RURALIDADES EM VÓ MARIA: (AUTO)ETNOGRAFIA PELOS TRILHOS
MEMORIALÍSTICOS DA INFÂNCIA
RURALITIES IN GRANDMA MARIA: (AUTO)ETHNOGRAPHY THROUGH THE MEMORIALISTIC TRAILS OF CHILDHOOD
RURALIDADES EN ABUELA MARIA: (AUTO)ETNOGRAFÍA A TRAVÉS DE LOS SENDEROS MEMORIALISTAS DE LA INFANCIA
Antonio José de Souza1
¹Secretaria de Educação Municipal de Itiúba-Bahia
E-mail: tonnydesouza@gmail.com
Recebido: 26.08.2023 Aceito: 05.09.2023
RESUMO: Nesta (Auto)etnografia, porque escrita em primeira pessoa (auto = eu), o autor retoma a história de sua família matriarcal, portanto, uma comunidade (ethnos = etno) insólita para os padrões interioranos do sertão baiano, para escrever (grapho = grafia) e analisar o pertencimento às semióticas do rural. O trabalho foi dividido em duas seções, tendo a primeira o mote historiográfico e contextual a partir dos trilhos do trem que, de alguma maneira, entrecortou a história recente da família do autor. A segunda parte focou na relação da personagem principal, Vó Maria, com a roça mesmo depois de tantos trânsitos entre os elementos culturais e as territorialidades da roça-cidade. Para tanto, empreendeu-se uma viagem subjetiva pela locomotiva da memória pessoal de si mesmo (locus do estudo) rumo à infância e às personagens importantes dessa fase da vida. Vó Maria foi o fio condutor dessa narração, imbricando-se nas bifurcações: pai e marido, roça e cidade, objetivo e subjetivo, passado e presente, História e estória, ela (Vó Maria) e o autor (seu neto). Ao final da leitura, se verificará o quanto Vó Maria esteve veiculada às coisas próprias da roça: o manejo dos recursos medicinais das plantas, da terra e da religiosidade popular; espaço (i)material no qual ela se locomoveu na síntese dialógica do trabalho-fruição-trabalho, objetivando-se na memória da roça daquela infância deixada no passado, mas, reverberada, como herança, na subjetividade do neto.
Palavras-chave: Família; Memória; Roça; Pesquisa (Auto)etnográfica.
ABSTRACT: In this (Auto)ethnography, because it is written in the first person (auto = I), the author takes up the story of his matriarchal family, therefore an unusual community (ethnos) for the interior standards of the hinterlands of Bahia, to write (grapho = writing) and analyze the belonging to the semiotics of the rural area. The work was divided into two sections; the first one having the historiographical and contextual motto from the train tracks that somehow intersected the recent history of the author's family. The second part focused on the relationship of the main character, Grandma Maria, with the countryside, even after so many transits between the cultural elements and territorialities of the countryside-city. To this end, a subjective journey was undertaken through the locomotive of the personal memory of oneself (locus of the study) towards childhood and the important characters of this phase of life. Grandma Maria was the guiding thread of this narration, overlapping herself in the bifurcations: father and husband, countryside and city, objective and subjective, past and present, History and story, her (Grandma Maria) and the author (her grandson). At the end of the reading, it can be seen how much Grandma Maria was linked to the things of the farm: the managing of medicinal resources of plants, land and popular religiosity; (im)material space in which she moved in the dialogical synthesis of work-fruition-work, objectifying herself in the memory of the farm of that childhood left in the past, but reverberated, as an inheritance, in her grandson’s subjectivity.
Keywords: Family; Memory; Farm; (Auto)ethnographic Research.
RESUMEN: En esta (Auto)etnografía, por estar escrita en primera persona (auto = eu), el autor retoma la historia de su familia matriarcal, por lo tanto una comunidad (ethnos = etno) inusual para las normas interiores del interior bahiano, escribir (grapho = grafia) y analizar la pertenencia a la semiótica de lo rural. El trabajo se dividió en dos secciones; el primero con el lema historiográfico y contextual de las vías del tren que, de alguna manera, se entrecruzaron con la historia reciente de la familia del autor. La segunda parte se centró en la relación entre la protagonista, abuela Maria, y el campo, incluso después de tantos tránsitos entre los elementos culturales y territorialidades de la ciudad-rural. Para ello, se emprendió un viaje subjetivo de la locomotora de la memoria personal de sí (locus del estudio) hacia la infancia y los personajes importantes de esa etapa de la vida. La abuela María fue el hilo conductor de esta narración, entrelazando en las bifurcaciones: padre y esposo, finca y ciudad, objetivo y subjetivo, pasado y presente, Historia y relato, ella (abuela María) y el autor (su nieto). Al final de la lectura, se verificará cuánto se transmitió abuela Maria a las cosas propias de la finca, la agricultura, el manejo de los recursos hídricos, la tierra y el lugar; espacio (i)material en el que se movía en la síntesis dialógica trabajo-disfrute-trabajo, objetivándose en la lluvia y la sequía, en la siembra y la cosecha, en el almacenamiento y en la memoria del jardín de aquella infancia dejada en el pasado, pero repercutió como una herencia al nieto.
Palabras clave: Familia; Memoria; Plantación; Investigación (Auto)etnográfica.
INTRODUÇÃO E MÉTODO (AUTO)ETNOGRÁFICO: MEMÓRIAS E HERMENÊUTICA DO SI
“Em tal caso, coloco-me na condição análoga ao etnólogo, mas, às avessas. Eu seria, então, um (auto)etnólogo, tendo em conta o movimento restrito para bem perto de mim, ao interior do meu círculo particular: minha casa, minha família, minhas experiências, minhas memórias; olhando o meu ‘mundo privado’ com distância estratégica [...]”. (SOUZA, 2022, p. 27, grifo do autor)
O antropólogo francês Michel Agier (2015), ao falar dos encontros etnográficos, trata da necessária ‘partida’ ao outro-diferente e nisto consistiria o trabalho do etnólogo: sair de casa para ver-o-outro-vivendo; mover-se a fim de olhar o mundo-do-outro em locus. Aqui, como dito na epígrafe, há uma viagem subjetiva, pois a locomotiva é a memória pessoal de si mesmo, rumo à (minha) infância. Quer dizer: um encontro do eu como outro; o meu eu-de-agora olhando, no âmbito da consciência reflexiva de si-mesmo, para o eu-da-infância (RICOEUR, 2006; SOUZA, 2022). Sendo assim, tem-se “[...] um deslocamento, uma ‘falsa partida’, visto que eu sou, ao mesmo tempo, o (auto)etnólogo em direção às ‘zonas fronteiriças’ de mim mesmo e sou o ‘campo’; o lugar da ocupação no qual eu trabalho [...].” (SOUZA, 2022, p. 29, grifos do autor).
Portanto, o que seguirá é uma hermenêutica do si-mesmo, constituída nos meandros da (auto)etnografia, pois procurando as lembranças do vivido, acabei encontrando o outro-eu-criança projetado na memória, local onde habita minha Vó Maria (falecida há mais de duas décadas) e as expressões de suas ruralidades transferidas a mim, através do processo sucessório simbólico e inestimável. Tal projeção acontece como alegoria de um método que é ‘auto’ porque estruturado na primeira pessoa do singular (eu ↔ de si-mesmo); é ‘etno-gráfico’ porque é sobre o vivido no grupo de pertença (etno ↔ família ↔ comunidade), materializando-se na escrita implicada de quem – por meio do percurso restrito e pessoal – reflete (no presente) sobre o passado, que não volta mais, apontando para o futuro e para as novas etnicidades, identidades, misturas e fronteiras (SOUZA, 2022; SOUZA et al., 2021).
À vista disso, este trabalho foi dividido em duas seções, tendo a primeira o mote historiográfico e contextual a partir dos trilhos do trem que, de alguma maneira, entrecortou a história recente da minha família, estabelecendo encontros, juntando pessoas improváveis e, consequentemente, “participando” do que nos tornamos (enquanto família), quer dizer: a ferrovia é, também, uma personagem, sem dúvida, coadjuvante, desta rememoração, por isso, faço uma “costura” com imagens/fotos da época. A segunda parte é focada na relação, nunca perdida, da personagem principal, minha Vó Maria, com a roça; mesmo depois de tantos trânsitos entre os elementos culturais e as territorialidades da roça-cidade, (ela) não deixou que esmaecessem as coisas próprias da roça, da lavoura, o manejo dos recursos hídricos, da terra e do lugar; espaço (i)material no qual ela se locomovia na síntese dialógica do trabalho-fruição-trabalho, objetivando-se na chuva e estiagem, no plantio e na colheita, no armazenamento e na memória da roça daquela infância deixada no passado, mas reverberante em mim como herança existencial (MAHEIRIE, 1994; SOUZA, 2022).
Vale salientar dois aspectos relevantes a este artigo: i) sobre a memória – respaldada em fontes antigas (fotos e documentos: certidões de nascimento, casamento e óbito) e em consulta a membros mais velhos da minha família; ii) sobre o conceito de roça, aqui, toma-se de empréstimo o concebido por Silva e Souza (2020); os mencionados autores constituem e situam um liame existencial às experiências intrínsecas à roça e, neste sentido, o “[...] pisar o milho no pilão, domesticar a mandioca, bater o feijão na vara, despalhar o milho, limpar a cacimba, tecer a palha do ariri, buscar a lenha e água na cabeça por caminhos longínquos [...].” (SILVA; SOUZA, 2020, p. 252) fazem parte dos vínculos ancestrais, culturais, territoriais e identitários que acontecem na historicização de quem se fez-existindo em ruralidades.
PRIMEIRA SEÇÃO - VÓ MARIA PELOS TRILHOS DO TREM: DESLOCAMENTOS
“Eu lembro. Ela [Vó Maria] tinha olhos tristes e, às vezes, silêncios cortantes. Mãos grossas, calejadas [...]. E ria, geralmente, com discrição como se nunca tivesse se esquecido de suas histórias entrecortadas pelo abandono, pela violência e pelo medo. Ela foi subjugada por ser mulher no casamento, mais tarde, por ser mulher viúva com duas filhas e, depois, por ser mulher sem homem e outros filhos. Deu-se conta do perigo que corria por ser mulher ante a animosidade baseada em uma outra diferença: ser pobre.”. (SOUZA, 2022, p. 33)
Vó Maria José dos Santos (1924-1998) – nome de solteira – foi uma das filhas mais velhas do casal interracial: José Antonio dos Santos (1895-1968), branco, cabelos lisos, olhos azuis – descendente de português, e Dionizia Maria de Jesus (1902-1997), mestiça – cafuza ou cabocla, não sei ao certo. Da minha Bisavó, recordo-me da sua “[...] cor escura [...] seus cabelos [...] quase centenários [...] sua fala simples, peculiaridade de quem se ocupou em atingir as expectativas normativas [...] de ser esposa, mãe, dona de casa, trabalhadora rural [e] terminou por ser analfabeta [...]” (SOUZA, 2022, p. 32).
Até onde eu sei, desde que nasceu, Vó Maria viveu na Fazenda de Picos, região pertencente ao jovem Arraial de Itiúba; território que, no final do século XVII, fazia parte da Freguesia Velha de Santo Antonio de Jacobina (atual município de Campo Formoso/BA). Algum tempo depois, em 1697, fora incorporado ao Arraial do Senhor do Bonfim da Tapera (atual município de Senhor do Bonfim/BA). Segundo o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/Cidades, 2023), tal incorporação consta da Carta Régia assinada por D. Fernando José de Portugal, em 08 de julho de 1697 e dirigida ao ouvidor de Jacobina.
A partir de 1860, desenvolveu-se uma significativa povoação na Fazenda Salgada (situada no sopé da Serra de Itiúba, onde hoje corresponde ao município de Itiúba/BA), por isso, em 16 de março de 1868, através da Resolução Provincial nº 1.005, elevou-se à categoria de Freguesia subordinada à Vila Nova da Rainha (atual município de Senhor do Bonfim/BA). Em 1880, tornou-se Arraial de Itiúba sendo, no ano de 1884, transferida a subordinação para a Vila Bela de Santo Antonio das Queimadas (atual município de Queimadas/BA). No dia 18 de janeiro de 1935, pelo Decreto Estadual nº 9.322, o Arraial de Itiúba fora alçado ao status de município (Figura 1), desmembrando-se do território de Queimadas (IBGE/Cidades, 2023).
Em outro estudo, eu explico, também por meio de uma nota de rodapé, que a palavra ITIÚBA é derivada da expressão tupi-guarani – tuyba – que significa ‘Abelha Dourada’, influência direta dos primeiros habitantes, indígenas de diferentes tribos, que ocupavam o território antes dos primeiros colonizadores, ali, chegarem. Itiúba é lembrada por suas serras exuberantes, inclusive, retratadas na obra Os Sertões (1905) de Euclides da Cunha (1866-1909) – que, para chegar à Canudos passou por Itiúba, por ter, na época, uma importante Estação Ferroviária na qual paravam trens de passageiros entre Salvador e Juazeiro. É, também, lembrada por suas terras sertanejas de difícil acesso que teriam causado (dizem os mais velhos) o fracasso ao anunciado ataque do Capitão Virgulino, o Lampião (1898-1938) (SOUZA, 2022). No mesmo ano em que fora fundado o Arraial de Itiúba, deu-se o início à construção (1880 até 1896), pelo Governo brasileiro de turno, da linha férrea que ligou a estação de São Francisco, na cidade de Alagoinhas/BA, ao rio São Francisco, em Juazeiro/BA (Figura 2). Em 1887 a estação de Itiúba foi inaugurada e o prédio atual (Figuras 3, 4 e 5) ampliado no ano de 1943 (GIESBRECHT, 2017).
Figura 2. Em vermelho a Linha Férrea Bahia (Salvador) ao São Francisco (Juazeiro).
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Figura 3. Prédio atual da estação ferroviária de Itiúba.
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Figura 4. Placa fixada na estação ferroviária de Itiúba em agradecimento por sua ampliação.
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Figura 5. Itiúba nos anos de 1960 (abaixo, a estação ferroviária)
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Definitivamente a existência de Vó Maria foi impactada pela linha férrea, por isso o breve passeio pelos trilhos do passado de Itiúba e sua história igualmente entrecortada pelos vagões que, ao transportarem cargas e pessoas, intercambiavam memórias e experiências. O cotidiano da minha pequena cidade ocorreu/ocorre a reboque dos trilhos rurais-e-urbanos, “carregando” trens indo e vindo (ainda hoje) e cruzando as ruas do lugar (Figura 6).
Figura 6. Os trilhos cortam Itiúba, passando por baixo do viaduto de inestimáveis balaustradas.
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Desde que me entendo por gente, o trem pesado esteve lá... acostumei-me com seus sons noturnos e ruídos de alerta à luz do dia. Lembrei-me, agora, de uma musiquinha cantada por minha mãe (de modo frenético) imitando o ritmo do trem de ferro: “Piuí, píui. Café com pão. Bolacha não. Chique, chique [...]”. Ela aprendera na infância (talvez ensinada por sua mãe, Vó Maria). Ela me ensinara... pequena lembrança carrilhada por uma presença maior: a linha férrea. Vó Maria passou a infância e parte da juventude morando na zona rural de Itiúba, especificamente, em uma localidade chamada Picos, distante da sede do município, aproximadamente, 10 quilômetros. E, ali, conheceu e se casou (em 1952) com o meu Avô Ubaldino Marcelino de Souza (1917-1957) que, na época, era ferroviário da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (VFFLB)[1] de modo que o seu trânsito pela estrada de ferro da Bahia (Salvador) ao São Franscisco (Juazeiro) possibilitou passagens por Itiúba/Picos e as ocasiões para o Avô Ubaldino interessar-se pela jovem mais formosa dos Picos (Figura 7). Na verdade, ele passou a trabalhar na estação de Itiúba, fazendo corte à Vó Maria em conversas demoradas sob o alpendre da casa dos meus Bisavôs.
Figura 7. A pequena estação de Picos inaugurada em 1953 (na foto, apenas ruínas).
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Após o casamento, perdeu o sobrenome do pai (deixou de ser ‘dos Santos’ e passou a ser ‘de Souza’), sendo transferida para o poder masculino do cônjuge, pois, segundo a historiadora francesa Michelle Perrot (2007, p. 17, grifos da autora), os “[...] homens são indivíduos, pessoas, trazem sobrenomes que são transmitidos. [...] As mulheres não têm sobrenome, têm apenas um nome. [...] ‘As mulheres e as crianças’, ‘primeiro’, ou ao lado, ou para fora, dependendo do caso [...]”. No caso de Vó Maria, pelo casamento, nebulou ainda mais a sua linhagem feminina ao substituir o sobrenome da sua família de origem (paterno e não materno) para o do marido. Além disso, submeteu-se ao lugar e à residência do marido; movendo-se nas fronteiras dos homens (pai-e-marido) (PERROT, 2007). Silenciosa e sem autoridade, mudou-se para a cidade de Serrinha/BA (Figura 8), pois o marido havia sido transferido. Meu Avô era natural de Conceição do Coité/BA, cidade que faz divisa com Serrinha, filho de um casal (José Marcelino de Souza e Germana Maria de Souza) residente no Distrito de Salgadália (Figura 9) onde, inclusive, meu Avô faleceu aos 39 anos; deixando Vó Maria, jovem e tão cedo, viúva com duas filhas pequenas em um lugar que não era o seu.
Figura 8. A estação ferroviária de Serrinha (década de 1940).
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Figura 9. Trem de passageiros parado na estação de Salgadália/C. do Coité (década de 1950).
Fonte: GIESBRECHT, 2017
Há o deslocamento da casa do pai (roça) para a casa do marido (cidade). Há, igualmente, o deslocamento da vigilância do pai e irmãos para a do marido. Vó Maria deixou os trabalhos domésticos e a lida na roça da família de origem, sendo requisitada para todo tipo de tarefas domésticas e de futura mãe (das duas filhas[2] que teve no curto tempo de casada, pois ficou viúva após cinco anos de casamento, e da filha que o marido trouxe para os seus cuidados) (PERROT, 2007). Além disso, fora mais educada do que instruída, afinal, como eu digo em outro estudo, “[...] com a alegação de uma pretensa ‘honra’ que deveria ser protegida [...], fora privada [pelo pai] de estudar para não ser propensa à escrita de carta-enamorada aos prováveis pretendentes.” (SOUZA, 2022, p. 32-33, grifo do autor).
Nesse “desterro”, Vó Maria não ultrapassou os limites do Semiárido da Bahia; estritamente a região que, atualmente, é chamada de Território do Sisal (Figura 10), pois é conhecido pelo cultivo do sisal e pela comercialização da fibra decorrente desta planta. Nesse sentido, talvez, possa-se dizer que não houve uma saída da terra natal, porque, conforme Melo e Soares – na apresentação do livro Semi-arido: uma visão holística (sic), do autor Roberto Malvezzi (2007) – a forma holística de enxergar o Semiárido pode ser interpretada na noção de integralidade a partir do clima com temperaturas altas, escassez de chuvas mal distribuídas e com intervalos longos de estiagem. Contudo, trata-se de um território com “[...] especificidades próprias e uma ‘antropologia ecológica’ particular.” (SILVA; SOUZA, 2020, p. 252, grifo dos autores). Então, quando Vó Maria deixou a zona rural de Itiúba para a sede do munícipio de Serrinha, deu-se um movimento migratório por entre o Semiárido baiano que, segundo Malvezzi (2007, p. 9), “[...] não é apenas clima, vegetação, solo, sol ou água. É povo, música, festa, arte, religião, política. É processo social [e, por isso, não] se pode compreendê-lo de um ângulo só.”.
Figura 10. Mapa dos municípios do Território do Sisal, destacado a partir do mapa da Bahia.
Fonte: Google Imagem.
SEGUNDA SEÇÃO - ANTROPOLOGIA ECOLÓGICA DE VÓ MARIA: MULHER, TERRA E FÉ
“As primeiras lembranças que me vêm à mente estão fundamentalmente atreladas à minha família, uma comunidade estruturalmente insólita para os padrões e as convenções sociais inerentes à Itiúba daquele tempo, principalmente por sermos uma unidade doméstica [...] coabitando sob um mesmo teto, amalgamados por três gerações de mulheres (Bisavó, Vó, Mãe).”. (SOUZA, 2022, p. 31)
Como eu digo, no texto da epígrafe, as minhas primeiras lembranças estão a reboque da consciência de ser alguém existindo no mundo entre outras pessoas; uma pessoa que-sabe-que-se-sabe-de-si-próprio a partir da existência comunitária-familiar, isto é: “[...] aquela incumbida da função elementar e formadora da pessoa humana na qual, através da relação intersubjetiva, os mais velhos disponibilizam suas concepções para os mais novos [...]” (SOUZA, 2022, p. 42). Vó Maria foi a ‘pessoa mais velha’, a cicerone, apresentando-me as coisas do mundo atreladas às suas percepções, por exemplo: suas ruralidades que, conforme fui me tornando uma pessoa independente, tomei-as, por escolha e situação, minhas ruralidades; daí a herança existencial.
Revisitando as memórias nas quais habita minha Vó Maria, encontro-a engendrada naquilo que a pesquisadora Ana Maria da Silva (2023) chamou de ‘mulher-terra’ para explicar a relação intrínseca ente o corpo e a terra em fusão potente, capaz de construir saberes e sentidos para as existências objetivas-subjetivadas e vice-versa. Vó, apesar de nunca ter retornado à roça para morar, pois, após a prematura viuvez, estabeleceu residência na cidade de Itiúba que, mais que hoje, guardava/guarda uma atmosfera rural, bucólico tal como eu ressalto em outro estudo: “Ali, as coisas próprias da modernidade tardavam a chegar, as horas custavam a passar e não carecia urgência, por este motivo, os passos eram sem pressa, prolongados em pausas de ‘proseios’ aqui e acolá. Era um lugar pequeno no qual se sabia tudo, ou quase tudo, de todos [...]” (SOUZA, 2022, p. 44). Situada nessa cidadezinha bucolista, Vó Maria permaneceu sendo uma mulher-terra.
Uma vez, como resultado de uma brincadeira desastrada, eu voltei para casa com o dedão do pé direito esfolado, porque ao invés de chutar a bola, chutei um paralelepípedo mal colocado. Vó tinha a solução: lavou o ferimento e preparou o sumo do mastruz (planta que tinha pelo quintal da casa). Ela obteve o sumo das folhas da planta fresca, depois de triturar em um pilão. Feito isto, Vó Maria colocou o sumo sob a região traumatizada, enrolando com um pedaço de pano limpo. Dali um tempo a pele do meu dedão estava “colada” e em processo acelerado de cicatrização, afinal, a sabedoria popular já sabia sobre o que estudos científicos confirmam: o teor terapêutico do mastruz (Coronopus didymus) e o seu componente cicatrizante em feridas cutâneas (SOUZA et al., 2020).
Falando em pilão, lembrei-me de que as nossas merendas da tarde eram, de quando e vez, feitas nos solavancos fortes e firmes de Vó Maria; algo encontrado no estudo rememorado de Ana Maria da Silva (2023, p. 69), inclusive, a mencionada autora refere-se ao pilão como “[...] tronco ancestral do sustento familiar [...]”. Vó, tal a Vó de Ana Maria (SILVA, 2023, p. 59), seguia o mesmo modus operandi para o preparo do ‘de-comer’: “[...] ela fazia o fufú, paçoca deliciosa de milho torrado, no quintal, havia um pilão, por meio desse instrumento ancestral, [...] herdeira das sabenças de vó, aprendi a criar cores, texturas, cheiros e sabores para a vida.”.
Vó Maria manteve, em um período da minha infância, um fogão à lenha no quintal. Ali, além da paçoca, ela preparava a pipoca feita em um tacho grande de barro; no lugar do óleo... areia. A areia, depois de muito aquecida, recebia os grãos de milho que estouravam. Eu me admirava com a transubstanciação do grão bruto que, quando submetido ao calor extremo, rompia-se em rachaduras para eclodir no estouro, de dentro para fora, o amido branco em flor. Este, ao ser salpicado pelo salgado, também branco, ficava apetitoso. Das brasas chamejantes do fogão à lenha, vêm outras recordações: o milho verde cozido e assado, os caroços de jaca cozidos, amendoins, mingaus e o simples e inesquecível café com farinha – apelidados por Vó de ‘geleia’.
Mas, nem só de lanche da tarde viveu minha infância. Aos primeiros sintomas de doença, Vó Maria recorria à sua farmácia natural. Para dor de cabeça moderada, chá de gengibre; garganta inflamada, chá de limão com mel e alho; para gripe, lambedor – xarope caseiro feito com limão, alho, cebola, gengibre, mel e hortelã-graúda; para aliviar os sintomas da papeira (caxumba), barro retirado das fontes (nascedouros ou olho-d'água); para abrandar as implicações da catapora e do sarampo, banhos com ervas. Quando estávamos prostrados, sem motivo evidente, dizia-se: é mau-olhado; então, Vó pegava umas folhinhas de vassourinha (Scoparia dulcis L.) e, freneticamente, fazia o sinal da cruz na criança abatida, enquanto balbuciava uma prece: “Com dois te botaram, com três eu te tiro [...] com os poderes de Deus e da Virgem Maria.” – algo assim. Tinha preces e benzeções, também, para ciscos no olho e engasgo.
Foi assim que eu sobrevivi às intemperes de uma infância ameaçada por males do corpo e da alma; males imanentes e transcendentes. Sobre os benzimentos e rezas, Silva e Souza (2022, p. 43), descortinam uma experiência correspondente a este estudo, posto que é “[...] um legado ancestral e um patrimônio cultural [...] as vivências das rezas [são] atravessadas pelas dimensões culturais, identitárias, antirracistas e agroecológicas [...] a prática das rezas com folhas permanece relegada aos esconderijos escuros da intolerância-religiosa-delirante [...]”. E, neste ponto, sobrepõe o caráter religioso impresso em minha Vó. Ela era católica zelosa, arrumava a igreja matriz, ornamentava andores para os(as) Santos(as) em dias de festividade, recebia bispo, padres e freias para almoços em casa.
Vó era uma cristã-católica sincretizada com práticas das religiões afro-brasileiras, quer dizer, uma idiossincrasia histórica à la brasileira que ainda permanece, mas, para alguns estudiosos, vem diminuído e perdendo espaço para uma “[...] ‘nova’ expressão de fé se [apropriando] da ‘gramática pentecostal’ [...]”, constatou a Teóloga Viviane Costa (2023, p. 127) em sua pesquisa sobre a autorrepresentação religiosa de traficantes no Rio de Janeiro. Malvezzi (2007, p. 21-22) também realça esse ethos religioso pentecostal no Semiárido quando chama atenção para o vigor do catolicismo popular, apesar de “[...] uma época em que se expandem as demais igrejas, principalmente as pentecostais.”.
A idiossincrasia histórica a que me refiro pertence à mescla (sincretismos) das religiosidades indígenas e africanas com o catolicismo do colonizador branco; dando origem, por exemplo, a Umbanda de elementos vindos do Candomblé, Pajelanças, Espiritismo e da igreja Católica Romana. Este adendo é para explicar a simbiose de Vó Maria com os ritos de cura identificáveis na sincrética Umbanda “[...] uma religião natural e que, portanto, seus rituais são de exaltação à natureza, da qual extrai os subsídios essenciais à cura, tanto física quanto espiritual, através da manipulação [...] [do] ar, a água, a terra e o fogo.” (MATHER; NICHOLS, 2000, p. 471-472).
Evidentemente que essa gramática-católica-popular me foi apresentada por Vó Maria. Eu era levado a fazer parte desse ethos religioso calcado no Semiárido que, entre outras crenças populares, havia a de que a chuva era uma dádiva divina. Por isso, ante uma estiagem persistente, recorria-se a Deus ou aos(às) Santos(as) intercessores clamando por chuva. Em meados dos anos 90, a região de Itiúba foi castigada por uma seca dramática, obrigando os(as) fiéis daquela comunidade a “interferir” na vontade de Deus a quem, para eles(elas), poderia fazer ou não chover. Lembro-me, porque fiz parte, que a imagem de São José fora “sequestrada” da igreja matriz – no dia em que se comemora o santo (19 de março) –, sendo levada, em profusa e piedosa procissão de fé e devoção, para a igreja da Serra de Itiúba. A imagem só seria devolvida ao seu lugar de origem após as chuvas de março anunciarem bom plantio e fartura para o povo. Malvezzi (2007, p. 22) sublinha que a cultura religiosa das procissões ao redor das lagoas e o “sequestro” das imagens dos(as) Santos(as) “[...] são práticas que revelam o modo popular de compreender a natureza [...] outro modo de compreender a relação de Deus e da pessoa humana com a natureza.”.
É interessante notar que a religião é uma linguagem, isto é: um jeito de comunicar o mundo (ALVES, 1999). Vó Maria “falava” do seu mundo por dentro da religião, mas, igualmente, emprenhada na vida brotada da terra. Ela esteve envolta na experiência de cultivar ↔ plantar na terra as culturas do feijão e milho; disso eu também participei. Quando Vó Maria via condições propícias para trabalhar a terra, agrupava os familiares, arrendava uma roça (conseguir a cessão temporária de uma terra, mediante pagamento pela divisão do espólio/plantação) e, assim, Vó foi me dando provas de seu vínculo umbilical com a roça, pois, todas as vezes em que notei ausência de qualquer tipo de sobressalto, Vó ou estava na igreja ou estava na roça; a lida com a terra ocupava grande significado em sua existência (SILVA, 2020).
O ARREMATE: HERANÇA EXISTENCIAL
À cata de uma hermenêutica do si-mesmo, acabei por defrontar-me com o tempo vivo da memória, “lugar” onde os mortos recuperam o viço e tem-se devolvido o entusiasmo pelo vivido junto àquela pessoa que não mais voltará, todavia, na memória, nunca deixou de existir; foi assim o (re)encontro com minha Vó Maria: forte o bastante para se extrair do passado a substância formadora das minhas identidades (BOSI, 2003). A bem da verdade, o meu vínculo com o campo/roça-ruralidades é, decididamente, uma herança existencial.
Refiro-me à herança que se (re)coloca por paragens avizinhadas, a saber: os sertões baianos tão iguais e, do mesmo modo, diferentes; posto que do campo/roça para a cidade – ainda que uma cidadezinha de atmosfera rural – há uma movimentação entre códigos de convivência, comportamentos e expectativas, práticas do quotidiano acerca do permitido ou não ou das (re)configurações para caber o novo.
Nesse sentido, o corpo feminino de Vó Maria submeteu-se ao trânsito mais nevrálgico: entre o poder masculino do-pai-para-o-marido que pode ser, também, da-filha-para-a-esposa e depois da-esposa-para-mãe-viúva-subalternizada. De alguma maneira, o retorno à “sombra” protetora do Pai parece ser uma estratégia de se fazer menos subalterna sem, infelizmente, deixar de ser. A fé em um Deus-Pai, semelhantemente, remete ao enraizamento naquela antiga processa sobre a terra prometida e abundante e fértil. Vó Maria, até esse momento, era uma passageira silenciada e levada de um lado a outro, através do “trem” das circunstâncias. Do que me lembro... sinto que o corpo de Vó ansiava por terra, talvez, o lugar da mudança final (EVARISTO, 2017).
Quando a conheci, Vó Maria, já era uma mulher austera, mas cansada. Ela me amou, amou-nos. Estava profundamente conectada às territorialidades da sua gente e suas vastidões. O que parecia ser parte de-si-mesma era, definitivamente, parte dos-outros: o-nós. Disso eu entendo, porque Vó é o ‘outro’ no qual me torno ‘nós’; ligado a algo além de mim-mesmo. Estou falando da identidade pessoal, familiar e local: em Vó Maria, eu tenho a crônica existencial situada no campo/roça de onde, hoje, eu posso lembrar do ontem e sentir saudades.
Referências
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Agradecimentos
Às pessoas que me ajudaram a preencher as lacunas do esquecimento: Tia Biga, Tia Solange, Prima Edileuza e minha irmã Nazaret que me deixou cuidar dos documentos antigos da nossa família.
[1] A VFFLB foi criada em 1935, durante o governo do presidente Getúlio Vargas, funcionando até o ano de 1975.
[2] Vó Maria teve três filhos com Vô Ubaldino: um menino que morreu do ‘mal de sete dias’ – tétano neonatal, doença infecciosa aguda que acometem os recém-nascidos nos primeiros 28 dias de vida; e duas meninas, Tia Abigail Maria de Souza Carvalho (1954) e minha Mãe Aidil Angélica de Souza (1956-2016); além disso cuidou de Tia Daguimar Muniz de Souza (já falecida), filha mais velha do meu Avô.