II ZOOGINCANA COMO ESTRATÉGIA DE VALORIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE
Beatriz Dias Oliveira1*, Maria José Dias Sales2, Magnólia Silva Queiroz2, Eltamara Souza da Conceição2
1Licencianda em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus II, DCET, Alagoinhas – BA.
2Bióloga, Professora da UNEB, campus II, DCET, Alagoinhas – BA.
*Autora para correspondência E-mail: beadolliveira@gmail.com
Recebido: 30/09/2024 Aceito: 14/01/2025
RESUMO: A Zoogincana é um evento de extensão universitária anual promovido pelo curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia – campus II. Em sua segunda edição integrou ainda mais ações interdisciplinares de cursos do Departamento de Ciências Exatas e da Terra, como Ciências Biológicas e Matemática, e também do curso de mestrado em Modelagem e Simulação de Biossistemas (PPGMSB). Assim, o objetivo deste trabalho é fazer um relato de experiência sobre a II Zoogincana, descrevendo todos os aspectos – desde à concepção do evento até a avaliação dos resultados, reforçando a importância de atividades extensionistas, na perspectiva de valorizar a interdisciplinaridade, constituindo-se numa oportunidade de protagonismo estudantil. A realização do evento, desde sua concepção, foi pautada no protagonismo discente tanto nos aspectos acadêmicos (definição do tema, atividades a serem desenvolvidas, promoção da interdisciplinaridade) como nos aspectos logísticos (local, estandes, material audiovisual, patrocínio, entre outros), com participação de 57 estudantes do Ensino Superior. A Zoogincana envolveu de forma significativa estudantes da educação básica (anos finais do ensino fundamental e ensino médio) bem como a comunidade visitante com atividades lúdicas e interativas, incluindo jogos, brincadeiras, tarefas temáticas e exposições itinerantes dos laboratórios. Esse envolvimento foi crucial para o sucesso do evento, permitindo que os estudantes desenvolvessem habilidades de gestão, liderança e trabalho em equipe. O evento promoveu a Ciência e fortaleceu o papel da Universidade na formação cidadã, com a promoção de uma educação interdisciplinar, enfatizando a relevância das atividades extensionistas na formação acadêmica, essenciais para a formação integral dos futuros profissionais de diversas áreas.
Palavras-chave: Ciências, Conhecimento, Educação.
II ZOOGINCANA AS A STRATEGY FOR ENHANCING INTERDISCIPLINARITY
ABSTRACT: The Zoogincana is an annual university extension event promoted by the Bachelor's Degree in Biological Sciences at the State University of Bahia – campus II. In its second edition, it integrated even more interdisciplinary actions from courses in the Department of Exact and Earth Sciences, such as Biological Sciences and Mathematics, and also from the master's degree in Biosystems Modeling and Simulation (PPGMSB). Thus, the objective of this work is to report on the experience of the II Zoogincana, describing all aspects - from the conception of the event to the evaluation of results, reinforcing the importance of extension activities, with the perspective of valuing interdisciplinarity, constituting an opportunity for student protagonism. The event, since its conception, was based on student protagonism both in the academic aspects (definition of the theme, activities to be developed, promotion of interdisciplinarity) and in the logistical aspects (location, stands, audiovisual material, sponsorship, among others), with the participation of 57 higher education students. The Zoogincana significantly involved students from basic education (final years of elementary school and high school) as well as the visiting community with ludicity and interactive activities, including games, activities, themed tasks and traveling laboratory exhibitions. This involvement was crucial to the success of the event, allowing students to develop management, leadership and teamwork skills. The event promoted Science and strengthened the role of the University in the formation of citizens, with the promotion of an interdisciplinary education, emphasizing the relevance of extension activities in academic training, essential for the comprehensive training of future professionals in various areas.
Key- words: Science, Knowledgement, Education.
II ZOOGINCANA COMO ESTRATEGIA DE VALORIZACIÓN DE LA INTERDISCIPLINARIEDAD
RESUMEN: Zoogincana es un evento anual de extensión universitaria promovido por la Licenciatura en Ciencias Biológicas de la Universidad Estadual de Bahía – campus II. En su segunda edición, integró aún más acciones interdisciplinarias de cursos del Departamento de Ciencias Exactas y de la Tierra, como Ciencias Biológicas y Matemáticas, y también de la maestría em en Modelado y Simulación de Biosistemas (PPGMSB). Así, el objetivo de este trabajo es brindar un relato de experiencia sobre la II Zoogincana, describiendo todos los aspectos – desde la concepción del evento hasta la evaluación de los resultados, reforzando la importancia de las actividades de extensión, con miras a valorar la interdisciplinariedad, constituyendo una oportunidad para el liderazgo estudiantil. La realización del evento, desde su concepción, se basó en el protagonismo estudiantil tanto en aspectos académicos (definición del tema, actividades a desarrollar, fomento de la interdisciplinariedad) como en aspectos logísticos (lugar, stands, material audiovisual, patrocinio, entre otros), con la participación de 57 estudiantes de Educación Superior. Zoogincana involucró significativamente a los estudiantes de educación básica (últimos años de primaria y secundaria), así como a la comunidad visitante con actividades divertidas e interactivas, incluyendo juegos, tareas temáticas y exposiciones itinerantes de laboratorio. Esta implicación fue crucial para el éxito del evento, permitiendo a los estudiantes desarrollar habilidades de gestión, liderazgo y trabajo en equipo. El evento impulsó la Ciencia y fortaleció el rol de la Universidad en la formación ciudadana, con el impulso de la educación interdisciplinaria, destacando la relevancia de las actividades de extensión en la formación académica, fundamentales para la formación integral de futuros profesionales de diferentes áreas.
Palabras clave: Ciencia, Conocimiento, Educación.
INTRODUÇÃO
A interdisciplinaridade surge no contexto educacional como uma demanda indispensável no processo de ensino e aprendizagem, expressando a cooperação entre componentes curriculares heterogêneos (Junior et al., 2022), partindo da necessidade de promover a reciprocidade e evitar a fragmentação do conhecimento entre estes (Pereira e Nascimento, 2016). Assim, a interdisciplinaridade marca o rompimento de uma visão cartesiana e mecanicista do mundo, onde “disciplinas” são conduzidas de forma isolada, descontextualizada, e sua construção passa ter uma concepção mais integradora e holística (Thiesen, 2008; Cortese e Sotto, 2023), rejeitando qualquer homogeneização (Leis, 2005).
A Zoogincana, idealizada dentro do projeto "Consolidação do Museu Didático de Zoologia para o Conhecimento da Biodiversidade Animal no Litoral Norte e Agreste da Bahia”, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), surge nessa proposta, como atividade de extensão, desde 2023, com o tema “Fortalecendo o elo entre a UNEB e a comunidade” e, na sua segunda edição, teve como tema “Doença aqui não! Saúde e Prevenção”, ocorrido no dia 23 de maio de 2024. Um evento interdisciplinar, que integrou diversos estandes de diferentes laboratórios do curso de Ciências Biológicas, bem como de outro curso do campus II - Licenciatura em Matemática. Além disso, conta com atividades de cunho sociocultural, como espaço para adoção de animais, rodas de capoeira e aulas de dança.
A interdisciplinaridade, indissociável à produção de conhecimento, pode ser discutida a partir de dois enfoques: pedagógico e epistemológico. A primeira considera a natureza curricular de ensino e aprendizagem, enquanto a segunda foca nos aspectos de produção e socialização do conhecimento (Thiesen, 2008). Expressa-se, desta forma, através de dois movimentos, que implicam uma visão crítica da realidade: um que a problematiza, e outro, que sistematiza o conhecimento de maneira integrada (Freire, 1987) e está fundamentada no diálogo e análise crítica da realidade social, que tem caráter particular e ao mesmo tempo diverso (Frigotto, 2008). Configura-se assim como resistência à abordagem tradicional disciplinar, que fragmenta e isola o conhecimento (Thiesen, 2008).
A extensão universitária integra o termo proposto na interdisciplinarização, segundo o Plano Nacional de Extensão (Brasil, 2018). A Resolução 2.028/2019, do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) da UNEB, ao tratar da curricularização da extensão, determina que o mínimo de 10% da carga horária dos cursos de graduação deve ser cumprido por meio de atividades extensionistas. Segundo Gadotti (2017), a curricularização da extensão não é algo novo, e se faz imprescindível na educação, pela indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão na universidade, realçando o papel social da universidade, como prevê o artigo 20 da Lei 5.540/68. Assim, as instituições de ensino superior estenderão à comunidade, sob a forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e os resultados da pesquisa que lhe são inerentes.
Na dimensão da extensão universitária, a interdisciplinaridade resulta de uma necessidade pedagógica e epistemológica, uma demanda social contemporânea, caracterizando-se por práticas que, partindo de um problema, buscam por soluções diversificadas de acordo com as diferentes escolhas, objetos e objetivos de pesquisa (Del-Masso et al., 2017; Philippi-Jr, 2011). Visa romper com a realidade imposta: a fragmentação do conhecimento (Fazenda, 2008), onde diferentes componentes, reunidos, se esforçam na integração das diferentes dimensões dos conhecimentos (Carvalho, 1998; Mozena e Ostermann, 2014). No entanto, o desenvolvimento de atividades interdisciplinares extensionistas pela Universidade ainda enfrenta dificuldades, e são poucas as iniciativas que integram efetivamente comunidade, Educação Básica e Ensino Superior, o que contribui para o isolamento da Universidade na sociedade. Dito isso, o objetivo deste trabalho foi relatar as experiências da II Zoogincana e neste sentido, reforçar a importância de atividades de extensão na perspectiva de valorizar a interdisciplinaridade em ações acadêmicas, constituindo-se numa oportunidade de protagonismo estudantil.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa descritiva, uma vez que tem como objetivo caracterizar populações e/ou fenômenos, que tem como uma de suas particularidades a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática (Gil, 1999). Este relato de experiência foi elaborado na perspectiva do roteiro proposto por Mussi, Flores e Almeida (2021) pretendendo, além da descrição da experiência vivida, a valorização por meio do esforço acadêmico-científico explicativo, da aplicação crítica-reflexiva com apoio teórico-metodológico.
A Zoogincana é um evento realizado anualmente pelo curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UNEB – campus II, Alagoinhas, em parceria com as unidades escolares da rede pública e privada, com o intuito de difundir Ciência por meio de metodologias diversificadas, com apoio da Universidade e do comércio local. O evento foi realizado na Praça dos Esportes, Alagoinhas, Bahia, área ampla e aberta ao público, garantindo grande participação social, durante o dia 23 de maio de 2024 no turno matutino e vespertino, totalizando oito horas de duração. Teve a participação direta de quatro unidades escolares da educação básica – duas da rede estadual e duas da rede municipal, das quais cerca de 70 estudantes participaram das atividades propostas. Além disso, houve a participação de aproximadamente 600 estudantes de outras escolas da cidade como visitantes da Zoogincana. Para além das apresentações que envolviam diretamente o tema da II Zoogincana, atividades voltadas à arte, cultura e entretenimento também foram realizadas, no sentido de divulgar os cuidados preventivos com a saúde e bem-estar.
Foram envolvidos 57 estudantes universitários na organização do evento, dos quais 33 cursam Licenciatura em Ciências Biológicas (matriculados nos componentes de Invertebrados I e III, no terceiro e quinto semestre, respectivamente) compondo a Comissão Organizadora, em atendimento à Resolução 2.028/2019, CONSEPE – UNEB. Além disso, seis discentes atuaram como monitores e 14 como estandistas, incluindo também extensionistas do curso de licenciatura em Ciências Biológicas e Matemática, e são quatro discentes do Mestrado em Modelagem e Simulação de Biossistemas (PPGMSB) da UNEB.
A construção da ação de extensão II Zoogincana teve como ponto de partida a definição do tema: “Doença aqui não! Saúde e Prevenção”, concebido dentro dos componentes curriculares Invertebrados I e Invertebrados III. A escolha deste tema partiu de uma necessidade contemporânea e emergente, a exemplo da pandemia do SARS-CoV atravessada recentemente, bem como de outras doenças – principalmente as zoonoses relacionadas com o contexto atual de saúde do município, tratando da educação sanitária, que implica na qualidade de vida da sociedade. Assim, em consonância com o proposto por Del-Masso et al. (2017), partindo de um problema - o aumento de zoonoses em detrimento do impacto ambiental provocado por ações antrópicas - a II Zoogincana propôs a construção de respostas diversificadas através de uma abordagem interdisciplinar. Permitiu ainda estabelecer um diálogo lúdico com a comunidade na divulgação de vacinas, doenças e sobre a importância do saneamento básico e de adquirir hábitos saudáveis que promovam saúde.
Após a concepção do tema, foram realizados convites e adesão de participantes de outros componentes curriculares do curso de Ciências Biológicas, assim como laboratórios de diferentes áreas, além disso, do curso de Matemática, do campus II, Alagoinhas. Desta forma, a atividade foi protagonizada pelos discentes do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia, campus II, que planejaram roteiros de atividades, organização da logística e divulgação do evento para educandos da Educação Básica, público que incluiu desde a Educação Infantil até o Novo Ensino Médio. Todo processo de comunicação e documentação também foi realizado pelos discentes, o que configura uma oportunidade ímpar de aprendizado, demandando habilidades administrativas e de liderança.
Na parte pedagógica, os discentes elaboraram toda a programação, construindo e aplicando um roteiro de tarefas para a II Zoogincana propriamente dita, abrindo possibilidades para ampla diversidade de atividades a serem discutidas e apresentadas. Para desenvolver as atividades dentro de um enfoque interdisciplinar, e desta forma, abordar o tema “Doença aqui não! Saúde e Prevenção”, os discentes foram orientados a explorarem e estabelecerem pontos de cruzamento entre os diferentes componentes curriculares, tais como Zoologia, Geologia, Botânica e Matemática. A partir deste exercício, desenvolveram a proposta de estandes, bem como elaboraram atividades, jogos de raciocínio e adivinhação que pudessem ser adaptáveis a diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade. Toda produção discente ocorreu de forma colaborativa e foi discutida e avaliada coletivamente em reuniões de planejamento e alinhamento.
Após a execução do evento, foram aplicados instrumentos de avaliação e autoavaliação dos envolvidos pela docente responsável pelos componentes curriculares. Em reunião pós-evento, foi possível perceber o cumprimento do objetivo proposto – o de integrar diversos componentes curriculares para discutir um tema relevante e necessário. Assim, pode-se ter uma visão ampla da dimensão do impacto educacional, social, ambiental e científico da II Zoogincana, refletindo sobre diversos aspectos indispensáveis para potencializar o alcance da próxima edição.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A II Zoogincana foi um evento que estimulou a participação dos estudantes da Educação Básica em jogos, brincadeiras, tarefas de cunho educativo e de conhecimento cultural, a fim de permitir, através de interdisciplinaridade, a construção do aprendizado de forma lúdica e efetiva através das atividades propostas, além da compreensão da importância do trabalho em equipe, a cooperação e o empreendedorismo. Aproximou escolas e Universidade, apresentando Ciência de forma lúdica a escolares, criando uma atmosfera favorável à popularização da Ciência e ao processo de letramento científico. Além disso, contou com estandes que realizaram mostras de coleções científicas, como a do Museu Didático de Zoologia - caixas entomológicas e de outros animais; Laboratório de Recursos Pesqueiros Marinhos (LabMaRh), com mostra ictiológica; Laboratório de Solos, com exibição de diversos tipos de rochas; Herbário, com exposição de plantas herborizadas representando a flora regional, e Laboratório de Matemática, com ampla variedade de jogos educativos.
A interdisciplinaridade permeou todo o processo, desde a concepção do tema à consolidação da Zoogincana. Dentro de um pensamento sistêmico, cada estande atuou como parte de um todo, que afetou e foi afetado pelo conjunto, permitindo a construção de conhecimento globalizante (Gadotti, 2004), e possibilitando uma produção acadêmica mais precisa e profunda (Júnior et al., 2002). Assim, a concepção de cada subtema e organização destes em estandes exigiu dos discentes uma percepção abrangente do eixo norteador e, a partir das escolhas de abordagens científicas dos discentes, o tema foi explorado de forma integrada e amplificada. Inclusive nos jogos e tarefas apresentados durante a ação, os desafios exigiam uma visão sistêmica do problema, contribuindo para que os participantes construíssem na perspectiva crítica da problemática discutida (Barros et al., 2017). A abordagem interdisciplinar, ao estabelecer pontos de cruzamento entre diferentes ciências, permite a emergência de novos conhecimentos e visões de mundo e propicia a compreensão de situações e fenômenos complexos (Cortese e Sotto, 2023).
A estratégia dos estandes permitiu o contato direto dos estudantes da Educação Básica e todos aqueles que prestigiaram o evento, com o conteúdo interativo, de forma a ocorrer maior interlocução e apropriação dos aspectos em comum, a síntese integradora entre os conhecimentos diversos (Pereira e Nascimento, 2016). Além disso, criou memórias que acompanharão os participantes por toda vida, como exemplo, no estande que abordou questões relacionadas à avifauna, com demonstração de falcoaria - puderam segurar, pela primeira vez, um espécime de Parabuteo unicinctus (Temminck, 1824), popularmente conhecido como gavião-asa-de-telha, devidamente legalizado em órgão ambiental competente. Assim, essa experiência e outras vivenciadas pelos estudantes ficarão marcadas como algo significativo, e como Luckesi (2014) afirma, “as experiências nos marcam”.
Um ponto crucial da II Zoogincana foi a preocupação em desenvolver atividades de caráter lúdico, que envolvessem e estimulassem os participantes a aprenderem diferentes conteúdos de forma descontraída (Ritchie e Dodge, 1992). Assim, os estudantes elaboraram atividades que integraram diversas áreas de conhecimento sobre aspectos sanitários e de saúde, como: desafios, jogos de adivinhação e raciocínio lógico. Assim, atividades lúdicas podem criar situações em que os indivíduos precisam saber enfrentar barreiras, realizar improvisos, refletindo criticamente sobre o que lhe é apresentado, mobilizando assim diferentes habilidades (Vieira e Rodrigues, 2016).
Gincanas pedagógicas são excelentes estratégias na promoção da ludicidade no processo de ensino e aprendizagem (Sales et al., 2016; Barros et al., 2017; Silva et al., 2019). Pensando na formação dos futuros docentes, participar da construção de práticas extensionistas com proposta lúdica é essencial para a formação de profissionais que reconhecem a importância de diversificar as estratégias de ensino e aprendizagem, para além de salas de aula e laboratórios, promovendo espaços criativos e prazerosos (Gulineli, 2008; Martins et al., 2019). Assim, a II Zoogincana efetiva-se como uma proposta interdisciplinar, tanto no enfoque pedagógico quanto epistemológico, e apresenta ao futuro docente novas formas de conceber e desenvolver a docência (Isaia e Bolzan, 2004).
Nesse contexto, a Zoogincana aproxima a universidade e a sociedade, estreitando as relações entre a Educação Básica e o Ensino Superior, além da comunidade externa, permitindo que a extensão universitária ocorra de maneira transformadora. Assim, como propõe Naves (2015), por meio da extensão, a Universidade capilariza-se no tecido social, intervindo na realidade de forma direta, contribuindo para a formação de cidadãos críticos. O docente apresenta uma proposta pedagógica que integra diferentes áreas de conhecimento, criando um espaço de integração e desenvolvimento crítico contextualizado com as demandas reais da comunidade, atuando assim como fio condutor e mediador, para além dos elementos informativos ou instrumentais imediatos (Macedo, 2009).
Para Carvalho (2007), a interdisciplinaridade coloca o discente como protagonista do processo de ensino e aprendizagem, desenvolvendo uma conduta acadêmico-profissional essencial ao desenvolvimento da ciência, e da compreensão desta dentro de uma ótica de interciências. Considerando o papel da universidade de zelar pela qualidade do trabalho acadêmico e pela formação de profissionais competentes, com habilidades e competências em consonância com os novos saberes e exigências do novo perfil profissional (Peleias, 2011), torna-se notória a contribuição da ação. Além disso, como os grandes desafios de caráter humanístico, científico e tecnológico normalmente têm caráter interdisciplinar, exigindo uma equipe multidisciplinar para sua concretização (Chaves, 2005), tal como a formação de toda equipe que compôs a II Zoogincana, entre estudantes e professores, o que destaca o impacto do planejamento e execução deste evento na formação de futuros docentes.
CONCLUSÃO
A Zoogincana é uma proposta de atividade extensionista que, por meio da interdisciplinaridade e ludicidade permitiu a participação ativa da comunidade na construção e socialização de conhecimentos, bem como estimulou o pensamento crítico, a comunicação e o trabalho em equipe dos futuros docentes. Por seu caráter lúdico e científico, articulou pesquisa e ensino e configurando-se oportunidade ímpar de difusão de Ciência em um espaço de lazer. Assim, este evento apresentou à comunidade a importância da aplicação do conhecimento acadêmico na resolução de problemas no cotidiano para uma melhor qualidade de vida.
Ao estabelecer uma ponte entre sociedade e Universidade, a II Zoogincana destacou o papel da UNEB campus II, a qual possui significativa contribuição na formação regional de docentes, na formação cidadã, valorizando a conexão entre as diversas áreas do conhecimento. Foi, desta forma, espaço de troca de saberes, onde todos os participantes discutiram questões atuais, propiciando a formação de redes de comunicação e colaboração. Assim, ao reconhecer a interdisciplinaridade como aspecto fundamental na dimensão da Extensão Universitária, estabelece-se como mais uma forma de consolidar a função pública da Universidade no desenvolvimento humano, científico e social, tão urgente e necessário, e reafirma o compromisso da UNEB com a formação integral dos futuros docentes e com a promoção do bem-estar da comunidade.
AGRADECIMENTOS
À Universidade do Estado da Bahia por financiar o projeto. Às escolas parceiras, bem como a prefeitura e empresas comerciais de Alagoinhas pelo apoio. À FAPESB pela bolsa concedida à Beatriz Dias Oliveira.
REFERÊNCIAS
BARROS, Maria Rosane Marques; CAVALCANTI, Eduardo Luiz Dias. Ludicidade na educação ambiental: contribuição na percepção crítica de problemas socioambientais. Enseñanza de las ciencias: Revista de Investigación y Experiencias Didácticas, 3319-3324, 2017. Disponível em: https://raco.cat/index.php/Ensenanza/article/view/339984/430939. Acesso em: 26 setembro 2024.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria 1.350 de 17 de dezembro de 2018. Homologa o parecer CNE/CES 608/2018 e institui as diretrizes para as políticas de extensão da educação superior brasileira. Diário Oficial da União. Seção 1, Brasília, DF, p. 34, 17 dez. 2018.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Em direção ao mundo da vida: interdisciplinaridade e educação ambiental. Ipê, 1998, 101p.
CARVALHO, Vilma de. Acerca da interdisciplinaridade: aspectos epistemológicos e implicações para a enfermagem. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 41, 500-507, 2007. Disponível em https://www.scielo.br/j/reeusp/a/c4pJhTPbdZtX5WY3gjGmM8h/?lang=pt. Acesso em: 10 setembro 2024.
CHAVES, A. O ciclo de formação geral e a reforma do ensino superior. 2007. Disponível em: <http://www.educacao.gov.br/reforma/Documentos/ ARTIGOS/2005.3.7.17.4.56.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2024.
CORTESE, Tatiana Tucunduva P.; SOTTO, Débora Sotto. Desvendando complexidades: importância da interdisciplinaridade e da intersetorialidade. Jornal da USP, 10 mar. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/desvendando-complexidades-importancia-da-interdisciplinaridade-e-da-intersetorialidade/. Acesso em: 27 set. 2024.
DEL-MASSO, Maria Candida Soares et al. Interdisciplinaridade em extensão universitária. Revista Ciência em Extensão, 13(3), 2-12, 2017. Disponível e: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1852/1408 Acesso em: 20 agosto 2024.
FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. 15ª Ed. Campinas: Papirus, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A interdisciplinaridade como necessidade e como problema nas ciências sociais. Ideação, 10(1), 41-62, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.48075/ri.v10i1.4143 Acesso em: 23 agosto 2024.
GADOTTI, Moacir. Extensão universitária: para quê. Instituto Paulo Freire, 15(1), 1-18, 2017. Disponível em: https://www.paulofreire.org/images/pdfs/Extens%C3%A3o_Universit%C3%A1ria_-_Moacir_Gadotti_fevereiro_2017.pdf Acesso em: 20 julho 2024.
GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Editora Ática, 2004.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Atlas, 1999.
GULINELLI, Deize. A ludicidade nos anos iniciais do ensino fundamental: uma retrospectiva dos jogos tradicionais. São Paulo, 2008.
ISAIA, Silvia Maria de Aguiar; BOLZAN, Doris Pires Vargas. Formação do professor do ensino superior: um processo que se aprende?. Educação, p. 121-134, 2004.
Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/3845/2198A Acesso em: 10 setembro 2024.
JÚNIOR, Antônio Pereira; BISPO, Carlos José Capela; PONTES, Altem Nascimento. Interdisciplinaridade no âmbito do ensino superior: Da graduação à pós-graduação. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, 17(1), 0751–0767, 2022. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/15644/12697 Acesso em: 26 setembro 2024.
LEIS, Héctor Ricardo. Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Cadernos de pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, 6(73), 2-23, 2005. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/2176/4455 Acesso em: 26 setembro 2024.
LUCKESI, Cipriano. Ludicidade e formação do educador. Revista Entreideias: educação, cultura e sociedade, 3(2), 2014. Disponivel em: https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/9168/8976 Acesso em: 24 setembro 2024.
MACEDO, Roberto Sidnei. Currículo: campo, conceito e pesquisa. Vozes, 2009.
MARTINS, Karina; DE ALMEIDA, Rosiléia Oliveira; BAPTISTA, Geilsa Costa Santos. Ensino de ecologia e elementos da etnoecologia: perspectivas para a formação inicial do professor de biologia a partir de um curso de extensão. Cadernos CIMEAC, 12(1), 39-67, 2022.Disponível em: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/cimeac/article/view/6067 Acesso em: 24 setembro 2024.
MOZENA, Erika Regina; OSTERMANN, Fernanda. Uma revisão bibliográfica sobre a interdisciplinaridade no ensino das ciências da natureza. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte),16, 185-206, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/epec/a/CgpBrMQzDYPqkHZ7yKKdqGk/abstract/?lang=pt Acesso em: 26 setembro 2024.
MUSSI, Ricardo Franklin de Freitas; FLORES, Fábio Fernandes; ALMEIDA, Claudio Bispo de. Pressupostos para a elaboração de relato de experiência como conhecimento científico. Revista Práxis Educacional, v. 17, n. 48, p. 60-77, 2021. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/article/view/9010/6134 Acesso em: 11 novembro 2024.
NAVES, Emilse. Fazer-saber: reflexões sobre a função acadêmica da extensão universitária. Em Extensão, 14(1), 9-29, 2015. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/28113/pdf Acesso em: 26 setembro 2024.
PELEIAS, Ivan Ricardo; MENDONÇA, Janete de Fátima; SLOMSKI, Vilma Geni; FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade no Ensino Superior: Análise da Percepção de Professores de Controladoria em Cursos de Ciências Contábeis na Cidade de São Paulo. Avaliação, 16(3), 499-532, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/aval/a/4d7w6NVNw6VmJg4hwCmqNVH/ Acesso em: 26 setembro 2024.
PEREIRA, Elvio Quirino; NASCIMENTO,Elimar Pinheiro do. A interdisciplinaridade nas universidades brasileiras: trajetória e desafios. Redes, 21(1), 209-232, 2016. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/redes/article/view/4844 Acesso em: 26 setembro 2024.
PHILIPPI-JR, A. Apresentação. In: PHILIPPI-JR, A., SILVA NETO, A.J. (Editores) Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia & Inovação. Barueri, SP: Manole, 2011. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/pg/docs/art12_212.pdf Acesso em: 10 setembro 2024.
RITCHIE, Donn; DODGE, Bernard. Integrating Technology Usage across the Curriculum through Educational Adventure Games. ERIC, 1992.
SALES, Ieda Maria Amorim et al. A gincana cultural como ferramenta de ensino-aprendizagem. Webartigos, 2016. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/a-gincana-cultural-como-ferramenta-de-ensino-aprendizagem/139661 Acesso em: 26 setembro 2024.
SILVA, Fabiana de Oliveira da et al. Gincana de ciências da natureza: contribuições de atividades interdisciplinares lúdicas no processo de ensino-aprendizagem. Scientia Naturalis, 1(2), 2019. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/SciNat/article/view/2503 Acesso em: 10 setembro 2024.
THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem. Revista brasileira de educação, 13, 545-554, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/swDcnzst9SVpJvpx6tGYmFr/ Acesso em: 26 setembro 2024.
VIEIRA, Luciene Batista; RODRIGUES, Elaine Aparecida Fernandes. O Ensino Lúdico nos Anos Iniciais. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, 10, 136-153, 2016. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/wp-content/uploads/2016/11/ensino-ludico-nos-anos-iniciais.pdf Acesso em: 10 setembro 2024.
Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n.2. 2024, p.03 -15. Jul./dez., Dossiê http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131