À emancipação da colonialidade cisgênera

Uma crítica ao apagamento de subjetividades colonizadas

Autores

Palavras-chave:

Decolonialidade, Feminismo decolonial, Eurocentrismo, Cisnormatividade, Colonialidade de gênero

Resumo

Objetivamos apresentar uma tripla crítica: 1) à imposição ocidental de estratégias de emancipação feminina eurocentradas; 2) à ocidentalização de estudos de gênero provenientes de nações colonizadas; 3) e à lacuna presente em estudos de gênero decoloniais em relação às experiências de corpos trans. Para tanto, mobilizamos as discordâncias entre as autoras Oyewùmí e Rita Segato, de modo a expor, pelas perspectivas de ambas, uma crítica à imposição de um feminismo ocidentalizado a sociedades não-europeias. Elaboramos, a partir dessa crítica, outro eixo dessa imposição – a ocidentalização dos conhecimentos produzidos por estudiosos originários de países africanos e latino-americanos. Como complemento a tais posicionamentos contra-hegemônicos, apresentamos uma reflexão sobre a necessidade de se demarcar, em estudos decoloniais sobre gênero e sexualidade, o fator da “cisgeneridade” e o reconhecimento das violências sofridas por pessoas trans. Violências estas que são heranças do colonialismo, assim como o historicídio das culturas dos povos originários narradas aqui por Sandra Benites. Traremos Lélia Gonzalez por meio da interseção entre os conceitos de raça e gênero, e demonstraremos como corpos diferentes do corpo ocidental, branco, masculino, heterossexual e cisgênero são subjugados pelas forças das colonialidades. Ademais, apontarmos para uma lacuna existente em estudos de gênero decoloniais, no que concerne à transgeneridade. Defendemos, assim, que uma vertente decolonial deve se expandir para agregar todos os corpos não-normativos, e deve apontar as falhas que ela própria comete, a fim de servir um de seus principais propósitos: a decolonização do saber.

 

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Biografia do Autor

Carla Regina dos Santos Rocha, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Mestranda PPGF/UFRJ. Pesquisadora do CPDEL/UFRJ. Professora de Filosofia. Bacharel em Comunicação (UNESA). Especialização em Assessoria de Comunicação (UNESA) e Gestão de Negócios Sustentáveis (UFF). 

Cello Latini Pfeil, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Mestrando em Filosofia (PPGF/UFRJ). Bacharel em Ciências Sociais (UFRJ). Membro pesquisador do CPDEL/UFRJ. Coordenador da Revista Estudos Transviades. 

Wallace dos Santos de Moraes, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Professor de Ciência Política e dos Programas de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF) e História Comparada (PPGHC) da UFRJ. Pesquisador do INCT/PPED e líder dos grupos de pesquisa OTAL/UFRJ e CPDEL/UFRJ. Bolsista da FAPERJ. 

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Publicado

2021-12-15

Como Citar

Rocha, C. R. dos S. ., Pfeil, C. L., & de Moraes, W. dos S. (2021). À emancipação da colonialidade cisgênera: Uma crítica ao apagamento de subjetividades colonizadas. Abatirá - Revista De Ciências Humanas E Linguagens, 2(4), 635–662. Recuperado de https://revistas.uneb.br/index.php/abatira/article/view/13049