ESCREVIVÊNCIAS DE UMA MULHER NEGRA DA ROÇA
Ana Maria Anunciação da SILVA¹, Antonio José de SOUZA² *.
¹ Secretaria Municipal de Educação de Ichu-Bahia.
² Secretaria de Educação Municipal de Itiúba-Bahia.
*Autor para correspondência E-mail: tonnydesouza@gmail.com
Recebido: 30.08.2022 Aceito: 17.09.2023
RESUMO: Neste texto, a primeira autora apresenta suas escrevivências como criança e mulher negra da roça. Ela narra as vivências cotidianas de aprendizagens e a construção de saberes transmitidos por suas ancestrais. É possível identificar as perversidades que aparecem no decorrer da narrativa sobre cor, cabelo, estética, ruralidades, fala e costumes que foram atrelados às discriminações. A história entrelaça as aprendizagens na lavoura e na escola da roça e, nesta dinâmica, acontece um movimento de escrita de si (com rememoração e vivências identitárias): a escrita da vida e a vida escrita, uma escrevivência que não é só dela, mas que revela a história de tantas outras mulheres negras das roças do Brasil que, pelas trilhas da vida, encontraram a assunção de si para (re)existir. A narrativa foi construída a partir de uma conversa com intelectuais negras, cujas itinerâncias se conectam com a da primeira autora. Carolina de Jesus, Lélia Gonzalez, Glória Anzaldúa e Conceição Evaristo são as convidadas para esse diálogo. Sem a pretensão de concluir nenhuma das discussões, a primeira autora, como pesquisadora da área de educação e educadora, vive em movimento de aquilombação com professoras(es) de várias localidades do país e, principalmente, do sertão baiano, entrelaçando pertença, semeando acolhimentos, rememorando, narrando, existindo e escrevivendo.
Palavras-chave: Escrevivência; Mulher negra; Roça; Docência.
WRITINGS OF A BLACK WOMAN FROM THE COUNTRYSIDE
ABSTRACT: In this text, the first author presents her experiences as a black child and woman from the countryside. She narrates the daily experiences of learning and the construction of knowledge transmitted by her ancestors. It is possible to identify the perversities that appear in the course of the narrative about color, hair, aesthetics, ruralities, speech and customs that were linked to discrimination. The story intertwines learning on the farm and in the school of the countryside and, in this dynamic, there is a movement of writing of oneself (with remembrance and identity experiences): the writing of life and the written life, a writing that is not only hers, but that reveals the history of so many other black women from the countryside of Brazil who, through the trails of life, found the assumption of self to (re)exist. The narrative was constructed from a conversation with black intellectuals whose itinerancies connect with that of the first author. Carolina de Jesus, Lélia Gonzalez, Glória Anzaldúa and Conceição Evaristo are the guests for this dialog. Without the intention of concluding any of the discussions, the first author, as a researcher in the field of education and educator, lives in a movement of “aquilombação” with teachers from different places of the country and, mainly, from the hinterland of Bahia, interweaving belonging, sowing acceptance, remembering, narrating, existing, and writing.
Keywords: Writings; Black Woman; Farm; Teaching.
ESCRITOS DE UNA NEGRA DEL CAMPO
RESUMEN: En este texto, la primera autora presenta sus escritos como niña y mujer negra del campo. Narra las experiencias cotidianas de aprendizaje y de la construcción del conocimiento que le transmitieron sus antepasados. Es posible identificar las depravaciones que aparecen en el transcurso de la narración sobre el color, el cabello, la estética, la rusticidad, el habla y las costumbres que estuvieron relacionadas a la discriminación. El relato entrelaza aprendizajes en el campo y en la escuela rural y, en esa dinámica, hay un movimiento de escritura propia (con recuerdos y experiencias de identidad): la escritura de vida y la vida escrita, una escritura que no es solo de ella, pero que revela la historia de tantas otras mujeres negras del campo de Brasil que, por los caminos de la vida, encontraron la asunción de sí mismas para (re)existir. La narración se construyó a partir de una conversación con intelectuales negras, cuyas itinerancias se concectan con la de la primera autora. Carolina de Jesus, Lélia Gonzalez, Glória Anzaldúa y Conceição Evaristo están invitadas a participar de este diálogo. Sin la pretensión de concluir ninguna de las discusiones, la primera autora, como investigadora en el campo de la educación y educadora, vive en un movimiento de “comuna” con docentes de diversas localidades del país y, principalmente, del interior de Bahía, entretejiendo pertenencia, sembrando aceptación, recordando, narraando, existiendo y escribiendo.
Palabras llave: Escritura; Mujer negra; campo; Enseñando.
A ESCREVIVÊNCIA DE UMA MULHER-NEGRA-DA-ROÇA NO MUNDO
Por segundo autor
“A sua vida, menina, não pode ser só sua. Muitos vão se libertar, vão se realizar por meio de você [...]” (EVARISTO, 2017a, p. 111)
Nesta escrita, a primeira autora é uma mulher-negra-da-roça, a personagem central de uma história de vida, contada em primeira pessoa e resgatada através das suas recriações pela memória ou, como preferiu chamar o historiador Jacques Le Goff (1924-2014), por suas “[...] impressões ou informações passadas [...]” (2013, p. 387). Os caminhos percorridos, aqui, são de uma poética literária, mas, principalmente, uma poética de si conjugada no tempo do que fora vivido. No percurso de volta ao passado, ela (a primeira autora) é conduzida pela experiência do reconhecimento de si que, em geral, implica o reconhecimento (por si) de-si-mesma-e-dos-outros, isto é, ter a consciência de que alguém está ali e a vê, tornando-se conhecedora e conhecida. Nessa relação com a presença do ‘outro’ e reconhecida na própria consciência, constitui-se como pessoa que sabe-que-se-sabe-de-si-própria tendo um corpo “lançado” no mundo (MAHEIRIE, 2002; RICOEUR, 2006; SARTRE, 1997; SOUZA, 2022). Inclusive, tal constatação ocorre-me, também, do fato da primeira autora ter me convidado para este dueto, quer dizer: ela não precisa do ‘outro’ para falar/escrever de si, ainda assim, escolheu fazê-lo por uma atitude com-o-outro – em comunidade.
Nesse aspecto, a primeira autora demonstra saber da sua existência como ‘aparição’ para alguém (SARTRE, 1997); algo semelhante ao que aconteceu ao Vitangelo Moscarda – protagonista do livro Um, nenhum e cem mil (2019), escrito pelo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) – quando, a partir de uma observação corriqueira da esposa sobre o seu nariz, é tomado pela epifania de que ela (a esposa) estava coberta de razão, afinal o seu nariz era (de fato) relativamente torto. Essa experiência faz com que Moscarda tenha a consciência de que ele ‘aparece’ ao ser dos outros-existentes com a imagem diferente da que ele tem de si próprio. A primeira autora, ao me convidar para uma escrita-de-si compartilhada, coloca-se como ‘sujeito-objeto’ – como alguém que é uma, mas também cem mil vivendo dentro de si e das suas memórias (PIRANDELLO, 2019; SOUZA, 2022).
À vista disso, a epígrafe de Conceição Evaristo (2017a) joga luz em nossa existência-comunitária, posto que é uma vida impossível de ser vivida sozinha. Daí a escrevivência e sua forma de escrever misturando palavra-e-vida, ou melhor, palavra-e-vivência; isso significa que há, no cerne da narração do vivido, uma vivência pessoal, mas, também, comunitária – é individual e, de modo igual, histórica – muitas, muitos “amontoados” dentro-de-si-de-nós (EVARISTO, 2017a; SOUZA, 2022). Trata-se, pela memória, de uma presença-ausente, pois o ‘outro’, ainda que tenha deixado de ser (pela morte, por exemplo) ainda ‘é’ ser.
Imbuída dessa perspectiva comunitária, a primeira autora dialoga com a poetisa Carolina Maria de Jesus (1914-1977), a professora Lélia Gonzalez (1935-1994), a acadêmica Glória Anzaldúa (1942-2004) e a escritora Conceição Evaristo, tendo o objetivo de narrar a vida, apresentando anúncios e denúncias por meio de uma conversa que entrelaça as suas vivências com as de tantas outras mulheres-negras-e-pobres “lançadas” no mundo.
Isso posto, o trabalho “Escrevivências de uma mulher negra da roça” está divido em seções. Na parte intitulada “Minhas vivências na roça”, a primeira autora compartilha suas lembranças do tempo de criança, do tempo de suas descobertas pela vida e pelo encantamento revelador das coisas próprias da roça, da lavoura e da pequena escola do lugar; espaço geográfico no qual ela se movimentava na síntese trabalho-brincadeira-ou-brincadeira-trabalho, objetivando-se no plantio, na colheita, na caçada por frutas e nas brincadeiras de uma menina da roça (MAHEIRIE, 1994). Essas lembranças vão, por vezes, imbricando-se no texto com o texto das autoras negras (citadas acima), formando uma prosa bonita de acompanhar. A “roça” é concebida aqui a partir da concepção de Rios (2011, p. 13), tomando-a como uma “[...] ruralidade [...] envolta, principalmente, na semiótica da terra [...]” que, sobremaneira, tem um papel estruturante na constituição das identidades.
Na segunda parte, “Eu, menina-mulher-negra nas escolas”, a primeira autora leva-nos para o lugar no qual viveu um contexto marcado por desigualdades e exclusões devido aos marcadores das (suas) diferenças que estão visíveis no seu corpo “lançando” no mundo e, por isto, sofre “[...] quando entende que o homem transforma o outro semelhante, sem o qual não pode viver, em rivalidade.” (SAWAIA, 1994, p. 10); ela (a primeira autora) teve que resistir, ainda que silenciosamente, visto que tinha ciência da necessidade de continuar os estudos para escrever um projeto de vida-que-precisava-ser-vivido.
Na seção “Trilhas finais”, a primeira autora faz a descoberta de que a vida e a escrita das intelectuais (citadas acima) coadunam com a sua própria existência enquanto mulher-negra. Nesses atravessamentos, a sua história de vida (refiro-me à primeira autora) alvorece, tal o amanhecer na roça, na história de cada um-de-nós, pois, como disse a professora Bader Sawaia “[...] somos todos migrantes de zonas cristalizadas em busca de vida e de humanidade.” (1994, p, 10).
Devo dizer, ainda, que a primeira autora dialoga com outras duas autoras negras – mesmo que não tenha feito menção a elas. Refiro-me à psicanalista Neusa Santos Souza (1948-2008), no clássico Tornar-se negro (1983), e a escritora Toni Morrison (1931-2019), no premiado O olho mais azul (2003). Lembrei-me dessas duas obras enquanto lia o texto da primeira autora, porque a sua experiência de se saber negra foi, como afirmou Souza (1983, p. 17-18), “[…] de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas perspectivas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas [...]” – tal qual a pequena Pecola criada por Morrison (2003) que se sente exclusivamente feia por ser “eclipsada” pelo negrume da pele. Eis a causa de sua vergonha e raiva; sentimentos responsáveis por sua consciência de existir estigmatizada na inferioridade; consciência de uma presença-ausência que culminou no ódio por si (SOUZA, 2022).
Por essa razão, Pecola “[...] toda noite, sem falta, [...] rezava para ter olhos azuis [...]. ‘Eu gostaria de um par de olhos novos azuis’.” (MORRISON, 2003, p. 50; 181, grifo da autora). Os “olhos azuis” é uma metáfora para a branquitude desejada “[...] que cria o vácuo afiado pela aversão em olhos de brancos.” (MORRISON, 2003, p. 52). Nesse sentido, segundo Jean-Paul Sartre (1997), a vergonha de Pecola coloca em questão a dúvida da própria existência, pois a percepção de si acontece pelo corpo que fora sujeitado ao erro na presença (através) do ‘outro’, isto significa que: “[...] se estremeço de vergonha ao menor ruído, se cada ranger dos degraus me anuncia um olhar, é porque já estou em estado de ser-visto.” (SARTRE, 1997, p. 355). Ela (a primeira autora) foi ‘vista’ por um ‘olhar’ que a fez “estremecer” em suas diferenças e estigmas desacreditáveis, fazendo-a “submergir” nas interpretações-confundidas-de-si (GOFFMAN, 1975; SOUZA, 2018b; SOUZA, 2022).
No entanto, percebe-se, ao final da leitura, que a primeira autora emerge gloriosa, sobretudo, por intermédio da “[...] experiência de comprometer-se [pela docência] a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades.” (SOUZA, 1983, p. 18). Afinal, como explicou Paulo Freire (1921-1997), “[...] ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade [...]” (1996, p. 41), ou melhor, das identidades. Ela, em diálogo, testemunha suas intersecções na ‘assunção de si’, quer dizer, ‘assumindo-se’ enquanto mulher-professora-negra-da-roça, fazendo da sua docência um ‘acerto de contas’ (SOUZA, 2022).
Não vou mais prendê-la(lo), estimada(o) leitor(a). Deixo-a(o) com a história de vida da primeira autora e com a possibilidade de aprender com ela (tanto quanto eu aprendo!). Sendo assim, desejo-lhe uma auspiciosa leitura.
MINHAS VIVÊNCIAS NA ROÇA
Por primeira autora
Aciono, com respeito e reverência, neste trabalho, o conceito de escrevivência criado pela escritora Conceição Evaristo (2017a) e apresentado, aqui, pelo segundo autor. Estou também construindo o meu entendimento de escrevivência como uma escrita da sobrevivência e da (re)existência de mulheres negras, encontradas na própria história de vida entrelaçada a outras existências.
Estou, no momento em que escrevo estas palavras, debaixo do tamarindeiro, sob o canto das passarinhas que repousam sobre os galhos verdejantes. Estou na companhia de Carolina Maria de Jesus (1960), Lélia Gonzalez (2020), Gloria Anzaldúa (2000) e Conceição Evaristo (2017a; 2017b; 2017c) em profuso diálogo. Estamos “sentadas” na esteira de palha para, assim, compartilharmos nossas vivências que não são apenas nossas, mas de tantas outras mulheres, negras e pobres, deste país. Rememoro, na companhia dessas mulheres que me antecederam, as minhas andanças, contando-as pelas perspectivas das trilhas pelas quais passei, as travessias, as veredas, as descobertas de horizontes e os (des)encontros do meu ser menina-mulher-negra-da-roça.
Para início de conversa, lhes digo que, assim como Carolina Maria de Jesus, eu também vivia a “catar”, ia catar lenha, umbu, licuri, araçá, língua de vaca, pititica e piaba no rio. Eu vivia “[...] a catar qualquer coisa [...]” (JESUS, p. 28, 1960). Nas minhas andanças, desde o romper da aurora, em busca do sustento, percorri muitos caminhos sob o sol e sua alta temperatura. Meu corpo de menina negra nas aventuras em meio aos caatingais.
A caatinga era o lugar da labuta e também do lazer: árvores centenárias, paisagens de cartões postais, mas também secas, sem poder me fornecer a sombra para o descanso. Assim, minha vida ia ganhado sentidos existenciais formativos dentro desse bioma. Eu ficava envolvida com as cores das diversas flores; recordo-me de ofertar algumas delas à minha mãe, um ato de amor e ternura. Lembro-me também das borboletas que acariciavam minha pele negra, do sabor do cajá brava, da pitanga, da jabuticaba, do maracujá do mato, do abacaxi silvestre e do licuri seco, frutos que encontrávamos de forma inesperada e os quais serviam para recompor as forças físicas.
Assim, como as mulheres negras “[...] acostumadas com o trabalho na roça [...]. Desde cedo, já sabia lavar, passar e varrer o terreiro que nem um brinco [...]” (GONZALEZ, 2020, p. 173). Fui crescendo, desenvolvendo junto às outras mulheres negras a criatividade para (re)existir diante dos obstáculos históricos, por isto, vejo-me nas linhas de escritas por Lélia Gonzalez (2020).
Dentre as atividades de que gostava (e gosto) está o varrer-o-terreiro. Eu varria o terreiro com a vassoura que eu mesma fazia. Eu entrava na mata fechada, retirava um galho seco reto, o qual servia como o cabo, arrancava do chão os pés da planta-vassourinha e fazia um bonito ramalhete. Depois, pegava algumas folhas de pindoba, fazia o entrelace e amarrava criativamente as plantas no galho. Estava pronta a vassoura. Eu ficava feliz, pois o ato de varrer-o-terreiro, para mim, era (é) um momento terapêutico, de revisitação de muitas memórias que ao longo da minha vida se fizeram e ainda se fazem formativas.
Prezadas intelectuais, minha vida possui fios entrelaçados com todas as mulheres que vocês revelam em seus escritos, encharcadas de sentimentos diversos. Eu lavava roupa nas trincheiras dos barreiros, esfregando as peças sob os lajedos de pedras. Após o enxague, colocava a bacia cheia de roupas na cabeça sobre uma rodilha de pano – peça confeccionada com tecido que alivia o peso que pegamos por aqui. Ao chegar em casa, minha mãe passava as peças com um ferro à brasa, cuidando para não queimar as poucas que tínhamos... “Era duro viver, mas valia a pena [...] alegrias e esperanças também.” (EVARISTO, 2017a, p. 154).
Perceba, Evaristo, que, assim como a Maria Nova (uma das suas personagens), desde cedo, aprendi a ter responsabilidade, a cumprir os horários, a levantar da cama, escovar os dentes com a espuma das cascas do juazeiro e trilhar caminhos. Eu seguia os passos rápidos da minha mãe, de minhas irmãs mais velhas – quase sempre com os pés negros na terra árida, quente, sobre pedras pontiagudas e chinelo degastado, cansando, descansando e construindo pertencimento. As raízes na minha vida vêm do simbólico que é a minha linhagem ancestral – nas quais me debrucei para descansar do cansaço da lida – e das que plantei, cultivei, consumi e partilhei.
As idas para o “catar” na caatinga era deveras uma expedição sagrada, cheias de significados que aguçavam todos os sentidos. Eu via cores nas cobras que passeavam rastejantes; eram tão lindas que eu nem tinha medo do perigo. Sentia o cheiro das ervas e da flora das árvores de carrancudo. Degustava o umbu e escutava a canção da sabiá. Na pior das hipóteses, as pernas passavam em alguma planta espinhosa (de espinhos característicos): hora das dores.
Sabe, Evaristo, a vida aqui na roça tem parecenças com algumas passagens das histórias da favela que você retrata no livro Becos da Memória (2017a). Apesar das estiagens e contradições históricas do meu lugar, não deixei de amar a ‘minha roça’. Lembro-me com compaixão das águas em correntezas, restaurando as energias do meu corpo. Eu ficava a observar o pular das piabas na água, brincava, sorria e as engolia. Reza a lenda por aqui que quem engole piaba fica sabida. Então, eu as engolia para permanecer na escola. Relembro feliz de muitas histórias minhas por aqui enquanto menina... “Tempos [...] em que ria, sorria, gargalhava até. Tempos bons passados, bem distantes, tempo criança. [...] saltos pelos campos afora.”. (EVARISTO, 2017a, p. 30).
Eu aprendi que não posso viver e lutar sozinha no trabalho da roça. Como eu achava lindo o momento de colocar o feixe de lenha na cabeça. As mulheres mais velhas verificavam o peso, enrolavam a rodilha de pano e se juntavam para colocar o peso na minha cabeça. Faziam o teste e perguntavam se estava muito pesado. Uma solidariedade ancestral que existia e existe entre nós. Aquele carinho me acalentava e assim eu seguia meu caminho: sempre olhando para frente e para trás, concomitantemente, para ver se estava tudo bem com as outras. No caminho, examinava a paisagem e a terra árida. Com as pernas em criatividade, driblava as ervas espinhosas.
Eu não compreendia bem por que tínhamos de fazer o mesmo trabalho dos homens, mas alguns eram exclusivamente nossos. Como você bem diz, Evaristo, a mulher possui uma sobrecarga de trabalho. Eu, por exemplo, percebia que o trabalho dos homens era só na lavoura e os nossos, em casa e na lavoura, contextos díspares e desfavoráveis para nós mulheres: “E a mulher sempre carrega tudo [...]” (EVARISTO, 2017a, p. 94).
Fui crescendo sem verbalizar algumas angústias, como a que acabei de citar. Uma delas, Lélia, era a de não querer virar empregada doméstica, pois temia me transformar em uma mucama. Causava-me tristeza não saber como fugir de um destino que me era certo: ir morar nas grandes cidades e trabalhar como empregada doméstica. Como fugir de um destino certo? Eu não queria ser a “[...] doméstica [...] a partir da figura da mucama. [...] ocultada, recalcada, tirada de cena [...]” (GONZALEZ, 2020, p. 83).
À medida que ia crescendo, percebia como as pausas para um breve descanso e o momento de saciar a sede, bebendo água na fonte com o auxílio da cuia, eram importantes para mim. Mas, reitero: nenhuma dificuldade se deu por fora dos meandros da gratidão. Eu agradecia a lenha pesada na cabeça, o momento em que conseguia a caça para comer com a mistura, a fruta que trazia amarrada na blusa – e me fornecia sustança para manter o corpo de pé – e o aprender as letras. Aprendendo eu poderia permanecer na escola.
O termo “aprender”, nesta narrativa, não se refere apenas aos aprendizados construídos na escola, visto que o trabalho na lavoura, enquanto princípio educativo, me trouxe até aqui. O termo utilizado se refere também às crenças e à assimilação da sabedoria popular que adquiri e adquiro com meu povo, com o legado das epistemologias ancestrais da roça, e às vivências genuínas, lugar que marca a minha fé. Olhar para o céu, prever a chegada de chuvas e lançar as sementes na terra seca, quente, e ver a chuva cair para germiná-las: assim fui me fortalecendo nas travessias da vida, com-e-sem-medos. Tudo se tornara tão natural na caatinga que em alguns momentos eu não estranhava mais as mordidas dos marimbondos e abelhas, a cobra passando pelos meus pés e os garranchos que, por pouco e tantas vezes, não me furaram os olhos. O que eu mais temia era ficar sem meus olhos para ler.
Mas... Será que eu consegui permanecer na escola?
Eu, menina-mulher-negra nas escolas
Aprendi, assim como você Anzaldúa, a escrever em meio ao labor do dia a dia. Eu, menina, ouvia e acreditava que o tempo era ingrato e reproduzia as desigualdades. Cresci ouvindo onde era meu “lugar” enquanto menina negra. Ouvi que a escola não era para gente, que – se só estudasse – iria morrer de fome e que acabaria como meus pais sofrendo no cabo da enxada. Sem saber onde encontrar respostas, eu (re)existia, em estratégias silenciosas, “[...] me agachava nas plantações [...], curvando-me sob o sol escaldante, entorpecida numa letargia [...] pelo calor, mãos inchadas e calejadas, inadequadas [...].” (ANZALDÚA, 2000, p. 230).
Durante o plantio e a capina na lavoura, eu lia e escrevia na terra, concomitantemente. Assim, revisava os assuntos principais, em meio ao calor e às plantas espinhosas. No entanto, eu precisava tirar boas notas, afinal já carregara o triste chavão de que “pertencia à população que na escola não aprendia nada” – diziam! Dessa forma, nesse território de características peculiares, ia (vou) lendo o mundo. Em meio aos espinhos, pedras, folhas, flores e troncos, fui construindo sentidos para minha vida, ‘calada’, observando a sororidade entre as mulheres negras na divisão do trabalho. No silêncio, eu via na escola uma oportunidade, “[...] estava cansada. [...] De ver [...] plantações, cuidadas pelas mulheres e crianças, [...] a vida trabalhando [...] depois, [...] colheitas serem entregues aos coronéis. [...] Acreditava que poderia [...] inventar uma vida nova [...].” (EVARISTO, 2017c, p. 30), mas nunca tive vontade de abandonar as raízes.
Desejo fazer-lhes uma revelação, Lélia, Conceição, Carolina e Anzaldúa: na escola, eu sofri o “assédio” de negar a minha identidade, pois a beleza era retratada pela boneca branca, como a Emília retratada nas histórias do Monteiro Lobato (1882-1948). Enquanto isso, doía, ‘me via’ como a Tia Nastácia, sempre serviçal na cozinha. Lembrava-me de que esse era um destino para mim projetado. Ao ouvir sobre o Jeca Tatu, doía novamente. Lembrava-me do sapato usado que ganhara, desproporcional ao tamanho dos meus pés. Infelizmente, a escola associou a identidade negra e da roça ao desleixo e à inferioridade. Sabe, companheiras, eu não queria nem sonhar virar a Tia Nastácia, das cozinhas soteropolitanas, mas eu tenho os traços dela, bumbum avantajado e beiços carnudos. Por mais que eu quisesse, nunca conseguiria negar ou esconder a minha identidade, fenótipo e cabelo crespo.
Assim, seguia na escola, cultivando mentalmente um outro projeto de vida, mesmo com os ouvidos doloridos, rechaçados da escuta de palavras pejorativas (muitas que me recuso a lembrar, embora eu as lembre). Resisti silenciosamente, porque precisava permanecer na escola. Lembro-me dos momentos em que na escola, mesmo estando cansada da lida das manhãs chuvosas, do capricho que tinha feito no plantio de capim do fazendeiro naquele massapê[1], eu caprichava, com as forças espirituais (deveras eu não ando só, nunca andei!). Não queria ser advertida, eu sabia que a escola era fria, dura e descontextualizada. No livro didático, imagens de um período no qual o negro só aparecia em posições de subalternidade, nenhuma referência positiva, nada, nadinha. Um silêncio ensurdecedor. Mas, lembro-me de que eu tinha de pintar os anjos de branco, loiros e de olhos azuis. Eles representavam o bom, o certo, o bonito e o limpo. Na mesma proporção, tudo que era de cor negra era atrelado ao ruim, ao errado, ao feio e ao sujo (SOUZA, 2018a). Como gostar do que eu via refletido no espelho?
Foi assim que eu quis ser branca, boa, bonita e limpa. Por que não? Elas estavam nos livros da escola, nas capas das revistas, na televisão e eram professoras. Quis ter a cor dos anjos e de “Deus” e ter cabelos loiros. As meninas loiras permaneciam na escola e eu nunca encontrei nenhuma delas, por exemplo, na lavoura, vendendo o dia junto com seus familiares. Elas já tinham expectativas, podiam sonhar e verbalizar. Eu não. O final do ciclo estudantil, o antigo primário, era meu fim de linha na escola. Já tinha escutado que até a quarta série estava bom. Já sabia assinar o nome, ler e escrever o necessário. Eu imaginava tanto a chegada desse dia. As aulas, então, finalizaram. Volto para casa desolada, engolindo o nó na garganta. E para doer ainda mais, volta e meia, aparecia alguém para perguntar se eu ia estudar o ginásio. Eu sabia que não ia, mas, quando não tinha alguém por perto, eu respondia: “não sei...”.
Um dia, na roça, eu tomei coragem e confessei à minha mãe a vontade de permanecer na escola e de seguir os estudos. Ela me olhou de forma terna e me prometeu pensar, falou-me baixinho. Indubitavelmente, foi um dos dias mais felizes da minha vida. Eu pulava e sorria. Fiquei tão feliz que, ao chegar em casa, peguei logo um saco vazio, daqueles usados para colocar sacas de milho e feijão, e entrei na caatinga. Lá colhi folhas para renovar o cheio do colchão em que mal dormia, em posição horizontal, para me caber junto as quatro irmãs, mas podia continuar sonhando com a escola. Dali em diante, eu só tinha que continuar a rezar, ter fé e fazer tudo certinho para que desse certo.
Eu mal sabia o que me esperava na cidade. Como nós, que migrantes da roça, éramos olhadas e tratadas com indiferença por alguns. Chegou o dia, e eu cheia de recomendações (mãe fez um tratado!). Em meio às incertezas, lá fui eu, naquele ônibus velho, apertado, empoeirado e sem ter onde sentar. Ao adentrar à escola, um mundo diferente, tudo era estranho. Eu que só estudava português, matemática, esporadicamente geografia, história e ciências, agora tinha que aprender inglês. Fui advertida de que, se não aprendesse, ia sair da escola. Só me restava assistir a todas as aulas em silêncio e com dedicação.
À vista disso, o professor Souza (2018a) sempre enfatiza que há uma mentalidade racista diluída nas relações. E ele tem razão, porque eu vivi isso no rito de passagem da escola da roça para a da cidade o que, definitivamente, não foi fácil. Ouvi que o estudo era difícil e que eu não ia acompanhar. Algumas pessoas maléficas ainda disseram que as meninas da roça iam aprender a namorar, engravidar e virar mãe solteira, “[...] mentalidade racista e discriminatória que me lançava a um lugar [de dor, acreditam?!].”. (SOUZA, 2018a, p. 116).
Ao ler seus escritos, eu me vejo nas histórias por vocês retratadas. Eu sofri vários desafios-adaptativos, dentre eles ir andando para escola, quando faltava o ônibus. Assim, colocava o caderno simples numa sacola plástica de supermercado, improvisava um guarda sol, fazendo a junção de vários galhos folhosos, colocava na cabeça e seguia. Cansada ou descansada, seguia em prece, almejando as continuanças estudantis. Chegava com os pés cheios de poeira ou de lama e suada. Eu sabia que iam falar, chacotear, mas eu (re)existia!
Como você relata, Carolina, no livro Quarto de Despejo, eu também convivi com os olhares desconfiados, maliciosos e racistas. Na maioria das vezes, eu fingia que nem escutava as frases que se lançavam como navalha sobre a minha estética, cor, lugar, sotaque e principalmente meus cabelos, que sempre protagonizaram as cenas mais marcantes, dentre elas virar depósito de chicletes mastigados, chamados de ‘bombril’... “Esquecendo eles que eu adoro a minha pele negra, e meu cabelo rústico [...]”. (JESUS, 1960, p. 69).
Em casa, eu relutava a contar as coisas que me aconteciam e outras que presenciava na escola. Se contasse, eu não permaneceria. Assim, para permanecer, “ignorei” muitas coisas. Tantos foram os dias em que cheguei em casa e chorei escondido na hora do banho. Recordo-me como hoje, em meio às lágrimas salgadas a serpentear pelo meu rosto, eu olhava para o céu quando passou uma estrela cadente, daquelas que vovó me assegurara ter poderes, sabe? No banheiro de pindoba, sem telhado, eu refazia meu pedido para continuar na escola, enquanto a estrela linda e brilhante riscava o céu.
Digo-lhes que, mesmo morando no mesmo município, eu vivia outra realidade, diferente da realidade dos meus colegas da cidade. Eu os ouvia falar que iam para a “banca”, mas a única banca que eu conhecia era o tamborete[2] ou o banco de madeira de pernas tortas na sala da minha casa e das minhas avós. Então, a realidade era que, no turno oposto à escola, eles estavam na “banca”, reforçando a aprendizagem dos conteúdos e eu, na lavoura ou na caatinga em busca do pão de cada dia, catando algo, armando inchós[3] e arapucas[4] perto dos gravatás, tentando angariar o almoço para não chegar à escola de barriga vazia. Sempre que as nossas mães nos pediam para dar um recado ou comprar algo na cidade, nos orientavam a não entrarmos sozinhas ou ir com uma ou duas colegas. Eu não entendia, mas elas queriam nos preservar de alguma acusação, caso sumisse alguma coisa naqueles recintos. Dessa forma, raramente entrávamos, só se houvesse necessidade.
Entendi logo que precisava resistir. Dessa maneira, me dedicava ainda mais para tirar boas notas. Tinha a maior nota em português, sendo da roça, sem “banca”, sem acesso a livros e com os pais semianalfabetos. Recordo-me de uma colega “branca” que só saia da sala após saber a minha nota.
O tempo foi passando. Recordo-me da visita de um padre no colégio. Ele gostava de ir de sala em sala e, nesse dia, entrou justamente na minha. Estávamos tendo aula de português e a professora lhe deu as boas-vindas, dizendo: “Padre, eu vou sentar com o senhor. Quem vai dar a aula da turma hoje vai ser uma aluna especial.”. E me convocou ao quadro de giz. Naquele momento, um misto de reações tomara conta de mim.
Naquele instante, levantei-me, tremi de medo e emoção. Na verdade, houve um silêncio, olhares, um ar de estranheza. Como havia a crença de que o povo da roça falava “errado”, acredito que eles acharam que eu ia escrever “errado” também. Eu sabia que ali alguns não gostaram da escolha, mas eu saudei o padre e fiz o que me fora solicitado. Tive êxito sim, dei uma aula de gramática bem dada. Voltei para casa com o sorriso nas orelhas e, claro, fui logo contar o feito à minha mãe.
As andanças que fiz são traduzidas nos escritos de vocês quando abordam a situação da mulher negra na sociedade, atravessada por aspectos políticos, sociais, econômicos e experiências educacionais excludentes. Foi nessa (re)existência que eu consegui permanecer na escola, me esforçando muito e até fingindo não ouvir certas palavras/episódios, eventos vexatórios, as chiadas, os apelidos e os olhares tortos e desconfiados. Principalmente quando neguei minha identidade e, mesmo gostando dos meus cabelos, alisei-os para tentar ser “aceita”. Acabei cedendo ao olhar do outro, à sua sedução para me tornar mais próxima da cidade. Nesse dia, todos reclamaram do cheiro forte que adivinha da química colocada. Vi-me machucada, rechaçada e sofrida. Sem saber o que fazer, chorei escondido no banheiro da escola e contei os segundos para voltar para minha casa. Ao chegar ao meu lar, minha mãe me percebeu entristecida e perguntou-me o que tinha acontecido, respondi que “[...] o dia [...] tinha sido difícil [...]. Quis confidenciar a respeito de um medo antigo que sentia [...] agonias [...] sonhos, dos planos, das esperanças que [...] depositava na vida.” (EVARISTO, 2017c, p. 57). Mas, não confidenciei, apenas, silenciei outra vez.
O tempo passou, consegui prosseguir nos estudos com êxito e conclui o curso de Magistério. Depois, prestei concurso público e fui aprovada. Tornei-me, com muito orgulho, uma professora. Na cidade, recordo-me de os familiares dos alunos brancos passarem as tardes observando minhas aulas, além da equipe diretiva que me exigia fazer o planejamento junto a outra professora de pele clara. Por castigo, pós-resultado-eleitoral, fui colocada para lecionar na escola da roça.
TRILHAS FINAIS
Por fim, gostaria de agradecer-lhes por esse nosso aquilombamento e escuta. Neste texto, pude contar-lhes a minha história, que não é só minha, mas de tantas outras mulheres negras e pobres do país e do mundo.
Sigo por aqui, entrelaçando as vivências da roça como docente e estudante, vivendo no tripé ensino-pesquisa-extensão e aprendendo com os meandros da sabedoria popular e do ser mulher na/da roça sob a égide dos saberes, fazeres e conheceres. Continuo convivendo nesse território de solo árido, observando o vento que sopra do Norte, o florir das plantas, a renovação dos espinhos do mandacaru, o coaxar dos sapos, o cantar da ave seriema que anunciam a chegada das chuvas e trazem águas em correntezas para energizar o meu corpo. Encontro na sabedoria ancestral a resiliência para viver, sobreviver e construir novos conhecimentos, uma vez que “[...] cada palavra que usamos define um lugar de identidade [...]” (KILOMBA, 2019, p. 14).
Nesse sentido, é uma revisitação de um tempo-não-tão-passado-assim, vivências que me trazem até aqui e, nesse movimento existencial-sobrevivente, me tornei uma mulher resiliente, linda, gorda, docente em escola da roça, na qual venho desenvolvendo com a perspicácia criativa metodológica, junto à comunidade, práticas pedagógicas que se voltam para a valorização da história, da memória e das vivências das estudantes.
Como agricultora-professora-e-pesquisadora, estrategicamente, desenvolvo aulas de campo na própria comunidade na qual a escola está inserida. A partir dos conhecimentos próprios do lugar de produção de vida, busco contextualizar os saberes dos estudantes ao propor temáticas e metodologias como: entrevista à rezadeira, para entender melhor o poder curativo das rezas com as plantas sagradas da roça, e visita à Casa de Farinha, para conhecimento dos equipamentos e das etapas, explicados pela própria produtora de mandioca e dona do espaço.
Desenvolvo também temáticas como: as culturas do território do sisal, riquezas do bioma caatinga, brinquedos construídos pelas nossas antepassadas e brincadeiras que podem ser desenvolvidas no chão. Além disso, organizo rodas de conversas, entrevistas com pessoas mais velhas, com as avós, representantes do samba, do grupo de mulheres e oficinas de confecção de bonecas negras, contos literários que ressaltam e valorizam a nossa cor negra e cabelos crespos. Dessa forma, busco trabalhar “[...] muitas perspectivas [...]. Transpondo as fronteiras, [...] [o que] possibilitou que eu imaginasse e efetivasse práticas [...] que implicam [...] novas maneiras [...] estratégias e reflexões críticas sobre a prática pedagógica [...]” (HOOKS, 2017, p. 20).
Tornei-me especialista em Educação do Campo e, a partir desse momento, “[...] eu me torno a narradora e a escritora da minha própria realidade, a autora e a autoridade na minha própria história.” (KILOMBA, 2019, p. 28). Agora, sou mestra pelo Programa de Educação e Diversidade e, nesse lugar, venho me fortalecendo nos debates, através das profícuas leituras e proposições desenvolvidas com professoras de várias localidades do país em um espaço de afetividade e sensibilidade que tem me abraçado e recarregado as forças para seguir.
Sem a pretensão de concluir, pauso essa escrevivência, mas com foco nas continuanças, como um compromisso, devires e povires ancestrais. Ao finalizar estas linhas, confesso estar celebrativa e grata por suas companhias e pela positividade que vocês despertam em mim, as quais me permitem rememorar, narrar, existir e escreviver.
REFERÊNCIAS
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[1] Trata-se de um barro pesado, daqueles que prende o calçado. Exige força para desgrudá-lo e ajuda para retirar o chinelo.
[2] Peça confeccionada com tábuas dos restos de material da carpintaria.
[3] Inchós são tábuas, que colocadas sob um buraco, consegue capturar preás, animal que se assemelha a um porquinho da índia e que nos servia como alimento.
[4] Objeto/armadilha confeccionada com paus e fios, para capturar pássaros.