Seção Livre
BABEL, Alagoinhas - BA, 2022, v. 12: e14095.
FELICETTI, Vera Lucia; VEIGA, Célia de Fátima Rosa da. O Bilíngue-inglês nos Programas de Pós-Graduação em educação no Brasil e na Colômbia.Babel: Revista Eletrônica de Línguas e Literaturas Estrangeiras, 2022, v. 12, e14095.
O Bilíngue-inglês nos Programas de Pós-Graduação em educação no Brasil e na Colômbia
Bilingual-english in Graduate Programs in education in Brazil and Colombia
Vera Lucia Felicetti
Célia de Fátima Rosa da Veiga
Resumo: A educação bilíngue tornou-se fenômeno emergente na sociedade globalizada e no campo da educação brasileira. Este artigo objetiva identificar e analisar os estudos sobre a educação bilíngue-inglês no Brasil e na Colômbia, encontrados na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – (BDTD) e, em repositórios de Instituições de Educação Superior colombiana. De caráter bibliográfico, a revisão de literatura analisou, qualitativamente, a produção acadêmica, de modo atemporal, no Brasil e na Colômbia. De um total de 167 dissertação e 63 teses identificou-se dois estudos que tratavam do ensino e da aprendizagem em inglês como segunda língua, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Os resultados apontam poucos trabalhos na área da educação, ressaltando que a educação bilíngue é demanda emergente no campo da pesquisa nos Programas de Pós-Graduação em Educação para tecer contribuições às escolas de Educação Básica no Brasil e na Colômbia.
Palavras-chave: Educação básica. Ensino fundamental. Bilinguismo.
Abstract: Bilingual education has become an emerging phenomenon in globalized society and in the field of Brazilian education. This article aims to identify and analyze the studies on bilingual-english education in Brazil and Colombia found in the Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD) and in repositories of Colombian Higher Education Institutions. Of bibliographic character, the literature review analyzed, qualitatively, the academic production, in a timeless way in Brazil and Colombia. From a total of 167 dissertations and 63 theses, two studies were identified that dealt with teaching and learning in English as a second language in the Early Years of Elementary Education. The results indicate that there are few studies in the field of education, highlighting that bilingual education is an emerging demand in the field of research in the PPGs of Education to make contributions to Basic Education schools in Brazil and Colombia.
Keywords: Basic education. Elementary education. Bilingualism.
Introdução
Este artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade La Salle e trata da revisão de literatura realizada acerca do bilíngue-inglês. O objetivo é identificar e analisar os estudos sobre a educação bilíngue no Brasil e na Colômbia a partir de uma busca em repositórios específicos de teses e dissertações. Este objetivo se justifica, pois, no mundo contemporâneo, o idioma inglês, é considerado a língua que mais consegue conectar pessoas de diferentes partes do mundo e de variadas culturas. O inglês vem se tornando uma língua internacional, de contato, e, desta maneira, não mais considerado somente como uma língua estrangeira, e sim, uma língua franca.
As línguas são construídas na dinâmica da sociedade. As normas na organização dos negócios, do trabalho os métodos de produção, trazidos pelas novas tecnologias de comunicação e pela globalização, tiveram um grande impacto nas práticas linguísticas no século XX. Isso resume as mudanças geopolíticas e tecnológicas e seus efeitos nas comunidades linguísticas. Sendo assim, o contexto da língua inglesa, em movimento constante, proporcionou que as economias nacionais pudessem se integrar na economia global. A mobilidade do dinheiro e dos negócios ganharam novas formas de organização. A tecnologia impulsionou um novo ritmo acelerando as mudanças de forma inacreditável e as redes de comunicação e informação explodiram em crescimento, atravessando espaços e territórios (GARCIA, 2009). Desse modo, as línguas manifestam-se na sociedade conectando pessoas e universos favorecendo seu uso em diversas instâncias.
A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2018) aborda o ensino da língua inglesa de maneira a combater os preconceitos linguísticos e, consequentemente, sociais. Traz o referencial sobre o ensino da língua inglesa e a trata como uma língua franca, a mais difundida num mundo sem fronteiras salientando que o seu uso pode ser feito por pessoas de todo mundo para que aconteça uma comunicação em nível internacional. E assim, o estudante pode acompanhar o que acontece ao seu redor e, além dele, por meio do uso do inglês como língua franca (BRASIL, 2018). No cenário da sociedade globalizada, são diversos os contextos em que pode haver a aquisição da língua inglesa. O bilinguismo apresenta-se como um fenômeno complexo, devido à influência do contexto social de aquisição, as condições psicológicas daquele que aprende, o status da língua na sociedade, o tempo de exposição a ela, o tipo de relação com os conhecimentos, bem como as relações com os outros sujeitos são fatores relevantes e determinantes para quem a usa.
Isto posto, a revisão de literatura procurou mapear e analisar, qualitativamente, a produção acadêmica de modo atemporal, no Brasil, e na Colômbia dos anos de 2006-2009, sobre a temática bilíngue. Com as contribuições dessas pesquisas sobre a educação bilíngue, tem-se uma discussão e uma reflexão ampliada do campo da pesquisa nos Programas de Pós-graduação em Educação favorecendo a Educação Básica no Brasil e na Colômbia, com perspectivas de novos estudos investigativos. Na sequência, apresenta-se o marco teórico, a descrição do corpus e a metodologia, a análise dos dados e a discussão dos resultados, seguido das considerações finais.
1. Referencial teórico
A importância do inglês, como língua franca (English as a Língua Franca - ELF), transcende ao contato de qualquer indivíduo ou grupo em particular com inglês. “ELF não é apenas uma língua de contato em que o inglês é uma língua doméstica ou outra, saliente numa dada comunidade, mas uma língua franca não local, é o meio de comunicação entre pessoas de qualquer parte do mundo.” (MAURANEN, 2018, p.7 tradução nossa)[1]. Entende-se, com esta afirmação, que a língua franca é normalmente utilizada para significar um veículo de comunicação entre falantes que não partilham de uma primeira língua.
Crystal (2011) ao reportar-se sobre o futuro do inglês e, respondendo porque este tornou-se uma língua internacional, enfatiza que é por uma única razão: o poder de uso que as pessoas fazem dessa língua. O autor é mais enfático ao dizer que “no caso do inglês, estamos falando de uma combinação de fatores de poder que influenciaram a língua durante um período de 400 anos - políticos (Império Britânico), tecnológicos (Revolução Industrial), econômicos (especialmente os Estados Unidos) e culturais (desenvolvimentos do telefone, música pop e a internet).” (CRYSTAL, 2011, p.3 tradução nossa)[2]. Perante esse fato, por ser um idioma universal, inglês é uma língua de contato entre falantes de diversas partes do mundo, culturas, nacionalidades, e que, não necessariamente, possuem o inglês como língua nativa, mas que necessitam de um idioma para se comunicar, e assim, língua franca se torna a língua possível de comunicação.
A BNCC (2018) aborda o ensino da Língua Inglesa de maneira a combater os preconceitos linguísticos e, consequentemente, sociais. Traz o referencial sobre o ensino da Língua Inglesa e a trata como uma língua franca, a mais difundida num mundo sem fronteiras salientando que o seu uso pode ser feito por pessoas de todo mundo para que aconteça uma comunicação em nível internacional, o que possibilita ao estudante acompanhar o que acontece ao seu redor e ir além, por meio do uso do inglês como língua franca. O inglês é uma língua adotada como idioma comum entre falantes, cujas línguas maternas são diferentes. Desse modo, como língua franca, não é mais a língua de pertencimento dos americanos ou britânicos, porque tornou-se uma língua universal, uma língua do ‘mundo’. Com isso, o inglês é a única língua que é amplamente utilizada por pessoas em todo o mundo, e por ser considerada como uma língua internacional.
Garcia, (2009) descreve que “as línguas francas são uma forma de comunicação através das fronteiras estatais. Línguas francas são idiomas numericamente poderosos como o árabe, chinês, inglês, ou espanhol, ou uma língua internacional planejada, como o esperanto.” (p.32 tradução nossa)[3]. Portanto, uma língua franca é língua construída ao longo dos tempos para servir como uma segunda língua, a fim de fomentar e facilitar a interação comunicativa internacional e intercultural em todos os segmentos das sociedades.
Logo, ao considerarmos a língua inglesa como língua franca, no mesmo sentido, faz-se necessário pesquisas que visam um nível comum de compreensão com a finalidade de empreender estratégias e objetivos a uma prática necessária do uso adequado desta língua. Para isso, torna-se essencial integrar o papel da língua inglesa como língua franca no espaço educativo, especialmente, em ambientes multilíngues. Educação bilíngue ou multilíngue como alguns autores a denominam, tem a intenção de ampliar a participação dos sujeitos na sociedade. Visa ainda, o desenvolvimento de recursos, cada vez mais amplos, para que os profissionais também possam ser favorecidos para um ensino da interculturalidade da língua. A BNCC (2018) recomenda que o ensino de inglês seja consciente e crítico. Com isso, a maneira de ensinar também muda, ressignifica a relação entre falantes, língua (materna ou estrangeira) e contexto geográfico-cultural. Parte do pressuposto de que a formação é concebida nas práticas sociais, presenciais ou digitais, na qual saber a Língua Inglesa potencializa as possibilidades de participação e circulação. Tais práticas aproximam e entrelaçam diferentes linguagens e diversas formas de se expressar (visual, verbal, corporal, auditiva, audiovisual) em um contínuo processo de significação contextualizado, dialógico e ideológico, como descrita no documento oficial. “Nesse sentido, o tratamento do inglês como língua franca impõe desafios e novas prioridades para o ensino, entre os quais o adensamento das reflexões sobre as relações entre língua, identidade e cultura e o desenvolvimento da competência intercultural.” (BRASIL, 2018, p. 245). Portanto, a língua é uma ferramenta que colabora para formação de cidadãos globais, em vista de ampliar a prática do conviver, comunicar e dialogar num mundo interativo e interdependente utilizando os instrumentos da cultura. “Significa preparar o indivíduo para ser contemporâneo de si mesmo, membro de uma cultura planetária e, ao mesmo tempo, comunitária, [...] que, além de exigir instrumentação técnica para comunicação [...] requer também o desenvolvimento de uma consciência de fraternidade [...].” (MORAES, 1997, p. 225). Remete à compreensão de uma evolução individual e coletiva. Com a língua, isso também é possível, pois, ela visa a comunicação espontânea através da dimensão intercultural, promovendo a interação entre territórios e culturas. Desse modo, favorece a formação humana, histórica, social e cultural.
Hamers e Blanc (2000, p.189) compreendem educação bilíngue como “qualquer sistema de educação escolar no qual, em dado momento e período, simultânea ou consecutivamente, a instrução é planejada e ministrada em, pelo menos em duas línguas.” É uma nova configuração da língua, na compreensão de que ela constrói saberes e pode integrá-los no currículo.
O conceito de educação bilíngue abrange uma diversidade ampla de conceitos e
[...] pode variar em diferentes contextos, pois depende de uma série de aspectos, entre eles, a comunidade em que se insere, os interesses dos agentes nela envolvidos, o status econômico e social dos sujeitos que a compõem, a presença ou não de regulamentação para seu funcionamento, os prestígios das línguas utilizadas e como os meios de comunicação compreendem e propagam o fenômeno (MEGALE, 2019, p. 21).
Nessa perspectiva da diversidade de compreensões sobre a educação bilíngue, é relevante entender a origem de seus termos e tipologias que foram surgindo ao longo da história. Mello (2010) faz um recorte da história e remete aos países, Estados Unidos e Canadá, descrevendo como eles têm debatido a educação bilíngue dada as particularidades de seu contexto sócio-histórico. A pesquisadora supracitada descreve que os Estados Unidos, desde a década 60, tem buscado uma resposta política “aos problemas educacionais das crianças que chegavam à escola falando uma língua diferente daquela que era usada como meio de instrução. A educação bilíngue assumiu, a princípio, características de ensino compensatório.” (MELLO, 2010, p. 123). As estratégias surgiram devido às crianças apresentarem proficiência limitada no inglês e, quando comparadas com as crianças anglofalantes, apresentavam baixo rendimento e alto índice de abandono escolar. No Canadá, a educação bilíngue, da mesma forma, surgiu como uma resposta às demandas sociais das minorias linguísticas, porém seguiu percursos diferentes. Surge da necessidade de valorização da língua e da cultura francesa. Com as desigualdades linguísticas e culturais existentes, os movimentos de valorização estavam descontentes com a situação de inferioridade do francês na sociedade.
No Brasil, a educação bilíngue está relacionada à educação para os povos indígenas e também às línguas de prestígio internacional (inglês, francês, espanhol, dentre outras), convencionalmente denominada educação bilíngue de elite. Cavalcanti (1999) relata sobre o apagamento das línguas e aponta algumas razões: uma delas é o mito do monolinguismo, herança deixada pelos colonizadores portugueses. Enfatiza que esse mito tem sido capaz de apagar as minorias linguísticas e dialetais existentes no país. “A língua das nações indígenas, das comunidades de imigrantes, de comunidades surdas, e as comunidades que falam variedades sem prestígio do português foram sendo esquecidas. Dessa forma, foi se dando o apagamento dessas línguas.” (MELLO, 2010, p.125). Outra razão é que o acesso ao ensino de língua de prestígio é para poucos, apenas uma parcela muito pequena da sociedade brasileira pode pagar pelo estudo de línguas, que adotam como meio de instrução suas respectivas línguas nacionais, ou em centros especializados de línguas estrangeiras. Outro motivo é que os contextos, as línguas faladas pelas comunidades indígenas, migrantes, surdas e outras, estão sendo desprezadas, exclusas da sociedade e “são (tornados) invisíveis, portanto, naturalizados.” (CAVALCANTI, 1999, p. 387) devido à imagem de país monolíngue. Garcia (2009, p.6), referência de educação bilíngue no mundo, diz que “educação bilíngue é ensinar em duas línguas, porém, sem comprometer a primeira.” A autora ressalta que é preciso ter em mente que as duas línguas precisam caminhar juntas no currículo, pois, para o estudante, a aprendizagem vai ocorrer de modo integral, e não separada.
Garcia (2009) menciona que no século XXI aconteceu uma reconfiguração da língua. Perante esta constatação, a autora traz uma diferenciação da educação bilíngue e da língua tradicional. Ressalta que a educação bilíngue se destaca como diferente dos programas tradicionais de ensino de línguas que ensinam uma segunda língua ou uma língua estrangeira. Coloca que “os programas tradicionais de segunda língua [...] ensinam a língua como disciplina, enquanto os programas de educação bilíngue utilizam a língua como meio de instrução.” (GARCIA, 2009, p. 17 tradução nossa)[4]. Nesta afirmação, entende-se que os programas de educação bilíngue ensinam o conteúdo através de uma língua adicional que é não a língua materna dos estudantes. Constata-se nesse cenário, o surgimento de escolas bilíngues que buscam reverter esse cenário através de uma proposta de ensino diferenciada em seu currículo. Nesse âmbito, afirma-se que a educação bilíngue é um fenômeno complexo, não parte somente do ensino de um idioma, ela parte da ampliação de um olhar para o mundo, do empoderamento, ou não dos sujeitos, sejam eles quem forem, estejam onde estiverem. Dessa forma, há a possibilidade de ver o mundo, a si mesmos e o outro de um modo diferente, com mais oportunidades, de conquistar lugares por meio daquilo que são e, por meio das ferramentas que têm, bem como por meio da língua para uma transformação na educação e na sociedade. E as escolas de Educação Básica são espaços de construção dessa possível mudança por meio de seus contextos e currículos. A partir desse contexto, descreve-se, a seguir, o corpus e a metodologia deste estudo investigativo.
2. Metodologia
Com a necessidade de conhecer o campo científico do bilíngue nos programas de Pós-Graduação em Educação, e com o intuito de ampliar o que estava sendo discutido no Brasil e na Colômbia sobre essa temática, buscou-se observar a trajetória do tema em estudo, olhando para as dissertações e teses brasileiras e colombianas, ou seja, o conhecimento produzido, até o momento, deste estudo investigativo. De modo mais detalhado, apresenta-se, nesta seção o mapeamento das dissertações e das teses encontradas em diferentes Programas de Pós-Graduação do contexto nacional, considerando o banco de dados da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – (BDTD), usando a palavra-chave bilíngue. No levantamento realizado, no contexto brasileiro, foram encontradas na BDTD, em junho de 2020, 63 (27,4%) teses e 167 (72,6%) dissertações, totalizando 230 trabalhos.
Na continuidade do estudo da Língua Inglesa em âmbito educativo realizou-se a análise de pesquisas também a nível stricto sensu no contexto colombiano. Este estudo ocorreu a partir de pesquisas realizadas no Grupo de Estudos Relacionados aos Estudantes - GERES[5] que investigou a produção acadêmica de teses em Programas de Pós-Graduação em Educação na Colômbia, no primeiro semestre do ano de 2019. Ressaltamos que não foi considerado espaço temporal de publicação para captura desses trabalhos em ambos os países.
A professora pesquisadora Dra. Adriana Del Rosario Pineda Robayo, é integrante ativa no GERES e docente atuante da Institución Educativa Normal Superior Nuestra Señora de Fátima (IENSFATIMA) e na Universidad del Atlántico, na Colômbia, ambas instituições educacionais do referido país. Com a participação da referida pesquisadora, optou-se, então, em 2019, por analisar teses oriundas de Programas de Pós-Graduação em Educação da Colômbia e disponíveis nos bancos digitais das universidades locais. A Colômbia possui 16 instituições de Educação Superior com Programas de Pós-Graduação em Educação. Muitas dessas instituições não possuíam à época repositórios institucionais online para as teses, o que motivou o contato por e-mail com os programas de doutorado das universidades de modo a ampliar o corpus para análise. Porém, apenas confirmou-se a não disponibilização dos trabalhos online. O total de teses encontradas no contexto colombiano foi de 122, defendidas entre os anos de 2006 a 2019.
A investigação em teses de doutorado de um outro país da América Latina agrega ao Brasil e àquele país também, pois, possibilita conhecer as temáticas emergentes bem como, expandir em pesquisas que favorecem o desenvolvimento dos países envolvidos nas investigações.
2.1 Mapeamento das teses e dissertações coletadas na BDTD e nos Programa de Pós-Graduação em Educação da Colômbia
Com a leitura nos resumos e, quando necessário, adentrando no corpo dos estudos, foram identificadas as abordagens centrais desenvolvidas nas teses e dissertações, surgindo, então, oito categorias relacionadas à temática bilíngue que foram classificadas em: Professor, Ensino e Aprendizagem, Educação Bilíngue, Outras Línguas, Famílias, Dicionários, Glossários e Surdos como consta, abaixo, na Tabela 1.
Categorias | Outros programas | Programas de Educação | Total |
Professor | Gestão e Avaliação da Ed. Pública - 1 Linguística Aplicada – 6 |
12 | 19(8) |
Ensino e Aprendizagem | Ciências da Computação - 1 Linguística Aplicada - 17 |
4 | 22(10) |
Educação Bilíngue | Música - 1 Gestão Empresarial - 1 Geografia - 1 Psicologia – 1 Linguística Aplicada – 15 |
7 | 26(11) |
Outras Línguas | Integração da AL - 1 Gestão e Avaliação da Ed. Pública - 1 Linguística Aplicada – 28 |
7 | 37(16) |
Famílias | Linguística Aplicada – 1 | 3 | 4(2) |
Dicionários | Linguística Aplicada – 23 | 0 | 23(10) |
Glossários | Linguística Aplicada – 8 | 0 | 8(3) |
Surdos | Ciências Médicas - 1 Ensino de Ciências e Matemática - 6 Ensino na Edu. Básica - 1 Ensino de Física e Mat. - 2 Gestão e Avaliação da Ed. Pública - 1 Linguística Aplicada – 17 |
63 | 91(40) |
Total | 134 | 96 | 230(100) |
Tabela 1: Categorias encontradas nas teses e dissertações da BDTD e seus programas
Fonte: Elaborado pelas autoras (2020)
Como pode ser visualizado na Tabela 1, foram encontrados diversos temas relacionados à bilíngue. Dos 230 trabalhos, 134 são de Programas de Pós-Graduação, a saber, Gestão e Avaliação da Educação Pública, Linguística Aplicada, Ciências da Computação, Música, Gestão Empresarial, Geografia, Psicologia, Integração da América Latina, Ciências Médicas, Ensino de Ciências e Matemática, Ensino na Educação Básica e Ensino de Física e Matemática. No programa de Pós-Graduação em Educação foram encontrados 96 estudos com a temática bilíngue, dos quais 72 são dissertações e 24 teses, assim distribuídas nas categorias na área da educação. Na categoria Professor foram identificadas 5 dissertações e 06 teses. Na de Ensino e Aprendizagem 4 dissertações. Na Educação Bilíngue com 7 dissertações. Já em outras línguas foi capturada uma tese e 6 dissertações.
As categorias apresentam temas contemporâneos e emergentes para pensar a educação bilíngue desde a formação docente entrelaçada aos processos de ensino e aprendizagem, educação bilíngue que abarca português-inglês, bilinguismo, escolas bilíngues, famílias, dentre outros. O que foi possível perceber é que este universo de estudo sobre bilíngue é amplo e complexo, abrangendo pesquisas correlacionados à esfera da Educação e a outros campos epistêmicos. Esta possível integração, com as outras áreas de conhecimento, impulsiona a conhecer a diversidade que o bilíngue proporciona ao nível de estudos e pesquisas. Dessa forma, faz-se importante estar atento à escuta do novo, das possibilidades, descobrir outros campos para fazer pesquisa. Rovelli (2015) nos diz que se faz necessário escutar o tempo todo. O pesquisador precisa escutar com profunda atenção o seu objeto de investigação e, é quando se busca essa consciência que a abertura ao novo acontece, quando se tem consciência é que fazemos ciência.
O mapeamento até aqui realizado, permitiu identificar três circunstâncias distintas da produção encontrada na BDTD: a) A produção de estudos sobre bilíngue no universo acadêmico dos programas de Pós-Graduação brasileiros; b) As pesquisas desenvolvidas nos programas de Pós-Graduação em Educação com essa temática; c) Os trabalhos compilados, a partir do universo dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Educação Básica.
Já no contexto colombiano, nos 16 Programas de Pós-Graduação em Educação das Instituições de Educação Superior foram encontradas 122 teses defendidas entre os anos de 2006 a 2019. Dos 16 programas, apenas quatro tinham suas teses em repositórios online à época desta pesquisa. A Universidad de Antioquia com 35 estudos. Na Universidad Santo Tomás foram 62. A Universidad de Los Andes com três e a Universidad de La Salle com 22. Deste montante, apenas cinco que se voltavam ao Ensino de Língua Estrangeira, em específico, o inglês. Importante ressaltar que foram 12 as universidades que não dispunham de material em suas bibliotecas na opção on-line para a captura das teses.
A análise das teses foi realizada a partir da leitura dos resumos, adotando a abordagem qualitativa e de caráter exploratório. Um dado encontrado é que em 2007 e 2009 não ocorreram defesas de teses. E, em 2017, foi o ano com o maior número de estudos, sendo eles 35 e, no ano seguinte, em 2018, encontraram-se 20 estudos defendidos. Durante a leitura e a análise, estes estudos foram organizados em quatro categorias: a) Ensino e Aprendizagem com 44 estudos o que correspondeu a 36% das 122. b) Saberes e Práticas Docentes com 29 (24%) trabalhos. c) Gestão com 28 (23%) produções. d) Outros temas com 20 (17%). Neste universo de teses, uma delas não pôde ser categorizada por não deixar claro, em seu resumo, o assunto que foi pesquisado.
Na categoria Ensino e Aprendizagem, pertencentes à Educação Superior, foram identificados 10 estudos na área de Matemática; cinco em Tecnologia; oito em linguagem, (das quais cinco com o foco em Língua Inglesa, dois em Artes, um em leitura); 21 em Ciências Naturais. Na categoria Saberes e Práticas Docentes, os temas abordados foram Práticas Educativas, Formação de Professores, Prática Pedagógica, Pedagogia da Prática e Prática Docente. Os temas que foram classificados como Temas Diversos foram: Qualidade de Vida, Formação da Cidadania, Violência, Crime Organizado, entre outros.
Considerando este contexto apresentado, analisou-se, de forma mais criteriosa com leitura na íntegra, as cinco teses relacionadas à Língua Inglesa. Neste ínterim, este artigo se ocupará da análise em profundidade das teses e dissertações defendidas em Programas de Pós-graduação em Educação, na categoria ensino e aprendizagem, sendo quatro do contexto brasileiro e cinco do contexto colombiano.
3. Resultado das teses e dissertações brasileiras e colombianas
Ao realizar a leitura das quatro dissertações da Categoria Ensino e Aprendizagem, foi possível identificar: uma que tratou de soluções assistivas para a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais no mercado de trabalho, outra abordou os centros de aprendizagem nos anos iniciais para a aprendizagem de uma segunda língua, o inglês. A outra, foi um estudo realizado nos anos iniciais do Ensino Fundamental, envolvendo o bilinguismo, português e inglês, com a análise das práticas didáticas, propostas por professores encontradas no trabalho de campo e as teorias a elas subjacentes. O estudo seguinte analisou experiências de ensino bilíngue nos Centros de Experimentação de Educação e Formação (CEEF) e no Projeto de Apoio ao Ensino Bilíngue no Arquipélago de Ilhas Bijagós (PAEBB), em Bubaque, Guiné-Bissau. Discutiu a institucionalização da língua kriol e a possibilidade de integrar os conteúdos e práticas culturais dessa língua no currículo local, como língua de ensino e para reduzir a distância entre a escola e a comunidade.
Das sete dissertações que abordam o contexto específico bilíngue, identificou-se que dois estudos foram de cunho bibliográfico, oferecendo uma revisão do conceito de bilinguismo e do tema da educação bilíngue e, o outro realizando uma Metanálise em Produções Científicas das Áreas da Educação e Linguagem; um estudo envolveu políticas de educação do surdo; um trouxe estudo etnográfico em uma comunidade plurilíngue/pluricultural no Paraguai e três foram realizados na Educação Infantil. Logo, nesta categoria, também não foram descobertos estudos bilíngue envolvendo a Língua Inglesa no Ensino Fundamental. Com essas informações, pesquisas específicas sobre o ensino e aprendizagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental foram encontradas somente duas que serão aqui comentadas. Os estudos que compuseram esta categoria, também dão indícios do quanto o campo do bilinguismo nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental tem espaço e necessidade para pesquisas no universo da Educação Básica. Na continuidade, apresentam-se os dois estudos da categoria Ensino e Aprendizagem, defendidos em Programas de Pós-Graduação em Educação que abordam a temática do ensino bilíngue-inglês nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Educação Básica.
3.1 Contexto bilíngue nos PPGE no Brasil e na Colômbia: ensino e aprendizagem
Das quatro dissertações encontradas na categoria ensino e aprendizagem com a temática bilíngue, serão analisadas duas, pois, estas abordaram o ensino bilíngue no Ensino Fundamental, anos iniciais. As outras duas, pertencentes ao Programa de Pós-Graduação em Educação, não apresentaram dados de acordo com o critério de escolha para a análise. Na análise a seguir, colocam-se em foco os principais temas, abordados por cada pesquisador.
A dissertação de Moura (2009), intitulada “Com quantas línguas se faz um país? Concepções e práticas de ensino em uma sala de aula na educação bilíngue” é um estudo sobre as concepções e teorias subjacentes às práticas didáticas, propostas por professores do 1º ano do Ensino Fundamental em uma escola bilíngue português-inglês. A pesquisadora parte de uma desconstrução do mito de monolinguismo no Brasil, apontando para a pluralidade linguística e cultural que constitui a sociedade brasileira, apesar das políticas de planificação linguística. Analisa as práticas didáticas dos professores, encontradas no trabalho de campo e as teorias a elas subjacentes. Ao explanar sobre o bilinguismo, a autora coloca que são vários os contextos, nos quais pode ocorrer a aquisição de uma segunda língua. Nessa dinâmica, o bilinguismo apresenta-se como um fenômeno complexo, pois,
[..] o contexto social de aquisição, as condições psicológicas do aprendiz, o status de cada uma das línguas na sociedade, o tempo de exposição a cada língua, o tipo de relação com o conhecimento e as relações interpessoais, constituem fatores importantes, cuja influência é difícil determinar (MOURA, 2009, p.39).
Em relação à educação bilíngue, a autora coloca que “o ponto mais importante a destacar é que, na educação bilíngue, as línguas não são apenas objeto de estudo, mas também meios pelos quais os conteúdos de outras áreas de conhecimentos são aprendidos.” (MOURA, 2009, p.46). Com essa constatação, ela segue salientando que “é possível que a língua seja estudada em seus aspectos intrínsecos em programas de educação bilíngue para favorecer seu desenvolvimento e compreensão, mas deve ser meio de instrução para outras áreas, como a matemática, artes ou ciências, por exemplo.” (MOURA, 2009, p. 46). Nessa relação, entende-se que a língua é um instrumento integrador entre as várias áreas do conhecimento.
Moura (2009) caracteriza uma escola bilíngue e coloca a necessidade de organização da escola “em todos os aspectos para promover bilingualidade por parte de todos os alunos atendidos, bem como promover aos alunos acesso a componentes culturais relacionados às línguas, ampliando suas competências comunicativas e sua visão de mundo.” (MOURA, 2009, p.53). Constata que “o currículo deve prever uma carga horária dedicada ao ensino de cada língua presente como meio de instrução nas áreas do conhecimento.” (MOURA, 2009, p.53-54). Entende-se, que o ambiente de ensino demanda organização do espaço e dos materiais, bem como de ferramentas apropriadas para que o aluno tenha contato com as duas línguas e possa interagir para que ocorra a aprendizagem. Da mesma forma, o professor pode estar apropriado do seu objeto de conhecimento, a língua, para ensinar aos alunos.
Nos resultados, a autora supracitada encontra uma ambiguidade nas práticas de alfabetização expressa por uma visão mais ampla de alfabetização em Língua Portuguesa do que na Língua Inglesa e relaciona a aspectos culturais presentes na assimetria entre a metodologia de ensino e na concepção de material didático em cada língua. Relaciona a realidade encontrada em sala de aula com aspectos macrossociais numa perspectiva de mútua influência entre escola e sociedade, observando que o aumento do interesse pelo ensino e aprendizagem de línguas hegemônicas, pode tanto constituir uma forma de aprofundamento das desigualdades sociais, quanto instrumentalizar os individuais para terem acesso a uma amplitude maior de conhecimentos historicamente construídos.
Outro trabalho analisado foi a de Monteiro (2017), que desenvolveu estudo sobre os Centros de Aprendizagem: transdisciplinaridade na educação bilíngue. O objeto de estudo da pesquisadora é a base teórico-epistemológica e metodológica dos Centros de Aprendizagem – CA, a educação bilíngue (português/inglês). A partir desse arcabouço, como pensá-lo numa perspectiva transdisciplinar (e não mais interdisciplinar) em maior congruência com a Teoria das Inteligências Múltipla. A investigação analisou o contexto histórico de fundamentação dos Centros de Aprendizagem, utilizadas por várias escolas na Educação Infantil e Ensino Fundamental, Anos Iniciais, no Brasil, sua importância e relação com teóricos da educação.
Em relação à educação bilíngue, Monteiro (2017) coloca que “a mesma depende de diversos fatores históricos, políticos e sociais que variam de um lugar para o outro, porém parece haver uma semelhança nas definições quando afirmam que a educação bilíngue é o uso de duas línguas dentro do cotidiano escolar.” (MONTEIRO, 2017, p.61). Por conseguinte, as duas línguas começam a fazer parte do currículo e a organização vai se dar de acordo com o contexto de cada instituição. A autora afirma ainda que “a educação bilíngue deve ser uma das maneiras de propiciar a aquisição de línguas, o contato e o conhecimento de diferentes culturas em um ambiente estimulador e incentivador.” (MONTEIRO, 2017, p.65). Conclui-se, que é preciso oportunizar espaços de construção do conhecimento, contextualizado numa rede de conexões e interações significativas para o desenvolvimento intelectual do aluno. A investigação de Monteiro (2017) envolveu duas instituições da rede particular de ensino com propostas de educação bilíngue, uma de Ponta Grossa/PR e a outra de Bauru/SP. Com relação às escolas, os dados da pesquisa foram obtidos através de questionário, enviado aos docentes e coordenadores e e-mail enviado a uma consultora internacional bilíngue.
Nos resultados da pesquisa, a autora constatou que os Centros de Aprendizagem se constituem em uma técnica transdisciplinar de organização física e do currículo escolar do ambiente educativo, que se constituem em uma técnica fundamentada em Anthony (1963), amparada nos pressupostos da Escola Nova. Apesar da técnica CA ser mais utilizada de forma interdisciplinar, ela é mais condizente com o princípio transdisciplinar de educação. Uma forma de compreender o conhecimento, partindo do fenômeno e entendendo do processo educativo como uma rede de conexões.
Em ambas as dissertações analisadas, são aprofundados o conceito de educação bilíngue, transparecendo uma certa preocupação, por parte das autoras, para que o termo “educação bilíngue” não se torne um modismo de mercado e perca, seu dinamismo e significado na educação. Ambas, Moura (2009) e Monteiro (2017) corroboram e convergem seus achados sobre a educação bilíngue como uma demanda emergente de pesquisa e conhecimento para a sua real implantação nas escolas de Educação Básica no Brasil. Outros aspectos considerados, nestes estudos, relacionam-se à educação bilíngue e ao currículo.
A educação bilíngue está entrelaçada no currículo escolar de modo a possibilitar um trabalho que seja, por meio da ótica da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade no ensino de uma língua, ou seja, busca compreender o fenômeno e não conteúdos fragmentados por disciplinas. Jantsch; Bianchetti, (2011, p.37) enfatizam que “o trabalho interdisciplinar não se efetiva se não formos capazes de transcender a fragmentação e o plano fenomênico, heranças fortes do empirismo e do positivismo.” Cada vez mais, faz-se necessário um currículo escolar interligado para que o processo de ensino e de aprendizagem concretize-se com êxito diante dos desafios da sociedade globalizada.
Das duas pesquisas analisadas, de Moura (2009) e Monteiro (2017) a construção do conhecimento dos conceitos que envolvem a educação bilíngue, é necessária, partindo do processo educativo, contextualizado numa esfera de conexões. Nesse tecido que se costura, Jantsch; Bianchetti, (2011) reportam que “a necessidade de interdisciplinaridade na produção do conhecimento funda-se no caráter dialético da realidade social que é, ao mesmo tempo, una e diversa e na natureza intersubjetiva de sua apreensão. ” (p.36). Frente a essa afirmação, é importante considerar que as diferentes áreas do conhecimento na educação se complementam e entrelaçam proporcionando que as partes se totalizam nesta relação.
As teses colombianas apresentaram, em seus resultados, a necessidade de políticas linguísticas estruturadas em muitas universidades e academias dedicadas ao ensino de inglês como língua estrangeira. Mostram que é preciso desenvolver competências linguísticas para o fortalecimento do ensino e da aprendizagem. Ressaltam, também, o desconhecimento tecnológico por parte de muitos professores e estudantes, demonstrando a necessidade de qualificar a formação de professores para o uso das tecnologias de ensino para o bom êxito da aprendizagem, seja no componente curricular Inglês ou, nas demais disciplinas.
Outro aspecto, refere-se à tutoria dialógica como forma de mediação que aproxima o aprendente e a autorregulação da autonomia na aprendizagem de uma língua estrangeira, o inglês. Evidenciou-se tensões discursivas na área da formação docente, demonstrando a falta de clareza da função do instrutor e do educador, bem como a preferência por um falante nativo e um não nativo e a imagem deficitária dos professores de línguas estrangeiras em oposição a um professor ideal. A necessidade de propósitos cognitivos e interculturais para aprender inglês, bem como a ênfase no conhecimento disciplinar ou na integralidade do conhecimento e a disparidade entre teoria e prática, sobressairam como achados. Dessas inquietações surgiram critérios propostos para a formação inicial de professores a partir da interculturalidade crítica. À vista disso, a língua é essencial na formação de cidadãos globais, para que sejam capazes de conviver, comunicar e dialogar num mundo interativo e interdependente utilizando os instrumentos da cultura. “Significa preparar o indivíduo para ser contemporâneo de si mesmo, membro de uma cultura planetária e, ao mesmo tempo, comunitária, [...] que, além de exigir instrumentação técnica para comunicação [...] requer também o desenvolvimento de uma consciência de fraternidade [...].” (MORAES, 1997, p. 225). Isso leva à compreensão de uma evolução individual e coletiva, que é interdependente em sua multiculturalidade, pois, abrange o reconhecimento do indivíduo, parte de um todo, microcosmo dentro de um macrocosmo, parte integrante de uma comunidade, de uma sociedade, de uma nação ou de um planeta.
A partir dos resultados até aqui apresentados, é possível relacionar com alguns aspectos da Base Nacional Comum Curricular – (BNCC), refletindo a importância da Língua Inglesa no mundo globalizado. O inglês é objeto de estudo e pesquisa em muitos países, por ser, atualmente, uma língua franca. Com esse fato, é importante aprofundar a visão da língua que se tem hoje, para que se possa delinear a metodologia no ensino que se propõe. Essa perspectiva, difere-se de outras décadas, em que a língua era para ser estudada. Atualmente, a língua é para ser usada, como retrata a BNCC (2018).
O estudo da Língua Inglesa pode possibilitar a todos o acesso aos saberes linguísticos necessários para engajamento e participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de interação e mobilidade, abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de continuidade nos estudos (BRASIL, 2018, p. 241).
O uso da Língua Inglesa vem através de um caráter formativo em que a aprendizagem de inglês acontece em uma perspectiva consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas. Em escolas de Educação Básica, a Língua Inglesa no currículo não precisa ser fragmentada. Uma língua não pode ser somente para ser estudada e, sim para ser falada. Construir conhecimentos a partir da língua materna expandindo-se para uma segunda língua. A visão estruturalista colocada ao aluno, gradualmente, está ganhando outro formato. Mesmo que a língua seja desenvolvida, construída em cenários diversos, faz-se necessário usar a língua para construir conceitos e conhecimentos numa visão sistêmica. Pesquisas internacionais, em seus relatórios, abordam que tanto faz poder-se inserir um conceito em português, ou inserir esse conceito em espanhol, alemão, ou outra língua, e praticar esse conceito (MEGALE, 2019). A referida pesquisadora coloca que a prática mais comum no Brasil tem sido apresentar os conceitos em português, mas pode-se apresentar em inglês e ver o que falta, o que o estudante ainda não tem. O que se apresenta é que eles, os estudantes são capazes de aprender o processo e o professor é o que vai trazer o repertório de língua e dinamizar uma prática diferente daquela que foi feita na língua de origem.
A língua é para a comunicação e para a interação entre as pessoas. E, nesse viés, a função da língua lhe permite transitar e interagir com outras culturas e desenvolver a própria identidade. Com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC 2018) uma nova configuração se apresenta: o ensino da língua inglesa passa a ter um “caráter formativo que inscreve a aprendizagem de inglês em uma perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas.” (BRASIL, 2018, p. 239). Portanto, o tratamento dado à língua inglesa, como componente curricular, a BNCC prioriza o foco da função social e política do inglês e, nesse sentido, passa a tratá-la em seu status de língua franca. Essa nova configuração desfaz a noção de “pertencimento a um determinado território e, consequentemente, a culturas típicas de comunidades específicas, legitimando os usos da língua inglesa em seus contextos locais.” (p. 240). A compreensão desse entendimento possibilita “uma educação linguística voltada para a interculturalidade, [...], para o reconhecimento das [...] diferenças, e para a compreensão de como elas são produzidas nas diversas práticas sociais de linguagem.” (240). Oportuniza, com isso, um conhecimento crítico sobre diferentes modos de observar e de analisar o contexto, o (s) outro (s) e a si mesmo.
Considerações finais
Nesta revisão de literatura, verificou-se poucos estudos voltados à educação bilíngue. Isto representa a possibilidade e a necessidade de ser aprofundada esta temática através de novas pesquisas no campo da Educação. Uma das percepções, ao investigar os estudos encontrados nos Programas de Pós-Graduação em Educação, é que este tema ainda permanece invisível na Educação Básica, no âmbito das palavras-chave aqui usadas para esta revisão. Constata-se que estudos sobre o bilinguismo e suas transformações no contexto da educação são diversos e complexos, tornando-se um tema emergente na sociedade global, devido as diversas demandas de mobilidade territorial e acadêmica, dentre outras. Outro fato importante de comprovação é que as aprendizagens do século XXI demandam um currículo integrado, com estratégias e ações para aprimorar a prática escolar com seus sujeitos e, assim, maximizar os resultados de aprendizagem dos alunos.
Exige um professor bilíngue, que se utilize de práticas que impactam nos resultados da aprendizagem dos estudantes, um mediador do conhecimento que pode ir além de um conteúdo programático que envolve o ensino somente de objetos de conhecimentos gramaticais. No contexto global, é fundamental associar o ensino e a aprendizagem da língua inglesa no processo formativo do aluno, enquanto cidadão de um mundo globalizado. Como consequência, proporciona ao estudante, ao entrar em contato com um novo idioma, aproximações com outras culturas, diferentes do seu contexto de pertencimento.
Em ambos os contextos, brasileiros e colombianos vislumbra-se a criação de uma educação bilíngue com um programa que contemple a formação docente com questões específicas da Língua Inglesa e suas demandas no universo escolar e acadêmico no mundo contemporâneo. Que a relação professor e aluno seja de empatia e de construção em inglês. Da mesma forma, os objetos do conhecimento que estejam interligados à língua e ao currículo. Uma metodologia ativa que pressupõe aprender em inglês pela exposição à própria língua. Neste caso, o professor é o mediador da aprendizagem pelo uso constante e único do inglês durante a aula, estando o aluno imerso e exposto a língua, de forma permanente durante a aula. Nessa perspectiva transversal, ele torna-se protagonista da própria aprendizagem.
Nesse movimento de construção e ressignificação da língua inglesa, após o mapeamento realizado nesta investigação, pretende-se dar continuidade a esta pesquisa, no universo da língua inglesa, a partir de um estudo que tem como questão norteadora verificar como acontece o ensino bilíngue inglês, em uma escola de educação básica que adota um programa de ensino bilíngue integrado no currículo.
O objetivo do artigo propôs-se a identificar e analisar os estudos sobre a educação bilíngue no Brasil e na Colômbia, a partir de uma busca em repositórios específicos de teses e dissertações. De posse dos resultados, entende-se que a temática bilingue tem espaço para novos estudos. Com isso, sugere-se alguns caminhos a serem traçados para sua continuidade, tais como: pesquisar como acontece nas escolas de Educação Básica a educação bilingue, bem como quais os desafios e as práticas no cotidiano dos diversos espaços educativos de ensino e aprendizagem da língua inglesa, sendo um deles a universidade. Desse modo, entende-se que o estudo pode ampliar as discussões sobre o ensino bilíngue e suas possibilidades nas diversas esferas de atuação em ambos os países dos quais baseamos esta revisão da literatura.
Vera Lucia Felicetti - Universidade La Salle. E-mail: verafelicetti@gmail.com
Célia de Fátima Rosa da Veiga - Centro Universitário Franciscano. E-mail: celiavei16@gmail.com
Recebido em: 26-abr-2022
Aceito em: 29-set-2022