Seção Livre

BABEL, Alagoinhas - BA, 2023, v. 13: e19127.

BARRETO, Robério Pereira. Memes: dos sentidos às multimodalidades em redes sociais digitais. Babel: Revista Eletrônica de Línguas e Literaturas Estrangeiras, 2023, v. 13, e19127.

Memes: dos sentidos às multimodalidades em redes sociais digitais

Memes: from the senses to multimodalities in digital social networks

Robério Pereira Barreto

Resumo: Neste texto objetiva-se através de revisão e diálogo com a literatura da área mostrar que os memes, gênero discursivo híbrido nativo do ambiente digital é potente objeto de ensino de multimodalidade e construção de sentidos. Nos memes há design visual agregador de múltiplas linguagens que amplia a construção dos sentidos. Desse modo, reflete-se sobre a educação linguística e digital através do design visual e da distribuição dos sentidos socialmente reconhecidos no meme-texto. Ademais, promover multiletramentos na sala de aula da educação básica ao ensino superior, aplicando multimodalidade, a qual é uma marca da comunicação e interação online. Conclui-se que a maneira pedagógica da tradição escolar de ensino de leitura buscando os sentidos a partir de textos reconhecidos na cultura do letramento impresso, onde se privilegiou por décadas, o verbal em detrimento do visual, deve abrir as suas fronteiras e ampliá-las a ponto de que sejam incorporadas a esses repertórios, as múltiplas matrizes de linguagens correntes nas plataformas de comunicação e rede sociais digitais, onde a multimodalidade associada ao design do visual garante a ressignificação de sentidos e ideologias contidas nos memes.

Palavras-chave: Ensino de línguas. Multimodalidade. Redes sociais.

Abstract: This text aims, through review and dialogue with the literature in the area, to show that memes, a hybrid discursive genre native to the digital environment, are a powerful object for teaching multimodality and construction of meaning. In memes, there is a visual design that aggregates multiple languages ​​and expands the construction of meanings. In this way, it reflects on linguistic and digital education through visual design and the distribution of meanings socially recognized in the meme-text. Furthermore, promotes multiliteracies in the classroom from basic education to higher education, applying multimodality, which is a hallmark of online communication and interaction. It is concluded that the pedagogical way of the school tradition of teaching reading, seeking meanings from texts recognized in the culture of printed literacy, where the verbal was privileged for decades to the detriment of the visual, must open its borders and expand them to the point that the multiple matrices of languages ​​current on digital communication and social network platforms are incorporated into these repertoires, where the multimodality associated with visual design guarantees the resignification of meanings and ideologies contained in memes.

Keywords: Language teaching. Multimodality. Social media.

1 Introdução

Há pouco mais de uma década, alguns pesquisadores das linguagens e mídias digitais passaram a enxergar os memes – gênero discursivo do digital – PAVEAU, (2021) como uma possibilidade de ensino de leitura e escrita da escola básica ao ensino superior. Tal percepção coaduna com a prática efetiva da juventude na produção de textos formatados na multimodalidade. Para os pesquisadores e a escola produzir textos multimodais é a argúcia de estudante; sujeitos “escrito-leitores” de vários gêneros discursos no e do ambiente digital. Em redes sociais eles empregam os fundamentos multimodais da linguagem de maneira espontânea ao criarem memes e os compartilharem nas redes sociais.

Neste texto objetiva-se mostrar através de diálogos com parte da literatura especializada – obviamente, não extensa – que os memes são potenciais objetos didáticos para o ensino de multiletramentos desde a educação básica ao ensino superior.

Parte-se, portanto, do pressuposto inicial de que há neles, – memes – design visual, através do qual se distribuem os protocolos da multimodalidade. Todavia, para que isso aconteça, a escola precisa incorporá-los às práticas de leitura e de escrita na sala de aula, trabalhando suas características de gênero discursivo: multissemioses, multimodalidades, novos sentidos, planos de conteúdo e de expressão, intertextualidade, hibridismo e múltiplas linguagens, etc.

Metologicamente, os memes são abordados partir da Teoria cultural introduzida pelo biólogo DAWKINS (1976), em seu famoso livro Gene egoísta. Nesse contínuo, SHIFMAN (2014) corroborando com DAWKINS (1976), considera: “memes as small cultural units of transmission, analogous to genes, that spread from person by copying or imitation”[1] (SHIFMAN, 2014, p. 9). Ademais, ampliou-se o diálogo à Analise do discurso digital, de PAVEAU, (2021), bem como à Antropologia cultural, de JENKINS (2015) e outros pesquisadores, incluindo da Linguística aplicada.

Nesse contexto, os memes passam a ser conhecidos na internet como discursos socialmente construídos por diferentes vozes e perspectivas comunicativas abertas à remixagem através da multimodalidade ancorada nas tecnologias digitais de informação e comunicação – TDICs – embarcadas nos dispositivos móveis digitais – Smartphones e tablets –. Estas tecnologias disponíveis a uma parcela significativa da população jovem brasileira fazem com que memes sejam postos em circulação em entornos comunicativos mediadores de sentidos. Já a sua circulação em rede comunicativa on-line os torna discursos virais cujas cargas de sentidos atendem a determinado contexto social, histórico, político e cultural corrente na sociedade atual.

A construção de sentidos na mensagem memética ocorre em virtude das diversas representações sociais e culturais que os memes ganham no mundo digital “Internet memes can be treated as (post) modern folklore, in which shared norms and values are constructed through cultural artifacts such as Photoshopped images or urban legends[2]” (SHIFMAN, 2014, p. 14). A participação expressiva de jovens nas redes sociais criando, remixando e compartilhando memes, gêneros discursivos com sentidos e linguagens advindas das práticas multimodais com texto-imagem, imagem-texto em ambientes digitais.

Diante desse cenário, a escola que deveria pensar novas mediações pedagógicas para o ensino de línguas com textos remixados e carregados de multimodalidade. Não o faz. As que o fazem ainda são muito tímidas. Essa timidez é resultante de um engessamento pedagógico do ensino de línguas, o qual afasta a geração multiconectada e multiletrada. Por outro lado, estudantes são hábeis usuários de telas, onde os elementos multimodalidade da linguagem são aplicados na produção de sentidos nos texto-memes, nos quais a produção de sentidos faz parte da cognição distribuída nas redes sociais, remodelando práticas de ler e escrever textos multimodais.

O desafio está posto e requer também novas políticas de formação de professores, isto é, estes profissionais precisam de formação continuada em educação linguística digital e multiletramentos para se apropriarem das ferramentas de produção textual multimodalidade das plataformas digitais.

Com isso, atuar como colaboradores, dialogando com áreas diferentes, colegas e estudantes de modo que todos possam estar em rede se adequando às múltiplas linguagens e design das mídias digitais disponíveis na web. Dessa maneira, todos seriam produtores e consumidores de textos cujos sentidos se espraiam além da fronteira do verbal; os memes, edificado no princípio da multimodalidade oferecem em seu design visual e textual, composição aberta e interativa, permitindo que os significados se propaguem de maneira ampla nas redes sociais digitais, a medida em que são apropriados pelos leitores-autores e ressignificados através das edições coletivas. Assim sendo, leitores-escritores se acomodam nas camadas de sentidos e, dialogicamente, remixem as percepções neles – memes – existentes assumindo o compartilhamento e a distribuição cognitiva sentidos dos textos socializados nas redes sociais.

CHARTIER (1998) corrobora ao dizer que a dialogia autoria-edição de memes acontece involuntariamente, visto que o continuum fazer e compartilhar de memes em redes sociais depende da palavra e esta deve estar em ação, uma vez que “o escritor não era senão o escriba de uma palavra que vinha de outro lugar. Seja porque era inscrita na tradição, e não tinha valor a não ser o de desenvolver, comentar, glosar aquilo que já estava ali” (CHARTIER, 1998, p.31).

Embora a produção memética, por tradição das redes sociais digitais não apresente autoria definida no plano original da escrita: texto-imagem, tampouco no continuum da edição, no campo da criação textual na cultura escrita, segundo afirma CHARTIER (1998) a tradição da escrita estabeleceu critérios para que se classifique escritor e autor.

Em inglês se tem writer – aquele que escreveu alguma coisa, e ao author, aquele cujo nome próprio dá identidade e autoridade ao texto. Em francês se tem écrevians – aquele que escreveu um texto que permanece manuscrito, sem circulação, enquanto o autor – auteur – é também qualificado como aquele que publicou obras impressas (CHARTIER, 1998, p. 32).

A complexidade de sentidos presente nos memes aflui do leitor, práticas de leituras para além das vivências com os saberes verbais usados por ele para a compreensão da mensagem. Os leitores de memes são, de certo modo, atuantes no ambiente e redes digitais e lidam com as múltiplas linguagens e as ferramentas de edição digital de forma interativa e colaborativa. As experiências com as diferentes matrizes de linguagens e gêneros textuais correntes no espaço interativo das redes sociais são incorporadas à produção e aos compartilhamentos dos memes.

As plataformas de leitura e escrita digitais conduz o “leitor-escritor-escritor-leitor” às combinações cognitivas altamente complexas, requerendo do espectador-autor várias associações linguísticas e culturais, tamanha a dimensão da mensagem. “Na mesma pessoa combina-se a leitura que se ouve num disco, livros escaneados, publicidade da televisão, Ipods, enciclopédias digitais que mudam todo dia, uma variedade de imagens, textos e saberes que formigam na palma da mão, com a qual você liga o celular” (CANCLINI, 2008, p. 12).

As múltiplas semioses e/ou múltiplas linguagens empregadas na composição dos memes e, consequentemente, a velocidade com a qual esses textos veiculam nas redes sociais, provocam nossas práticas de ensino de textos, que, no que lhe concerne, está atrasada no que diz respeito as perspectivas atuais de produção e compartilhamentos de mensagens em que se combinam as diversas linguagens e tecnologias digitais de informação e comunicação em rede.

Assim, ser leitor no contexto da cultura digital é ser um coautor, uma vez que há no processo de ler, a reorganização semântica do texto para que ele seja adequado ao novo cenário de leitura, textos multimodais dispostos nas teles de dispositivos digitais. CHARTIER (2008) afirmara que “a leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados” (CHARTIER, 1998, p. 77).

A leitura na tela digital proporciona ao leitor mecanismo de compreensão de acordo com o suporte e a linguagem em que o texto foi construído e armazenado. Portanto, é oportuno levar à sala de aula de línguas, práticas linguística e pedagógica que considerem a escrita, a leitura e interpretação de memes como atos de multiletramentos, construção e compartilhamentos de sentidos em rede por meio da circulação cotidiana de múltiplos sentidos presentes nos memes.

Assim, é fundamental uma abordagem multissemiótica dos memes considerando que tais textos são espaços de sentidos; de um lado se encontram autores – anônimos – e do outro, os leitores convocados a extrair significados recorrentes nos meios de comunicação social.

Os memes são objetos de ensino de multiletramentos, e a escola considerando a multiplicidade de sentidos e linguagens empregados na produção de mensagens meméticas as incorporariam em suas práticas pedagógicas de leitura e escrita digitais.

Os memes efetivam signos representativos da cultura interacional da internet, remixando elementos multimodais da linguagem, permitindo aos usuários – criadores e leitores – se apropriarem das semioses de temas circulantes no cotidiano social da cultura digital.

Neste aspecto, os memes são produzidos para que sua manifestação se amplie. Para que isso ocorra, os criadores aplicam a técnica da sobreposição de imagens – fotos com legendas diversas – e, nos casos multimodais mais elaborados há a edição de gifs animados – imagem em movimentos criadas a partir de sequenciamentos de quadros. Seguindo a lógica do layout das páginas de redes sociais, os criadores de memes preferem a técnica da ampliação de quadros, uma vez que isso eleva o nível de circulação nos grupos de redes sociais, devido à potencialidade de reprodução a partir de novas edições das texto-imagens.

2 Memes: reflexões e ensino de textos multimodalidade

As tecnologias digitais de informação e comunicação – TDIC – irrompem com antigas práticas de escrita e, consequentemente, impõem novas potencialidades de uso da língua em tempos digitais.

Há em circulação nas redes digitais da internet, novos gêneros discursivos, dos quais se destaca memes; gênero que insurge nesse contexto e amplia o alcance de seus sentidos no ambiente digital. Todavia, continua desconhecido da tradição escolar nos processos pedagógicos de ensino de leitura, uma vez que, os gêneros textuais advindos da cultura impressa cujos sentidos são dominados pelas autoridades pedagógicas e linguistas predominantes no ensino de língua, leitura e escrita.

Na cultura digital, os usos e as aplicações da língua e da linguagem ocorrem de diversas maneiras ao serem colocadas em contextos reais de comunicação. Isto põe em evidência, novas potencialidades para o ensino de leitura e escrita na escola através da produção de memes. Em tal foco está a premissa de que a sociedade contemporânea onde circula esses textos é multiletrada e se comunica com recursos semióticos ampliados cada vez mais nas mensagens compartilhadas pelos estudantes fora da sala de aula; plataformas de redes sociais digitais.

É importante considerar que a escola implemente novas práticas de ensino de língua e linguagens com gêneros digitais e seus textos multimodais, desde desenhos e diagramas feitos em papel até imagens e shorts vídeos, considerados produções representativas da comunicação compartilhada em rede ainda estão à margem dos atos de letramentos da sala de aula.

À escola cabe entrelaçar esses recursos linguísticos e textuais – memes – e ampliar as camadas de sentidos constitutivas dos memes, levando o autor e o leitor a interagirem de tal maneira que seus papéis se confundem.

Assim, abrir a sala de aula para o trabalho com multiletramentos contempla dias grandes perspectivas: de um lado, a multiplicidade de formas de comunicação usadas para construção de sentido; de outro, o aumento da diversidade linguística e cultural que caracteriza a sociedade contemporânea. [...] Preparar os alunos para o presente e para o futuro implica trabalhar com tecnologias digitais e capacitá-los para serem usuários competentes e críticos delas. (KERSCH; COSCARELLI, 2016, p. 9).

Nessa premissa estão os memes, uma vez que são textos híbridos e seus sentidos estão abertos às interpretações dos leitores que os modificam, os tornam interativos nas redes de compartilhamentos.

Seguindo KERSCH e COSCARELLI (2016) sobre os pilares do multiletramentos, nos quais os textos estão estruturados tanto na diversidade de sentidos sociais e culturais advindo das trocas de experiências entre os membros das comunidades, quanto na multiplicidade das linguagens e suas semioses, cujos sentidos depende da interação proposta pela interface e os recursos das telas, vale considerar que os memes provocam e

Esses textos exigem do leitor habilidades para lidar com uma multiplicidade de linguagens, semioses e modos para deles fazer sentido. A interface com o visual, o oral, gestual tátil e outros recursos semióticos tem se tornado imprescindível na formatação e gêneros textuais que circulam socialmente nas redes e comunidades memética digitais. (grifo meu). (KERSCH; COSCARELLI, 2016, p. 19).

Assim, os memes ao circularem nas redes e plataformas das redes sociais são apropriados por diferentes enunciadores e “são formuladas nos enunciados “homológicos”, ou seja, em termos linguísticos, a partir de reformulações ou paráfrase extraídas da produção verbal individual dos locutores” (PAVEAU, 2021, p. 131).

Seguindo essa premissa, os memes podem ser analisados sob a perspectiva da Análise do discurso digital, por se tratar de

[...] produções linguageiras nativas da internet, particularmente da web 2.0, em seus ambientes de produção, mobilizando igualmente os recursos linguageiros e não linguageiros dos enunciados elaborados. Chamamos de nativas as produções elaboradas on-line, nos espaços de escrita e com as ferramentas propostas pela internet [...] (PAVEAU, 2013, p. 57).

PAVEAU (2013) ao definir pré-discurso reconhece que as experiências, os saberes e as práticas dos coletivos para a produção de sentidos como ação colaborativa em que indivíduos e sociedade atuam cognitivamente para assegurar as modificações a interação no ambiente social, cultural, e político intelectual em que circulam os discursos meméticos, os quais passam do individual ao coletivo, quando são apropriados pela coletividade da rede e são adaptados à nova realidade comunicativa.

Os replicadores dos memes ao se apropriarem de uma produção memética cujos conhecimentos linguísticos, discursivos e de sentidos advém de apropriação da reestruturação linguística de suas experiências no mundo, inclusive, de suas vivências com a linguagem no contexto do digital, uma vez que, alimentar novas camadas de sentidos nos memes requer o emprego de aprendizado linguístico e discursivo corrente no tempo e espaço da enunciação do meme como gênero discursivo das redes. Nessa perspectiva, “os locutores produzem seus discursos sem ter consciência dos pré-discursos, o que afeta, consequentemente, esses últimos: imateriais, eles não são formuláveis, nem traduzíveis no discurso, mas são identificáveis” (PAVEAU, 2013, p. 132).

As camadas de sentidos presentes nos memes são processo de edição ao qual é submetida a mensagem memética até se tornar viral. Isso reflete o inconsciente coletivo implícito e circulante nas redes sociais, onde a transmissibilidade faz circular outros significados na comunidade digital. No que se refere a comunicabilidade presente nos memes, PAVEAU (2013) corrobora com esta tese ao dizer: “é produto de interações entre os sujeitos falantes e, sobretudo, eu diria, entre os sujeitos e seu ambiente natural, social, tecnológico, etc.” (PAVEAU, 2013, p. 135).

Numa espécie de looping, os memes se tornam fábricas de sentidos, visto que os produtores mesmo que anônimos alimentam a internet com novas mensagens, as quais têm o potencial de influenciar os leitores na compreensão dos discursos circulante na rede. Portanto, considera-se que memes pertence a realidade contemporânea, na qual, a criação, a busca e o compartilhamento de ideias, pensamentos são expressos de forma que, a interatividade entre criador e leitor compõem o repertório de ambos. O criador de memes ao compartilhar na rede mensagem, permite que o leitor de memes se aproprie de tal mensagem e a configure a partir dos novos sentidos que deseja dialogar com os novos sujeitos da interação leitora em rede.

Ainda que elemento central dos memes seja o humor – mecanismo do qual se recorre simbolicamente para exercícios de cidadania e afirmação de identidade de grupos sociais - vale lembrar que os memes se afirmou como gênero discursivo digital e, conforme defende Miller (1984) que “quando um tipo de discurso ou ação comunicacional adquire um denominador comum dentro de um dado contexto ou comunidade, trata-se de um bom sinal de que está funcionando enquanto gênero” (MILLER; SHEPHERD, 2004, 1).

O alcance dos memes enquanto gênero discursivo recorrente nas comunidades discursivas digitais, onde são distribuídos e compartilhados como mecanismos linguísticos, sociais, culturais e semióticos, de maneira comum, objetivam a estabilidade de sentidos entre seus participantes.

A apreensão social dos memes como gênero discursivo digital pela comunidade discursiva da internet é uma habilidade do coletivo de usuário, “cognição distribuída”, a qual considero como disseminação de sentidos dos memes nas redes compartilhamentos (SALOMON, 1993, p. xi).

No contexto da fábrica de sentidos, os memes pode se tornar viral e abranger culturas do mundo inteiro. Os memes faz a junção imediata de autores – anônimos – leitor que, anonimamente se transforma em novos autores, cuja identidade é mantida em sigilo.

Dessa maneira, os memes se tornaram “uma cultura participativa onde os sentidos são alterados para transformar a experiência humorística, social, cultural e política em textos meméticos, cuja a multimodalidade dá abertura para a reprodução de novos textos, ou ainda mais, de uma nova mensagem de acordo com os sentidos da comunidade digital” (JENKINS, 2015, p. 63).

Ainda assim, vale destacar que os memes percorrem os caminhos das interações sociais de onde os sentidos se ampliam a partir do meme-ideia, do qual a maioria dos replicadores se inspiram para produzir novas edições das mensagens memética, recontextualizando-as através do acréscimo de novos elementos multidais da linguagem digital.

3 Meme: da palavra ao design visual

A produção social do sentido é decorrente da prática contínua e infindável de discursos que se realizam e se cruzam nos ambientes digitais da internet. Nessa dinâmica socio-discursiva, é importante notar, contudo, que apesar de haver correntes teórica e metodológica que divergem sobre os mecanismos e contextos sociais em que são produzidos os sentidos no meme-texto. Discute-se a seguir, as estratégias discursivas empregadas nos memes, partindo do pressuposto de que há uma dinâmica materializadora de sentidos no meme-texto.

A materialização dos sentidos acontece quando o receptor-leitor lê os memes de seu lugar social e a ele atribui novos sentidos. Esta questão leva à interatividade discursiva, na qual há circulação e recirculação de novos meme-textos compartilhados na rede social.

Criadores e leitores compartilham memes a partir da permanência de cada um nos discursos reconhecidos social e historicamente pela comunidade digital da qual participam. O produtor do discurso memético se apropria, na maioria das vezes, de provérbios, estereótipos, mitos tanto no plano “positivo” quanto no plano “negativo” para gerar novos sentidos através do compartilhamento de memes nas redes sociais, diante disso, o meme-texto se situa nos sentidos das mensagens meméticas tanto no plano sincrônico quanto no diacrônico.

O limiar da mensagem multimodal dos memes é o emprego de sua condição de ser polifônico, cuja representatividade discursiva, reflete, refrata e até desvirtua as múltiplas vozes sociais que cada autor-criador recebe e agregar a si e ao seu meme-texto.

Dessa forma, a reprodução de memes não segue a mera cópia, ela faz com que seja “o ser, refletido no signo, não apenas nele se reflete, mas também se refrata” (BAKHTIN, 1988, p. 46), essa refracção faz com que novos atores culturais, ideológicos e linguísticos sejam incorporados aos novos memes que, replicados, ganham outras possibilidades de leitura e reescritura.

[...] não podemos perder de vista que ela é formada a partir da materialidade constituída pela manifestação dos vários discursos, instituindo um eu plural, o qual, no que lhe concerne, manifestará, num movimento espiralado, sua reelaboração desses discursos, utilizando-se para isso, da matéria-prima com a qual os discursos – os que ele, “recebeu” e os que ele elaborou – se formaram: as palavras, os signos da sociedade nesses discursos circulam em formato de memes contemporaneamente situados no contexto da viral da informação digital das redes sociais da internet (BACCEGA 2000, p.23), (grifo meu).

Os atos de ler e escrever memes no ambiente de redes sociais digitais exigem de todos, mudanças no que diz respeito aos usos das textualidades disponíveis na web e suas redes de linguagens multimodalidades. As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação - TDIC - ampliaram os desafios ao processo de ensino e aprendizagem de leitura-escritas na perspectiva das multimodalidades.

A cultura escrita digital é multimodal e está expressa desde a cultura letrada das cidades - placas informacionais, impressos de propaganda entregues nas ruas - os letreiros luminosos das fachadas, até os memes cotidianos presentes nas telas dos smartphones. Estas realidades provocam e reorganizam as práticas de letramentos e as interações digitais cotidianas entre pessoas.

A construção social de sentidos através de memes, se torna facilitadora de práticas de ensino de leitura-escrita à geração de sujeitos "conectados" as redes sociais e seus ambientes de letramentos digitais. Onde a criação colaborativa de atos de leitura-escrita de mensagens ressignificadas pelas sociossemioses das linguagens digitais e compartilhadas na rede de aplicativos sociais, assumem a produção de memes; ação multimodalidade frequente no cotidiano de estudantes e de professor.

No contraponto, vale lembrar que, por séculos a sociedade foi submersa no letramento impresso e a palavra sobrepôs à imagem. Todavia, com a presença das tecnologias digitais de informação e comunicação nos variados ambientes – empresa, casa e escola – a mensagem edificada no sentido advindo do verbal, foi desafiada pela múltiplassemioses empregadas no mundo digital.

Dessa maneira, o papel das tecnologias digitais, onde imagem e movimento compõem a formação da plasticidade cerebral destes leitores conectados e moventes nos nós das redes. (BARRETO; SANTOS, 2021, 127) foi redimensionar os lugares dos sentidos da comunicação on-line, oferecendo aos leitores, as multiplas dimensoes do texto multimodal.

O leitor de memes tem habilidades para transitar em diferentes ambientes de multiletramentos em tempo real. Assim, a leitura na rede acontece através de arcabouços complexos diante da multiplicidade de signos presentes nas mensagens meméticas, cujas estruturas está para além do mero verbal; pois ela é composta por múltiplas linguagens, exigindo do leitor vivências em contextos anteriores: leituras e escritas multimodais prévias da realidade cultural e linguística à qual está submerso.

Nesse contexto, um meme traz em si, algumas qualidades capazes de definir se será uma mensagem durável ou perene, isto é, quanto tempo esse meme se mantém em circulação na mente dos leitores e se será mais um viral na rede. PAVEAU (2021) diz que para haver durabilidade na transmissão do meme, necessita que ele contenha em seu arcabouço comunicativo, elementos linguísticos, culturais e imagéticos: a longevidade, a fecundidade e a fidelidade de cópia sendo compartilhada por usuários das redes sociais digitais.

Nessa premissa, DAWKINS (2007) expõe a relação do usuário das redes com o computador conectado à internet, afirmando que:

Os computadores nos quais os memes vivem são os cérebros humanos. O tempo possivelmente é um fator limitante mais importante do que espaço de armazenamento; ele é objeto de forte competição. O cérebro humano e o corpo por ele controlado não podem fazer mais do que uma ou algumas coisas de cada vez. Se um meme quiser dominar a atenção de um cérebro humano, ele deve fazê-lo às custas de memes "rivais". (DAWKINS, 2007, p. 337).

Existe uma lógica na qual os memes precisam se envolver em uma certa competição entre si. Os memes são replicados à medida que os espaços sociais e de tempo lhes assegurem constância na mente dos leitores, ocorrendo, portanto, novos sentidos; os quais encaixam na engrenagem dos significados socialmente elegíveis, e, assim, segue o fluxo de replicadores.

A unidade fundamental, o motor principal de toda vida, é o replicador. Um replicador é tudo aquilo de que são feitas cópias no universo. Os replicadores surgem, em primeiro lugar, por acaso, devidos aos encontroes aleatórios das partículas menores. [...] Os replicadores sobrevivem, não apenas em virtude das suas prioridades intrínsecas, mas também das suas consequências sobre o mundo, as quais podem ser bastante indiretas. (DAWKINS, 2007, p. 439)

Nesse caminho, os memes utilizando-se da linguagem potencializa a propagação de palavras carregadas de ideias cujos sentidos evoluem ao passar de sujeito a sujeito no tempo e no espaço social, através da imitação direta e indireta. Assim, DAWKINS (2007) confirma a força de transmissão memética afirmando “Os memes foram transmitidos ao leitor sob uma forma modificada. [...] Um “meme-ideia” pode ser definido como uma entidade capaz de ser transmitida de um cérebro a outro” (DAWKINS, 2007, p. 334-5).

Nessa perspectiva, as palavras escrita ou falada garante transmissão dos memes na sociedade que, saindo da oralidade, fonetização das palavras, que evoluindo à escrita agregam novos designers, onde cor, profundidade da imagem, tamanho, formato reduções das palavras para atenderem ao protocolo das redes sociais digitais.

A evolução dos memes está ligada à sua capacidade de se replicado por vários leitores que, de forma anônima garante a atenção da audiência nas redes sociais e, assim, são passados adiante, tornando-se viral capaz de se reproduzir em vários espaços sociais. Na verdade, eles competem pelos recursos linguísticos e imagéticos latentes em nossas mentes, através dos quais se acionam as ideias que nos são transmitidas culturalmente e estavam armazenados em nossa memória.

Cuando imitamos a alguien estamos transmitiendo algo. Este «algo» puede a su vez transmitirse una y otra vez hasta cobrar vida propia y puede llamarse idea, orden, conducta, información... No obstante, si deseamos investigarlo a fondo, deberemos encontrar un nombre para definirlo. Afortunadamente el nombre existe: se llama «meme». (BLACKMORE, 2000, p. 31).[3]

Os memes são discursos cujas informações, condutas ou ideias armazenadas no inconsciente coletivo podem ser transmitidas por imitação, desde que sejam estruturados conforme os fundamentos da multimodalidade. A convergência de linguagens num recorte espacial, leva o leitor a recorrer às suas memórias discursivas e, com isso, dar sentido a mensagem memética. De acordo com BLACKMORE (2000), a memética é uma ótica norteada pelos memes e não por nós seres humanos. Assim sendo, a nossa mente é o lugar que os memes disputam para poder se adaptarem, desse modo, somos somente hospedeiros ou máquina dos memes. Dizendo de outro modo, os memes não apenas se replicam nas nossas mentes, mas também por meio dela. Assim, a capacidade de imitação leva a conversão dos sujeitos individuais e coletivos em anfitriões fundamentais para que os memes se transmitam enquanto discursos carregados de sentidos.

Para BARRETO (2022), os memes são discursos híbridos cujos sentidos atendem aos protocolos da multimodalidade e fazem com que uma história nunca seja contada da mesma forma, ou seja, quando são transmitidos, os memes nunca são uma cópia idêntica do texto-meme “original, por que sofre adaptações desde o design até a edição das formas discursivas, as quais atenderão às possibilidades de leitura e, consequentemente a replicação de sentidos pelo leitor. (BARRETO, 2022, p. 19).

Alguns memes são gravados exatamente como são, por isso, se transmite a outros. Por outro lado, há aqueles memes que não se reproduzem mais, por conta da complexidade sentidos da mensagem, a qual se exigia mais leitura de mundo, da cultura e da ideologia do leitor para que fosse compartilhada com outros leitores na rede.

Nesse sentido, há que recorrer à importância de se reconhecer o discurso digital como elemento fundante do meme, uma vez que “a tecnologia faz parte dos modos de existência do sujeito, portanto, da produção dos afetos” (DIAS, 2018, 73); neste raciocínio, os memes ao circularem nos ambientes de redes sociais aumentam a seu poder de replicação devido à amplitude do alcance nas comunidades leitoras de memes, onde sujeitos atuam imaginativamente para dos sentidos texto-memes nas redes sociais.

Dessa maneira, os sujeitos que lidam com memes são de acordo HURTADO (2001): El sujeto es el yo que piensa, imagina, desea, siente, ama, actúa, etc. El sujeto es el sujeto de la vida y la vida nuestra no es sólo mental, interna, privada e inmediata, sino corpórea, externa pública y mediata[4]. (HURTADO, 2001, p. 165).

Cada um de nossos pensamentos é um meme que se não for compartilhado com outra pessoa, deixa de existir. Cada vez que falamos, estamos produzindo memes, porém, a maioria se perde durante esse processo. Também há memes em que são compartilhados por meio do rádio, da televisão, das pinturas e atualmente através das redes sociais.

Para SHIFMAN (2014), a memética se desenvolve a partir de três correntes diferentes. A primeira é a memética orientada por um viés mentalista, segundo a qual, os memes podem se distinguir de seus propagadores. A outra corrente é a memética orientada por viés behaviorista. Nessa concepção, ao contrário da primeira, a maneira como os memes se propagam importa, porque estes e seus propagadores não se diferenciam. Portanto, dependendo do veículo que eles utilizem para se propagar, as mensagens que eles transmitem têm caráter diferente. A terceira e última corrente citada por Shifman é a memética inclusiva, que transita entre a mentalista e a behaviorista, para a qual, os memes são qualquer informação copiada por imitação.

Todos esses argumentos contribuíram para o desenvolvimento dos estudos sobre memes. Com o passar do tempo, o discurso científico foi sendo incluído por usuários da internet ao discurso humorístico. Com isso, houve uma aproximação dos memes que nós conhecemos hoje. A percepção comum que temos de memes é a propagação de uma ideia em forma de imagem, texto ou movimento através da internet.

Os memes online abrangem a escrita de conteúdos que contagiam facilmente a sociedade, devido ao grau de humor contido na mensagem memética. É muito comum imagens, ou corte de vídeos invadirem o imaginário dos internautas em virtude de compartilhamentos em massa. Desse modo, a escrita de conteúdos contagiosos é uma prática de letramento na ecologia do digital, onde a “cognição distribuída” promove multiletramentos, fazendo com que o leitor conectado se aproprie dos múltiplos sentidos do texto-meme das redes.

Pode-se afirmar que, memes é tipicamente baseado no humor e se populariza por meio de sua transmissão online. A evolução dos memes para além do humorístico e satírico da sociedade ganha novos significados ao passo que são entendidos como um gênero discursivo nativo do meio digital.

Os memes se caracterizam pelos recursos multimodais e multissemióticos que possuem, sobressaindo no ambiente digital enquanto mensagem carregada de múltiplos sentidos recorrentes na web 2.0. Este pertencimento consente que: os usuários interajam nas redes, fazendo com que haja contribuição com a dinâmica interacional das redes através de criações de meme-textos na internet, cujo objetivo é captar a atenção das pessoas para as telas.

Nesse sentido, o meme é um gênero textual híbrido, pois, suas características multimodais e multissemióticas aguçam a criatividade dos usuários das redes sociais facilitando o compartilhamento de conteúdos diversos no ambiente digital. Os gêneros discursivos são caracterizados por suas habilidades de transformar e se adaptar, às atividades da vida social. Assim, os gêneros se formam e o motivam a criação de novos textos cuja multimodalidade reflete os novos letramentos presentes nos ambientes digitais de comunicação.

Com as tecnologias digitais informação e comunicação, a leitura e a escrita de gêneros textuais mudaram; memes são a prova. Isso acontece numa combinação de linguagens e pontos de vista semânticos, combinando imagens paradas ou em movimento, códigos ou sons em um único texto capaz de leva interação e compartilhamento de sentidos nas redes sociais da sociedade conectada. Dessa maneira, os participantes de comunidades digitais criam textos que contemplam seus interlocutores, atentando as intenções comunicativas graças às multimodalidades recorrentes na produção dos memes por exemplo: as imagens paradas ou em movimento, sons, símbolos, etc.

Reafirma-se que: memes são gêneros textuais híbridos que incitam a criatividade desses indivíduos que passam a utilizar a comunicação multimodalidade no meio digital de maneira dinâmica, inclinada à variação de conteúdos que transitam pelos ambientes digitais de comunicação.

A multimodalidade e a multissemiose são amalgamas para a produção estrutural e estruturante de sentidos na mensagem memética. A primeira diz respeito a utilização de múltiplas formas de linguagem, já a segunda, da utilização de diversos signos. Um texto multimodal contém mais de um aspecto da linguagem como: imagens, sons e escrita. No texto multissemiótico os memes se encontram em vários sistemas de signos que se organizam por meio de recursos visuais como: cores, tipos de letras e imagens. Esses elementos estruturais estão dispostos no texto, a maneira como o texto verbal interage com o não verbal, como tudo isso é organizado para dar sentido ao texto, são características muito importantes para estudar e compreender esse texto.

Mirando por outro prisma, é preciso se atentar também aos elementos culturais que podem estar contidos nas imagens; aspectos verbais e visuais são imprescindíveis para a elaboração de sentido no gênero meme. O hibridismo e as novas textualidades reafirmam suas potencialidades da interação e trocas de sentido permitidas pelas comunidades digitais da web.

4.1 Considerações contínuas

As práticas de escrita e de leitura online, sobretudo de memes, deveriam estar no cotidiano na sala de aula, até porque, são atos de multiletramentos e ocorrem de maneira voluntária nas comunidades digitais. Desse modo, os memes enquanto gêneros discursivos digitais híbridos se espraiam cada vez mais no campo da criação de novos sentidos no dia a dia das pessoas que têm vida online e interagem através das linguagens multimodais da Web 2.0; o resultado da presença de produtores, leitores e compartilhadores de memes nas redes sociais e comunidades interativas da cultura digital elevam a habilidade de “cognição distribuída” da rede.

Compreender que os memes transformaram a dinâmica de produção de textos na Web 2.0; escrileitores de memes possuem competências de elaborar discursos multimodalidades, estimular a cooperação e o envolvimento de novas comunidades em acontecimentos comuns de suas vivências interativas nas redes e comunidades digitais.

Dessa maneira, isso se torna possível através da leitura e compreensão dos elementos discursivos e imagéticos empregados no design dos memes, uma vez que, esse gênero discursivo do digital amplia a percepção dos novos sentidos recorrentes nas comunidades na cultura digital.

Os memes das redes sociais digitais podem gerar novas reflexões, discursos e novas ideias para práticas de leitura e construção de sentidos. Além disso, instigam habilidades como: autoria visual online e intertextualidade, etc.

Por fim, os memes ampliam a interação entre os sujeitos e suas comunidades, uma vez que eles são usados para que todos possam se expressar e manter a conectividade da rede, produzindo novos sentidos para as ocorrências do cotidiano. “Thus, such memes are emblems of a culture saturated with personal branding and strategic self-commodification […] in an era marked by “network individualism,” people use memes to simultaneously express both their uniqueness and their connectivity"[5](SHIFMAN, 2014, p. 30).

Desse modo, refletir sobre a educação linguística e digital através do design e da distribuição dos sentidos socialmente reconhecidos nos memes é, sim, promover multiletramentos na sala de aula da educação básica e do ensino superior através multimodalidade; marca da comunicação e interação em redes sociais digitais online.

Conclui-se que a tradição escolar de ensino de escrita e leitura a partir de gêneros e textos reconhecidos, deveria incorporar a esses repertórios, as múltiplas matrizes de linguagens correntes nas plataformas de comunicação e rede sociais. Assim, é possível potencializar as competências de leitura e escrita através da criação e do resgate de referências fundantes dos sentidos advindo do novo meme-texto.

Robério Pereira Barreto - Doutor em Educação, Professor do Colegiado de Letras, Espanhol, Campus V, Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão da UNEB - Campus V, Coordenador do Grupo de Estudos em Educação, Linguagem e Mídias Digitais do Campus V, Pesquisador do Núcleo Estudos Interdisciplinares em Humanidades Digitais da UEFS. Email: jpgbarreto@gmail.com

Notas

  1. “memes como pequenas unidades culturais de transmissão, análogas aos genes, que se espalham de pessoa por cópia ou imitação” (Tradução minha).
  2. “Os memes da Internet podem ser tratados como folclore (pós) moderno, no qual, normas e valores compartilhados são construídos por meio de artefatos culturais, como imagens com Photoshop ou lendas urbanas” (tradução minha)
  3. Quando imitamos alguém estamos transmitindo algo. Esse "algo" pode, no que lhe concerne, ser transmitido repetidas vezes até que ganhe vida própria e possa ser chamado de ideia, ordem, comportamento, informação... nome para defini-lo. Felizmente o nome existe: chama-se "meme". Tradução própria
  4. O sujeito é o eu que pensa, imagina, deseja, sente, ama, age, etc. O sujeito é o sujeito da vida e nossa vida não é apenas mental, interna, privada e imediata, mas corporal, externa, pública e mediada. (HURTADO, 2001, p. 165) (tradução pessoal).
  5. “Assim, tais memes são emblemas de uma cultura saturada de marca pessoal e auto-mercadorização em uma era marcada pelo “individualismo da rede”, as pessoas usam memes para expressar simultaneamente sua singularidade e sua conectividade” SHIFMAN, 2014, p.30 (tradução minha).
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Referências

  1. BACCEGA, M. A. Palavra e discurso: história e literatura. São Paulo: Ática, 2000.
  2. BARRETO, R. P. De fora para dentro: Memes e as práticas multimodalidades na sala de aula Língua Portuguesa. Curitiba: Atena Editora, 2022.
  3. BARRETO, R. P., & SANTOS, C. P. A travessia do leitor: do livro impresso à tela. Em D. J. CÉSAR, & D. M. CARVALHO, Pesquisas no ensino básico, técnico e tecnológico: indisciplinaridades 2 (pp. 126-135). Rio Branco: Stricto Sensu, 2021
  4. BARTON, D., & LEE, C. Linguagem online: textos e práticas digitais. São Paulo: Parábola Editorial, 2015
  5. BLACKMORE, S. La Máquina de los memes. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 2000.
  6. CANCLINI, N. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras, 2008.
  7. CHARTIER, R. A aventura do livro: leitor ao navegaror. São Paulo: UNESP, 1998.
  8. DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
  9. DIAS, C.. Análise do discurso digital: sujeito, espaço memória e arquivo. Campinas: Pontes Editores, 2018.
  10. HURTADO, G. Sujeto, persona y sentido. Em U. PINHEIRO, M. RUFFINO, & P. J. SMITH, Ontologia, Conhecimento e linguagem (p. 328). Rio de Janeiro: MAUAD, 2001.
  11. JENKINS, H. Invasores de textos: fãs e cultura participativa. Nova Iguaçu, RJ: Masrsupial Editora, 2015.
  12. MILLER, C. Genre as social action. Quarterly journal of Speech, 151-167, 1984.
  13. MILLER, C., & SHEPHERD, D. (27 de julho de 2004). https://conservancy.umn.edu/handle/11299/172818. Acesso em 13/12/2022 de 2022 de 2022, disponível em https://conservancy.umn.edu.
  14. PAVEAU, M.A. Análise do discurso digital: dicionário das formas e das práticas. Campinas: Pontes Editores, 2012
  15. SALOMON, G. Editor's Introduction. In: distributed Cognitions Psycological and Educational considerations. Cambridge: Cambridge University Press, 1993
  16. SHIFMAN, L. Memes in digital culture. Massachusetts: MIT press essential knowledge, 2014

Recebido em: 15-dez-2022
Aceito em: 20-mai-2023

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