e ressaltou a importância dos ecossistemas marinhos para a sustentabilidade global.
Palavras-chave: Atividades pedagógicas; comunidades tradicionais; pesca artesanal.
MARINE EDUCATIONAL EXPERIENCES IN THE AGRESTE BAIANO
Abstract: His report describes the experience of students from the Military Police College (CPM) Alagoinhas in the 1st Training Course in Technological Integration, Education and Monitoring of Marine Ecosystems, promoted by the Embarcados Research Network. Through the activities carried out, students had the opportunity to learn in a practical and immersive way the reality of traditional fishing communities, in a pedagogical experience enriched by partnerships with several institutions from different social sectors. This experience highlighted the importance of these communities for the local economy and highlighted the importance of marine ecosystems for global sustainability.
Keywords: Pedagogical activities; traditional communities; artisanal fishing
EXPERIENCIAS EDUCATIVAS MARINAS EN EL AGRESTE BAIANO
Resumen: Este informe describe la experiencia de estudiantes de la Escuela de Policía Militar (CPM) de Alagoinhas en el 1er Curso de Capacitación en Integración Tecnológica, Educación y Monitoreo de Ecosistemas Marinos, promovido por la Red de Investigación Embarcados. A través de las actividades realizadas, los estudiantes tuvieron la oportunidad de conocer de manera práctica e inmersiva la realidad de las comunidades pesqueras tradicionales, en una experiencia pedagógica enriquecida por alianzas con varias instituciones de diferentes sectores sociales. Esta experiencia destacó la importancia de estas comunidades para la economía local y resaltó la importancia de los ecosistemas marinos para la sostenibilidad global.
Palabras clave: Actividades pedagógicas; comunidades tradicionales; pesca artesanal.
INTRODUÇÃO
O Território de Identidade Litoral Norte e Agreste Baiano é uma região de beleza natural e importância ambiental significativa na qual algumas ações relacionadas à educação e sustentabilidade são desenvolvidas na tentativa de promover a conservação dos ecossistemas locais e envolver as comunidades na proteção do ambiente natural (SEI, 2009; SEMA, 2024). Todavia, as experiências educacionais marítimas têm pouco reconhecimento e divulgação nas unidades de ensino básico dessa região, o que reforça a necessidade de iniciativas que promovam a efetiva participação das escolas junto às comunidades tradicionais costeiras.
O Litoral Norte e Agreste Baiano é formado por 20 municípios (Figura 1). Destes, os municípios de Entre Rios (Praias de Porto do Sauipe e Subaúma), Esplanada (Praia de Baixio), Conde (Praias do Sítio do Conde, Barra do Itariri e Siribinha), Jandaíra (Praia de Costa Azul e Mangue Seco) estão sob influência marítima direta. É uma região caracterizada pela transição entre o agreste, o sertão e o mar, oferecendo paisagens que misturam o verde da vegetação com o azul do Oceano Atlântico. As comunidades inseridas nas áreas costeiras sobrevivem dos recursos naturais encontrados nos ecossistemas. Para estas comunidades, a pesca e o turismo possuem importante significado social, econômico, cultural e ambiental, principalmente para aquelas, tradicionais pesqueiras, que têm na pesca artesanal e na mariscagem sua principal base econômica. (Souto, 2004).
A pesca artesanal é um patrimônio cultural e econômico do agreste baiano, desempenhando um papel central na subsistência das comunidades locais. Para garantir a preservação dessa atividade e a sustentabilidade dos recursos marinhos, é essencial investir em políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis, como a pesca de linha, e fortaleçam as organizações de pescadores. Além disso, é fundamental promover a educação ambiental para conscientizar as comunidades sobre a importância da gestão responsável dos recursos.
No contexto da preservação da pesca artesanal no agreste baiano, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), em seu artigo terceiro, inciso III, estabelece o princípio do "uso equilibrado dos recursos naturais, voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geração, garantindo as mesmas possibilidades para as gerações futuras". Essa diretriz legal reforça a necessidade de práticas pesqueiras sustentáveis, como a pesca de linha, para garantir a longevidade dos recursos marinhos e a subsistência das comunidades que deles dependem. Como ressalta De Santana (2019), a pesca de linha, uma técnica tradicional e seletiva, é uma prática que minimiza o impacto sobre o ecossistema, alinhando-se ao princípio legal de sustentabilidade e garantindo que tanto as gerações atuais quanto as futuras possam se beneficiar dessa atividade essencial.
Nesse sentido, o fortalecimento de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, aliado ao incentivo à organização comunitária e à educação ambiental, é essencial para equilibrar o desenvolvimento econômico dessas comunidades com a conservação ambiental, em consonância com os preceitos estabelecidos na legislação.
Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n. Edição Especial - 01. 2024, p.03 - 21. Jul./dez., http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131
Figura 1: Divisão territorial da Bahia, destaque para o território de identidade Litoral Norte e Agreste Baiano (reprodução adaptada).
Fonte: http://www.cultura.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=314
Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n. Edição Especial - 01. 2024, p.03 - 18. Jul./dez., http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131
Assim, como a maioria das comunidades litorâneas brasileiras, as comunidades pesqueiras do litoral norte do Agreste Baiano, enfrentam problemas ambientais que comprometem tanto o meio ambiente quanto a subsistência pesqueira. Um dos principais desafios é a degradação dos ecossistemas marinhos, resultado da poluição das águas por resíduos domésticos, industriais, agrícolas (Buti, 2023). O impacto gerado compromete a dinâmica dos ciclos de vida dos organismos marinhos, além de interferir na qualidade da água utilizada pelas comunidades locais.
A destruição de habitats costeiros, como manguezais e recifes de corais, também é uma grande preocupação. A urbanização desordenada, o desmatamento e a construção de infraestrutura turística sem planejamento adequado têm acelerado a degradação desses habitats, colocando em risco a biodiversidade local e a proteção natural das comunidades costeiras.
O excesso de indústrias com despejos fora das normas; o risco envolvido nas atividades portuárias e petrolíferas; a realização de um tipo de turismo que impacta o meio ambiente; o crescimento das atividades de carcinicultura nos manguezais; a poluição atmosférica; o esgotamento sanitário deficiente; a pesca com bomba e a destruição da Mata Atlântica destacam-se como os maiores complicadores para o desenvolvimento sustentável deste território. (Escudero, 2010).
Outro problema significativo é a mudança climática, que tem impactado diretamente as comunidades pesqueiras do litoral norte do Agreste Baiano. O aumento das temperaturas do mar, a elevação do nível do mar e a acidificação dos oceanos afetam os padrões migratórios dos peixes, a saúde dos corais e a disponibilidade de recursos pesqueiros. Além disso, eventos climáticos extremos, como tempestades e inundações, têm se tornado mais frequentes e intensos, causando danos às infraestruturas locais e dificultando a pesca.
Considerando tais circunstâncias, implementar e/ou fortalecer atividades de educação ambiental com comunidades pesqueiras e escolas no litoral norte do Agreste Baiano é uma ótima maneira de promover a conscientização sobre a importância da preservação ambiental marinha e costeira, principalmente, diante de tantos problemas como desmatamentos, queimadas, poluição das águas, crise climática que influenciam no desequilíbrio dos oceanos. Dessa maneira, é fundamental planejar atividades que contribuam com a formação de jovens cidadãos conscientes da preservação do ambiente, capazes de criar, ampliar e aplicar ideias sustentáveis que promovam a diminuição da degradação ambiental e consequente melhoria da qualidade de vida, tornou-se algo indispensável.
PARCERIAS INSTITUCIONAIS PARA A PRESERVAÇÃO DO LITORAL DO AGRESTE BAIANO
Os programas de educação ambiental das escolas públicas estaduais e municipais, especialmente nas regiões costeiras, como o litoral do Agreste baiano, devem promover e incentivar a discussão sobre sustentabilidade e a conservação dos recursos naturais nesses ambientes. Contudo, alguns fatores como localização e distribuição das unidades de ensino interferem na abrangência da tomada de decisões que possibilitam a efetiva integração das escolas da região agreste com as comunidades tradicionais pesqueiras. Alguns estudantes do agreste visitam as regiões litorâneas no período de férias, sem saber a importância desses ecossistemas. Os ambientes marinhos produzem a maior parte do oxigênio da terra, armazenam enormes quantidades de carbono, fornece 15% da proteína consumida no mundo e regulam a temperatura global, além de serem a base da economia e meios de subsistência locais, nacionais e globais (Santelli, 2020).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)[1] orienta para o estudo da relação entre as comunidades pesqueiras e o ambiente, incluindo a análise dos impactos da atividade humana e a gestão costeira para o desenvolvimento sustentável dessas áreas. Também destaca a importância da formação de cidadãos conscientes e participativos. Considerando as comunidades pesqueiras, isso pode envolver o desenvolvimento de habilidades para defender seus direitos, participar de processos de tomada de decisão relacionados à gestão costeira e colaborar com organizações locais e governamentais na promoção da sustentabilidade.
Contudo, tendo em vista que as iniciativas direcionadas para a sustentabilidade marítima que compõem as atividades extracurriculares de algumas escolas do ensino básico estão, na sua maioria, concentradas no Território de Identidade Região Metropolitana de Salvador, extensão litorânea mais próxima ao Agreste Baiano (Figura 1), existe a necessidade de fortalecer e ampliar parcerias com instituições de estudos, pesquisa e entidades sociais voltadas para a preservação do litoral, com as comunidades escolares das cidades mais distantes que integram a região do Agreste Baiano.
A comunidade tradicional pesqueira da Baía de Todos os Santos (BTS) é um exemplo de relevante importância para a Região Metropolitana de Salvador. Esta Baía é considerada a segunda maior do Brasil, possuindo uma área superior a 1,1 mil km² e um perímetro de 200 km. A BTS (Figura 2) possui em seu entorno 16 municípios: Aratuípe, Cachoeira, Candeias, Itaparica, Jaguaripe, Madre de Deus, Maragogipe, Nazaré, Salinas da Margarida, Salvador, Santo Amaro, São Félix, São Francisco do Conde, Saubara, Simões Filho e Vera Cruz. (Rios, 2019).
Figura 2: Mapa da Bahia de Todos os Santos.
Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/a-saude-da-baia/
As famílias dessa comunidade (BTS) têm se dedicado à pesca tradicional há várias décadas, transmitindo conhecimentos e técnicas de pesca de uma geração para outra. Essa história está intrinsecamente ligada à cultura e identidade local que desenvolveu práticas específicas e amplos conhecimentos sobre o ambiente marinho. A mais, a comunidade continua enfrentando uma série de desafios que ameaçam sua sustentabilidade e preservação (Buti, 2023; Rodin, 2021; Alves, 2021).
Ao integrar os princípios da BNCC na aprendizagem em educação ambiental de forma interativa com as comunidades tradicionais marítimas, possibilita o estudante ter acesso a informações de forma contextualizada sobre a problemática ambiental e fortalece o vínculo entre o conhecimento científico, práticas sustentáveis e participação cidadã, contribuindo para a preservação dos recursos naturais marinhos, sustentabilidade dessas comunidades e fortalecimento da identidade cultural.
METODOLOGIA PARTICIPATIVA: TRABALHO EM REDE
Em agosto de 2023, as escolas da Rede Pública Estadual de ensino: o Colégio Estadual Presciliano Silva (CEPS), Salvador; o Colégio Estadual Brazilino Viegas (CEBV), Alagoinhas, e o Colégio da Polícia Militar Professor Carlos Rosa (CPM), Alagoinhas, foram convidadas a participar do I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos, ação da Rede de Pesquisa Embarcados[2]. Os participantes do curso foram alunos do ensino básico e superior, professores do ensino básico, professores/pesquisadores da Universidade e comunidade pesqueira do Recôncavo Baiano.
A Rede de Pesquisa Embarcados é uma proposta integrativa entre Ciências Biológicas, Comunicação, Educação e Sistema de Informação, dedicada à formação transdisciplinar de profissionais interessados nas dinâmicas do mar.
O curso ofertado teve duração de sete horas, com objetivo de compreender os desafios da pesca artesanal, das comunidades pesqueiras e marisqueiras na BTS que decorreram na vulnerabilidade desse local e de suas águas. Também foram registradas ações concretas de conservação do ecossistema marinho, através das ideias, processos, metodologias e modos de fazer dos diferentes atores da sociedade. Durante o curso, foi realizada a apresentação da BTS, e as atividades que ali são desenvolvidas, assim como, a história e a influência dessa região na formação da Cidade de Salvador, como espaço de vida e reprodução social de 241 comunidades tradicionais pesqueiras identificadas e mais de 70 mil famílias que têm na pesca e mariscagem a sua principal e, muitas vezes, única fonte de renda (Rios, 2019).
Como atividade extracurricular, esse curso (Figura 3) proporcionou aos estudantes do 1º ano do ensino médio (faixa etária de 15 a 16 anos), CPM Alagoinhas, experiências enriquecedoras decorrentes dos depoimentos e discussões de pescadores, pesquisadores, professores e comunidade pesqueira sobre a vida no mar. Dessa maneira foi possível conhecer um pouco mais da realidade das pessoas que vivem da pesca, e a luta de grupos sociais para defender o ecossistema marinho.
Figura 3: Crachá de identificação dos estudantes do CPM Alagoinhas no I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos (Projeto Embarcados).
Fonte: imagem autoral (2023).
O primeiro momento do curso foi realizado no Campus I da UNEB, no bairro Cabula, em Salvador, Bahia, onde ocorreu o encontro dos cursistas e palestrantes. As exposições e oficinas foram realizadas no turno matutino, a partir da seguinte sequência:
No segundo momento, aconteceram as visitas técnico pedagógicas, realizadas no turno vespertino, nas quais os expositores detalharam a história da pesca e sua importância econômica e de subsistência para comunidades locais. Foram visitados, na sequência, os seguintes locais: Bairro da Ribeira, Bonfim, Monte Serrat, Ponta de Humaitá e Barra (Figura 4). Nas visitas guiadas foram apresentados os temas:
Ao final da programação, a equipe Embarcados fez o registro de imagens e depoimentos dos participantes sobre o I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos.
Figura 4: Locais das visitas técnico pedagógicas: A - Bairro da Ribeira; B - Monte Serrat, C - Ponta de Humaitá e D - Barra: Museu Náutico da Bahia.
Fonte: Imagens autorais (2023).
CONSTRUINDO CONHECIMENTO: EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS
A vivência dos alunos do CPM Alagoinhas no I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos, como atividade extracurricular, proporcionou-lhes um entusiasmo singular. A oportunidade de se deslocarem para um novo ambiente de aprendizado, a 123 km de distância, representou uma prática pedagógica inovadora e marcante, algo que raramente acontece na rotina escolar.
Ao chegarem ao local do curso, os participantes foram recebidos no auditório e logo direcionados para um café da manhã pedagógico. Essa acolhida calorosa proporcionou aos estudantes um ambiente de confiança e conforto, preparando-os para os desafiadores e enriquecedores acontecimentos do evento.
Durante as exposições dos palestrantes e a realização das oficinas, os alunos participaram ativamente, compartilhando e externalizando suas ideias sobre os assuntos abordados. No momento coletivo, equipes mistas compostas por pescadores, alunos, professores e pesquisadores discutiram a resolução de diversas situações-problema relacionadas à atividade pesqueira e à atuação dos principais envolvidos (governo, comunidade, escolas e universidades). Essa roda de conversa permitiu uma participação ativa dos estudantes, que manifestaram suas ideias, contribuindo significativamente para o bom desenvolvimento da atividade proposta. Os registros das intervenções dos participantes foram coletados pela equipe organizadora do curso.
A riqueza de informações trazida pelos grupos sociais presentes no curso proporcionou aos estudantes ideias positivas para a construção da aprendizagem. Essa troca de saberes estimulou o pensamento crítico, validando os conhecimentos adquiridos em sala de aula e despertando a compreensão do seu papel como indivíduos sociais.
A visita pedagógica guiada foi outro momento singular para os alunos, que tiveram a oportunidade de conhecer pontos turísticos que desconheciam, além de aprender sobre a história e a contribuição socioeconômica desses locais para o desenvolvimento do nosso estado. Esse foi um momento enriquecedor e descontraído, repleto de informações culturais, sociais e ambientais.
Após a experiência no curso, os professores do CPM Alagoinhas ofereceram aos estudantes um espaço de discussão e registro das suas percepções sobre o I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos, utilizando a ferramenta digital Padlet. O resultado dessa discussão consta na tabela 1.
Tabela 1: Alguns relatos dos estudantes do CPM Alagoinhas sobre I Curso de Capacitação em Integração Tecnológica, Educação e Monitoramento de Ecossistemas Marinhos realizado em agosto de 2023.
PERGUNTAS | RELATOS |
O que você aprendeu? | “Aprendi muitas coisas, entre elas, como a vida no mar e como diferentes áreas, como Biologia, Comunicação e Tecnologia, se conectam.” “Aprendi que devemos nos atentar além do contexto histórico da Baía de Todos os Santos, a sua preservação que é de extrema importância.” “Através da interdisciplinaridade do projeto, compreendi o contexto histórico da Baía de Todos os Santos, e as metodologias para sua conservação, contendo medidas tecnológicas para estudo de ecossistemas marinhos.” “Aprendi sobre as histórias do local, e também sobre como as pessoas dependem do local para a sua sobrevivência, e também foi interessante a união de conhecimentos para tomar medidas para preservação da BTS em forma geral.”
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Quais foram os desafios? | “Momentos em que precisei interagir com um grupo, afinal, como todos eram de realidades diferentes, toda opinião era importante!” “Com toda certeza, foi a interação com os outros participantes do projeto. Pessoas totalmente diferentes, mas no final deu tudo certo.” “Momentos de interação e concentração para compreender outros pontos de vista, e as situações apresentadas no desenrolar dos diálogos.”
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O que mais gostou? | “Gostei muito da experiência de ouvir as palestras dos pescadores. Me proporcionou uma visão única e um ponto de vista que nunca tinha pensado. Além disso, as visitas a lugares, enriqueceram meu entendimento prático.” “Pode rever alguns pontos turísticos e conhecer realmente o seu contexto histórico.” “Gostei das visitas a pontos turísticos e do momento em que os pescadores mostraram suas vivências.” “As visitas aos pontos turísticos, e também as duras experiências contadas pelos pescadores.”
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O que menos gostou? | “Poderia ter havido mais tempo para nos aprofundarmos em certos tópicos.” “O tempo que foi dado não foi o suficiente para explorarmos o local.” “O tempo curto para conhecer os pontos onde o projeto abrange.”
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Qual (is) o (s) benefício (s) e a (s) mudança (s) causada (s) por essa experiência? | “Os benefícios foram vários. Entre eles, a mudança positiva de pensamento. “Agora penso mais amplamente a respeito dos assuntos que envolvem o mar.” “Com toda certeza foi a mudança de pensamento! Agora eu sei que além da bela fama do turismo existe uma história que vale muito a pena conhecer e se aprofundar.” “Ao participar dessa experiência pude me beneficiar com o conhecimento da situação em que a Baía de Todos os Santos se encontra, e o que podemos fazer para conservá-la. Além disso, entendi melhor sobre sua história, a vida marinha e os meios tecnológicos utilizados.” “Esses conhecimentos que foram adquiridos nos ajudaram a ver com outros olhos algo que só se via pela aparência e não como realmente é, e também como é importante a BTS para os que vivem e precisam dela.” |
TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE SOCIAL ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Considerando a consciência ambiental como o único caminho a ser seguido pela humanidade e a importância do processo educativo para alcançar tal objetivo, fica evidente que as escolas, junto às comunidades tradicionais litorâneas, aumentam as chances de conservação marítima e adoção de práticas sustentáveis. Algumas maneiras pelas quais as escolas podem colaborar com as comunidades pesqueiras estão listadas a seguir:
As escolas nessas regiões costeiras do Agreste Baiano podem desempenhar um papel significativo na conscientização sobre a importância da preservação dos recursos marinhos e da prática da pesca sustentável. Com esta perspectiva, a colaboração entre comunidades de pescadores e comunidade escolar pode fortalecer e preservar a identidade cultural dos ambientes costeiros, além de integrar experiências no cotidiano da escola.
Sá (2005) propõe que o papel da escola não é apenas fornecer informações e transferir conhecimentos, a ela cabe promover e propor atividades que desafiem os educandos, que oportunizem uma aprendizagem mais significativa e que provoquem no estudante o sentimento de pertencimento como agente transformador da sua realidade.
CONCLUSÃO
As comunidades tradicionais pesqueiras da Baía de Todos-os-Santos e do Território de Identidade Litoral Norte e Agreste Baiano são alicerces culturais e econômicos da região, moldando a vida de gerações. Para os estudantes do Colégio da Polícia Militar de Alagoinhas, compreender a realidade dessas comunidades é fundamental para construir uma relação mais próxima com o seu entorno e com a rica biodiversidade marinha que os cerca. As palestras, rodas de conversa e visitas técnicas proporcionaram uma imersão no universo das comunidades pesqueiras, permitindo conhecer de perto suas práticas, desafios e saberes tradicionais. Ao vivenciarem essa experiência, os jovens puderam compreender a importância da pesca artesanal para a economia local, a conservação dos ecossistemas marinhos e a manutenção da biodiversidade. Além disso, as atividades estimularam a troca de conhecimentos entre estudantes e pescadores, fortalecendo os laços entre a escola e a comunidade. Ao promover o diálogo entre a escola e as comunidades pesqueiras, essas ações pedagógicas contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados na preservação do meio ambiente. Ao conhecerem a realidade dessas comunidades e a importância do mar para a vida de todos, os estudantes do CPM Alagoinhas estão mais preparados para atuar como agentes de transformação social, buscando soluções para os desafios ambientais e promovendo a valorização das culturas tradicionais.
REFERÊNCIAS
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Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n. Edição Especial - 01. 2024, p.03 - 18. Jul./dez., http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131
[1] A Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
[2] A Rede de Pesquisa Embarcados é formada por pesquisadores da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e da Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB); do Laboratório de Recursos Pesqueiros Marinhos (LABMARH / Campus II /UNEB); do Centro de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Regional (CPEDR / Campus I / UNEB); do Programa de Pós-Graduação em Modelagem e Simulação de Biossistemas (PPGMSB / Campus II / UNEB); e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGEcoH/Campus III / UNEB).