Seção Temática

BABEL, Alagoinhas - BA, 2023, v. 13: e18090.

SILVA JÚNIOR, Antônio Carlos; VENÂNCIO, João Antônio de Santana; MORAIS, Maria Clara Lima. Qual idioma e por quê?: o direito e as razões de escolha de uma língua estrangeira no Ensino Médio do Colégio de Aplicação da UFS. Babel: Revista Eletrônica de Línguas e Literaturas Estrangeiras, 2023, v. 13, e18090.

Qual idioma e por quê?: o direito e as razões de escolha de uma língua estrangeira no Ensino Médio do Colégio de Aplicação da UFS

Which language and why?: the right and the reasons for choosing a foreign language in High School at Colégio de Aplicação of UFS

Antônio Carlos Silva Júnior
João Antônio de Santana Venâncio
Maria Clara Lima Morais

Resumo: Este artigo objetiva analisar o que estudantes do Ensino Médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS) pensam sobre o direito e as razões de escolha de uma língua estrangeira nessa fase. A pesquisa foi desenvolvida no contexto de um projeto de iniciação científica no Ensino Médio do CODAP/UFS com a aplicação de um questionário; seguiu um aporte teórico-metodológico que dialoga com a agenda da Linguística Aplicada contemporânea no que concerne aos estudos sobre educação (BRASIL, 2000; 2006) e políticas linguísticas (LAGARES, 2018; PARAQUETT, 2006; RAJAGOPALAN, 2013); e seu modelo é de natureza qualitativa e de base interpretativista. Os resultados evidenciaram a valorização do contato linguístico plural no CODAP/UFS e o reconhecimento dos estudantes participantes sobre a importância de poder escolher uma língua estrangeira no Ensino Médio. Entre as razões mencionadas, estão o interesse pessoal, a influência da mídia ou da família e a relação com o futuro profissional ou com exames de seleção como o ENEM e vestibulares. Além disso, a heterogeneidade do grupo e de suas respostas confirmaram que não é justo generalizar as conclusões e que é preciso respeitar as subjetividades sobre a escolha de um idioma e ampliar as perspectivas sobre a educação linguística em línguas estrangeiras na escola pública.

Palavras-chave: Ensino Médio. Línguas Estrangeiras. Direito e razões de escolha.

Abstract: This article aims at analyzing what high school students at Colégio de Aplicação (Laboratory School) of the Federal University of Sergipe (CODAP/UFS) think about the law and the reasons for choosing a foreign language at this stage. The research was developed in the context of an undergraduate research project in high school at CODAP/UFS with the application of a questionnaire. The research project followed a theoretical-methodological framework that dialogues with the agenda of contemporary Applied Linguistics with regard to studies on education (BRASIL, 2000; 2006) and language policies (LAGARES, 2018; PARAQUETT, 2006; RAJAGOPALAN, 2013). The research project was qualitative and interpretive in nature. The results showed the appreciation of plural linguistic contact at CODAP/UFS and the recognition of the respondents, i. e. the high school students, on the importance of being able to choose a foreign language in High School. Among the reasons mentioned are personal interest, the influence of the media or family and the relationship with the professional future or with university admission exams such as ENEM. In addition, the heterogeneity of the group and their responses confirmed that it is not fair to generalize the conclusions and that it is necessary to respect the subjectivities regarding the choice of a language and broaden the perspectives on education in foreign languages in public schools.

Keywords: High School. Foreign languages. Right and reasons for choice.

1 Considerações iniciais

Em 2017, durante o governo do presidente golpista Michel Temer, foi sancionada a lei nº 13.415/2017 que, entre outras providências, alterou a lei nº 9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), com a reforma do Ensino Médio, e revogou a lei nº 11.161/2005, que dispunha sobre a oferta obrigatória de língua espanhola no Ensino Médio. Essas medidas afetaram a realidade das línguas estrangeiras nos currículos da Educação Básica, influenciando um conjunto de políticas linguísticas para atender o que estabelece a lei. Três delas são a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Lagares (2018, p. 67) explica que a revogação da lei do espanhol e suas implicações acompanharam “[...] uma virada radical na política externa brasileira, que passou a dar as costas à América Latina e ao Mercosul para se alinhar diretamente com os Estados Unidos” e considerar apenas a língua inglesa como idioma estratégico nas relações econômicas e comerciais.

Enquanto as duas primeiras versões da BNCC mencionavam línguas estrangeiras modernas em uma perspectiva ampla e plural, a versão final publicada privilegia a língua inglesa e reforça sua hegemonia. Com a não obrigatoriedade da língua espanhola, o referido componente curricular também foi retirado do PNLD Ensino Fundamental – Anos Finais (2020) e Médio (2021), o que representa um retrocesso depois de quase dez anos de evolução na produção e distribuição de livros de espanhol para escolas públicas de todo o Brasil. Além disso, como mais uma consequência negativa, o Ministério da Educação (MEC) tinha anunciado, em março de 2022, um possível novo modelo do ENEM para 2024 com a presença apenas da língua inglesa e ausência da língua espanhola.

Em contraposição a qualquer perspectiva monolíngue, desenvolvemos o projeto de pesquisa[1] intitulado “PLURALIDADE LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: saberes e práticas em línguas estrangeiras no contexto do Colégio de Aplicação (CODAP/UFS)”, no contexto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC) no Ensino Médio, que gerou este texto que busca evidenciar a importância da experiência plural que o CODAP/UFS possibilita com as línguas estrangeiras, mapeando suas ações de ensino, pesquisa e extensão e verificando as percepções de estudantes do Ensino Médio sobre o direito e as razões de escolha de uma língua estrangeira nessa fase.

No processo de reformulação do currículo do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS), para atender o que estabelece a legislação, houve muito cuidado em respeitar o histórico de oferta plural de línguas estrangeiras da instituição. Atualmente, de acordo com a resolução nº 42/2021/CONEPE, que aprovou alterações nas Matrizes Curriculares do Ensino Fundamental e Médio do Colégio de Aplicação, os estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental têm uma hora-aula semanal de espanhol, francês e inglês, e duas de cada uma das três línguas do 7º ao 9º ano. Já no Ensino Médio, no primeiro semestre da 1ª série, todos os estudantes devem cursar uma unidade curricular que possui uma perspectiva conjunta e plural com as três línguas estrangeiras ofertadas pela escola chamada de “Tópicos Especiais em Línguas Estrangeiras” e, a partir do segundo semestre, cada estudante pode optar por uma das três línguas estrangeiras ofertadas com carga horária de duas horas-aula semanais (UFS, 2021).

Vê-se, portanto, que o currículo atende ao que estabelece a lei, mas amplia as possibilidades de oferta para seguir com o trabalho que é realizado em diálogo com os cursos de licenciatura da UFS, funcionando, também, como laboratório de práticas para a formação de docentes de espanhol, francês e inglês.

2 Metodologia, contexto e participantes da pesquisa

Para o desenvolvimento desta pesquisa, o projeto [2] seguiu um aporte teórico-metodológico que dialoga com a agenda de pesquisa da Linguística Aplicada contemporânea no que concerne aos estudos sobre educação e políticas linguísticas. Seu modelo teórico-metodológico é de natureza qualitativa, de cunho interpretativista e, segundo seu objetivo mais geral, a pesquisa aqui caracterizada segue uma base explicativa.

O processo investigativo foi efetivado a partir das seguintes ações: levantamento documental e bibliográfico; discussão com o grupo de estudantes do PIBIC Ensino Médio; elaboração do questionário; aplicação do questionário; análise dos dados; escrita dos relatórios parcial e final exigidos pelo programa; e socialização dos resultados.

A pesquisa foi realizada no contexto do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS), localizado no campus São Cristóvão. Participaram estudantes do Ensino Médio (1ª a 3ª série), sendo 20 (vinte) de cada série, totalizando 60 (sessenta) participantes com idade de 15 a 20 anos e com ingresso no colégio entre os anos de 2014 e 2020, configurando um perfil heterogêneo do grupo com diferentes representatividades dentro do nível foco da investigação, o Ensino Médio. O intuito desta pesquisa não foi fazer generalizações, mas sim construir significados por meio do diálogo com um grupo específico de participantes que representa parte de um coletivo.

O convite foi feito de forma aberta, presencialmente, nas turmas, e o aceite foi voluntário. Após a confirmação de interesse de 10 (dez) estudantes de cada turma, 20 (vinte) por série, foi solicitado que alguém responsável por cada um/a assinasse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, autorizando sua participação e, posteriormente, cada estudante também assinou o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido – TALE, dando ciência aos detalhes da pesquisa. Ambos os termos foram assinados virtualmente através do Google Formulário e, após assinatura, todos receberam uma cópia automática pelo e-mail informado.

Para que os dados fossem tratados com sigilo e a identidade dos participantes fosse preservada, utilizamos um código alfanumérico E01, E02 [...] E10, E11 e, assim, sucessivamente, sendo E a sigla para Estudante e o número a posição na ordem de recebimento das devolutivas do questionário aplicado. O envio das respostas ao questionário também foi feito pelo Google Formulário e os participantes receberam uma cópia automática no e-mail cadastrado como comprovação da participação na pesquisa.

3 Afinal, o que dizem estudantes do Ensino Médio do CODAP/UFS sobre o direito e as razões de escolha de uma língua estrangeira nessa fase?

As informações obtidas para responder ao objetivo da pesquisa e promover discussões sobre aspectos específicos, que são focos da investigação, foram geradas através de um questionário que, além de traçar um perfil dos participantes, perguntava sobre: o direito de escolher uma língua estrangeira no Ensino Médio do CODAP/UFS; as razões dessa escolha; as ameaças de mudanças para o ENEM de 2024; as possíveis influências da experiência plural no Ensino Fundamental para a eleição no Ensino Médio; a importância do estudo de línguas estrangeiras nessa fase; a aprendizagem de línguas estrangeiras na escola pública; e outras possibilidades de escolha de idiomas.

Com relação ao direito de poder escolher uma língua estrangeira no Ensino Médio, foi expressivo o reconhecimento da importância de poder exercer esse direito, escolhendo o idioma que mais se identifica, tem interesse em aprofundar ou que atenda perspectivas futuras dos estudantes. Entre as respostas dadas, é possível destacar as seguintes:

E04: É mais interessante poder se dedicar a uma língua que escolhemos, que uma língua estrangeira que nos é imposta, sem que necessariamente gostemos dela.
E10: O direito de escolher que idioma cursar no ensino médio pode ser dito como uma forma de "liberdade". Em base que, não estamos cursando algo prescrito por uma entidade, a escolha é pessoal e, por isso, uma forma de "liberdade".
E11: Acredito que é válido levar a sério a preferência do aluno em escolher a língua que mais se adequa e se identifica. Assim ele vai estudar com mais vontade e não obrigado, o que faz com que ele não tenha tanta vontade de estudar.
E29: Um direito que dá a opção do aluno ter uma autonomia sobre sua escolha e aumenta a vontade de aprender.

Oportunizar a liberdade de escolha, levar a sério a preferência dos estudantes, possibilitar que selecionem com autonomia e respeitar o que escolhem são os pontos centrais constatados no bloco de respostas selecionadas. Limitar as alternativas de idiomas com a obrigatoriedade apenas da língua inglesa é restringir o contato com diferentes culturas e formas de ver e experienciar o mundo. Como estudantes do CODAP/UFS, poder exercer esse direito de escolha é um diferencial para sua formação e representa uma ação de escuta de suas decisões para a prática da liberdade e autonomia.

Ainda sobre essa questão, outros estudantes justificaram que poder escolher uma língua estrangeira no Ensino Médio “[...] faz com que a gente foque apenas nela e assim absorva mais daquela língua” (E18), já que, no Ensino Fundamental o contato foi com os três idiomas. Nesse sentido, “[...] tendo como escolher acaba ficando menos sobrecarregado” (E08), é possível “[...] ter mais controle sobre seus estudos” (E33) e “[...] é bom pelo fato de a carga horaria ser só da língua que a pessoa quer estudar” (E50). Além de exigir a compreensão da estrutura de uma língua, de sua cultura e sua expressão através de diferentes textos, é preciso cumprir os compromissos de um componente curricular na escola com suas exigências, por isso essas opiniões que destacam a possibilidade de estudar apenas uma das línguas.

Outro viés encontrado sobre o tópico do direito de escolha revelou uma preocupação com essa responsabilidade, tanto pelas possíveis inseguranças dos estudantes, quanto pelos eventuais arrependimentos. Para E09, escolher “tem o seu lado positivo e o negativo, pois os alunos que não sabem o que querem fazer/ escolher ficarão indecisos e talvez em uma língua que nem gostem. Já E15 pensa “[...] que isso é bom, porém arriscado”, pelo fato de “ter que escolher o que [quer] pros próximos dois anos e isso vai refletir na [sua] vida inteira”. Com esses casos, foi importante pensar sobre uma potencial flexibilidade da escola, considerando critérios justos, mas ponderando casos de desistências e/ou mudanças de escolha.

A heterogeneidade do grupo também gerou respostas que indicavam a possibilidade de estudar mais de uma língua estrangeira, como é possível verificar abaixo:

E01: Na minha opinião, o aluno deveria escolher quantas quisesse, desde que desse conta de estudar todas.
E25: Não gosto muito, queria poder escolher mais de uma.
E43: Não gostei muito porque eu não queria estudar só uma língua e sim todas como os outros anos.

Esses posicionamentos reforçam a importância da pluralidade linguística em contraposição ao monolinguismo. A defesa pelo direito de escolha inclui a escolha plural e não a imposição de um idioma específico sem levar em consideração as perspectivas dos estudantes. Foi significativo encontrar respostas que valorizaram o contexto plural do CODAP/UFS e demonstraram a vontade de seguir em contato com o espanhol, o francês e o inglês.

Dos 60 participantes, 40 estudam uma das três línguas estrangeiras na 2ª ou 3ª série do Ensino Médio e os outros vinte estão em processo de escolha, pois no primeiro semestre de 2022, a 1ª série foi a primeira a iniciar com o currículo do Novo Ensino Médio, estudando a unidade curricular com os três idiomas juntos. O gráfico abaixo representa a porcentagem de estudantes por idioma:

Gráfico 1: Línguas estrangeiras escolhidas

Gráfico 1: Línguas estrangeiras escolhidas
Fonte: Os autores

O gráfico indica um equilíbrio na quantidade de estudantes que escolheram espanhol e inglês, mas um pequeno número na turma de francês, provavelmente pelo contexto atual dos idiomas e a influência da mídia, da globalização e do ENEM atual. Mesmo assim, é importante reconhecer que esses motivos, ou outros existentes, não são suficientes para influenciar na escolha de todos os estudantes. O que comprova que não dá para generalizar criando razões ou necessidades para essa escolha. Os próprios estudantes deveriam ser os únicos responsáveis por essas escolhas. O reduzido número de estudantes de francês pode ser uma pequena representação quantitativa, mas indica a qualidade dessa oferta desde o 6º ano do Ensino Fundamental e sua importância para a história do CODAP/UFS e para tantos estudantes que por aqui passaram.

Entre as razões de escolha por uma das línguas estrangeiras está a identificação e interesse por um dos idiomas. As três respostas abaixam exemplificam isso no contexto das três línguas.

E24: Por que é uma língua que eu me identifico.
E49: Pois é um idioma que eu quero focar em aprender (Francês).
E54: Escolhi inglês, pois tenho grande afinidade com a língua.

A identificação, o interesse e a afinidade são possíveis nos três idiomas e são expressões da subjetividade dos estudantes. Dizer que um idioma deve ser ofertado porque gerará mais interesse é generalizar o interesse das pessoas. Por isso não é justo dizer que qualquer pessoa se identifica, se interessa ou tem afinidade com determinada língua. Isso depende de cada uma delas e dos seus objetivos.

Outra justificativa para a escolha de uma das línguas esteve relacionada aos planos dos estudantes para o futuro, como a possibilidade de viagem para o exterior e a importância da língua escolhida no campo profissional.

E03: [...] porque no futuro pretendo viajar para países que tem esse idioma como principal língua.
E14: [...] é uma língua que eu pretendo utilizar muito no futuro, pois planejo trabalhar fora do país [...].
E39: [...] vai me ajudar muito a conseguir o emprego que sonho.

As experiências anteriores com determinado idioma também influenciaram na escolha de uma das línguas, seja no contexto pessoal ou escolar. E04, por exemplo, já tem um conhecimento aprofundado da língua francesa e, por essa razão, preferiu “dar continuidade ao nível que já [tem] no idioma”. Como E22 estuda a língua inglesa desde os oito anos, a escolheu por ter mais afinidade, E17 “para não sair da zona de conforto” e E50 por estudá-la “há mais tempo que as demais”.

A metodologia utilizada pelo docente nas aulas também foi um aspecto mencionado como motivo pela escolha de determinado idioma. E28 comenta que “a aula [...] é bastante dinâmica” e E33 que escolheu, “principalmente, por questão da metodologia [...]”. Nesse sentido, embora seja compreensível que a prática do docente pode ser um fator (des)estimulante para o aprendizado, sendo um dado relevante para a reflexão docente, é importante que haja uma problematização mais ampla e crítica por parte dos estudantes acerca desse tópico para que sua escolha seja por motivos mais pertinentes, sobretudo nos casos em que não seja possível escolher o docente.

Apesar do estereótipo de que o espanhol é uma língua fácil, e dessa opinião haver sido expressada por alguns participantes, também encontramos essa perspectiva relacionada à língua inglesa. Essas representações podem ser verificadas nos excertos abaixo:

Espanhol
E21: [...] sempre tive uma certa "facilidade".
E23: Porque tenho mais facilidade em aprender.
E31: É o idioma que eu tenho mais facilidade em compreender.
E35: Sinto mais facilidade em aprender.

Inglês
E36: Escolhi por já ter afinidade e facilidade com o idioma.
E41: tenho mais facilidade com essa matéria
E58: Tenho mais facilidade em aprender
E60: Por que tenho mais facilidade e gosto.

No que se refere ao espanhol, “a proximidade levou, ao longo dos anos, ao surgimento de estereótipos e de visões simplistas e distorcidas [...] entre nós” (BRASIL, 2006, 139), incluindo “sua suposta facilidade para os brasileiros”, uma “’língua fácil’, ‘íngua que não se precisa estudar’ (falas que circulam no senso comum)” (BRASIL, 2006, 128). É notória a proximidade entre o espanhol e o português, mas isso não significa que aprendê-la será uma tarefa fácil para qualquer brasileiro. Uma visão reduzida que é desconstruída a partir do reconhecimento de que, para se aprender qualquer língua, é necessário estudá-la, aprofundá-la, experimentá-la através de diferentes estratégias e usá-la. Por isso o motivo “facilidade” é subjetivo, pois depende da experiência e percepção de cada pessoa. Isso se comprova na pesquisa com a expressão de facilidade tanto para o espanhol, quanto para o inglês.

Que a língua inglesa tem um grande alcance e influência mundial isso já se sabe, mas a experiência plural no CODAP/UFS com as línguas estrangeiras pode ampliar a visão sobre a importância e a diversidade de todas as línguas. No entanto, algumas respostas ainda reforçam a hegemonia do inglês e geram uma imagem de sua onipresença e necessidade.

E01: [...] Inglês sempre vai aparecer em nossas vidas, querendo ou não, melhor aprender logo [...] e também porque é a mais comum de se encontrar.
E11: É a língua que acredito que será mais útil na minha vida, afinal, é uma língua universal e eu posso ir para praticamente todos os lugares só com ela.
E18: Eu acho mais fácil e inglês é universal, algum lugar vai ter alguém que sabe pelo menos o básico de inglês.

Argumentos como esses também foram utilizados para a revogação da lei do espanhol e para sua exclusão da BNCC, do PNLD e do ENEM. Reconhecer a dimensão internacional da língua inglesa é diferente de dar a ela um status de superioridade como se não valesse a pena aprender outras línguas. Segundo Paraquett (2006, p. 122),

Pode-se encontrar explicação para essa hegemonia no (falso) caráter utilitário que essa língua tem no imaginário da classe média brasileira e que, de certa forma, repete o discurso ideológico e econômico que vem crescendo desde a metade do século XX. Portanto, a maciça presença do Inglês não está relacionada à obrigatoriedade legal, mas sim a questões de ordem sociolinguística.

Ao serem questionados sobre o que pensam da ameaça de exclusão da língua espanhola do ENEM a partir da edição de 2024 e manutenção apenas da língua inglesa, conforme foi anunciado pelo MEC em março de 2022, foi possível constatar uma percepção crítica sobre essa medida, caracterizando-a como uma estratégia política, como expressam os seguintes estudantes:

E04: Há mais intenções políticas do que podemos imaginar. Talvez uma tentativa de isolamento na América do Sul.
E10: Acredito que seja um método de silenciar o que não é um componente curricular "importante", já que o inglês é um idioma muito mais comercial que o espanhol, tanto para empresas, como propagação de cultura, e isso é um método de deixar essa diferença mais marcada.
E46: A exclusão do espanhol no Enem é uma filtragem dos idiomas comerciais e dos idiomas que não são "importantes" coletivamente pois são escolhas individuais

Houve um reconhecimento das “intenções políticas” e do “método de silenciamento para marcar as diferenças”. Rajagopalan (2013, p. 145) explica que “a questão política esteve presente o tempo todo ao longo da história, influenciando diretamente a tomada de decisões no que tange às políticas educacionais”.

Também chamou a atenção o uso das aspas para destacar o termo importante em E10 e E46, como se fizessem os gestos com as mãos para indicar o que é ou não é importante, mas em discordância por reconhecer a importância de todas as línguas e enxergar as intenções por trás da exclusão da língua espanhola.

Essa exclusão foi vista com reprovação por estudantes que indicaram a perda do direito de escolha, como E07, ao dizer que “a cada dia que passa o nosso direito de escolha está diminuindo e desvalorizando a liberdade de escolha”, e E23 que entende que isso “[...] atrapalha a liberdade do aluno em fazer uma escolha baseada em suas afinidades e preferências”. Além disso, foram expressas algumas opiniões sobre essa desvalorização das outras línguas e culturas.

E05: Pessoalmente acho um absurdo excluir a língua espanhola no ENEM, pois muitas instituições de ensino não veem necessidade de implementar outros idiomas além do inglês. Como se o inglês fosse a única língua que vale a pena aprender e a ausência do espanhol no ENEM reforça essa ideia.
E53: Ruim. Até porque nem todo mundo estuda só inglês, e limita bastante o estudo das línguas e culturas.
E06: Acho que ter uma língua no ENEM é uma péssima decisão, o que faz ter uma desvalorização de outras línguas no Brasil.
E22: Mesmo tendo mais afinidade com a língua inglesa, eu sempre tive noção da importância das outras línguas para a educação, tanto para o conhecimento e apreciação de outras culturas, tanto para trazer melhores oportunidades de estudo/trabalho para quem estuda outras línguas, entre outros benefícios. Acho um enorme retrocesso tirar dos alunos a oportunidade de aprender outros idiomas além do inglês, tirar dos alunos a oportunidade de aprender sobre outras culturas além da inglesa e dificultar ainda mais o acesso a elas [...].

A resposta de E05 aponta para uma outra questão que vai além da possível exclusão do espanhol a partir do ENEM de 2024, mas para a ausência de outras línguas estrangeiras no ENEM. E06, por exemplo, é alguém que cursa língua francesa no Ensino Médio do CODAP/UFS e que não poderá responder questões dessa língua no exame. E22 apresenta diferentes argumentos que comprovam sua compreensão dos benefícios da aprendizagem de línguas estrangeiras e sua indignação com o retrocesso gerado pela ausência ou pela falta de acesso a outros idiomas.

Alguns demonstraram revolta com o possível novo modelo do ENEM por entender que o exame influencia diretamente no que chega na escola, gerando a limitada ideia de que “se não cai no ENEM, não tem importância”. E25 disse ser “revoltante, porque a língua espanhola perde toda a importância” e E26 que achou “muito ruim, pois o espanhol também é uma língua muito importante para a sociedade”. Já E17 afirma que há uma falta de incentivo para “o estudo de outras línguas e culturas” [...] e que “conhecer essas coisas é importante para o desenvolvimento pessoal, cultural e profissional”, demonstrando uma visão ampla sobre a aprendizagem de uma língua.

Já outros não pareceram muito preocupados por não serem atingidos pela mudança, visto que já escolheriam inglês no ENEM. E02, por exemplo, explica: “Entendo, concordo e discordo. Ao mesmo tempo que entendo que inglês é a língua de maior influência do mundo, aprender ela seria de bom tamanho, mas o espanhol também é uma língua rica, então tem essa divergência”. Já E12 explana: “Bom, para o meu lado, eu prefiro, pois eu acho mais fácil o inglês e não vou precisar estudar a língua espanhola”. Dizer que aprender apenas a língua inglesa “seria de bom tamanho” e que não vai “precisar estudar a língua espanhola” são opiniões que reforçam a hegemonia do inglês e que desvalorizam outras línguas e os interesses de outras pessoas.

O impacto para os docentes da área de espanhol também foi mencionado por estudantes. E03 opina que [...] essa ausência prejudica demais não só alunos como professores da área também [...] e E17 alerta para o [...] número de desemprego dentre os professores que consequentemente vai aumentar, já que a procura por aprendizado da língua espanhola pode cair”. Já há relatos de redução de carga horária e turmas, além de demissões, entre docentes de espanhol em Sergipe e em outros estados.

Outra reflexão levantada pelo questionário está relacionada às experiências com as línguas estrangeiras durante o Ensino Fundamental no CODAP/UFS. Se isso influenciou na escolha de uma das línguas no Ensino Médio. Um número significativo de participantes disse que “sim” e que a oportunidade de ter experiências com três idiomas diferentes fundamentou uma escolha mais consciente no Ensino Médio, como pode ser ilustrado pelas respostas a seguir:

E05: Sim. A experiência adquirida durante o ensino fundamental foi importante, já que tive a oportunidade de experimentar diferentes idiomas antes de escolher o que me chamou mais a atenção. E50: Sim, acho que com essas experiencias alguns dos estudantes podem começar a ter interesse por outra língua a não ser o inglês e ter ela como prioridade de estudo.

As respostas acima confirmam a importância de conhecer para melhor poder escolher. Muitos estudantes de outros contextos até tiveram contato com a língua inglesa no Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais, mas nem sempre isso acontece com o espanhol e o francês. Ampliar previamente essa possibilidade de acesso a outras línguas é vantajoso e contribui para uma escolha mais consciente no Ensino Médio.

A influência do interesse em seguir estudando com determinado docente de uma das línguas estrangeiras foi indicada mais uma vez, o que demonstra como os professores têm um papel importante nesse processo de contato com os idiomas e no estímulo a esse tipo de conhecimento.

E23: Sim, a didática dos professores.
E27: Acho que sim. Um dos pontos principais, [...], com certeza, foi ter vivenciado e aprendido pela abordagem e metodologia do professor [...].
E33: Sim. Como eu disse anteriormente, minha escolha no ensino médio foi baseada, principalmente, pela metodologia do professor, que sempre manteve um contato mais próximo com a língua e os estudantes, através de atividades e trabalhos envolvendo escutar, falar e escrever e o balanceamento entre atividades gramaticais e culturais, o que torna a experiência com a língua muito mais proveitosa e auxilia no aprendizado.

Apesar dessas referências à influência docente, é importante reforçar que os estudantes precisam refletir de forma crítica sobre essa escolha para que a justificativa seja mais ampla e não se limite à preferência por determinado/a professor/a.

O desempenho com as avaliações e notas nas unidades também foram aspectos assinalados por participantes como razão da escolha de um dos três idiomas. E18, por exemplo, disse que a “nota no fim da unidade, influencia bastante”. E26 explicou que “o fato de tirar notas mais altas em inglês do que nas outras línguas [...]” foi um dos fatores que motivou sua escolha. Já E35 argumentou que, quando estudava no fundamental, conseguia lidar melhor com a língua espanhola e que suas notas em francês e inglês eram abaixo da média, por isso optou pelo espanhol.

Quase a unanimidade dos participantes considera importante continuar estudando línguas estrangeiras no Ensino Médio. Entre as justificativas apresentadas, é possível destacar o seu papel para a ampliação da visão de mundo dos estudantes, do seu conhecimento global e cultural e para a desconstrução de estereótipos, como é possível constatar nos seguintes exemplos:

E05: Sim. Afinal é importante para o desenvolvimento intelectual de qualquer pessoa ter contato com novas culturas e aprender um novo idioma é uma excelente maneira.
E16: Sim. O contato com outras línguas e culturas pode nos ajudar muito no cotidiano. Esse contato ajuda a desconstruir estereótipos de outras culturas e nos torna menos ignorantes.
E17: Sim, porque ao aprender um novo idioma, nós também aprendemos mais sobre outras esferas da sociedade como uma cultura, política de um país, economia, ciência, etc. Isso proporciona o reconhecimento da diferença e a valorização da diversidade.

Além do reconhecimento do valor do aprendizado sobre novas culturas, a importância de seguir estudando línguas estrangeiras também foi associada aos planos futuros acadêmicos e profissionais.

E04: Sim, pois ajudarão na graduação.
E22: Sim. Estudar línguas estrangeiras abre um leque de oportunidades para os estudantes que vão entrar no mercado de trabalho e para aqueles que também sonham em estudar fora, fora a bagagem cultural que aprender novas línguas traz.
E36: Sim. Na maioria das vezes, os empregos cobram que falem uma segunda língua, então é bom para abrir as portas, além de ampliar o conhecimento.

Como o ENEM é um dos focos dos estudantes do Ensino Médio, o preparo com as línguas estrangeiras para o exame também foi indicado como motivo para a continuidade dos seus estudos nessa fase. Quanto a essa relação direta com o ENEM, em um contexto no qual apenas a língua inglesa será contemplada, como previsto para o exame a partir de 2024, estudar outras línguas estrangeiras no Ensino Médio poderá ser visto como desnecessário e o foco será apenas a língua inglesa. O que reforça a defesa pela pluralidade linguística também na prova.

Outra resposta sobre a importância dos estudos de línguas estrangeiras no Ensino Médio que chamou a atenção valorizou a escola regular, principalmente a pública, como espaço que oportuniza a aprendizagem de línguas. E13 afirma que “[...] só assim teremos contato e oportunidades de aprender línguas que normalmente não teríamos contato fora da escola, afinal nem todo mundo tem oportunidade pra pagar um curso e estudar por fora”. No entanto, houve participantes que sinalizaram que não deveria ser uma obrigação, mas sim uma opção para quem quisesse aprofundar esse tipo de conhecimento.

Essas respostas corroboram com o que já foi discutido nessa pesquisa sobre o direito de escolha dos estudantes. Assim como foi defendido que eles poderiam escolher entre as opções de línguas estrangeiras, não escolher nenhuma delas também poderia ser uma opção.

Ao serem questionados sobre ser possível, ou não, aprender língua(s) estrangeira(s) na escola pública, houve uma diversidade de posicionamentos sobre essa questão, como a responsabilização do governo, que deveria investir mais em infraestrutura e nos docentes para que o ensino tivesse mais qualidade.

E05: Sim. Porque aprender idiomas novos não é direito apenas de estudantes de instituições particulares, apesar do que muitos pensam. As escolas públicas também podem possuir os recursos necessários para o ensino de línguas estrangeiras, basta apenas o governo fazer a parte dele.
E08: Sim, só que, a depender da escola, não tem certa estrutura para isso.
E17: Não só é possível como já deveria ser algo normal. Infelizmente, a maioria das escolas públicas não recebem a verba e a atenção que precisam, por isso se tornou algo complicado. Mas isso não acontece só com as línguas estrangeiras como também com outras disciplinas. Os alunos de escola pública têm potencial para aprender o que for implementado, mas isso não depende só deles.
E36: Sim, é possível e seria o ideal, mas depende muito do Governo, ainda mais com o corte de verbas.
E38: É possível, porém atualmente isso está sendo cada vez mais dificultado por conta da falta de investimentos e valorização.

Essas percepções que reconhecem qual deveria ser o papel do governo e a falta de investimentos na educação demonstram a criticidade dos participantes e a importância da sua formação sociopolítica para enxergar problemáticas como essa e buscar possíveis ações para reivindicá-las ou resolvê-las. Entretanto, outros estudantes colocaram a responsabilidade apenas nos professores, como se estes fossem os únicos responsáveis pela qualidade da aprendizagem.

Outros estudantes opinaram dizendo que depende tanto dos professores como dos estudantes, indicando que a metodologia docente e o esforço estudantil são os agentes responsáveis pelo aprendizado de línguas estrangeiras na escola pública. As respostas abaixo ilustram essa dupla responsabilização para que haja êxito nesse contexto de ensino de idiomas:

E01: Sim, porém depende da didática da escola e do professor e também do interesse por parte do aluno.
E14: Sim, eu acho que é possível aprender, mas infelizmente não são todos os professores que estão realmente dispostos para de fato ensinar e se aprofundar e nem são todos os alunos que querem aprender.
E16: Sim. É possível aprender uma língua estrangeira na escola pública. Contudo, é preciso um esforço mútuo entre os professores e alunos.

O fato de incluir os próprios estudantes como participantes ativos da construção do conhecimento é um fator positivo nessas percepções, mas é importante destacar que outros fatores influenciam diretamente nesse processo, alguns até mencionados por outros estudantes, como a infraestrutura da escola, valorização docente, carga horária adequada, entre outros.

Ainda sobre essa questão relacionada ao aprendizado de línguas estrangeiras na escola pública, chamaram a atenção algumas respostas que reduziam a aprendizagem de um idioma ao domínio da habilidade oral e que isso não poderia ser alcançado satisfatoriamente. Abaixo, três exemplos dessa visão estereotipada da escola pública:

E04: Não é impossível, mas considero incrivelmente difícil, uma vez que não é possível atender as necessidades de todos os alunos de forma igualitária. Desse modo, mesmo que possam aprender até certo nível do idioma, ainda será precário, devido a prática de diálogo real do idioma em questão; como acontece em cursinhos especializados ou intercâmbios.
E12: Aprender 100%, sair bilíngue, não, mas saber o básico sim.
E25: Aprender o básico sim, mas falar fluente não.

Nessa mesma linha de raciocínio, alguns participantes fizeram uma comparação entre a escola pública e cursinhos livres de idiomas, dando mais credibilidade aos cursos.

E27: Sim. Não de maneira tão aprofundada como, por exemplo, em um cursinho, mas dá sim.
E29: Apenas na escola pública não. O aluno tem que se aprofundar e se esforçar para aprender a língua em ambientes fora da escola também.
E50: Sim, não seria como em cursos, mas o estudante teria uma noção de como a língua funciona, de como ela é escrita e falada e aprender sobre as culturas das línguas.

Sobre esse tema os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Médio (BRASIL, 2000, p. 26) já tinham levantado essa discussão sobre o fato de que “o papel formador das Línguas Estrangeiras” já era “retirado da escola regular e atribuído aos institutos especializados no ensino de línguas [...], pois não se espera que a escola média cumpra essa função”. Ao problematizar essa ideia, o documento recorda que a escola tem sua função social de formar cidadãos críticos e éticos.

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006, p. 90) problematizam o conflito de objetivos e retomam a problemática afirmando que, “(...) em muitos casos, há falta de clareza sobre o fato de que os objetivos do ensino de idiomas em escola regular são diferentes dos objetivos dos cursos de idiomas”. Nessa perspectiva, “embora seja certo que os objetivos práticos – entender, falar, ler e escrever – [...] são importantes, [...] o caráter formativo intrínseco à aprendizagem de Línguas Estrangeiras não pode ser ignorado” (BRASIL, 2000, p. 26).

Para uma suposta oferta de outras línguas estrangeiras, além de espanhol, francês e inglês, foram mencionados diferentes idiomas, como italiano, japonês, coreano, alemão, mandarim, russo, chinês, latim, árabe, grego, português de Portugal, turco, irlandês e polonês. As justificativas para tais escolhas foram bastante subjetivas e diversificadas, como a curiosidade, o interesse cultural e linguístico, a afinidade, o desejo de conhecer lugares que falam o idioma mencionado, por achar o idioma bonito, para entretenimento, por vislumbrar uma contribuição profissional futura, para ampliar a visão de mundo e por influência da mídia com a música, cinema, séries, animes e doramas.

Ao final do questionário foi deixado um espaço aberto e livre para que os participantes pudessem opinar sobre a participação na pesquisa. Entre os vários depoimentos, é possível evidenciar o de E03 que destacou a possibilidade de levantar “a criticidade de quem está respondendo”, E09, E15 e E19 valorizaram a oportunidade de dar sua opinião, E43 disse que as perguntas ajudaram em sua escolha de um dos idiomas e E48 percebeu “o quanto esse assunto é relevante [...] nas escolas”.

Visto isso, constata-se o quão positivo foi o processo de reflexão para responder ao questionário e de análise das respostas dadas, ampliando nossas percepções sobre investigação científica, educação linguística em línguas estrangeiras na escola pública e reconhecimento do direito e razões de escolha de um idioma no Ensino Médio, além da valorização do contexto linguisticamente plural no qual estamos inseridos, o CODAP/UFS.

4 Considerações finais

Este artigo representa um recorte de um dos planos de trabalho do projeto de pesquisa de PIBIC Ensino Médio intitulado “PLURALIDADE LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: saberes e práticas em línguas estrangeiras no contexto do Colégio de Aplicação (CODAP/UFS)” e teve como objetivos refletir sobre os impactos das ações desenvolvidas com as línguas estrangeiras no currículo do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS) para a promoção da pluralidade linguística na Educação Básica e verificar as percepções de estudantes do Ensino Médio sobre o direito e as razões de escolha de uma língua estrangeira nessa fase.

Depois de uma ampla reflexão sobre as perguntas e repostas dos/as estudantes participantes ao questionário aplicado, constatamos suas opiniões acerca do direito e das razões de escolha de uma língua estrangeira no Ensino Médio. Ficou evidente o reconhecimento dado a esse direito de escolha, mas também a preocupação e insegurança de alguns com essa responsabilidade, além do desejo de estudar mais de uma língua estrangeira. Entre as razões citadas para a escolha, identificamos o interesse pessoal, a afinidade, o alinhamento com planos futuros, a influência de experiências anteriores, a metodologia docente e a facilidade com o idioma escolhido.

A heterogeneidade do grupo e de suas respostas confirmaram que não é justo generalizar as conclusões e que é preciso respeitar as subjetividades. Como já mencionado, dizer que um idioma deve ser ofertado porque é mais importante ou por gerar mais interesse é hierarquizar a relevância das línguas e generalizar o interesse das pessoas.

A partir das discussões evidenciadas, compreendemos que a presente investigação desenvolvida no contexto de um projeto nesse viés no Ensino Médio possibilitou uma proveitosa e significativa experiência com pesquisa, ampliando a perspectiva sobre a educação linguística em línguas estrangeiras na escola pública e valorizando o contato plural no CODAP/UFS. Além disso, entendemos que os resultados alcançados poderão contribuir na elaboração de futuras ações com as línguas estrangeiras para o fortalecimento do contexto linguístico plural já existente e de estratégias para ajudar os/as estudantes a refletir criticamente sobre a escolha de uma língua estrangeira no seu processo de educação linguística.

Antônio Carlos Silva Júnior - Professor de Espanhol do Colégio de Aplicação (CODAP-UFS). Doutorando em Língua e Cultura pela UFBA, mestre em Letras pela UFS e Licenciado em Letras Espanhol pela UFS. Email: carlosjunior.codap@gmail.com
João Antônio de Santana Venâncio - Estudante da 3ª série do Ensino Médio do CODAP/UFS. Email: joaoantoniosantana2018@gmail.com
Maria Clara Lima Morais- Estudante da 3ª série do Ensino Médio do CODAP/UFS. Email: mclaralmn@gmail.com

Notas

  1. O referido projeto foi desenvolvido com bolsistas voluntários do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  2. Esse projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Sergipe com parecer emitido no dia 06 de junho de 2022. CAAE: 42532921.3.0000.5546.
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Referências

  1. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/historico/BNCC_EnsinoMedio_emb aixa_site_110518.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2023.
  2. BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível: . Acesso em: 08 jun. 2023.
  3. BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério de Educação, 2006. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2023.
  4. BRASIL. Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005. Disponível em: . Acesso em: 05 jun. 2023.
  5. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais (Ensino Médio) – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília, 2000. Disponível em: . Acesso em: 04 jun. 2023.
  6. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.
  7. LAGARES, Xoán Carlos. Qual política linguística?: desafios glotopolíticos contemporâneos. Parábola Editorial, 2018.
  8. PARAQUETT, Marcia. As dimensões políticas sobre o ensino da língua espanhola no Brasil: tradições e inovações. In: MOTA, Kátia e SCHEYERL, Denise (Org.). Espaços Linguísticos. Resistências e expansões. Salvador, UFBA, 2006, p. 115-146.
  9. RAJAGOPALAN, Kanavillil. Política de ensino de línguas no Brasil: história e reflexões prospectivas. In: MOITA LOPES, L. P. Linguística Aplicada na modernidade recente: festschrift para Antonieta Celani. São Paulo: Parábola, 2013, p. 143-161.
  10. UFS. Conselho do Ensino, da Pesquisa e da Extensão. Resolução nº 42, de 10 de dezembro de 2021. Altera a Matriz Curricular do Ensino Fundamental e do Ensino Médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, Sergipe: dez. 2021.

Recebido em: 29-jul-2023
Aceito em: 30-out-2023

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