@article{Freitas_Santos_Souza_Carvalho_2022, title={INVESTIGAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONJUGAL POR PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO HOSPITALAR }, volume={1}, url={https://revistas.uneb.br/index.php/edpe/article/view/15406}, abstractNote={<p><u>Introdução</u>: A violência é mundialmente reconhecida como um problema de saúde pública que resulta em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento e privação [1]. Quando cometida contra as mulheres, em geral, ocorre em âmbito doméstico, principalmente a partir do parceiro íntimo. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública registrou nos anos de 2020 e 2021 um quantitativo de 2.695 casos de feminicídio, ou seja, mulheres que foram mortas pela condição de ser mulher [2]. Ademais, até a primeira semana de julho de 2022 o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos recebeu mais de 31 mil denúncias e cerca de 169 mil violações envolvendo a violência doméstica contra as mulheres [3]. Outros países em desenvolvimento e desenvolvidos, a exemplo da Austrália, El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua, também assinalam elevados índices de violência conjugal, demonstrando a elevada magnitude do fenômeno e a inserção a nível mundial [4,5]. A vivência de violência pelo parceiro íntimo afeta sobremaneira a saúde e o modo de viver das mulheres. Quando não tira a vida destas, repercussão máxima, deixa marcas causadas pela agressão física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Neste ínterim, adiciona-se os sinais e sintomas mentais e físicos, como fraturas, hematomas, baixa autoestima, isolamento, medo, ansiedade, pensamento e comportamento suicida, depressão, transtorno de estresse pós-traumático e dores e doenças crônicas, entre as quais diabetes, hipertensão e asma [6,7,8]. Para além das lesões diretas ocasionadas pela violência, ao experienciar o cotidiano de violência conjugal, muitas mulheres somatizam o evento, representação física do desequilíbrio psíquico e biológico que resulta em adoecimento físico e mental [9]. Frente ao adoecimento oriundo da violência conjugal, surge a necessidade do cuidado em saúde, contexto que fez com que estudo realizado com mulheres no município de São Paulo, Brasil, identificasse que 38,7% destas, após episódios de violência, necessitaram de cuidados em saúde, parte em unidade hospitalares, inclusive, 4,4% com necessidade de hospitalização [10]. Frente à elevada magnitude da violência conjugal e as suas implicações na saúde, se faz necessário engajamento de diferentes setores da sociedade com vista a garantir o restabelecimento da saúde [11]. Neste ínterim, diante da morbidade, os serviços de saúde têm ação fundamental na resposta ao agravo, inclusive, na maioria das vezes, representa o primeiro espaço de apoio buscado pelas mulheres [12]. No que tange ao espaço hospitalar, as práticas das equipes diante o contexto de violência conjugal são desafiadoras, pois na maioria das vezes a mulher não se sente confortável para relatar as suas vivências e o tempo de cuidado é desfavorável para a criação de vínculo paciente-profissional e ainda constituem um dilema para a construção da atenção integral. Diante do exposto, considerando a violência um agravo de saúde e a atenção hospitalar um espaço amplamente buscado pelas mulheres em situação de violência conjugal, questiona-se: Como os profissionais do serviço hospitalar investigam a violência conjugal? <u>Objetivo</u>: Conhecer as práticas desenvolvidas na atenção hospitalar para investigação da violência pelo parceiro íntimo. <u>Metodologia</u>: Pesquisa qualitativa, descritiva, recorte do projeto “Atuação da rede de atenção secundária em saúde à mulher em situação de violência conjugal: relato de profissionais do atendimento hospitalar”. A pesquisa foi desenvolvida em uma unidade hospitalar de um município do interior do estado da Bahia, Brasil, com 122 leitos, uma média de 200 atendimentos diários e que oferece assistência ambulatorial e de urgência em ortopedia, obstetrícia, cirurgia geral e clínica médica adulta e pediátrica [13]. Os participantes da pesquisa foram 14 profissionais que atuavam no serviço por, no mínimo, três meses e reportavam o atendimento assistencial direto a mulheres em situação de violência pelo parceiro íntimo. Excluiu-se três profissionais que, durante o período de coleta de dados, estavam afastados por licença ou férias, e/ou não se obteve êxito de contato após três visitas ao serviço. A coleta de dados ocorreu presencialmente nos meses de janeiro e fevereiro de 2020, por meio de entrevistas individuais, guiadas por um formulário semiestruturado e gravadas, com duração de, no mínimo, 30 minutos. O espaço de coleta de dados foi escolhido pelos participantes e garantiram a privacidade no compartilhamento de informações. A questão norteadora para responder ao objeto de estudo foi: “Como você investiga a violência pelo parceiro íntimo no atendimento à mulher na sua prática profissional?” Com base nas respostas iniciais, novos questionamentos emergiram, construindo um diálogo cuja finalidade representava alcançar uma resposta em profundidade. Os depoimentos foram gravados com o auxílio de um gravador de voz portátil e transcritos na íntegra. Após a transcrição, o material foi organizado a partir dos elementos cronológicos, etapa que facilitou a compreensão e compôs o corpus de análise. O material empírico foi interpretado à luz da Análise de Conteúdo Temática proposta por Bardin [14]. Salienta-se que a pesquisa foi realizada mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia por meio do parecer n. 3.200.210 (CAAE: 08573019.0.0000.5531) e atendeu em todas as etapas aos dispositivos éticos e legais constantes na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. A fim de preservar o anonimato, as entrevistadas foram identificadas pela categoria profissional, seguidas de um algarismo arábico de ordem de realização da entrevista. Os resultados foram embasados na produção do saber sobre violência pelo parceiro íntimo e as práticas de saúde diante o atendimento à mulher em vivência do fenômeno. <u>Resultados</u>: Os dados foram organizados com base na entrevista realizada com 14 profissionais da atenção hospitalar, a saber: 2 médicos, 4 enfermeiras, 6 técnicos de enfermagem, 1 auxiliar de enfermagem e 1 assistente social. Os colaboradores do estudo tinham de 26 a 65 anos de idade e 1 a 25 anos de atuação na unidade hospitalar, com média de 8 anos e 2 meses. Dos entrevistados, 11 informaram sexo feminino e 3 masculino. No que tange a formação, 7 tinham ensino superior completo, 7 ensino técnico completo. Desvela-se que apenas dois dos entrevistados informaram capacitação na área de violência pelo parceiro íntimo. No relato dos profissionais observou-se que a investigação do agravo ocorre durante a abordagem da mulher, ainda na etapa da anamnese. Neste momento, por meio de diálogo, perguntas objetivas e cuidado na fala para não causar desconfortos, os profissionais buscam prover um ambiente oportuno para o compartilhamento de informações de foro confidencial. Para esses, será por meio da investigação que será compreendido o contexto de violência, recidiva do agravo, além de outros dados que fundamentarão a intervenção, inclusive os encaminhamentos. Estas ideias, estão apresentadas nos trechos abaixo. Durante a abordagem a gente adota a melhor forma possível de conversar com a mulher para que ela decida falar sobre a violência. Temos o maior cuidado para que ela não se sinta ofendida e, consequentemente, se feche. (AE1) Desde o início somos objetivos nas perguntas sobre violência, perguntamos se a agressão já aconteceu outra vezes e o motivo da agressão atual. Investigamos por que é preciso, minimamente, entender o que aconteceu para passar para os outros profissionais do serviço. (TE5) É na abordagem, por meio da entrevista e de forma acolhedora que a gente identifica dados para a intervenção. Inclusive, também na entrevista ao identificarmos a presença de violência conjugal pesamos a necessidade de encaminhamento para outros serviços da rede. (AS1) <u>Conclusão</u>: O estudo permitiu, a partir do relato de profissionais de saúde da atenção hospitalar, desvelar a investigação da violência pelo parceiro íntimo. Ao apontarem para a ocorrência da investigação com diálogo com perguntas objetivas e cuidado na fala para não causar desconfortos, os resultados já apontam para evoluções, especialmente no que tange a incorporação da violência conjugal enquanto objeto de intervenção no setor saúde. Neste interim, apesar dos resultados apontarem para elementos essenciais no processo de investigação do agravo, observa-se ainda lacunas no que tange a não verbalização da escuta qualificada, espaço físico que promova privacidade no compartilhamento das informações e interdisciplinaridade no processo de investigação da violência, o que pode fazer com que a mulher seja questionada por vários profissionais sobre a vivência do agravo. Estas considerações reacendem a necessidade de qualificação da rede, recorrentemente apontada na literatura científica, inclusive nas realizadas a partir de 2006 e analisadas à luz da Lei 11.340/2006. Infere-se, em relação ao atendimento à mulher em situação de violência pelo parceiro íntimo, a importância da inclusão desse tema nos currículos de graduação e pós-graduação e a realização de futuras pesquisas para a formação continuada em enfermagem. Apesar do estudo limitar-se por representar isoladamente a percepção dos profissionais de uma instituição hospitalar de um município de pequeno porte, a elucidação desses resultados é essencial para compreender e qualificar o cuidado à mulher em situação de violência conjugal na rede de atenção. Inclusive, os resultados aqui apresentados podem ser transportados para realidades próximas.</p>}, number={01}, journal={Encontro de Discentes Pesquisadores e Extensionistas}, author={Freitas, Rafaela and Santos, Everton and Souza, Larissa and Carvalho, Milca}, year={2022}, month={nov.}, pages={e202204} }