UM CURSO DE ESTATÍSTICA: AS VARIÁVEIS NO CONTEXTO SOCIAL
Apoliana Linhares
Evangelista
Universidade do Estado da Bahia – Uneb
(Campus IX)
Caique Melo de Oliveira
Universidade do Estado da Bahia – Uneb
(Campus IX)
Deborah Soares de Sousa
Universidade do Estado da Bahia – Uneb
(Campus IX)
Américo Junior Nunes da Silva
Universidade do Estado da Bahia – Uneb
(Campus IX)
RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados
parciais da oficina “Um curso de
estatística: as variáveis no contexto social”, proposto como parte da
disciplina de Estágio III, do curso de Licenciatura em Matemática da
Universidade do Estado da Bahia – Uneb, Campus IX; e tem como objetivo
desenvolver competências matemáticas no aluno, possibilitando a ampliação e
formalização de seus conhecimentos sobre o raciocínio estatístico. A oficina
foi ofertada a alunos da primeira série do Ensino Médio, em uma escola da rede
estadual do Município de Barreiras.
Palavras chave: Estatística, Estágio Supervisionado,
Educação Matemática.
Conforme
a ementa da disciplina, o Estágio Supervisionado III objetiva conhecer a
realidade das escolas públicas de Ensino Médio, elaborando e aplicando projetos
pedagógicos, a disciplina faz parte curricular do Curso de Licenciatura de
Matemática da Universidade do Estado da Bahia - Uneb.
Com o intuito de conhecer parte da realidade
das escolas públicas de Ensino Médio fizemos um estudo do espaço escolar, com
análise do Projeto Político Pedagógico, observações nas três séries de ensino,
questionários propostos aos professores e direção, com o intuito de se obter o
diagnóstico necessário para vivência da oficina. Reconhecido o espaço escolar,
propomos a oficina “um curso de
estatística: as variáveis no contexto social” a alunos da primeira série do
Ensino Médio, com o objetivo de desenvolver competências matemáticas no aluno,
possibilitando a ampliação e formalização de seus conhecimentos sobre o
raciocínio estatístico, habilitando-o a trilhar pelo conhecimento estatístico,
utilizando diferentes abordagens, mediante o uso do computador, questões
problemas e pesquisas desenvolvidas na comunidade escolar, havendo uma preocupação
de envolver a realidade social dos alunos no estudo desta ciência.
REFERENCIAL TEÓRICO
A
estatística está presente em nossa vida cotidiana, se destinando à coleta e
interpretação de dados, que envolve um conjunto de métodos para obtenção de informações,
organização e apresentação das mesmas. Tendo como objetivo, a compreensão
desses dados coletados que estão em nosso cotidiano como: pesquisa eleitoral,
quantidade de habitantes por municípios, IBGE, pesquisas pelas redes de
televisão quanto aos programas com maior audiência ou melhor
horário a ser transmitidos, dentro da
escola podemos realizar várias pesquisas
entre alunos professores, por exemplo, qual o melhor livro
didático a ser usado para facilitar o ensino-aprendizagem da classe, quais as
disciplinas que os estudantes tem maior grau de dificuldade. Tudo isso, pode
ser representado pela estatística dando-lhe uma compreensão rápida e sucinta em
todas as informações obtidas durante a pesquisa. Além disso, a estática pode
ser aplicada em outras aéreas, assim como na geografia, indústria, saúde,
pesquisa de mercado e etc. (CORDANI, 2006).
Portanto,
percebemos a importância dessa disciplina não somente para alunos, mas para
toda a sociedade. Porém, muitas vezes, a estatística abordada no ensino
fundamental ou médio é apresentada de forma que não abrange o conhecimento
adequado dos estudantes e, por vezes, não abrange a realidade do indivíduo.
O PCN do Ensino Médio (2008) aponta que
ao final do ensino
médio, espera-se que os alunos saibam usar a Matemática para resolver problemas
práticos do quotidiano; para modelar fenômenos em outras áreas do conhecimento;
compreendam que a Matemática é uma ciência com características próprias, que se
organiza via teoremas e demonstrações; percebam a Matemática como um
conhecimento social e historicamente construído; saibam apreciar a importância
da Matemática no desenvolvimento científico e tecnológico. (2008, p.71)
O educando ao fim do Ensino Médio, pode aprofundar e
consolidar os conhecimentos adquiridos no Ensino fundamental, possibilitando a
ele dá sequência nos seus estudos, tanto nas áreas de ensino técnico como nas
áreas de ensino superior. Atualmente são assuntos de suma importância na
ascensão profissional.
O PCN do Ensino Médio (2008)
aponta, ainda, que durante este nível de ensino, os alunos precisam adquirir
entendimento sobre o propósito e a lógica das investigações estatísticas.
Assim, dentro desta indicação, propusemos a
oficina “um estudo de estatística: as
variáveis no contexto social”, utilizando o computador como recurso
pedagógico e instrumento de suporte ao desenvolvimento do conhecimento
estatístico, quanto a esse recurso, Underwood e Underwood (1990, apud NEVES et al,
2013) afirmam que “contribui para quebrar a tradicional hierarquia que se
estabelece entre o estudante e o professor em função da aparente detenção do
saber por esse último”, assim, o computador daria suporte ao aluno,
possibilitando a construção de seu próprio processo de aprendizagem.
As novas tecnologias têm se expandido acentuadamente, criando um novo
tipo de sociedade, determinada, principalmente, pelos avanços das tecnologias
digitais; essa tecnologia, também chamada por alguns autores como a “tecnologia
de inteligência”, é imaterial, tida como linguagem (KENSKI, 2007).
Milani (2001, p. 175) aponta que,
o computador,
símbolo e principal instrumento do avanço tecnológico, não pode mais ser
ignorado pela escola. No entanto, o desafio é colocar todo o potencial dessa
tecnologia a serviço do aperfeiçoamento do processo educacional, aliando-a ao
projeto da escola com o objetivo de preparar o futuro cidadão.
Como apontado pela autora, o objetivo da inserção do computador no
sistema de ensino é o de preparar estudante para o exercício da cidadania;
assim, ignorar as tecnologias de informação e comunicação, seria preparar o
aluno para uma realidade obsoleta, ou seja, seria como formar cidadãos do
passado, para o futuro.
Frequentemente utilizadas pelos jovens, os educadores não podem mais simplesmente
negligenciar as novas tecnologias. É preciso inseri-las no sistema de ensino,
fomentando seu uso enquanto recurso pedagógico, em especial ao ensino de
Matemática, que como aponta o PCN do Ensino Médio (2008), “deve-se pensar na
formação que capacita para o uso de calculadoras e planilhas eletrônicas, dois
instrumentos de trabalho bastante corriqueiros nos dias de hoje”, enfatizando a
importância de se trabalhar com esses recursos tecnológicos, comuns à vida do
educando.
Lorezato
(2006, p. 03) aponta que
dar
aulas é diferente de ensinar. Ensinar é dar condição para que o aluno construa
seu próprio conhecimento. Vale salientar a condição de que há ensino somente
quando, em decorrência dele, houver aprendizagem. Note que é possível dar aula
sem conhecer, entretanto não é possível ensinar sem conhecer. Mas conhecer o
quê? Tanto o conteúdo (matemática) como o modo de ensinar (didática); e ainda
sabemos que ambos não são suficientes para uma aprendizagem significativa.
O autor entende o ensino entrelaçado à
aprendizagem, afirmando que há ensino somente quando, em decorrência dele,
houver aprendizagem. Indo ao encontro a esse pensamento Felicio
e Oliveira (2008) comenta que “a simples presença do aluno não é garantia da
eficácia e da eficiência da prática profissional do professor”, percebendo que
esta, estará sujeita ao processo de ensino-aprendizagem, desse modo o ensino só
será completo se houver aprendizagem.
Complementando, os autores indicam que
a
prática pedagógica de um professor deve ser capaz de orientar, preparar,
motivar e efetivar, por um lado, as trocas entre os alunos e o conhecimento
científico, de modo que esses construam e reconstruam os seus significados.
(FELICIO E OLIVEIRA, 2008)
O ensino se dá com a efetiva aprendizagem,
sendo esta, o êxito maior deste processo. O professor deve ter essa percepção e
se colocar não como o centro formador dos alunos, aquele que tudo sabe e irá
“fornecer conhecimento”, mas deve tomar a posição de mediador deste saber.
Os trabalhos foram divididos em dois
momentos: num primeiro momento, realizamos o (re)conhecimento
do espaço escolar no qual ofertaríamos a oficina, assim, foi feito o estudo do
PPP, entrevistas com os professores de matemática e observações nas salas de
aula, nas três séries de ensino. Passado essa primeira etapa, num segundo
momento, propusemos e abrimos inscrições para a oficina de estatística, por
termos percebido que, por vezes, trata-se de um conteúdo negligenciado pelos
professores. Esperávamos a participação dos estudantes e que eles entendessem, a proposta, como lúdica (SILVA, 2014 e SANTOS
et al., 2014)
A
oficina foi pensada para ter carga horária de 50 horas, destas, 10 horas
destinamos para atividade extraclasse, nas quais os alunos foram a campo para
realizar as pesquisas, as outras quarenta horas, ficaram reservadas aos
encontros, sempre as segundas e terças-feiras com duração de 4 horas cada,
totalizando dez encontros. Nossa expectativa é considerar as diversas produções
dos estudantes e valorizá-las, como destacaram Silva, Muniz e Nascimento (2014)
Os alunos vão a campo
Para
dar inicio a oficina, realizamos uma pequena explanada sobre a estatística
desde objetivos aos métodos estatísticos. Em seguida, propusemos aos alunos que
fossemos a campo para realizar uma pesquisa com a comunidade discente do
colégio no qual eles estudam, com o intuito de conhecer as características da
comunidade escolar. Desse modo, distribuímos 60 fichas de coleta de dados e os
cursistas da oficina realizaram as entrevistas com os demais discentes do
colégio. A ficha de coleta de dados pode ser observada na figura a seguir.
Figura 01 – ficha de
coleta de dados
Fonte - arquivo
pessoal
Depois
de realizado o levantamento de dados, discutimos questões que envolvem o
conhecimento estatístico, sempre recorrendo ao diálogo como mecanismo de
mediação do conhecimento, assim, em nossas conversas com os alunos, ia surgindo
às questões que demandam de conhecimento especifico, a exemplo de população e
amostra, variáveis, quantitativas e qualitativas, tudo era discutido, partindo
do concreto (pesquisa realizada pelos alunos) ao abstrato, da linguagem materna
à linguagem estatística, uma vez que, inicialmente, não havia uma preocupação
com a linguagem científica, desse modo, os alunos ficariam mais tranquilos e a
vontade para participar das aulas.
Quando
questionados o que caracterizava uma variável, os alunos afirmavam que poderiam
ser a qualidade ou quantidade, e que esta ultima ainda poderia assumir valores
“inteiros ou quebrados”, mostrando que estavam desenvolvendo um conhecimento
estatístico, então a partir desses conhecimentos é que sistematizávamos o
conteúdo, afastando-se do abstrato para se chegar nele, como indica Lorenzato
(2006) e Souza et al. (2011).
Os
encontros eram realizados no laboratório de informática do colégio no qual
utilizávamos o computador como ferramenta auxiliadora na construção dos saberes
estatísticos, pois a proposta era que os alunos construíssem seu próprio
conhecimento, cabendo a nós, ministrantes da oficina, mediar e auxiliar nesse
processo.
Figura 02 – vivência
da oficina
Fonte - arquivo
pessoal
Em um de nossos primeiros encontros,
dois alunos manifestaram serem leigos no manuseio do computador, assim, antes
de iniciarmos a aula, na qual utilizaríamos um software editor de planilha para trabalhar com tabela de
frequência, realizamos um minicurso de informática, a fim de apresentar as
funções e comandos básicos do sistema operacional aos alunos. Após esse
primeiro contato com a máquina e a quebra do medo dela, os
alunos se mostraram bem interessados e empolgados quanto ao manuseio do
computador, por se tratar de uma novidade para eles e logo criaram uma
intimidade com o aparelho.
CONSIRERAÇÕES
PARCIAIS
A
oficina transcorreu dentro que foi planejada pelo grupo e seguiu o que
apontaram Silva et al. (2014) no que tange a
considerar o contexto social; nesse sentido, podemos fazer algumas observações
do que foi relevante para os acadêmicos e alunos. Dentro da perspectiva dos
acadêmicos, a oficina contribuiu com a experiência de levar a prática com a
teoria estudada na universidade. Porém, em contra partida mostrou o quanto foi
difícil desenvolver a oficina com os alunos de ensino médio, devido a falta de
interesse e motivação dos mesmos em participar de projetos realizados fora do
espaço das aulas, tendo ciência de que muitos dos alunos que estão indo para a
escola é por obrigação dos pais e não pelo gosto de estudar ou por
entenderem a importância para a vida.
Tendo em vista que foram inscritos 14 alunos e
que somente 4 compareceram durante toda a oficina,
fizemos um questionário para sabermos o
que os motivaram a estarem participando do curso. Soubemos que um dos alunos se
interessou pela oficina por ter como objetivo ingressar no IFBA[1]
e acreditar que estaria desenvolvendo competências auxiliadoras nesse processo. Dois relataram que frequentavam para não
ficarem em casa e o quarto aluno, estava preocupado em adquirir mais
conhecimento. A partir destes dados, percebemos que poucos, destes alunos, têm
a devida maturidade da importância do conhecimento.
Em
relação aos alunos, observamos que o curso e o conteúdo de estatística era
novidade para eles, então houve interesse durante a oficina, sem cair na
rotina, mesmo alguns apresentando dificuldades em utilizar o computador que era
um dos recursos utilizado nos encontros. Não houve desistência dos alunos
participantes visamos isso como ponto positivo para grupo.
Os
alunos mostraram interesse em desenvolver todas as atividades propostas a eles,
a exemplo a pesquisa realizada com os discentes do colégio, abordando as
características dos colegas para trabalhar em cima dos dados coletados e
perceberem a importância da estatística na sociedade e como esses dados são
apresentados. A partir dessa atividade de introdução trabalhamos todo o
conteúdo e, frequentemente, percebíamos nas falas dos alunos que estavam
desenvolvendo um conhecimento estatístico.
Portanto,
o curso cumpriu o que se propunha que era desenvolver o conhecimento
estatístico nos alunos, possibilitando que pudessem aprender de forma
descontraída e com uma aprendizagem eficaz.
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[1] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia é uma instituição de ensino, presente no Município de Barreiras, no qual oferta cursos de nível Médio, Técnico e Superior.