Denúncia e Resistência nas obras de Daniel Munduruku e Kaká Werá Jecupé

Autores

  • Rosana Carvalho da Silva Ghignatti Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias – DCHT – Campus XXII

Palavras-chave:

Estudos culturais – Literatura Portuguesa – Literatura de Autoria Indígena Brasileira

Resumo

O objetivo deste trabalho, primeiramente é abordar as representações do indígena brasileiro produzidas por portugueses da segunda metade do século XVI. Ao ler algumas crônicas de viajantes como Gabriel Soares de Souza e Pêro de Magalhães Gândavo, chega-se à conclusão que o tom das observações destes autores é reflexo de uma atitude etnocêntrica que considera os valores do EU como modelo, não reconhecendo a validade de outras práticas e costumes.  Porém, cinco séculos depois do Descobrimento, observa-se agora relatos literários escritos pelos próprios indígenas, como forma de combater o preconceito que, durante séculos foram alvos, além de divulgar os seus costumes e crenças para um público que ainda desconhece esses valores. Através de procedimentos metodológicos dos Estudos Culturais e da Literatura Comparada, este texto trará reflexões sobre alteridade, memórias e culturas híbridas, por meio do método comparativo entre as crônicas portuguesas do século XVI e a produção contemporânea de autoria indígena. Analisaremos alguns escritos de autoria indígena, demonstrando como estes livros são importantes para desconstruir a visão preconceituosa acerca dos índios, além de divulgar a riqueza multicultural presente nas diversas manifestações artísticas dos mesmos. Nesse sentido, destaca-se a produção literária de Daniel Munduruku (2010) e de Kaká Werá Jecupé (2007), nomes representativos da causa indígena.  Para embasar teoricamente este trabalho traremos discussões de Stuart Hall (2003); Nestor Canclini (2006); Silviano Santiago (2000); Homi K. Bhabha (2005); Thomas Bonnici (2011); Décio Torres Cruz (2016), dentre outros que problematizam questões de identidade, alteridade e multiculturalismo.  Reconhece-se, portanto, através da literatura de autoria indígena, que estes povos trazem uma importante contribuição ao incremento da diversidade cultural brasileira, ratificando, neste sentido, que a nossa sociedade possui composições pluralistas que não devem ser desconsideradas nem tão pouco vistas como inferiores. 

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Biografia do Autor

Rosana Carvalho da Silva Ghignatti, Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias – DCHT – Campus XXII

Mestra em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS (2008). Professora de Literaturas de Língua Portuguesa da UNEB - Departamento de Ciência e Tecnologia – DCHT – Campus XXII, Euclides da Cunha – BA. Aluna especial de Doutorado em Literatura e Cultura da UFBA, cursando o componente Estudos Culturais, ministrado pelo professor Dr. Décio Torres Cruz.

Desenvolve cursos de extensão e orienta alunos na UNEB com temáticas relacionadas ao estudo de Literatura de autoria feminina; literatura de autoria indígena e literatura portuguesa voltada para as produções do século XIX. 

Entre os anos de 2014 e 2015 ministrou o componente curricular Língua e cultura indígena na UNEB de Conceição do Coité (Campus XIV). Neste mesmo período, ministrou um curso de extensão de 30 horas, com o título: “A ótica do colonizador sobre a cultura indígena”, nesta mesma instituição.

 Recentemente ministrou um curso de extensão de 40 horas intitulado: “Mulheres que apenas sonharam: a problemática feminina na obra de Lya Luft”. Para o semestre de 2017.2 está planejando ministrar outro curso de extensão com a temática da Literatura de autoria indígena, a ser realizado no Campus XXII da UNEB. Esse curso terá como público alvo os discentes da instituição, além de indígenas provenientes das aldeias de Massacará, além de alunos e professores de escolas públicas da região de Euclides da Cunha, BA. 

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Publicado

2017-09-25

Como Citar

Ghignatti, R. C. da S. (2017). Denúncia e Resistência nas obras de Daniel Munduruku e Kaká Werá Jecupé. Opará: Etnicidades, Movimentos Sociais E Educação, 5(7). Recuperado de https://revistas.uneb.br/index.php/opara/article/view/3979