Seção Livre

BABEL, Alagoinhas - BA, 2022, v. 12: e14139.

LIMA, Leonardo Jovelino Almeida de; GOMES, Sarah Brito. Tecnologia e motivação no ensino de inglês para crianças: o que dizem as professoras? Babel: Revista Eletrônica de Línguas e Literaturas Estrangeiras, 2022, v. 12, e14139.

Tecnologia e motivação no ensino de inglês para crianças: o que dizem as professoras?

Technology and motivation in the English teaching for young learners: what do teachers say?

Leonardo Jovelino Almeida de Lima
Sarah Brito Gomes

Resumo: Este trabalho tem como objetivo verificar a opinião de professoras sobre: a) a utilização de recursos tecnológicos no ensino de língua inglesa para crianças; e b) se esses recursos podem atuar como elemento motivacional nesse processo. A consecução do objetivo se deu através das análises, quantitativa e qualitativa, dos dados gerados por meio da aplicação de um questionário à seis professoras que atuam no ensino de inglês para crianças em um centro de aprendizagem de idiomas, localizado na cidade de Belém, estado do Pará. Assim, os resultados demonstram que grande parte das professoras utilizam algum tipo de recurso tecnológico durante suas aulas, e que todas acreditam que a utilização desses recursos motiva seus alunos durante o processo de ensino e aprendizagem de inglês.

Palavras-chave: Recursos Tecnológicos. Motivação. Crianças.

Abstract: This work aims to verify the opinion of teachers about: a) the use of technological resources in teaching English to children; and b) if these resources can act as a motivating element in this process. These aims were achieved through quantitative and qualitative analysis of the data generated by a questionnaire that was answered by six teachers who work as English teachers for young learners at an English school in Belém, located in the state of Pará. Thus, the results show that most teachers use some type of technological resource during their classes, and that all of them believe that the use of these resources motivates their students during the English teaching-learning process.

Keywords: Technological Resources. Motivation. Young Learners.

Introdução

O uso da tecnologia sempre esteve aliado ao ensino e à aprendizagem de línguas estrangeiras, especialmente no que se refere à língua inglesa. Desde o primeiro método utilizado no ensino de inglês, o Grammar Translation (Tradução da Gramática), o uso do quadro negro e do giz representava à tecnologia utilizada na época. Com o avanço da tecnologia e os novos métodos e abordagens para ensino de línguas que surgiram posteriormente, os recursos tecnológicos se tornaram indispensáveis no processo de ensino e aprendizagem de inglês.

Ramos (2012, p.6) descreve tecnologia educacional como “conjunto de técnicas, processos e métodos que utilizam meios digitais e demais recursos como ferramentas de apoio aplicadas ao ensino, com a possibilidade de atuar de forma metódica” entre quem ensina, ou seja, o professor, e quem aprende, ou seja, o aluno. Diante do exposto e levando em consideração que as crianças são nativas digitais, o objetivo deste trabalho consiste em verificar a opinião de professoras sobre: a) a utilização de recursos tecnológicos no ensino de língua inglesa para crianças; e b) se esses recursos podem atuar como elemento motivacional neste processo.

O tema escolhido para o desenvolvimento da presente pesquisa é relevante para a área, uma vez que, como Marcuschi (2002; 2005) discute, há a emergência de novos gêneros textuais a partir do desenvolvimento das tecnologias digitais e de sua influência massiva no cotidiano das pessoas, principalmente dos nativos digitais. Além disso, o tema proposto pode nos auxiliar a encontrar as respostas para questões como: é possível aprender um novo idioma utilizando tecnologia? E como é o processo de aquisição de uma língua estrangeira através da utilização de recursos tecnológicos?

1. Referencial teórico

O ensino atual de línguas se concentra em fazer com que os alunos se comuniquem no idioma de destino. A tecnologia desempenha um papel importante neste campo, oferecendo aos professores maneiras de incorporar atividades de construção de habilidades comunicativas no processo de aprendizagem e contribuindo para a autonomia dos alunos.

A tecnologia é uma ferramenta que pode ser utilizada para despertar o interesse dos alunos nas aulas de línguas, maternas ou estrangeiras, e uma dessas tecnologias podem ser o próprio computador ou a internet. Entretanto, para falarmos sobre estes recursos tecnológicos considerados atuais, torna-se necessário conhecer os outros recursos que os antecederam.

Andrade (2014), ao abordar o contexto histórico do uso dos recursos tecnológicos no ensino de língua inglesa, afirma que

Em 1942, o homem tem seu primeiro contato com a tecnologia com a invenção da imprensa por Gutenberg, considerada o grande primeiro marco tecnológico. Porém, no século I a.C, predominava o uso do códex, que tinha o mesmo formato aproximado ao do livro de hoje, com escrita horizontal nos dois lados da página. O que daria mais comodidade para ler, pelo fato de poder pousar o livro sobre a mesa, pois não seria necessário mais ficar com as duas mãos presas ao texto. (ANDRADE, 2014, p.12).

Kelly (1969, apud ANDRADE, 2014, p.12) explana que “a grande revolução no ensino de línguas começou com a invenção do fonógrafo por Thomas Edson, em 1878”. Pois o mesmo surgiu como uma importante inovação tecnológica através da reprodução de som e vídeo. Primeiramente, apenas o som, depois a imagem, até a criação de uma máquina que fizesse a projeção simultânea de áudio e vídeo. O sucessor do fonógrafo foi o gramofone com a gravação em discos e, em seguida, a fita magnética.

Kelly (1969, apud ANDRADE, 2014, p.12) nos diz que:

O primeiro material didático gravado, data de 1902 e 1903. Esse material era composto por livros de conversação acompanhados pelos cilindros de Thomas Edson. Também os estudos Walt Disney em 1930, produziram cartoons[1] para o ensino de inglês básico, dando início ao uso de filmes para o ensino de línguas. Dando sequência, em 1943, os estúdios Disney produziram uma série de filmes didáticos voltados para o ensino da língua inglesa. (KELLY, 1969, apud ANDRADE, 2014, p.12).

Com o avanço dos recursos de áudio, e as possibilidades de acesso à materiais de áudio gravados por falantes nativos, o método Áudio-lingual tornou-se muito popular na década de 50. É como expõe Andrade (2014):

Com a gravação da fita magnética tornou-se possível aos alunos gravarem suas leituras e exercícios, e também avaliassem seus desempenhos. O grande sucesso do material gravado foi a criação dos laboratórios de línguas na década de 50. No entanto, os laboratórios de línguas não obtiveram grande êxito devido às instalações especificas e dispendiosas, em parte pelo alto custo de investimentos, ou pela rigidez como era tratado o ensino de língua: criação de hábitos automáticos através de repetição de estruturas sintáticas. (ANDRADE, 2014, p.13).

Na década de 1960, os computadores passam a ser utilizados no ensino de línguas, primeiramente, através do projeto PLATO (Programmed Logic for Automatic Teaching Operations)[2]. Paiva (2008, p. 8) descreve que “Plato usava uma ferramenta de autoria[3], o tutor, que permitia desenvolver exercícios de gramática e vocabulário com feedback automático”.

Paiva (2008) aponta que a chegada dos computadores pessoais (PCs) ao Brasil se deu na década de 1980, e que, no mesmo período, surgiram na Inglaterra programas de reconstrução de texto, como o Storyboard e Adam&Eve, que se tornaram conhecidos no país apenas na década seguinte. Através desses programas, o professor utilizava textos, explorava vocabulário, criava exercícios de lacuna a serem feitos pelos alunos e, ainda, podia escolher o nível de dificuldade da tarefa no planejamento de suas aulas.

Com o computador surge também outro recurso do ensino para aquisição de uma segunda língua: CALL (Computer Assisted Language Learning)[4]. De acordo com Andrade (2014, p.15), esse recurso:

É uma ferramenta que permite aos professores facilitarem o processo de aprendizagem de seus alunos, proporcionando-lhes um melhor desenvolvimento de suas habilidades para aprender de forma independente, analisar informações e pensar criticamente, caracterizando o CALL como um material complementar de reforço da instrução obtido em sala de aula. (ANDRADE, 2014, p.15).

Segundo Warschauer (1996), existem três fases do CALL: a behaviorista, a comunicativo e a integrativo. A primeira fase foi baseada em teorias behavioristas e focada em programas que envolviam treinos de linguagem e prática. Por meio desses programas, os alunos poderiam ter repetições intermináveis e idênticas e poderiam trabalhar de acordo com seu próprio ritmo, embora esses programas não permitissem uma comunicação autêntica suficiente. Computadores, portanto, eram vistos como tutores, veículos para entregar materiais instrucionais aos alunos.

Quando os princípios behavioristas foram questionados na aprendizagem de línguas e os microcomputadores foram introduzidos, uma nova fase do CALL surgiu com base na abordagem comunicativa. Os programas comunicativos tentaram criar um ambiente no qual usar a linguagem de destino parece ser algo natural. Aqui, os computadores eram vistos como um tutor, um estímulo ou uma ferramenta com o objetivo de oferecer uma prática de habilidades, estimulando as discussões, a escrita, a pesquisa e o pensamento crítico dos alunos.

Apesar dos desenvolvimentos trazidos pelo período comunicativo do CALL, o ensino de habilidades e estruturas continuou a ser compartimentalizado, e o ensino da língua precisava integrar os vários aspectos da aprendizagem de um idioma, a fim de melhor atingir o seu fim comunicativo. É por isso que essa terceira fase foi chamada de CALL integrativo.

Atualmente, os avanços da tecnologia de computadores, como multimídia e internet, permitem que os alunos usem múltiplos recursos, como texto, som, vídeo e animação, todos interligados, além de navegar por vários materiais autênticos por conta própria, apenas clicando no mouse.

A internet chegou ao Brasil em 1991, com a criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). A rede interligava várias Universidades e professores, entretanto, o acesso ainda era restrito, muito semelhante às máquinas de escrever. O acesso da internet ao público teve início em 1994, com os provedores particulares, e em 1997, surge a WWW no modelo atual. Com a popularização da internet ficou possível a comunicação entre os aprendizes de línguas estrangeiras e falantes nativos dessas línguas. As interações por meio de e- mails, lista de discussões e fóruns, tornaram-se comuns como experiências linguísticas não artificiais e a língua sendo percebida como comunicação.

O surgimento de novos recursos na internet torna-se comum entre as pessoas a prática de atividades orais e escrita via internet, através de recursos de comunicação instantâneos. No século XXI, as ferramentas da internet vão se modernizando a cada instante e o aprendiz passa a ser mais ativo no meio cibernético ao participar das famosas redes sociais, páginas de relacionamentos como o Facebook, os repositórios de vídeos como o YouTube, os podcasts. Além da Wikipédia, uma enciclopédia virtual disposta na rede para pesquisas. Estes recursos possibilitaram aos usuários da rede o uso efetivo da língua em situações diversificadas de comunicação. Pela primeira vez, o aprendiz passa a ser também autor e pode publicar seus textos e interagir com recursos textual, acrescido de áudio e de vídeo. Assim como muitos sites que vêm sendo criados com o intuito de propiciar a aprendizagem de língua inglesa.

Além das práticas supracitadas, a tecnologia também pode ser utilizada para o desenvolvimento das quatro habilidades essenciais em uma LE, que são a compreensão oral (listening), produção oral (speaking), compreensão escrita (reading) e produção escrita (writing). A seguir veremos algumas formas como cada uma dessas habilidades pode ser praticada através do uso de recursos tecnológicos.

Habilidades de leitura podem ser praticadas de várias maneiras através da tecnologia. A World Wide Web oferece sites intermináveis nos quais os alunos podem encontrar informações autênticas da leitura em diferentes tópicos selecionados de acordo com os próprios interesses dos alunos, o que contribui para diminuir a distância entre o aprendizado em sala de aula e as necessidades reais dos alunos. Nos hipertextos, os alunos também podem relacionar tópicos e fazer conexões com suas próprias experiências, personalizando o que estão lendo.

As habilidades de escrita podem ser desenvolvidas através de interações autênticas com outros alunos de idiomas ou falantes nativos. Usando a internet, os professores podem motivar os alunos a escrever, dando um propósito para escrever no idioma de destino e ampliando o público-alvo a ser abordado. Participar de listas de e-mail, projetos de e-pal (Correspondente Virtual), divulgar os textos dos alunos na Internet provavelmente aumentará a motivação dos alunos para escrever, revisar e reescrever seus textos.

Através da Internet ou usando CD-ROMs, os alunos podem desenvolver suas habilidades de escuta, selecionando notícias, previews (prévias) de filmes atuais, músicas, cenas de sitcom[5], diálogos e entrevistas de acordo com seus interesses. Além disso, observar enquanto escuta interações pode ajudar a preparar os alunos para encontros com oradores reais. Interpretar a entonação, a linguagem corporal e compreender as atitudes dos oradores em relação ao que está sendo dito facilita a compreensão.

A tecnologia fornece um ambiente que incentiva os alunos a falar usando o idioma de destino, tornando a comunicação dentro desse contexto autêntico. Embora a fluência seja o primeiro objetivo da maioria dos alunos, a precisão também desempenha um papel importante na competência de falar. Softwares de pronúncia podem ser úteis para melhorar a pronúncia, por exemplo.

Além de desenvolver as quatro habilidades linguísticas, os computadores podem facilitar a instrução gramatical. Usando programas de computador, os professores podem empregar uma variedade de métodos para introduzir a linguagem e oferecer aos alunos uma escolha de como praticar de acordo com seus estilos de aprendizagem. Alguns alunos, por exemplo, preferem começar com regras de idioma e depois de tentar aplicá-las. Outros preferem começar com dados de linguagem e gerar suas próprias regras. Os softwares de concordância podem ser úteis para este segundo grupo de alunos, pois eles podem verificar suas dúvidas sobre o uso da linguagem e formular suas próprias conclusões a partir de dados reais de uso do idioma.

Trabalhar com e-genres, ou gêneros eletrônicos, é outra possibilidade de colocar os alunos em contato com usos reais da linguagem. Muitos projetos podem ser desenvolvidos nesta área. Por exemplo, projetos de e-pal podem estimular a troca de e-mail com outros alunos de inglês ou falantes nativos; publicar regularmente revistas de alunos em blogs de turma pode motivar os alunos a escrever textos significativos da melhor maneira possível; usando voicethread[6], os alunos podem gravar e publicar suas próprias produções orais em diferentes gêneros e disponibilizá-los para outras pessoas ouvirem e comentarem; os professores também podem mediar conversas telefônicas simuladas e entrevistas entre os alunos por meio de alguns programas na internet, levando os alunos a melhorarem a capacidade de ouvir e falar através de interações reais.

Ao nos direcionarmos para o ensino de línguas para crianças, vemos como as tecnologias podem atuar como recursos motivadores. Segundo Lima (2016), nesse contexto, é de suma importância que o professor possa desenvolver novos métodos, metodologias e recursos para o ensino, que incluam as quatro habilidades necessárias: Listening (escuta), Writing (escrita), Reading (leitura), e Speaking (conversação). Nesse mesmo caminho, McKeon (2006 apud Fettermann, 2017) expõe que atividades que fazem uso de recursos tecnológicos despertam o interesse das crianças em aprender uma língua estrangeira. Os recursos tecnológicos criam muitas oportunidades de aprendizagem para os alunos e contribuem para o desenvolvimento da língua. Além disso, faz parte da vida real dos alunos o uso da tecnologia, assim, eles esperam que os professores a usem em salas de aula de idiomas também.

Para essa discussão, trazemos também as palavras de Dornyei (2001) que chama atenção para as estratégias motivacionais. Segundo o autor, essas estratégias são as influências motivacionais que são conscientemente exercidas para alcançar algum efeito positivo sistemático e duradouro. Dito isso, para esta pesquisa, entendemos que o uso de recursos tecnológicos pode atuar como um elemento, uma estratégia, motivacional no processo de ensino e aprendizagem de línguas, especificamente de inglês, para crianças. Cabendo ao professor de línguas o adequado uso desses recursos tecnológicos como uma forma de estimular essa motivação nos alunos para a aprendizagem, assim como, alcançar os objetivos estipulados para a aula.

2. Metodologia

O seguinte estudo se deu através da análise quantitativa e qualitativa de dados provenientes de um questionário, com questões fechadas e abertas, aplicado à seis professoras que trabalham no segmento Kids em um centro de aprendizagem de idiomas, localizado na cidade de Belém, estado do Pará. Essas professoras responderam cinco perguntas relacionadas ao uso de recursos tecnológicos no ensino de inglês para crianças e como estes motivam os alunos.

O questionário foi aplicado no segundo semestre de 2020, através da plataforma SurveyMonkey. Esta ferramenta era composta pelas seguintes perguntas: Qual é a faixa etária de seus alunos? Você utiliza recursos tecnológicos em suas aulas de inglês para crianças?; Quais recursos tecnológicos você utiliza em suas aulas?; Você acredita que o uso de recursos tecnológicos durante as aulas motiva os alunos no processo de aquisição/aprendizagem de inglês? Justifique sua resposta; e, você utiliza os recursos tecnológicos para a prática de qual/quais das seguintes habilidades?

O supracitado centro de idiomas oferece cursos para crianças a partir dos 4 anos, em 10 níveis diferentes, que são definidos a partir da idade dos alunos, e são os seguintes: White 1 e 2 (crianças de 4 anos), Green 1 e 2 (crianças de 5 anos), Yellow 1 e 2 (crianças de 6 anos), Gray 1 e 2 (crianças de 7 anos), Orange 1 (crianças de 8 anos que não cursaram os níveis anteriores), Red 1 e 2 (crianças de 8 anos) e Blue 1 (crianças de 9 anos). Após a conclusão do Blue, as crianças iniciam o curso pré-adolescente. O material didático utilizado no Kids é a Coleção Our World, da editora Cengage, que já oferece aos professores um presentation tool (Ferramenta de apresentação) com vídeos, jogos interativos, músicas e a versão digital dos livros didáticos.

3. Análise dos dados gerados

As respostas para a primeira pergunta (qual é a faixa etária de seus alunos?) evidenciaram que, embora a presente pesquisa tenha sido direcionada às professoras que trabalham com o público infantil, elas atuam com alunos de diferentes idades. O que acrescenta em suas experiências o ensino também com adolescentes e adultos, conforme melhor podemos visualizar a baixo:

Participantes Respostas
Professora-1 Atua com alunos de 4 a 18 anos
Professora-2 Atua com alunos de 4 a 12 anos
Professora-3 Atua com alunos de 3 e 12 anos
Professora-4 Atua com alunos de 5 a 10 anos
Professora-5 Atua com alunos de 2 a 15 anos
Professora-6 Atua com alunos de 7 e 50 anos

Quadro 1: Respostas a pergunta 1
Fonte: Autores, 2020.

Vemos como todas as professoras trabalham com o público infantil, apesar de algumas delas (como a professora 5 e 6) também terem experiência com alunos mais velhos. Desses dados gerados, torna-se claro que alguns questionamentos podem surgir, tais como: as professoras que trabalham também com os demais públicos diferenciam o ensino, ou seja, elas entendem que ensinar para crianças é diferente que ensinar para adolescentes ou adultos? Quanto tempo é dedicado ao ensino de inglês para o público infantil e quanto é dedicado para os demais públicos? Entre outras. Contudo, dado o objetivo deste trabalho, esses resultados nos ajudam a compreender que todas as professoras supracitadas se enquadram satisfatoriamente como participantes desta pesquisa.

No que diz respeito à segunda pergunta do questionário (você utiliza recursos tecnológicos em suas aulas de inglês para crianças?), vemos que 83,33% das professoras informaram que utilizam recursos tecnológicos em suas aulas, enquanto 16,67% afirmaram não fazer a utilização. Esse resultado pode ser visto na figura a seguir:

Figura 1: Respostas a pergunta 2

Figura 1: Respostas a pergunta 2
Fonte:Autores, 2020

Vemos como a maioria das professoras pesquisadas entende a relevância do trabalho com a tecnologia durante as aulas de língua inglesa para crianças. Uma vez que, nos dias atuais, as crianças já pertencem a um mundo globalizado, no qual a tecnologia está fortemente atuante, torna-se imprescindível que essa mesma tecnologia seja utilizada como mediadora no ensino e aprendizagem não somente de línguas adicionais; até mesmo como uma forma de aproximar os alunos dos contextos vivenciados diariamente. Assim, consideramos que os resultados apresentados pela pergunta 2 são positivos, pois vemos que, mesmo no ensino de crianças, a tecnologia se mostra presente.

Para a pergunta 3 (quais recursos tecnológicos você utiliza em suas aulas para crianças?), vemos respostas variadas e até mesmo um ponto merecedor de discussão e aprofundamento da pesquisa:

Participantes Recursos tecnológicos utilizados
Professora-1 Laptop e outros recursos multimídia
Professora-2 Slides, quando possível
Professora-3 Internet, CD-ROM, DATA SHOW
Professora-4 Computador, projetor interativo, presentation tools, internet, vídeos, jogos
Professora-5 Projetor e caixa de som
Professora-6 Smartboard, tablet e computador

Quadro 2: Respostas a pergunta 3
Fonte: Autores, 2020.

Conforme já mencionado, observamos uma variedade de recursos tecnológicos utilizados pelas professoras. Algumas se utilizam de um leque maior de recursos (como a professora 4), se comparadas com aquelas que se limitam a no máximo dois, por exemplo (como as professoras 2 e 5). É interessante percebermos como essa variedade de recursos tecnológicos evidencia como a língua inglesa pode ser ensinada considerando suas diferentes competências: speaking, listening, writing e reading.

Cabe apontarmos que, na questão 2, uma professora anunciou não utilizar recursos tecnológicos durante suas aulas. Todavia, vemos que no Quadro 2, todas as professoras informaram pelo menos um recurso tecnológico utilizado durante as aulas. Entendemos que esse caso pede um aprofundamento da pesquisa na intenção de compreendermos o real motivo dessas conflitantes respostas.

Ademais, esse ponto de atrito levanta uma relevante questão: o que pode ser compreendido como recursos tecnológicos? Entendemos que o próprio conceito de tecnologia pode variar de pessoa para pessoa, de profissional para profissional. Um grande exemplo disso pode até ser visto nas respostas apresentadas no quadro 2, uma vez que a maioria dos recursos anunciados pelas professoras podem ser considerados atuais, como, por exemplo, a internet, e o smartboard. Em nossa visão, aceitamos como recursos tecnológicos qualquer recurso que contribua, facilite e agilize a realização de um trabalho, atividade ou tarefa. Dada essa concepção, podemos concluir que objetos normalmente utilizados em sala de aula, como um quadro branco, uma caneta para quadro e até mesmo o próprio livro didático, podem ser considerados como tecnologia que ajudam no ensino e na aprendizagem. Dito isso, vemos como imprescindível para um aprofundamento futuro da presente pesquisa sabermos, a priori, o que as professas pesquisadas entendem por recurso tecnológico.

Em relação a motivação dos alunos proveniente da utilização de recursos tecnológicos em sala de aula, as seguintes respostas foram objetivamente obtidas por meio da pergunta 4:

Participantes Você acredita que o uso de recursos tecnológicos durante as aulas motiva os alunos no processo de aquisição/aprendizagem de inglês? Justifique sua resposta.
Professora-1 “Sim!!!! Sem dúvida o processo de ensino aprendizagem é contínuo”.
Professora-2 “Sim. Pois desperta o interesse dos alunos”.
Professora-3 “Sim, as crianças nos dias de hoje estão cada vez mais adaptadas a novas tecnologias”. Usá-las em sala desperta ainda mais a curiosidade deles em um ambiente que lhes e familiar”.
Professora-4 “É um recurso que facilita o ensino e aprendizagem e chega a capturar a atenção dos alunos e manter por um determinado tempo. Mas acredito que uma vez fazendo parte da rotina dos alunos, deixa de ser um item diferencial. O professor precisa a todo momento buscar recursos diferentes para sempre manter o engajamento dos alunos”.
Professora-5 “Muito. Trazer algo que condiz com a realidade deles, principalmente porque os adolescentes estão cada vez mais conectados e conhecedores da tecnologia, os faz querer saber mais do assunto”.
Professora-6 “Os alunos e as alunas ficam motivados, principalmente quando são crianças e pré-adolescentes. Eles engajam mais principalmente quando o uso de recursos tecnológicos é usado para fins de gameficação”.

Quadro 3: Respostas a pergunta 4
Fonte: Autores, 2020.

As respostas da pergunta 4 nos demonstra como todas as professoras pesquisadas acreditam que o uso dos recursos tecnológicos contribui para a motivação e o interesse dos alunos durante as aulas de língua inglesa. Algumas das respostas, como, por exemplo, das professoras 3 e 5, apontam para o atual contexto dos alunos como um fator norteador para o trabalho com a tecnologia em sala de aula. É fato que os alunos, nos dias de hoje, já estão fortemente inseridos em ambientes onde os recursos tecnológicos estão, a todo o momento, atuantes. Desse modo, usar a tecnologia no ensino permite aproximar esses alunos da realidade na qual estes mesmos vivenciam.

Um ponto válido para discussão diz respeito à resposta da professora 3. Segundo ela, as tecnologias são importantes para as aulas. Todavia, cabe ao professor de inglês a utilização constante de diferentes recursos tecnológicos como uma forma de sempre manter a motivação e o engajamentos dos alunos. Em outras palavras, entendemos que, segundo a professora pesquisada, somente usar a tecnologia em sala de aula não garante alunos motivados; o interesse desses alunos se mantém apenas por um tempo. Assim, é relevante que diferentes recursos tecnológicos sejam considerados para o ensino e a aprendizagem da língua.

Acentuamos também a resposta da professora 6 que cita os recursos tecnológicos para fins de “gameficação”. Concordamos com as palavras da professora, haja vista nossa crença sobre a essencialidade do processo lúdico para o sucesso da aprendizagem de uma língua estrangeira. É como explica Wells (1981 apud SHIMOURA, 2012) ao falar sobre a relevância o uso de jogos nas aulas de línguas para crianças. Segundo esse autor, na condição de aprendiz, o aluno tem a oportunidade de negociar significados e, portanto, desenvolver mais rapidamente a língua que está sendo estudada. É interessante entendermos como o uso de jogos, atualmente movidos por meio da tecnologia, pode sim tornar a aula atraente e produtiva aos aprendizes; afinal, “as crianças adoram brincar e aprendem melhor quando estão se divertindo” (SCOTT E YTREBERG, 1990 apud BARBOSA, 2014, p. 24).

Por fim, em relação ao uso de recursos tecnológicos para a prática das habilidades linguísticas, obtivemos o seguinte resultado mostrado na figura 2:

[..] o contexto social de aquisição, as condições psicológicas do aprendiz, o status de cada uma das línguas na sociedade, o tempo de exposição a cada língua, o tipo de relação com o conhecimento e as relações interpessoais, constituem fatores importantes, cuja influência é difícil determinar (MOURA, 2009, p.39).

Figura 2: Respostas a pergunta 5

Figura 1: Respostas a pergunta 2
Fonte:Autores, 2020

Pelas respostas das professoras, notamos como os recursos tecnológicos podem possibilitar o trabalho com as quatro habilidades linguísticas. Mesmo que a presente pergunta não nos demonstre quais atividades as professoras utilizam em sala de aula ou se as habilidades são trabalhadas de forma integrada, vemos como os recursos tecnológicos utilizados pelas respondentes não se limitam ao exercício de uma habilidade específica. Em outras palavras, entendemos que aprender uma língua estrangeira não corresponde a somente aprender e praticar uma habilidade; a língua apresenta como finalidade a comunicação e interação, logo, torna-se importante que, em sala de aula, essa finalidade seja enfatizada. Finalidade essa que, conforme podemos ver pela figura 4, pode ser moderada pelo uso dos recursos tecnológicos.

Considerações finais

De acordo com nossas análises, é possível afirmar que: a) grande parte das professoras que trabalham no segmento Kids do centro de idiomas faz uso dos recursos tecnológicos atuais durante suas aulas; b) todas acreditam que a utilização de tecnologia durante as aulas motiva seus alunos durante o processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa; c) os recursos tecnológicos também são utilizados para a prática das habilidades essenciais em uma língua estrangeira; e d) através do uso de recursos tecnológicos, as professoras do centro de idiomas em questão acabam chamando a atenção de seus alunos durante as aulas.

Em suma, após o desenvolvimento desta pesquisa e da análise dos dados gerados, concordamos com as informações compartilhadas e com os resultados anunciados pelas professoras, uma vez que compreendemos que o uso de recursos tecnológicos durante o processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, especificamente, da língua inglesa, para crianças atua como elemento motivacional. Enfatizamos que a tecnologia, seja ela considerada atual ou não, deve estar presente nas aulas de inglês, como uma forma de favorecer o contato das crianças com a língua-alvo. Ademais, não podemos descartar as possibilidades de atividades que podem advir dos recursos tecnológicos, principalmente, por meio da internet nos dias atuais.

É sabido que a internet dispõe de inúmeros recursos e materiais que podem contribuir para as aulas de inglês, a citar: jogos, diferentes gêneros textuais autênticos produzidos na língua estudada, vídeos, áudios, etc. Cabe ao professor o adequado planejamento e a devida organização para levar esses diferentes recursos aos seus alunos. Afinal, conforme apontado anteriormente, as crianças já estão vivenciando um contexto onde a internet, e as demais tecnologias, é fortemente atuante.

Leonardo Jovelino Almeida de Lima - Possui graduação em Letras com Habilitação em Língua Inglesa na Universidade Federal do Pará (2018) e Especialização em Literatura Inglesa pela Faculdade São Luis (2019). Mestrando do programa de Letras - Linguística da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Foi responsável pelo projeto de extensão universitária Playful: Proyecto Trilingue, que atuou no ensino da língua inglesa e espanhola para crianças e adolescentes residentes na comunidade do Fama, Outeiro, Pará. Autor do livro de contos Não existe fim" e outros textos literários publicados em antologias. E-mail: leolimamat@hotmail.com
Sarah Brito Gomes - Possui graduação em Letras Habilitação em Língua Inglesa pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Pedagogia pela Universidade de São Paulo (UNICID). Atualmente é Professora de Língua Inglesa na Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC). Ministrou as disciplinas Fonética e Fonologia, Morfologia, Metodologia do Ensino de Língua Inglesa, Inglês I e Inglês II no curso de Letras Língua Inglesa na Universidade do Estado do Pará (UEPA). Possui Especialização em Ensino de Língua Inglesa (UCAM) e Ensino de Inglês para Crianças (UEL). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Inglesa e em Educação Especial Inclusiva. E-mail: sarahbritogomes@gmail.com

Notas

  1. Desenhos animados
  2. Lógica Programada para Operações de Ensino Automáticas
  3. Ferramenta de autoria “é um software que permite ao usuário criar suas próprias atividades sem necessidade de conhecer linguagem de programação” (PAIVA, 2008, p.8)
  4. Aprendizagem assistida por computador.
  5. Abreviação de Situation of Comedy (Comédia de situação)
  6. Ferramenta online que permite criar ou importar apresentações com conteúdos multimídia
  7. Voltar

Referências

  1. ANDRADE, M. Ensino de Língua Inglesa e as Novas Tecnologias: Mediações Pedagógicas e Interação Social. 2014. 38 p. Monografia (Especialização em Fundamentos da Educação) – Práticas Pedagógicas Interdisciplinares, Universidade Estadual da Paraíba, Sousa-PB, 2014. Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/6330/1/PDF%20-%20Maria%20de%20Andrade.pdf. Acesso em: 15 nov. 2021.
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Recebido em: 01-mai-2022
Aceito em: 30-set-2022

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